Uploaded by peacecuck

Sociologia e Cultura (20 Unid - Teo - SEC)

advertisement
TEOLOGIA
SOCIOLOGIA E CULTURA
Roberto Carlos de Oliveira
Roberto Donato
Sebastião Donizete Bazon
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Caras (os) alunas (os),
A sociologia da cultura é uma das ramificações mais importantes do
pensamento sociológico. Nela poderemos encontrar elementos para refletir sobre
as questões fundamentais do nosso tempo. Seu objetivo é compreender como
são produzidas as nossas concepções culturais e como essas concepções
interagem com as dimensões econômicas, sociais e políticas que compõem a
nossa sociedade. Nesse sentido, os sociólogos da cultura estão preocupados em
explicar como o processo de industrialização e urbanização da moderna
sociedade capitalista influenciou o surgimento de novas concepções culturais.
Estão preocupados, também, em refletir de que forma essas concepções
influenciaram as transformações socioeconômicas e políticas.
Para atingir esses objetivos, a sociologia da cultura inicia sua análise pelo
processo de industrialização das próprias manifestações culturais. Para esses
autores, o cinema, o disco, o rádio e a televisão contribuíram para o
desenvolvimento de uma cultura de massa. Esse conceito, você vai perceber, é
central nos nossos estudos sobre a cultura.
Como sugestão, convido-os a um exercício diferente. É importante tentar
relacionar os conteúdos teóricos aqui apresentados com a vida cotidiana. Assim,
tentem refletir, caros (as) alunos (as), sobre o papel dos meios de comunicação no
nosso mundo cotidiano, nas nossas relações pessoais, nas nossas escolas e no
trabalho. Façam o importante esforço de compreender a grande influência dos
meios de comunicação na nossa vida. Além de contribuir para o melhor
entendimento dos conteúdos aqui desenvolvidos, esse exercício de reflexão é de
fundamental importância para o desenvolvimento de um cidadão e profissional
comprometido
com
as
questões
mais
importantes
do
nosso
mundo
contemporâneo. Bons estudos!
Roberto Donato
SOCIOLOGIA E CULTURA
SUMÁRIO
Roberto Donato
Sumário
Unidade 01 ................................................................................................................................................... 1
Unidade 02 ................................................................................................................................................. 6
Unidade 03 .............................................................................................................................................. 11
Unidade 04 .............................................................................................................................................. 15
Unidade 05 .............................................................................................................................................. 20
Unidade 06 ............................................................................................................................................. 25
Unidade 07 ............................................................................................................................................. 30
Unidade 08 ............................................................................................................................................. 35
Unidade 09 .............................................................................................................................................. 40
Unidade 10 .............................................................................................................................................. 44
Unidade 11 .............................................................................................................................................. 48
Unidade 12 .............................................................................................................................................. 52
Unidade 13 .............................................................................................................................................. 57
Unidade 14 ............................................................................................................................................... 61
Unidade 15 .............................................................................................................................................. 65
Unidade 16 .............................................................................................................................................. 70
Unidade 17 .............................................................................................................................................. 74
Unidade 18 .............................................................................................................................................. 78
Unidade 19 .............................................................................................................................................. 82
Unidade 20 ............................................................................................................................................. 87
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 01 - A IDEIA DE CULTURA
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
O objetivo desta unidade é entender os aspectos da cultura de acordo com uma
visão sociológica.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Você já percebeu os vários sentidos no qual utilizamos o termo cultura?
Referimo-nos a ele quando discutimos teatro, cinema, dança ou música: nesse caso,
relacionamos cultura à arte. Também utilizamos o termo cultura para mencionar o
acesso à filosofia e à literatura, ou seja, quando desejamos discutir erudição. Além
disso, quando afirmarmos que alguém “não tem cultura”, ao nos deparamos com atos
que ferem os costumes e regras de comportamento, estamos pensando em educação.
Todos esses sentidos referem-se à noção de cultura como o conjunto de requisitos
morais para certo padrão de civilização. Todos eles nos dão a ideia de que uns tem e
outros não têm cultura.
Quando estamos em contato com teorias sociológicas e antropológicas, não é
exatamente esse sentido que atribuímos à ideia de cultura. Apesar das muitas
concepções que encontramos para o termo no interior dessas ciências, todas elas
partem de um ponto de vista comum: a cultura é um fenômeno humano, que distingue
o homo sapiens das demais espécies vivas presentes nas diferentes paisagens da
natureza. Nosso comportamento tem pouca influência daquilo que denominamos de
instinto e é determinado, em grande parte, pelo processo de aprendizagem com os
outros seres humanos que nos rodeiam. Para que isso seja possível, é necessário um
conjunto de características biológicas e psicológicas que nos permita articular algumas
capacidades para pensar e agir no mundo. Que capacidades são essas?
1
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 01 - A IDEIA DE CULTURA
Roberto Donato
Precisamos da capacidade cerebral de processar as informações que recebemos
e atribuir significados e representações a elas; é necessário, também, que essas
informações sejam compartilhadas com outros seres humanos através da linguagem.
Do mesmo modo, necessitamos de um conjunto de características anatômicas e
corporais (coluna ereta, dedo polegar em oposição aos outros dedos para o
movimento de “pinça”, cordas vocais, mandíbulas pequenas, caixa craniana
relativamente grande, etc.) que nos possibilitem a utilização de instrumentos e
utensílios, para criar aquilo que os arqueólogos chamam de “cultura material”.
Essas características biológicas e psicológicas nos dão uma base comum para
que possamos construir diferentes modos de vida. O conjunto de códigos, valores e
concepções que possibilitam essas diferentes maneiras dos seres humanos
estabelecerem relações entre si e com a natureza, podem ser denominados cultura.
O conceito de cultura (...) sugere uma “ligação espiritual” entre os homens,
mesmo que estejam separados por fronteiras político-geográficas. Essa
ligação estabelecida por meio da cultura é inescapável e põe o ser humano,
de modo consciente ou inconsciente, em contato com o universo social e de
valores, que transcende a esfera do indivíduo. A cultura (...) ergue-se como
instância propriamente humanizadora, que dá estabilidade às reações
comportamentais e funciona como mecanismo adaptativo básico da espécie.
Essa estabilidade caracteriza-se por não ser determinada universalmente. A
humanização acontece de várias maneiras possíveis, sempre por meio de um
modo de vida particular. Portanto, o que define o humano é a elaboração
particular sobre uma base biológica, natural. A cultura, além de ser um
instrumento de humanização, é um instrumento de comunicação, ou seja,
constitui um complexo conjunto de códigos que asseguram a ação coletiva
do grupo. Esses códigos que vão constituir a cultura consistem
fundamentalmente em aparelhos simbólicos. A produção simbólica pode
variar de sociedade para sociedade, mas, em cada uma delas, cumpre o papel
de atribuir o sentido, significado e intencionalidade às ações e aos
comportamentos sociais (OCADA, 2003, p. 57-58).
A cultura pode, então, ser considerada como a capacidade de o ser humano
produzir coletivamente regras, sentidos e significados orientadores do comportamento
nas diferentes sociedades. No entanto, o autor citado acima nos oferece um dado
novo, que ainda não tínhamos discutido em nossa tentativa de definição de cultura. Ele
2
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 01 - A IDEIA DE CULTURA
Roberto Donato
afirma que a produção de símbolos é variada entre as diferentes sociedades, mas que
em todas elas tem o mesmo papel, a mesma função: atribuir sentido e intenção aos
comportamentos e ações humanas e, completamos, aos fenômenos da natureza. Isso
significa que todos os seres humanos – sejam europeus, africanos, indígenas– têm as
mesmas capacidades mentais que possibilitam o surgimento da cultura. Ou seja, em
todos nós existem princípios universais que possibilitam o surgimento das diferentes
maneiras de compreensão e ação no mundo. Claude Lévi-Strauss, antropólogo,
dedicou sua vida a compreender esse princípio universal formador das culturas. Para o
autor, esse princípio reside no inconsciente da mentalidade humana.
Se, como cremos, a atividade inconsciente do espírito consiste em impor
formas a um conteúdo, e se as formas são fundamentalmente as mesmas
para todos os espíritos, antigos e modernos, primitivos e civilizados – (...) – é
preciso e basta atingir a estrutura inconsciente, subjacente a cada instituição
ou a cada costume, para obter um princípio de interpretação válido para
outras instituições e costumes (...) (LEVI-STRAUSS, 1970, p. 38-39).
Falta-nos discutir uma última questão para obtermos a compreensão desse
fenômeno chamado cultura. Se, como nos ensina Lévi-Strauss, a cultura tem uma
matriz mental inconsciente que gera nossa interpretação sobre o mundo; e, se essa
matriz é universal, presente em todos os seres humanos e culturas, o que faz as culturas
diferentes entre si? Porque existem tantos modos diferentes de pensar e agir no
mundo?
BUSCANDO CONHECIMENTO
Para responder a essas questões, temos que recorrer a Karl Marx, outro grande
pensador, considerado um dos fundadores da sociologia e das ciências sociais, Marx
acreditava que o ponto de partida para a formação de qualquer sociedade é as
condições materiais de existência nas quais os seres humanos dispõem para construir
3
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 01 - A IDEIA DE CULTURA
Roberto Donato
suas vidas; ou seja, a natureza real, viva, que determinado grupo humano tem
disponível para garantir sua sobrevivência.
Para Marx, a relação entre os grupos humanos e as paisagens naturais é o ponto
de partida para o estabelecimento dos diferentes modos de vida. Além disso, o autor
enfatiza que a maneira pela qual pensam os indivíduos é determinada por essa relação
entre seres humanos e naturezas. Assim, as infraestruturas sociais e econômicas (o
modo de produção da existência material) determinam as superestruturas (a
consciência, a religiosidade, a arte, os códigos de comportamento etc.).
Se fizermos um esforço de reflexão para relacionar as contribuições de Marx e
Lévi-Strauss, podemos chegar a um resultado interessante para compreender esse
processo de diferenciação entre as culturas. Marx nos mostra que a experiência que os
seres humanos adquirem em sua relação com a natureza gera o “conteúdo” necessário
para que eles possam: (1) pensar e compreender o mundo em que vivem; e (2) criar os
códigos e concepções que orientam suas ações nesse mesmo mundo. Lévi-Strauss, por
sua vez, nos explica que o “conteúdo” das experiências humanas só pode ser pensado e
classificado a partir das “formas” existentes no nosso inconsciente. Ou seja, o conteúdo
de nossas experiências reais junto à natureza é “classificado” e “ordenado” pelos
elementos mentais inconscientes de que dispomos, gerando os significados para
compreensão
dessas
experiências.
Criam-se,
assim,
regras
e
padrões
de
comportamento particulares a partir de cada experiência particular com a natureza.
No entanto, como a capacidade humana de significar é universal, existe certa
regularidade dos fenômenos e comportamentos humanos. Todo grupo humano tem
uma concepção de sagrado, de religiosidade; assim como toda sociedade tem regras
de parentesco, em que há proibições sexuais (tabu do incesto) entre os membros de
uma mesma família. Assim, de uma base universal para pensar o mundo, a humanidade
gera diferentes sociedades a partir de suas experiências com as diversas naturezas.
Portanto, compreender o modo como essas sociedades se organizam economicamente
4
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 01 - A IDEIA DE CULTURA
Roberto Donato
e socialmente é o primeiro passo para se refletir sobre a influência da cultura na nossa
vida social.
5
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA DA CULTURA
UNIDADE 02 - A LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DA CULTURA
Sebastião Donizeti Bazon.
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
O objetivo desta unidade é analisar os estudos estruturais da linguagem e sua
utilidade.
ESTUDANDO E REFLETINDO
A linguagem é formada por um sistema de signos, sendo o signo uma coisa que
está no lugar de outra sob algum aspecto. Por exemplo, a lágrima no rosto de uma
pessoa que pode indicar um estado de dor física ou de tristeza, mas também pode
indicar um estado de felicidade ou de realização. A lágrima pode ser signo de todas
essas coisas e, para decifrá-lo adequadamente, precisamos saber o contexto em que
ele ocorre e ter familiaridade com a situação em que se expressa.
Os números e palavras também são signos, isto é, estão no lugar das
quantidades reais de objetos ou do próprio objeto. Se o signo está no lugar do objeto,
ele passa a representar o objeto, sendo um objeto pode ser representado de várias
maneiras, dependendo da relação que existe entre ele e o signo. Quando a relação é de
semelhança, temos um signo de ícone, o desenho de um cachorro é um ícone quando
apresenta semelhança com ele.
Se a relação é de causa e efeito, uma relação que afeta a existência do objeto ou
é por ela afetada, temos um signo do tipo índice. Por exemplo, a fumaça indica o quê?
A resposta certa seria o fogo, pois aqui nós estabelecemos uma relação causal entre a o
fogo (que é a causa) e a fumaça (que é o efeito do fogo), outros exemplos podem ser
usados para exemplificar essa ideia, como o chão molhado que indica que choveu,
estabelecendo uma relação causal de efeito (chão molhado) e causa (chuva) mostrando
que a relação entre a coisa e a linguagem não precisa ser de semelhança para que
ocorra uma mensagem.
6
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA DA CULTURA
UNIDADE 02 - A LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DA CULTURA
Sebastião Donizeti Bazon.
E, por último, se a relação é arbitrária, regida simplesmente por convenção,
temos o símbolo. As palavras são o melhor exemplo de símbolo, mas há muitos outros:
nas culturas ocidentais, o preto é símbolo de luto: o uso da aliança no dedo anelar da
mão esquerda simboliza a condição de casado: o desenho de um coração simboliza
amor, amizade. Esses signos são aceitos pela sociedade como representação dos
objetos de luto, casamento e sentimento de amor e mantêm-se por convenção hábito
ou tradição.
O ser humano cria símbolos, isto é, signos arbitrários em relação ao objeto que
representam e que são convencionais: para serem usados, precisam ser aceitos por
todos os membros da sociedade. Como não há relação alguma entre o signo e o
objeto por ele representado, necessitando de uma convenção, aceita pela sociedade,
de que aquele signo representa aquele objeto. Só a partir dessa aceitação podemos
comunicar, sabendo que, ao usar o signo-símbolo, o nosso interlocutor entenderá o
que estamos querendo dizer. A linguagem, portanto, é um sistema de representações
aceito por um grupo social que possibilita a comunicação entre os integrantes do
grupo.
O laço entre representação e objeto representado é arbitrário, podendo dizer
que ele é necessariamente uma construção da razão, isto é, uma invenção do sujeito
para poder se aproximar da realidade. A linguagem, deste modo, é produto da razão e
só pode existir onde há racionalidade. A linguagem é um dos principais instrumentos
na formação do mundo cultural, porque nos permite transcender nossa experiência. No
momento em que damos nome a qualquer objeto da natureza, nós o individualizamos,
diferenciando-o do resto que o cerca: ele passa a existir para a nossa consciência.
O nome, ou a palavra, retém na nossa memória, enquanto ideia daquilo que já
não está ao alcance dos nossos sentidos: o cheiro do mar, o perfume do jasmim numa
noite de verão, o toque da mão da pessoa amada, o som da voz do pai. O simples
pronunciar de uma palavra representa, isto é, torna presente à nossa consciência o
objeto a que ela se refere. Não precisamos mais da existência física das coisas: criamos,
7
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA DA CULTURA
UNIDADE 02 - A LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DA CULTURA
Sebastião Donizeti Bazon.
por meio da linguagem, um mundo estável de ideias que nos permite lembrar o que já
foi e projetar o que será. Através da linguagem, o ser humano deixa de reagir somente
ao presente, ao imediato; passa a poder pensar o passado e o futuro e, com isso, a
construir o seu projeto de vida.
Só o ser humano é capaz de criar signos arbitrários, pois os animais são apenas
capazes de entender ícones e índices. Os cachorros, por exemplo, utilizam o signo
indicial do cheiro, sendo capazes de reconhecer o cheio do dono em uma roupa, em
um lugar. O cheiro indica a presença do objeto (dono) que ele procura, ele reconhece,
ainda, o tom de voz, as ações que indicam passeio, castigo ou a hora de comer. A
aprendizagem dos signos se dá por meio de outros signos, inclusive misturando
linguagens.
Por exemplo, para explicar o signo-palavra “casa” para uma criança, podemos
fazer um signo- desenho de uma casa. O desenho, nesse caso, é um segundo signo
que interpreta, dá sentido ao primeiro, pela semelhança com o objeto representado.
Um sinônimo explica igualmente um signo: “casa” pode também ser interpretada por
meio da palavra “lar”. O segundo signo (lar) interpreta o primeiro em sentido bastante
específico de “minha casa” ou “lugar onde moro e considero meu refúgio”.
Existem também, outros elementos essenciais na linguagem, como a ideia de
repertório, pois estamos interagindo com um sistema de signos, sendo necessária uma
memorização de signos que a compõem. O repertório das linguagens verbais (ou
línguas, como são chamadas) é bastante amplo e costuma ser relacionado em
dicionários. Além do repertório, também é preciso que se estabeleçam as regras de
combinação dos signos, pois não podemos combinar signos que tenham sentidos
opostos: subir/descer, nascer/morrer, entre outros. Devemos estabelecer as regras de
uso dos signos na linguagem, só quando conhecemos o repertório de signos, as regras
de combinação e as regras de uso desses signos é que podemos dizer que dominamos
uma linguagem.
8
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA DA CULTURA
UNIDADE 02 - A LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DA CULTURA
Sebastião Donizeti Bazon.
Todo signo tem um significado próprio, estabelecido por convenção social. Esses
são os significados que constam do dicionário, porém o signo tem mais de um
significado, uma vez que seu uso foi sendo modificado ou ampliado em tempos e
lugares diferentes. Logo, só podemos saber com qual significado o signo está sendo
usado a partir da frase, que oferece o primeiro contexto da comunicação. A situação
social na qual a frase é dita é o segundo contexto que nos auxiliará na decodificação do
signo e da mensagem. Não basta, portanto, ter domínio do código para interpretar
corretamente os signos e as mensagens, é preciso ter conhecimento das situações
sociais, isto é, da cultura na qual a linguagem é utilizada e a comunicação ocorre.
Com a contínua criação de vários tipos de linguagem que permite os seres
humanos pensar as diversas formas da realidade e, também, de se expressar e de se
comunicar com seus semelhantes. Os avanços tecnológicos nos obrigam a adaptar as
linguagens já existentes e a criar outras, mais adequadas às necessidades da
contemporaneidade.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Podemos afirmar que algumas linguagens têm estrutura mais flexível do que
outras, como, por exemplo, a moda e sua linguagem flexível, onde percebemos que o
repertório de signos é alterado com muito mais rapidez do que os sons e as palavras
que compõem uma língua. Quanto às regras de combinação, elas também são
variáveis, pois ainda se baseando no exemplo da moda, podemos hoje usar botas e
outros calçados pesados com roupas de tecidos leves, criando, assim, um grande
contraste.
A flexibilidade característica da linguagem da moda decorre do fato de que ela
não se estabelece, como as línguas faladas, por meio de um processo de cristalização
social. Ao contrário, ela é ditada por um pequeno grupo de costureiros, desenhistas e
editores de moda que, em uma sociedade capitalista, incentivam mudanças que
9
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA DA CULTURA
UNIDADE 02 - A LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DA CULTURA
Sebastião Donizeti Bazon.
estimulem o consumo. Outro exemplo que podemos utilizar são as linguagens de
computador, que são fortemente estruturadas e bastante inflexíveis. Essas linguagens
têm um número limitado de signos e de regras de combinação, e o computador só
responderá dentro desses limites.
As linguagens artísticas constituem um meio-termo. Por um lado, respeitam a
especificidade de cada campo artístico; por outro, tendem a explorar esse campo e as
possibilidades de cada linguagem até seu limite máximo. E é exatamente a essas
explorações que devemos o desenvolvimento e a criação de novos estilos e técnicas;
neste ponto, as linguagens só se desenvolvem em função de projetos. As linguagens
artísticas, por serem mais flexíveis, podem se estruturar e reestruturar com base em
projetos específicos.
10
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 03 - A UTILIDADE DA LINGUAGEM
Sebastião Donizeti Bazon
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos:
Compreender a função da linguagem.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Entre tantos tipos de linguagem, surge uma pergunta fundamental: para que
servem as linguagens? Na tentativa de responder a essa pergunta, o linguista
contemporâneo Roman Jakobson propôs uma abordagem das funções comunicativas
da língua verbal bastante ampla que também pode ser usada para as demais
linguagens. Após estudar a semiótica clássica, Jakobson percebeu a necessidade de
firmar a linguagem como elemento de comunicação humana por excelência. O
linguista, então, distingue seis fatores fundamentais na comunicação verbal que dão
origem a seis funções linguísticas diferentes. Esses fatores são: contexto, emissor,
mensagem, destinatário, contato e código. Gerando seis funções diferentes.
Jakobson foi um dos grandes linguistas do século XX,
estudando a estrutura e a utilidade da linguagem do
ser humano.
(Fonte:
http://www.isfp.co.uk/russian_thinkers/roman_jakobso
n.html)
11
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 03 - A UTILIDADE DA LINGUAGEM
Sebastião Donizeti Bazon
Essas funções são: a função referencial, que é orientada para o contexto da
comunicação, isto é, refere-se ao que está ao nosso redor, como a afirmação: “hoje faz
frio.”. A função expressiva ou emotiva: está centrada no emissor, que declara a sua
atitude afetiva sobre o assunto do qual está tratando, por exemplo, a poesia lírica ou os
xingamentos. A função conativa: é orientada para o destinatário, invocando-o ou
dando-lhe uma ordem. A função fática: tem por objetivo estabelecer, manter ou
interromper a comunicação. Na função metalinguística: a mensagem discute o uso do
próprio código, esclarecendo-o, como quando perguntamos o significado de uma
palavra; também pode ser o caso de uma linguagem comentar outra linguagem, como
a leitura de uma obra de arte. E, por fim, a função poética, que é aquela que visa à
mensagem em si, colocando em evidência a sua própria forma. A mensagem poética
ou estética é sempre estruturada de maneira ambígua em relação ao código, não se
manifestando claramente.
Essas funções não se apresentam separadamente em cada mensagem, mas
combinam-se entre si. A diversidade das mensagens depende da hierarquização das
várias funções, com predominância de uma sobre as demais. Considerando a
linguagem do ponto de vista funcional, Jakobson dá conta não só dos aspectos
cognitivos da língua, mas também de aspectos afetivos que fazem parte de quase toda
situação comunicacional.
Ampliando essas funções para outras linguagens, podemos dizer que tanto a
linguagem da moda quanto as obras de arte expressionistas fazem uso da função
expressiva. Já os manuais técnicos e todas as obras realistas apresentam uma
preponderância da função referencial. A propaganda, as preces e a arte romântica
estão centradas sobre o destinatário, tendo função conativa. A introdução de qualquer
peça musical ou o apagar das luzes numa encenação teatral tem o objetivo de testar ou
estabelecer o contato com o destinatário, realizando, portanto, a função fática. Quando
fazemos uma paródia, estamos usando a função metalinguística; o mesmo acontece
12
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 03 - A UTILIDADE DA LINGUAGEM
Sebastião Donizeti Bazon
quando adaptamos um texto para o teatro ou cinema. Já a função poética
necessariamente está presente em todas as obras de arte.
Com isso, podemos responder à pergunta sobre a utilidade da linguagem: para
nos comunicarmos com os outros seres humanos de hoje, passado e futuro; para
expressar nossos afetos positivos ou negativos; para falar da realidade que nos
circunda; para despertar uma reação no destinatário; para discutir o código que
estamos usando ou outro qualquer; para reafirmar o contato com o outro, sem o que
não haverá comunicação; e para fazer arte.
Assim, como existem diversos tipos de linguagem, existem também diversos
tipos de pensamento. Há o pensamento concreto, que se forma a partir da percepção
sensível, ou seja, da representação de objetos reais, e é imediato, sensível e intuitivo; e
o pensamento abstrato, que estabelece relações (não perceptíveis), que cria os
conceitos e as noções gerais e abstratas, é imediato (precisa da mediação da
linguagem) e racional. Quando somamos 4+4, estamos lidando com uma noção geral
de quantidade, pois não encontramos o número 4 na natureza, encontramos certa
quantidade de laranjas, abacates, etc., representados abstratamente pelos números que
são construção da nossa razão. Cada tipo de pensamento tem uma linguagem
específica para representá-lo, como: o pensamento abstrato e conceitual, que se afasta
do sensível, do individual, a língua se apresenta como condição necessária, por ser um
sistema de signos simbólicos que, como já dissemos nos permite ir além do dado vivido
e construir um mundo de ideias.
Se cada linguagem possui uma estruturação própria quanto ao repertório e às
regras de combinação e de uso, isso resulta na afirmação de que cada linguagem
organiza a realidade de modo diferente de outra, pois estabelece repertório e regras
diferentes. O fato importante de ser ressaltado, entretanto, é que, se uma língua tem
um maior número de palavras para recortar a realidade, a existência dessas palavras
leva a uma percepção diferente da realidade. A língua influencia a percepção da
realidade e os níveis de abstração e generalização do pensamento, outros tipos de
13
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 03 - A UTILIDADE DA LINGUAGEM
Sebastião Donizeti Bazon
linguagem, entretanto, em especial as linguagens artísticas, são mais adequados ao
pensamento concreto, como, por exemplo, o pintor está mais ligado ao mundo visual
das cores e formas do que ao mundo dos conceitos.
Além de estruturar o pensamento, a linguagem mantém estreita relação com a
cultura. Se, por um lado, as várias linguagens fixam e passam adiante os produtos do
pensamento sob forma de ciência, técnica e artes, elas também sofrem a influência das
modificações culturais. A reestruturação da linguagem responde a mudanças de
valores, de anseios e de buscas no seio da cultura de cada sociedade.
A linguagem é um produto bastante sofisticado que só a razão humana pode
criar, sendo a linguagem simbólica a linguagem específica do ser humano. A estrutura
dessa
linguagem,
adequando-se
à
cultura
dentro
da
qual
se
desenvolve
apropriadamente ao tipo de pensamento que vai comunicar ou expressar. Ela permite
que o ser humano vá além do mundo vivido, do presente, para o mundo das ideias, da
reflexão; permite que ele ultrapasse sua realidade de vida e entre no mundo das
possibilidades.
BUSCANDO O CONHECIMENTO
Nesta unidade, estudamos a estrutura que compõe a linguagem, como os
diversos signos que constituem a base inicial para a formação simbólica que caracteriza
a nossa linguagem verbal. Vimos, também, a importância do repertório linguístico e das
regras de combinação, sendo que só podemos combinar a nossa linguagem
literalmente se possuímos o domínio desses dois elementos. A linguagem aparece,
aqui, ligada ao pensamento, gerando uma relação intrínseca entre os mais diferentes
tipos de linguagem, com as diversas formas de pensamento, dando, por fim, a resposta
da utilidade linguística para as nossas vidas, que é a comunicação com os humanos de
hoje, do passado e do futuro, expressando as nossas diversas emoções e
conhecimentos.
14
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 04 - A ARTE COMO FORMA DE CULTURA
Roberto Carlos de Oliveira
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Neste capítulo pretendemos salientar a importância da arte como uma forma de
pensamento sobre a realidade que considera não só a sensibilidade, mas também
faculdades como a imaginação e a intuição.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Assim como o mito e a ciência são modos de organização da experiência
humana - o primeiro baseado na emoção e o segundo na razão -, também a arte vai
aparecer no mundo humano como forma de organização, como modo de transformar
a experiência vivida em objeto de conhecimento, desta vez através do sentimento.
O entendimento do mundo não se dá somente por meio de conceitos
logicamente organizados que, pelo fato de serem abstrações genéricas, estão longe do
dado sensorial, do momento vivido. Ele também pode se dar através da intuição, do
conhecimento imediato da forma concreta e individual, que não fala à razão, mas ao
sentimento e à imaginação. A arte é um caso privilegiado de entendimento intuitivo do
mundo, tanto para o artista que cria obras concretas e singulares quanto para o
apreciador que se entrega a elas para penetrar-lhes o sentido.
O verdadeiro artista intui a forma organizadora dos objetos ou eventos sobre os
quais focaliza sua atenção. Ele vê, ou ouve, o que está por trás da aparência exterior do
mundo. Por exemplo, no filme Amadeus, de Milos Forman, há uma cena que mostra
didaticamente esse processo. A sogra de Mozart, emocionada e muito irritada, conta ao
compositor por que a filha dela o abandonou. Mozart, que a princípio realmente
procurava uma resposta para essa questão, lentamente deixa de prestar atenção às
palavras para sintonizar com a melodia e ritmo do discurso. Ele ouve a musicalidade
por trás do discurso inflamado e compõe uma ária para A flauta mágica.
15
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 04 - A ARTE COMO FORMA DE CULTURA
Roberto Carlos de Oliveira
Assim, como todo artista, Mozart percebe, pelo poder seletivo e interpretativo
dos seus sentidos, formas que não podem ser nomeadas, que não podem ser reduzidas
a um discurso verbal explicativo, pois elas precisam ser sentidas, e não explicadas. A
partir dessa intuição, o artista não cria mais cópias da natureza, mas, sim, símbolos
dessa mesma natureza e da vida humana.
Esses símbolos, portanto, não são entidades abstratas, não são entes da razão.
Ao contrário, são obras de arte, objetos sensíveis, concretos, individuais, que
representam analogicamente, ou seja, por semelhança de forma, a experiência vital
intuída pelo artista.
Assim, quando apreciamos uma obra de arte, fazemo-lo através dos nossos
sentidos: visão, audição, tato, cinestesia e se a obra for ambiental, até o olfato. É a partir
dessa percepção sensível que podemos intuir a vivência que o artista expressou em sua
obra, uma visão nova, uma interpretação nova da natureza e da vida. O artista atribui
significados ao mundo por meio da sua obra. O espectador lê esses significados nela
depositados. Essa "interpretação só é possível em termos de intuição e não de
conceitos, em termos de forma sensível e não de signos abstratos".
Podemos dizer, então, que na obra de arte o importante não é o tema em si,
mas o tratamento que se dá ao tema, que o transforma em símbolo de valores de uma
determinada época.
Papel da Imaginação na Arte
É exatamente a imaginação que vai servir de mediadora entre o vivido e o
pensado, entre a presença bruta do objeto e a representação, entre a acolhida dada
pelo corpo (os órgãos dos sentidos) e a ordenação do espírito (pensamento analógico).
A imaginação, ao tomar o mundo presente em imagens, nos faz pensar.
Saltamos dessas imagens para outras semelhantes, fazendo uma síntese criativa. O
mundo imaginário assim criado não é irreal. É, antes, prerreal, isto é, antecede o real
16
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 04 - A ARTE COMO FORMA DE CULTURA
Roberto Carlos de Oliveira
porque aponta suas possibilidades em vez de fixá-lo numa forma cristalizada. Assim, a
imaginação alarga o campo do real percebido, preenchendo-o de outros.
Arte e Sentimento
Na experiência estética, a imaginação manifesta, ainda, o acordo entre a
natureza e o sujeito, numa espécie de comunhão cuja via de acesso é o sentimento. O
sentimento acolhe o objeto, reunindo as potencialidades do eu numa imagem singular.
É toda nossa personalidade que está em jogo, e o sentimento despertado não é
o sentimento de uma obra, mas de um mundo que se descortina em toda sua
profundidade, no momento em que extraímos o objeto do seu contexto natural e o
ligamos a um horizonte interior. Este sentimento, portanto, “não é emoção, é
conhecimento”.
Estabeleçamos as diferenças entre sentimento e emoção. O termo emoção,
etimologicamente, refere-se à agitação física ou psicológica e é reservado para os níveis
profundos de agitação. Ela rompe a estabilidade afetiva. Assim, emoção designa um
estado psicológico que envolve profunda agitação afetiva.
O sentimento, por outro lado, é uma reação cognitiva, de reconhecimento de
certas estruturas do mundo, cujos critérios não são explicitados. É percepção das
tensões dirigidas, comunicadas e expressas pelos aspectos estáticos e dinâmicos da
forma, tamanho, tonalidade ou altura. Essas tensões são tão perceptíveis quanto o
espaço ou a quantidade.
Podemos, então, dizer que o sentimento esclarece o que motiva a emoção, na
medida em que são essas tensões percebidas que causam a agitação psicológica. A
emoção é uma resposta, é uma maneira de lidarmos com o sentimento. A alegria
expressa pelo riso, por exemplo, é o modo pelo qual lidamos com o sentimento do
cômico; o medo é uma resposta ao sentimento de ameaça.
17
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 04 - A ARTE COMO FORMA DE CULTURA
Roberto Carlos de Oliveira
Assim, o sentimento é conhecimento porque esclarece o que motiva a emoção;
esse conhecimento é sentimento porque é irrefletido e supõe certa disponibilidade para
acolher o afetivo, disponibilidade para a empatia, ou seja, sentir como se estivéssemos
no lugar do outro.
É preciso lembrar que sempre podemos nos negar a essa disponibilidade, pois
ela pressupõe certo engajamento no mundo: o objetivo não é pensá-lo, nem agir sobre
ele; é, tão somente, senti-lo na sua profundidade.
O sentimento, na sua função de conhecimento, alcança, para além da aparência
do objeto, a expressão. A expressão é o poder de emitir signos e de exteriorizar uma
interioridade, isto é, de manifestar o que o objeto é para si. Mas essa expressão, em
arte, ocorre sempre através de um meio específico.
O artista não escolhe o seu meio (vídeo, pintura, dança etc.) como um meio
material externo e indiferente. Para ele, as palavras, as cores, as linhas, as formas e
desenhos, os sons (timbre) dos diversos instrumentos não são somente meios materiais
de produção. São condições do pensar artístico, momentos do processo de criação e
parte integrante e constituinte da sua expressão. O projeto do artista condiciona o meio
e o material, que, por sua vez, condicionam as técnicas e o estilo.
Tudo isso reunido forma a linguagem da obra, sua marca inconfundível, seu
significado sensível. Em virtude dessa ligação indissolúvel entre significante e significado
na obra de arte é que podemos dizer que "o objeto estético é, em primeiro lugar, a
apoteose do sensível, e todo seu sentido é dado no sensível".
Assim, a obra de arte não pode ser traduzida para outra linguagem. Quando
contamos um filme a alguém, ele perde a maior parte de seu significado, pois sua
forma sensível de imagem desapareceu. A obra de arte pode, quando muito, inspirar
uma outra, e então teremos um filme a partir de um livro, uma música a partir de um
quadro etc. São obras diferentes, no entanto.
18
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 04 - A ARTE COMO FORMA DE CULTURA
Roberto Carlos de Oliveira
BUSCANDO O CONHECIMENTO
A arte tem um papel fundamental no desenvolvimento de nossa sensibilidade e
intuição. O mundo não é somente entendido pela lógica e a razão, seu entendimento
se dá também pela sensibilidade e a arte tem o papel de possibilitar esse
entendimento. O artista intui seus sentimentos e visões de mundo na obra, e resta ao
apreciador captar o máximo de dados possíveis daquela obra.
Deixo o link da entrevista realizada com o colecionador de artes Bernardo Paz
falando da importante da arte na vida das pessoas.
VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=-7t_bJs-ftc
19
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 05 - FUNÇÕES DA ARTE
Roberto Carlos de Oliveira
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
O objetivo desta unidade é compreender as funções da arte, isto é, modos pelos
quais ela se apresenta e como o tipo de conhecimento que a arte produz pode ser
utilizado para propiciar não só deleite estético, bem como uma formação técnica e
humanística.
ESTUDANDO E REFLETINDO
A função da arte, numa sociedade em que a luta de classes se aguça, difere, em
muitos aspectos, da função original da arte. No entanto, a despeito das situações
sociais diferentes, há alguma coisa na arte que expressa uma verdade permanente. E é
essa coisa que nos possibilita-nos vermo-nos com as pinturas pré-históricas das
cavernas e com canções antigas.
As obras de arte nem sempre tiveram a mesma função. Ora serviram para contar
uma história, ora para rememorar um acontecimento importante, ora para despertar o
sentimento religioso ou cívico. Foi só neste século que a obra de arte passou a ser
considerada um objeto desvinculado desses interesses não-artísticos, um objeto
propiciador de uma experiência estética por seus valores intrínsecos.
Assim, dependendo do propósito e do tipo de interesse com que alguém se
aproxima de uma obra de arte, podemos distinguir três funções principais para a arte.
Função Naturalista
Refere-se aos interesses pelo conteúdo da obra, ou seja, pelo que a obra retrata,
em detrimento da sua forma ou modo de apresentação. A obra é encarada como um
espelho, que reflete a realidade e nos remete diretamente a ela. Em outras palavras, a
obra tem função referencial de nos enviar para fora do mundo artístico, para o mundo
1
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 05 - FUNÇÕES DA ARTE
Roberto Carlos de Oliveira
dos objetos retratados. Assim, uma escultura de Sócrates, por exemplo, serviria, dentro
dessa perspectiva, para nos remeter ao 'homem e ao filósofo, ao que ele representou
num determinado momento histórico brasileiro.
Essa atitude perante a arte surge bastante cedo. Ela aparece na Grécia, no século
V a.C., nas esculturas e pinturas que "imitam" ou "copiam" a realidade. Essa tendência
caracterizou a arte ocidental até meados do século XIX, quando surgiu a fotografia. A
partir de então, a função da arte, especialmente da pintura, teve de ser repensada e
houve uma ruptura do naturalismo.
Os critérios de avaliação de uma obra de arte do ponto de vista da função
naturalista são: a correção da representação (deve ser representado corretamente para
que possamos identificá-lo); a inteireza, ou seja, a qualidade de ser inteiro íntegro (o
assunto deve ser representado por inteiro); e o vigor, que confere um poder de
persuasão (especialmente se a situação representada for imaginária). Como exemplo,
temos os filmes criados a partir de tecnologia digital, cujas imagens são representadas
com tanto realismo que ficamos convencidos da possibilidade de sua existência.
Função Formalista
O interesse formalista preocupa-se com a forma de apresentação da obra.
Contribui decisivamente para o significado da obra de arte. Este, portanto, é o único
dos interesses que se ocupa da arte enquanto tal e por motivos que não são estranhos
ao âmbito artístico.
Desse ponto de vista vamos buscar, em cada obra, os princípios que regem sua
organização interna: que elementos entraram em sua composição e que relações
existem entre eles. Não importa o tipo de obra analisado: pictórico, escultórico,
arquitetônico,
musical,
teatral,
cinematográfico
etc.
Todos
comportam
uma
estruturação interna de signos selecionados a partir de um código específico.
2
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 05 - FUNÇÕES DA ARTE
Roberto Carlos de Oliveira
Há nessa função, uma valorização da experiência estética como um momento
em que, pela percepção e pela intuição, temos uma consciência intensificada do
mundo. Embora a experiência estética propicie o conhecimento do que nos rodeia, este
conhecimento não pode ser formulado em termos teóricos porque ele é imediato,
concreto e sensível.
O critério através do qual uma obra de arte será avaliada, dentro da perspectiva
formalista, é sua capacidade de sustentar a contemplação estética de um público cuja
sensibilidade seja educada e madura, isto é, que conheça vários códigos e esteja
disponível para encontrar na própria obra suas regras de organização.
Função Pragmática ou Utilitária
A arte serve ou é útil para se alcançar um fim não artístico, isto é, ela não é
valorizada por si mesma, mas só como meio de se alcançar outra finalidade. Esses fins
não artísticos variam muito no curso da história. Na Idade Média, por exemplo, na
medida em que a maior parte da população dos feudos era analfabeta, a arte serviu
para ensinar os principais preceitos da religião católica e para relatar as histórias
bíblicas. Esta é uma finalidade pedagógica da arte.
Na época da Contrarreforma, a arte barroca foi muito utilizada para emocionar
os fiéis, mostrando-lhes a grandeza e a riqueza do reino do céu, numa tentativa de
segurar os fiéis dentro da religião católica, ameaçada pela Reforma protestante. Na
medida em que os argumentos racionais não conseguiam se manter de pé diante das
críticas dos protestantes, a via que restava para a igreja católica era a emocional. Esse é
um exemplo da arte sendo usada para finalidades religiosas.
3
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 05 - FUNÇÕES DA ARTE
Roberto Carlos de Oliveira
A obra “operários” representa a função
pragmática da arte, onde realiza uma crítica a
exploração do trabalho capitalista.
(fonte:
http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/05/22/9349
79/conheca-operarios-tarsila-do-amaral.html
)
No nosso século, o "realismo socialista" tem por finalidade retratar a melhoria
das condições de vida do trabalhador e as principais figuras da revolução socialista
como um meio para despertar o sentimento cívico e manter a lealdade da população. A
própria arte engajada, que floresceu entre nós no final da década de 50 e início da
década de 60, pretendia conscientizar a população sobre sua situação socioeconômica.
Portanto, as finalidades a serviço das quais a arte pode estar podem ser
pedagógicas, religiosas, políticas ou sociais. Nessa perspectiva, quais seriam os critérios
para se avaliar uma obra de arte? Esses critérios também vão ser exteriores à obra: o
critério moral do valor da finalidade a que serve (se a finalidade for boa, a obra é boa);
e o critério de eficácia da obra em relação à finalidade (se o fim for atingido, a obra é
boa). Como vemos, em nenhum momento, dentro desse tipo de interesse, a obra é
encarada do ponto de vista estético.
BUSCANDO O CONHECIMENTO
A função da arte modificou-se ao longo do tempo, começando como uma
representação da natureza, a arte tinha uma função naturalista, sendo a obra mais
bonita aquela que representasse de forma mais fiel o objeto desenhado. A próxima
etapa do desenvolvimento da arte foi à função formalista, agora a arte não está mais
preocupada em representar a natureza, mas sim em contemplar uma ideia universal, a
totalidade passa a ser o foco principal dessa função.
4
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 05 - FUNÇÕES DA ARTE
Roberto Carlos de Oliveira
A última função mencionada nessa unidade é a função pragmática, onde a arte
adquire uma função de ferramenta para atingir algum objetivo específico. Por exemplo,
ela pode ser usada como ferramenta ideológica para uma campanha política.
Segue um link de vídeo sobre as funções da arte:
VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=HGYUGnNmNR8
5
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 06 - O NATURALISMO RENASCENTISTA
Roberto Carlos de Oliveira
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos:
Compreender e caracterizar a estética renascentista.
ESTUDANDO E REFLETINDO
O Renascimento artístico, ocorrido entre os séculos XIV e XV na Europa, passa a
dignificar o trabalho do artista ao elevá-lo à condição de trabalho intelectual.
Consequentemente, a obra de arte assume outro lugar na cultura da época.
Nesse contexto, as artes vão buscar um naturalismo crescente, mantendo
estreita relação com a ciência empírica que desponta na época e fazendo uso de todas
as suas descobertas e elaborações em busca do ilusionismo visual. Assim, a perspectiva
científica, a teoria matemática das proporções, que possibilitam a criação da ilusão da
terceira dimensão sobre uma superfície plana, as conquistas da astronomia, da
botânica, da fisiologia e da anatomia são incorporadas às artes. Osborne distingue seis
princípios fundamentais que dominaram o ponto de vista renascentista no terreno da
estética:
1. A arte é um ramo do conhecimento e, portanto, criação da inteligência.
2. A arte imita a natureza com a ajuda das ciências.
3. As artes plásticas e a literatura têm propósito de melhoria social e moral,
aspirando ao ideal.
4. A beleza é uma propriedade objetiva das coisas e consiste em: ordem,
harmonia, proporção, adequação. A harmonia se expressa matematicamente.
5. As artes alcançaram a perfeição na Antiguidade clássica, que deve ser
estudada.
25
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 06 - O NATURALISMO RENASCENTISTA
Roberto Carlos de Oliveira
6. As artes estão sujeitas a regras de perfeição racionalmente apreensíveis que
podem ser formuladas e ensinadas com precisão. Aprendemo-las pelo estudo das
obras da Antiguidade.
O Humanismo pode ser apontado como o principal valor cultivado no
Renascimento.
Baseia-se
Antropocentrismo,
em
Hedonismo,
diversos
conceitos
Racionalismo,
associados:
Otimismo
e
Neoplatonismo,
Individualismo.
O
Humanismo, antes que um corpo filosófico, é um método de aprendizado que faz uso
da razão individual e da evidência empírica para chegar às suas conclusões,
paralelamente à consulta aos textos originais, ao contrário da escolástica medieval, que
se limitava ao debate das diferenças entre os autores e comentaristas.
O Humanismo afirma a dignidade do homem e o torna o investigador por
excelência da natureza. Na perspectiva do Renascimento, isso envolveu a revalorização
da cultura clássica antiga e sua filosofia, com uma compreensão fortemente
antropocentrista e racionalista do mundo, tendo o homem e seu raciocínio lógico e sua
ciência como árbitros da vida manifesta. Seu precursor foi Petrarca, e o conceito se
consolidou no século XV principalmente através dos escritos de Marsilio Ficino, Erasmo
de Roterdão, Pico della Mirandola e Thomas More.
O brilhante florescimento cultural e científico renascentista deu origem a
sentimentos de otimismo, abrindo positivamente o homem para o novo e incentivando
seu espírito de pesquisa.
O desenvolvimento de uma nova atitude perante a vida deixava para trás a
espiritualidade excessiva do gótico e via o mundo material com suas belezas naturais e
culturais como um local a ser desfrutado, com ênfase na experiência individual e nas
possibilidades latentes do homem.
Além disso, os experimentos democráticos italianos, o crescente prestígio do
artista como um erudito e não como um simples artesão, e um novo conceito de
educação que valorizava os talentos individuais de cada um e buscava desenvolver o
homem num ser completo e integrado, com a plena expressão de suas faculdades
26
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 06 - O NATURALISMO RENASCENTISTA
Roberto Carlos de Oliveira
espirituais, morais e físicas, nutriam sentimentos novos de liberdade social e individual.
Reunindo esse corpus eclético de ideias, os homens do Renascimento cunharam ou
adaptaram à sua moda alguns outros conceitos, dos quais se destacam as teorias da
perfectibilidade e do progresso, que na prática impulsionaram positivamente a ciência
de modo a tornar o período em foco como o marco inicial da ciência moderna.
Mas como que para contrapô-los surgiu uma percepção de que a história é
cíclica e tem fases de declínio inevitável, e de que o homem natural é um ser sujeito a
forças além de seu poder e não tem domínio completo sobre seus pensamentos,
capacidades e paixões, nem sobre a duração de sua própria vida.
O resultado foi um grande e rico debate teórico entre os eruditos, recheado por
fatos novos que apareciam a cada momento, que só teve uma resolução prática no
século XVII, com a afirmação irresistível e definitiva da importância da ciência.
Por um lado, alguns daqueles homens se viam como herdeiros de uma tradição
que havia desaparecido por mil anos, crendo reviver de fato uma grande cultura antiga,
e sentindo-se até um pouco como contemporâneos dos romanos. Mas havia outros
que viam sua própria época como distinta tanto da Idade Média como da Antiguidade,
com um estilo de vida até então inédito sobre a face da Terra, sentimento que era
baseado exatamente no óbvio progresso da ciência.
A história confirma que nesse período foram inventados diversos instrumentos
científicos, e foram descobertas diversas leis naturais e objetos físicos antes
desconhecidos; a própria face do planeta se modificou nos mapas depois dos
descobrimentos das grandes navegações, levando consigo a física, a matemática, a
medicina, a astronomia, a filosofia, a engenharia, a filologia e vários outros ramos do
saber a um nível de complexidade, eficiência e exatidão sem precedentes, cada qual
contribuindo para um crescimento exponencial do conhecimento total, o que levou a se
conceber a história da humanidade como uma expansão contínua e sempre para
melhor.
27
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 06 - O NATURALISMO RENASCENTISTA
Roberto Carlos de Oliveira
A novidade renascentista não foi tanto a ressurreição da sabedoria antiga, mas
sua ampliação e aprofundamento com a criação de novas ciências e disciplinas, de uma
nova visão de mundo e do homem e de um novo conceito de ensino e educação. O
resultado foi um grande e frutífero programa disciplinador e desenvolvedor do
intelecto e das habilidades gerais do homem, que tinha origem na cultura grecoromana e que de fato em parte se perdera para o ocidente durante a Idade Média.
Mas é preciso lembrar que apesar da ideia que os renascentistas pudessem ter
de si mesmos, o movimento jamais poderia ser uma imitação literal da cultura antiga,
por acontecer todo sob o manto do Catolicismo, cujos valores e cosmogonia eram bem
diversos dos do antigo paganismo.
BUSCANDO O CONHECIMENTO
A Renascença foi uma tentativa original e eclética de harmonização do
Neoplatonismo pagão com a religião cristã, do eros com a charitas, junto com
influências orientais, judaicas e árabes, e onde o estudo da magia, da astrologia e do
oculto não estavam ausentes.
O pensamento medieval tendia a ver o homem como uma criatura vil, uma
"massa de podridão, pó e cinza", como se lê em De laude flagellorum de Pedro Damião,
no século XI. Mas quando se eleva a voz de Pico della Mirandola no século XV o
homem já representava o centro do universo, um ser mutante, essencialmente imortal,
autônomo, livre, criativo e poderoso, o que ecoava as vozes mais antigas de Hermes
Trismegisto ("Grande milagre é o homem") e do árabe Abdala ("Não há nada mais
maravilhoso do que o homem").
Esse otimismo se perderia novamente no século XVI, com a reaparição do
ceticismo, do pessimismo, da ironia e do pragmatismo em Erasmo, Maquiavel, Rabelais
e Montaigne, que veneravam a beleza dos ideais do classicismo, mas tristemente
constatavam a impossibilidade de sua aplicação prática universal e testemunhavam o
28
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 06 - O NATURALISMO RENASCENTISTA
Roberto Carlos de Oliveira
deplorável jogo político, a pobreza e opressão das populações e outros problemas
sociais e morais do homem real de seu tempo.
Cabe notar que muitos pesquisadores consideram esta fase final não como uma
etapa no grande ciclo do Renascimento, e a estabeleceram como um movimento
distinto e autônomo, dando-lhe o nome de Maneirismo.
Para um melhor aprofundamento da disciplina, disponibilizo dois links para um
estudo sobre o tema, o primeiro link é do professor Pedro que separou imagens das
principais obras do renascimento, já o segundo link é de um documentário sobre o
renascimento e o iluminismo:
1°LINK:
http://profpedroemfronteira.files.wordpress.com/2010/09/9_pp_arte_do_renascimento.p
df
2°LINK: http://www.youtube.com/watch?v=rS8iKbcnMbw
29
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 07 - A RACIONALIZAÇÃO DA BELEZA
Roberto Carlos de Oliveira
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Entender a relação estabelecida na modernidade entre a estética e a
razão e suas representações artísticas.
ESTUDANDO E REFLETINDO
No Renascimento, os artistas procuram imitar o que a Natureza tem de
essencial e perfeito. A concepção que prevalece a partir dessa época, e para cujo
triunfo colaboraram, entre outros, um Leonardo da Vinci (1452-1519), um Giordano
Bruno (1548-1600) e um Galileu (1564-1642), é que a Natureza é um todo vivo, animado,
regido por leis intrínsecas, que governam o curso dos astros, a queda dos corpos, a
circulação do sangue, a distribuição dos elementos, o ciclo das marés e o equilíbrio das
massas.
Galileu dizia que o livro da Natureza está escrito em linguagem matemática, e
que as suas palavras são Círculos e outras figuras geométricas. Essas palavras também
são leis, determinando as formas dos seres existentes por certas relações constantes, de
ordem geométrica, essenciais à perfeição do todo, e que definem a beleza própria das
coisas naturais que a arte tem por objeto representar.
Verifica-se, no Renascimento, importante mudança na atitude que vinha da
Idade Média, em relação à Pintura, à Escultura e à Arquitetura, então consideradas artes
mecânicas, servis. Artistas como Alberti (1404-1472) e Leonardo da Vinci reivindicam
para essas artes a condição de atividade intelectual, antes somente conferida à Poesia.
Dá-se o reconhecimento das Belas-Artes como síntese da práxis com a imaginação, da
atividade formadora com a inteligência, que se destina a patentear a beleza das formas
naturais em obras que solicitem, ao mesmo tempo, a visão sensível e a contemplação
intelectual.
30
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 07 - A RACIONALIZAÇÃO DA BELEZA
Roberto Carlos de Oliveira
Lembremos, para confirmar esse ponto, a concepção de Leonardo da Vinci, para
quem a Pintura é um meio de analisar a Natureza, de produzir uma visão especulativa
de suas formas regulares e inteligíveis, sujeitas às mesmas leis gerais que as ciências
começariam, depois, a identificar e a traduzir em linguagem matemática.
Essa análise que a visão do artista realiza e que a sua atividade transforma em
obra, completa-se na síntese do quadro, da tela pintada, que permite ver, em sua
beleza intrínseca, graças à perspectiva geométrica, um pedaço da realidade natural. A
Natureza revela-se aos olhos dos que sabem vê-Ia e, através desse meio privilegiado
que é a Pintura, torna-se visível e inteligível para os outros.
O Homem Vitruviano
(1492). Para os
renascentistas a
sensibilidade e a razão
caminham juntas,
sendo possível sua
expressão nas artes.
(fonte: http://www.infoescola.com/desenho/o-homem-vitruviano/ )
31
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 07 - A RACIONALIZAÇÃO DA BELEZA
Roberto Carlos de Oliveira
Somente a Pintura é capaz de oferecer aos sentidos uma tradução sensível, sem
erros, da mesma realidade perfeita que o intelecto apreende por intermédio dos
conceitos gerais e do raciocínio. A função da Pintura é paralela à da ciência e da
filosofia. Dada a condição especulativa atribuída a essa arte, não deve causar surpresa
que Leonardo da Vinci tenha dito que são inimigos da Natureza e da filosofia aqueles
que desprezam a Pintura. Pode-se ver nesse pensamento uma réplica à desvalorização
platônica das "composições imitativas”.
Platão dizia, ironicamente, que a propriedade da Pintura e da Escultura, para
representar os mais diferentes seres - a terra, o céu, os animais e os deuses - não era
diferente da propriedade dos espelhos para refletir tudo o que se põe diante deles. Se
os movimentamos em todas as direções, veremos, de pronto, refletirem-se na superfície
polida as imagens das coisas, e só as puras imagens, que não possuem verdadeira
existência. Esse poder de criar aparências é assumido realisticamente pelos artistas do
Renascimento, no que se refere à função da Pintura. Mais uma vez é Leonardo da Vinci,
o intérprete dessa posição, quem diz em seu Tratado:
O pintor deve ser universal, amar a solidão, considerar aquilo que vê e,
raciocinando por si mesmo, escolher as partes mais perfeitas das coisas que vê.
Há de fazer como o espelho que reflete todas as cores que colocamos diante
dele, parecendo converter-se numa segunda natureza”. (Leonardo da Vinci,
Tratado da pintura, Buenos Aires, 1952, p. 37.)
Poesia e Pintura
O Belo e a Natureza fundem-se num só ideal na arte do Renascimento, que
empresta à Pintura e à Escultura uma dignidade teórica não alcançada na Antiguidade.
A própria Poesia, a que Platão reservou um papel específico, de ordem superior,
submeteu-se muito cedo, desde o século XIV, a esse ideal, que Giovanni Boccaccio
(1313-1375) já aceitava, ao afirmar que o poeta é aquele que tenta fixar em versos
perfeitos as formas da Natureza e as suas operações, e que fala a respeito das coisas
32
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 07 - A RACIONALIZAÇÃO DA BELEZA
Roberto Carlos de Oliveira
animadas e inanimadas numa linguagem vívida, de modo a torná-las presentes à
imaginação.
Para Philip Sidney (1554-1586), autor de famosa apologia da arte poética, há
duas espécies de Natureza: uma que é exterior, a qual inspira o poeta, e uma segunda,
que a sua imaginação povoa com seres míticos ou ideais, como heróis e nobres figuras,
por meio dos quais os vícios e as virtudes são representados.
A polêmica da dignidade das artes, que tanto interessou aos humanistas, liga-se
à hegemonia que teve, a partir de então, a ideia de Natureza. Não é a Escultura a arte
capaz de representar mais fielmente coisas que a Pintura só pode reproduzir, dandonos apenas a ilusão de volume? A Pintura é inferior ou superior à Poesia? Foi aceita, em
princípio, a concepção sugerida por Horácio na Antiguidade e difundida por Simônides,
que estabeleceu a equivalência entre as duas artes, a primeira, considerada uma
espécie de poesia muda (muta póiesis), e a segunda uma pintura que fala (pictura
loquens).
BUSCANDO O CONHECIMENTO
O Renascimento foi a retomada dos valores humanísticos cultuados pela
humanidade no período antigo. Depois de um longo período de esquecimento do
homem no período medieval, as artes e a estética se concentrou na adoração a Deus e
na utilização das artes para evangelização e ensinamentos bíblicos para a população de
maioria analfabeta.
Com a retomada desses ideais esquecidos da antiguidade, o homem voltou a se
concentrar mais no próprio homem, criando obras artísticas onde demonstre as
qualidades da natureza humana. Por isso, os apelos lógicos e matemáticos nas obras
renascentistas são tão grandes, é ressaltar a perfeição humana a finalidade do
Renascimento.
33
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 07 - A RACIONALIZAÇÃO DA BELEZA
Roberto Carlos de Oliveira
Deixo um link de um documentário sobre a vida de Michelangelo (1475 – 1564),
um dos maiores artistas e da época, propôs em suas esculturas, atingir a perfeição da
natureza humana. Por seu conflito interno e externo com a religião, o artista foi
responsável pela pintura da capela sistina, mostrando outra qualidade sua além da
escultura.
LINK: http://www.youtube.com/watch?v=S2LmU1rx7fQ
34
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 08 - A RETOMADA DA MIMESE E A BELEZA NATURAL
Roberto Carlos de Oliveira
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos:
Entender a retomada do sentido da imitação ou da arte enquanto mimese.
Explorar aspectos da beleza natural e sua relação com os sentimentos humanos.
ESTUDANDO E REFLETINDO
O pressuposto filosófico da mimese é uma concepção do mundo racionalista e
realista ao mesmo tempo. O homem, animal racional, vive num universo também
racional, ordenado, onde o Bem é superior ao Mal e o Belo prima sobre o Feio, como a
ordem sobre a desordem e a forma sobre a matéria.
Há dois modos de acesso à Realidade assim concebida: o conhecimento teórico,
objetivo, fundado na Razão, que apreende a essência das coisas e as leis verdadeiras
que as regem, e a Arte, que, nada apreendendo no sentido do conhecimento real e
verdadeiro, representa tanto as coisas que existem como aquelas que, de acordo com
as leis mais gerais da Natureza, apenas são possíveis. Esta a concepção que vamos
encontrar em Denis Diderot (1713-1784).
Para Diderot, que aceitou e interpretou a seu modo o princípio da imitação, a
Natureza, espetáculo comum, impõe-se ao artista como modelo, no qual deverá buscar
não apenas os seus temas, mas o próprio senso de composição necessário à Pintura e à
Escultura. Nessas artes prevalecem as duas qualidades principais que imperam em
qualquer recanto natural, em qualquer parte do mundo: a verdade e a harmonia.
A verdade na Arte, que combina a observação com a imaginação, a reprodução
dos fatos comuns com a escolha dos excepcionais, os traços exteriores da Natureza
com aqueles que a fantasia inventa, é um outro nome para a Beleza, pois que esta,
segundo Diderot, não é senão o verdadeiro revelado por circunstâncias possíveis, mas
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
35
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 08 - A RETOMADA DA MIMESE E A BELEZA NATURAL
Roberto Carlos de Oliveira
raras e maravilhosas. (Diderot, "Obras", in Essais sur Ia peinture, Pensées Detachées, 1. 5,
p. 107.)
Na Ciência, a verdade é sempre geral: os seus conceitos reduzem a realidade a
determinadas formas abstratas, nas quais se dissolvem os aspectos singulares dos
fenômenos. Na Arte, há predominância tanto do individual como do sensível. É por isso
que ela se assemelha à Verdade, traduzindo aquilo que é possível ou provável.
Para Diderot, a arte serve como
modelo para o homem, através
das qualidades de harmonia e
verdade, a natureza ensina o
homem o caminho certo para o
conhecimento. (Natureza morta
com maçãs (1890), Paul Cézanne,)
(fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza-morta )
Diante de uma representação artística, não nos interessa saber se o objeto
representado existe ou não, mas se o artista, respeitando as leis da natureza, o tornou
possível. Eis aí em que se resume o princípio, fundamental para a estética do século
XVIII, do necessário acordo entre Arte e Natureza.
A segunda Natureza que a Arte criaria e de que falam os principais
representantes da doutrina da imitação, não é uma nova realidade que transcende a
natural, mas uma multiplicação inventiva daqueles aspectos que manifestam as íntimas
perfeições de um universo racional, íntegro em todas as suas partes, regido por leis
imutáveis que a razão conhece.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
36
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 08 - A RETOMADA DA MIMESE E A BELEZA NATURAL
Roberto Carlos de Oliveira
A beleza natural e os sentimentos
A Natureza é como pressupunha a concepção que desabrochou com o
Renascimento, a ordem das coisas, indiferente à vontade humana e independente dela.
Mas as inclinações e os sentimentos espontâneos do homem, em oposição a tudo o
que é criado pela sua vontade, a tudo quanto decorre de sua ação prática,
intencionalmente orientada, da qual derivam as técnicas, as convenções sociais, as leis,
a organização civil e política, também fazem parte da Natureza.
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) enfatizou particularmente esse aspecto da
espontaneidade dos sentimentos, quando pregou a urgente necessidade do retorno do
homem ao estado natural. Essa volta seria, em parte, a recuperação da afetividade, da
ordem infusa à consciência, que Pascal chamara, no século XVII, de "ordem do coração"
Essa ideia fundamental de Rousseau, estimulando uma nova apreciação da beleza
natural, e assinalando o início de uma nova atitude em relação à Arte, será um dos
veios do movimento romântico.
Implantado o sentimento da Natureza, o Belo natural confunde-se com a
natureza dos sentimentos. É a fonte das emoções, dos estados afetivos espontâneos e
profundos. Desse ponto de vista, a Arte, veículo da subjetividade, deverá satisfazer,
sobretudo, a "ordem do coração", para tornar-se o reflexo da vida interior do indivíduo.
No seu livro intitulado Discurso sobre as Ciências a as Artes, Rousseau tece uma
crítica ao desenvolvimento das artes de sua época. O tema central do discurso é se as
artes serviram para o aperfeiçoamento do homem, se melhorou ou não sua conduta
em relação ao próximo, percebe-se que, quando Rousseau analisa as artes sob essa
ótica, ele realiza uma relação entre estética e moralidade, pois a arte não é feita pelo
simples fato de praticar arte, o fim não está em si mesma, a função da arte é aproximar
o homem do seu estado natural, possibilitar o homem para que escute a “ordem do
coração”.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
37
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 08 - A RETOMADA DA MIMESE E A BELEZA NATURAL
Roberto Carlos de Oliveira
Porém, as atuais formas que as artes se desenvolvem, ao invés de garantir os
laços do homem com a sua natureza, estão cada vez mais o distanciando. As Artes
como conhecemos hoje, é fruto de um sistema corrupto, cuja finalidade é enaltecer o
egoísmo do homem civilizado. Para Rousseau, a origem de toda essa corrupção de
valores está na passagem do estado de natureza para o estado civilizado: “primeiro
fundador da sociedade civil foi o primeiro que, lembrou-se de dizer isto é meu e
encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo”.
Quando os homens começam a conviver em sociedade, mesmo em sua forma
rudimentar, inicia-se uma competitividade entre os indivíduos. Os homens passam a se
compararem e identificarem: o mais forte, o mais bonito, o mais hábil começa a se
destacar, o ser e o parecer tornam-se diferentes. Surgem então às divergências e
desigualdades entrem os homens, e as artes e a ciência vem para agravar essa situação
de diferenças entre os homens. O indivíduo começa a consumir obras de arte para se
sentir diferente e superior em relação daquele que não possui, desse modo, as artes
vão perdendo sua função original e se torna um objeto de consumo e alienação.
Para Rousseau, a arte é usada de forma errônea,
pois ao invés de aproximar o homem da
natureza, o corrompe distancia-o da verdade e
do seu ser. (Rousseau, um dos principais filósofos
do Iluminismo.)
(fonte: http://www.infoescola.com/filosofia/a-filosofia-de-rousseau/ )
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
38
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 08 - A RETOMADA DA MIMESE E A BELEZA NATURAL
Roberto Carlos de Oliveira
BUSCANDO CONHECIMENTO
A retomada do conceito de mimese no século XVIII foi de grande importância
para o cenário acadêmico da época. A estética volta a se preocupar com a
representação da natureza e suas contribuições para o homem e também para o
conhecimento, por isso pensadores como Diderot e Rousseau investigaram
profundamente as artes e suas relações com a verdade e moralidade no sujeito
moderno.
Para uma melhor compreensão dos conteúdos estudados, deixo o link do livro
Discurso sobre as Ciências a as Artes, do filósofo Rousseau.
LINK: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/cienciaarte.html
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
39
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 09 - A EXPRIÊNCIA ESTÉTICA NA PSICANÁLISE
Roberto Carlos de Oliveira
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos:
Compreender a ideia de experiência estética na psicanálise.
ESTUDANDO E REFLETINDO
O estudo da experiência estética se iniciou na antiguidade, principalmente com a
noção de catarse desenvolvida por Aristóteles. O filósofo achava importante a arte de
levar para o indivíduo e o público os sentimentos representados no teatro, na música
ou na dança e fazê-los sentir as emoções encenadas nas peças. Todavia, Aristóteles não
ampliou e não se aprofundou mais nesse assunto da experiência estética, sendo
somente na modernidade, a retomada desse conceito.
A arte e sua relação com a subjetividade do indivíduo, representado pelas
experiências estéticas, foram discutidas pelos filósofos Kant e Schopenhauer, mas foi
Sigmund Freud (1856 – 1939) quem analisou profundamente, através de uma visão
psicanalítica do assunto. A visão de experiência estética de Freud se assemelha muito
com a psicologia desenvolvida pelo filósofo Platão na antiguidade, pois mesmo sendo
conhecido por suas visões negativas sobre a arte e o artista, Platão baseia sua crítica em
bases epistemológicas, ou seja, se a arte é uma imitação da cópia existente na
realidade, esse elemento afasta o sujeito de tudo aquilo que é realmente necessário
para seu desenvolvimento intelectual, e assim o impede de atingir a verdade.
Por esse motivo, Platão faz uma crítica moral à arte, porque ela acaba
prejudicando o sujeito, levando-o para o mau caminho. A oposição moral de Platão,
busca ligar a Ideia de “Bem” existente no mundo das Ideias, com a Ideia de “Beleza”,
mas não essa beleza existente na sensibilidade que é transitória, mas sim a verdadeira
beleza que habita no mundo inteligível, por isso se o indivíduo consegue atingir o belo
40
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 09 - A EXPRIÊNCIA ESTÉTICA NA PSICANÁLISE
Roberto Carlos de Oliveira
verdadeiro, ele conseguirá atingir a verdadeira bondade. Dessa forma a equação que
representa sistema platônico de beleza é a seguinte: “Belo = Verdade = Bem”.
Com a divisão da alma em três partes, Platão
quis classificar e hierarquizar as partes da alma,
afirmando a parte superior como a mais importante (escola de Atenas, 1509, Rafael.).
(http://www.obeabadosertao.com.br/v3/walter-sarmento/os-valores-intrisecos-daetica_5134.html)
Outra ideia que completa o entendimento da estética desenvolvida por Platão, é
a noção de alma tripartida. O plano alto da alma habita a alma racional, o plano
intermediário habita a alma corajosa e o plano baixo habita a alma desejante. Dessa
forma, o filósofo condena a arte pelo fato dela trabalhar com “imagens” de uma forma
direta ou indireta, apelando para as partes baixas da alma e não para a parte alta da
alma. Nesse ponto, inicia a correlação com o pensamento de Freud, pelo fato que seu
conceito de alma também é dividido em três partes: o id, o ego e o superego. O id é a
parte da alma que armazena as paixões e desejos antisociais, onde vive a sexualidade e
a violência.
Platão e Freud concordam que essas partes baixas, devem ser controladas. O id
para Freud corresponde à alma desejante de Platão, pois essas partes prejudicam a vida
social e particular do homem. Para manter essa parte da alma em controle, Platão
sugere que tire as artes da sociedade, para que evite a tentação de alimentá-las e
depois não conseguir mais dominá-las. Freud é adepto do controle dos instintos
primitivos do homem, onde existe uma luta com outra força profunda, o superego. Por
41
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 09 - A EXPRIÊNCIA ESTÉTICA NA PSICANÁLISE
Roberto Carlos de Oliveira
meio de uma racionalidade extrema, o superego reprime violentamente os impulsos do
id, criando bloqueios para a ação do id, que tem suas energias voltadas para si. Esse
retorno quando acontece de forma positiva é classificado como “sublimação”. O
homem sublimado utiliza da energia sexual e violenta para a criação de obras e
expressão de sua subjetividade por meio do ego, parte racional do ser humano.
Freud ao invés de condenar as artes como fez o filósofo
Platão, ele as utilizou como forma de representação da
subjetividade e da energia libidinosa
(http://www.veteranstoday.com/2013/12/24/sigmund-freud-psychoanalysis-and-thewar-on-the-west/)
A diferença nítida entre o pensamento de Platão e o pensamento de Freud, é
que esse último não tenta excluir as artes da cidade ou do contato com a população,
Freud acredita no potencial das artes como meio de representar os conteúdos
subjetivos das pessoas, através da sublimação, o indivíduo pode desviar essa energia
“baixa” para expressão e criação de beleza e arte.
Freud seria aquele que veio resolver esse velho problema de vinte séculos atrás,
e com a colaboração da psicanálise, as artes que Platão pretendia excluir da sua
república utópica, adquire um novo significado e valor. Freud não mantém uma visão
tão otimista em relação a qualquer processo de sublimação, isso só funciona em alguns
campos do conhecimento humano, mas tem alguns campos que ela se torna ineficaz,
como por exemplo, a ciência. A arte, na visão da psicanálise, busca por fantasias que
42
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 09 - A EXPRIÊNCIA ESTÉTICA NA PSICANÁLISE
Roberto Carlos de Oliveira
correspondem a deleites infantis, o que dificulta o indivíduo submeter-se ao que ele
chama de “princípio de realidade”. Dessa forma, se a arte não for trabalhada com o
processo de sublimação, atrapalha a vida e a compreensão da realidade do sujeito.
Quando a sublimação não é bem desenvolvida, resulta em um processo
chamado de “repressão”. Os processos de sublimação que são desprezados por
múltiplos mecanismos, levam as energias da parte baixa da alma a ficar adormecidas e,
portanto, a retornar com cólera gigantesca se as condições sociais assim permitirem.
BUSCANDO O CONHECIMENTO
As artes foram tratadas de modos diferentes na visão de Platão e na Visão de
Freud. Enquanto Platão acreditava que as artes corrompiam o homem e os afastavam
cada vez mais da verdade e da autêntica beleza, Freud teve uma visão mais otimista
com ideias transformadoras dessas forças negativas do sujeito.
O processo de sublimação proposto por Freud busca canalizar essa energia
destrutiva e transforma-la em ferramenta para a arte e para expressão da subjetividade.
Assim, quando essa sublimação é bem desenvolvida, podemos expressar aquilo que
habita em nosso íntimo, todavia, se ela não for bem trabalhada resulta em repressão,
gerando nos indivíduos um desequilíbrio mental.
No link a seguir, está disponível um diálogo sobre a relação entre arte e
psicanálise produzida pela UNESP.
LINK: http://www.youtube.com/watch?v=cUCRlgRDuag
43
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 10 - CULTURA E MODERNIDADE
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos:
Propiciar conhecimentos sobre a relação entre cultura e modernidade.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Na década de 1860, Karl Marx (1818-1883), um dos fundadores das ciências
sociais, definiu o modelo de organização da sociedade moderna nos seguintes termos:
Dentro do sistema capitalista, todos os métodos para a elevação da força
produtiva social do trabalho se aplicam à custa do trabalhador individual;
todos os meios para o desenvolvimento da produção se convertem em meios
de dominação e exploração do produtor, mutilam o trabalhador,
transformando-o num ser parcial, degradam-no, tornando-o um apêndice da
máquina; aniquilam, com o tormento de seu trabalho, seu conteúdo, alienamlhe as potências espirituais do processo de trabalho na mesma medida em
que a ciência é incorporada a este último como potência autônoma. (...) Mas
todos os métodos de produção de mais valia1 são, simultaneamente, métodos
da acumulação, e toda expansão da acumulação torna-se, reciprocamente,
meio de desenvolver aqueles métodos. Segue, portanto, que à medida que se
acumula capital a situação do trabalhador, qualquer que seja seu pagamento,
alto ou baixo, tem de piorar. Finalmente, a lei que mantém a superpopulação
relativa ou exército industrial de reserva sempre em equilíbrio com o volume e
a energia da acumulação prende o trabalhador mais firmemente ao capital do
que as correntes de Hefaísto agrilhoaram Prometeu ao rochedo. Ela ocasiona
uma acumulação de miséria correspondente à acumulação de capital. A
acumulação da riqueza num pólo é, portanto, ao mesmo tempo, a
acumulação de miséria, tormento de trabalho, escravidão, ignorância,
brutalização e degradação moral no pólo oposto, isto é, do lado da classe
que produz seu próprio produto como capital (MARX, 1984, p. 209-210).
1
Seleciona-se aqui a síntese de Harvey sobre o conceito de mais valia, central na análise marxista:
mais-valia absoluta “(...) apoia-se na extensão da jornada de trabalho com relação ao salário
necessário para garantir a classe trabalhadora num dado padrão de vida. (...) Nos termos da segunda
estratégia, denominada mais-valia relativa a mudança organizacional e tecnológica é posta em ação
para gerar lucros temporários para firmas inovadoras e lucros mais generalizados com a redução dos
custos dos bens que definem o padrão de vida do trabalho” (HARVEY, 1992, p. 174).
44
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 10 - CULTURA E MODERNIDADE
Roberto Donato
No momento em que estas palavras foram escritas não existiam meios de
comunicação em massa, cultura de massa ou indústria cultural. No entanto, nessa
passagem está sintetizado o núcleo fundamental do desenvolvimento do mundo
moderno. Do ponto de vista marxista, toda a modernidade capitalista se funda nessa
relação de exploração entre donos dos meios de produção (capitalistas) e os
vendedores da força de trabalho (trabalhadores). A política, a esfera jurídica, a ciência e
as manifestações culturais são organizadas a partir do estímulo dessa relação social de
produção. No entanto, essa influência acontece também do modo inverso: essas
instâncias socioculturais (superestruturas) agem sobre a organização econômica
(infraestruturas) que as criaram. Essa organização implica três características
fundamentais: a expansividade, a autodestruição criadora e a dessacralização do
mundo.
A expansividade implica um processo de gradativa absorção geográfica do
mundo ao conjunto das relações capitalistas de produção. Para a obtenção de lucro,
deve existir mais produção, mais mercados, mais recursos a serem aproveitados:
(...) A necessidade de mercados cada vez mais extensos para seus produtos
impele a burguesia para todo o globo terrestre. Ela deve estabelecer-se em
toda parte, instalar-se em toda parte, criar vínculos em toda parte. Através da
exploração do mercado mundial, a burguesia deu um caráter cosmopolita à
produção e ao consumo de todos os países. (idem, 1977 p.24-25).
Essa expansividade vem acompanhada, de uma autodestruição criadora, o
eterno destruir o velho para emergir o novo. Esse traço característico não se restringe à
produção industrial de mercadorias, mas, a todo o conjunto das relações sociais
modernas. Ele permite que os indivíduos tornem-se consumidores eternos, na medida
em que o novo deve sempre substituir os antigos produtos, as antigas relações, antigas
formas de pensar. A inovação transforma-se em valor absoluto. Toda tradição perde o
valor.
45
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 10 - CULTURA E MODERNIDADE
Roberto Donato
A burguesia não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de
produção e, por conseguinte, as relações de produção, portanto, todo o conjunto de
relações sociais. A conservação inalterada do antigo modo de produção era, ao
contrário, a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores.
O contínuo revolucionamento da produção, o abalo constante de todas as condições
sociais, a incerteza e a agitação eternas distinguem a época burguesa de todas as
precedentes (MARX & ENGELS, 1977, p. 24).
E, por fim, a sociedade moderna é atravessada por um processo de
dessacralização ou desencantamento do mundo, onde as concepções, valores e normas
perdem suas características mágicas e sagradas, tornado-se racionalizadas e
burocratizadas. Essa dessacralização permite a autodestruição criativa, na medida em
que os valores tradicionais perdem sua aura sagrada. O compromisso pela honra é
substituído pelo documento, juridicamente estabelecido. A intuição é substituída pela
comprovação científica dos fatos. A força dos deuses desaparece diante das leis da
natureza, medidas e controladas cientificamente. Assim...
Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de
concepções e de idéias secularmente veneradas; as relações que a substituem tornamse antiquadas antes de se ossificar. Tudo que era sólido e estável se desmancha no ar,
tudo que era sagrado torna-se profano, e os homens são obrigados finalmente a
encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas (idem,
p. 23)
BUSCANDO CONHECIMENTO
Apesar de Marx apresentar-se como crítico das contradições capitalistas, ele
tinha certa dose de otimismo quanto à capacidade dessas contradições trazerem a sua
própria solução. Ou seja, a alienação e exploração do trabalho pelos capitalistas na
indústria levariam os trabalhadores a adquirir uma consciência de classe. Essa
conscientização das condições de vida proletária era a condição fundamental para o
aparecimento de uma postura revolucionária entre os trabalhadores: “(...) a burguesia
não forjou apenas as armas que lhe trarão a morte; produziu também os homens que
empunharão essas armas – os operários modernos, proletários” (ibidem, p. 32).
46
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 10 - CULTURA E MODERNIDADE
Roberto Donato
Essa rápida passagem pelos escritos de Marx nos possibilita compreender que,
de forma geral, a modernidade é interpretada como uma experiência totalizante. Que
significa essa afirmação? Apesar do caráter dinâmico, criador e destruidor da
modernidade, ela é resultado de um conjunto articulado de relações que atravessam
toda a sua constituição. Economia, organização social, política e cultura têm
correspondências entre si e nos apresentam um mundo organizado. Essa visão também
representa a ideia de que a humanidade tem condição de emancipar-se, viver uma
época de redenção, pois a razão humana teria condições de desmascarar o
funcionamento do mundo.
Através do proletariado,
a cultura ganharia uma nova
forma mais humana e
socializadora. (Fonte:
http://professoraleonorbaiao.blogspot.com.br/)
47
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 11 - O CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA DA CULTURA
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
O objetivo desta unidade é explicitar o contexto histórico da sociologia da
cultura.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Qual é razão de existência de uma
sociologia da cultura? Quando os
sociólogos começaram a se preocupar com
a cultura de modo específico?
Durante o século XIX, a expressão “cultura” e a tentativa de sua análise em
parâmetros científicos foram dominadas pela antropologia. No entanto, nesse
momento, a antropologia dedicava grande parte do seu esforço à análise das
sociedades não-ocidentais. A preocupação dos antropólogos era descrever, classificar e
comparar as sociedades “exóticas”, “selvagens” e “primitivas”. Como a maior parte dos
antropólogos tinha uma visão evolucionista dessas sociedades, a concepção geral era
de que esses povos não tinham grande desenvolvimento econômico, se comparados às
sociedades capitalistas da Europa e dos EUA, cujos saltos tecnológicos experimentados
foram extraordinários
48
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 11 - O CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA DA CULTURA
Roberto Donato
Assim, acreditava-se que essas sociedades eram, em termos civilizatórios,
inferiores às sociedades modernas e capitalistas – ou seja, menos “evoluídas”. Seus
aspectos econômicos eram, de forma geral, menos “interessante” do que a análise de
suas concepções míticas, de suas relações de parentesco, assim como de sua
religiosidade. De forma muito simplificada, podemos afirmar que a antropologia
concentrou-se na análise dos aspectos culturais dos povos não ocidentais. Os termos
“antropologia” e “cultura” estiveram sempre bem próximos.
A sociologia, por sua vez, dedicou-se à análise da própria sociedade moderna,
urbana e industrial, então florescente na Europa e América do Norte. No século XIX, os
pensadores clássicos da sociologia – Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim –
preocuparam-se fundamentalmente em fornecer uma interpretação das novas relações
sociais surgidas com o processo de industrialização, urbanização e racionalização da
sociedade ocidental. Isso não significa que esses autores clássicos não tenham se
preocupado com aspectos culturais da sociedade moderna. As obras dos três
pensadores foram profundamente marcadas, cada uma ao seu modo, pela reflexão
sobre os aspectos religiosos, ideológicos e intelectuais da modernidade. No entanto, a
cultura e suas manifestações não foram preocupações específicas desses três autores.
Os aspectos culturais foram abordados em conjunto com as demais esferas da
sociedade, na medida em que tais autores desejavam oferecer uma explicação
totalizante das relações sociais. Podemos afirmar, então, que Marx, Weber e Durkheim
ofereceram três paradigmas diferentes para a Sociologia.
BUSCANDO CONHECIMENTO
No final do século de XIX, o desenvolvimento tecnológico e científico, que já
tinha revolucionado a produção industrial, chegou aos meios de comunicação. A
mecanização das prensas impulsionou o aparecimento dos jornais de grande circulação.
Com crescente processo de “universalização” da educação, os impressos atingiram um
49
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 11 - O CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA DA CULTURA
Roberto Donato
número cada vez maior de pessoas. A utilização das ondas eletromagnéticas para
comunicação possibilitou o aparecimento do rádio. A fotografia teve seu longo
processo de construção técnica finalizado entre 1830 e 1840, mas ganhou grande
popularidade a partir de 1870. O cinema surgiu como uma decorrência técnica da
fotografia e atingiu notoriedade no início do século XX.
Quando essas inovações técnicas chegaram à comunicação, a Europa e os EUA
já tinham um processo de urbanização e industrialização estruturado, fase em que o
êxodo rural já estava relativamente realizado. De 1850 a 1900, há um vertiginoso
crescimento demográfico, resultado do cientificismo da medicina e da consequente
disseminação das normas sanitárias. Assim, na primeira metade do século XIX, tivemos
uma combinação de fatores que possibilitaram o surgimento das massas urbanas,
grandes conglomerados populacionais, geralmente proletariados. Aliado a esse
processo, nasceram os meios de comunicação de massa, dos quais o jornal, o rádio e,
principalmente, o cinema são grandes representantes.
Devido a existência de grandes massas
populacionais nos centros urbanos, foi
necessário reconfigurar toda a estrutura das
antigas cidades europeias e investir em meios
de comunicação.
(Fonte: http://angelinawittmann.blogspot.com.br/2013/10/um-pouco-de-historia-antecedentes-ao.html)
50
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 11 - O CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA DA CULTURA
Roberto Donato
A partir da primeira metade do século XX, os sociólogos começaram a se
questionar sobre o efeito desses meios de comunicação de massa sobre o conjunto de
valores, normas e concepções das sociedades ocidentais. Começaram a se indagar,
também, sobre as consequências desses meios de comunicação nas manifestações
artísticas. Finalmente, perguntou-se sobre as consequências políticas dessa nova forma
de comunicação dos países urbano-industriais. No entanto, esses questionamentos não
surgiram da pura criatividade dos primeiros sociólogos da cultura. Após a Primeira
Guerra Mundial (1914-1919), os meios de comunicação de massa, principalmente o
cinema, começaram a ser amplamente utilizados como forma de propaganda política
tanto pelos nazifascistas quanto pelos socialistas soviéticos.
Joseph Goebbels (1897 – 1945) utilizou os meios de comunicação e a
arte para controlar grandes massas populacionais, pois sabia do
poder ideológico e políticos existentes neles. (Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/Joseph_Goebbels )
Do mesmo modo, os governos liberal-democráticos dos EUA, impulsionados por
um crescimento econômico sem precedentes, utilizaram o rádio e o cinema para
disseminar o “american way of life”, o estilo de vida americano, pautado por uma
euforia consumista que tinha por objetivo estimular o desenvolvimento industrial do
país. As modernas técnicas de propaganda, veiculadas através dos meios de
comunicação de massa, passaram a fazer parte prioritária das estratégias políticas e
econômicas.
51
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 12 - A CULTURA DE
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
O objetivo desta unidade é compreender o fenômeno da cultura de massa.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Houve, no século XX, uma forte aproximação entre arte e política, a partir da
emergência dos meios de comunicação de massa. Qual seria o efeito dessa junção
entre arte e política? Os novos meios de comunicação teriam um papel revolucionário,
libertando os trabalhadores da exploração capitalista? Ou seria uma eficiente estratégia
de manipulação das massas urbanas como forma de perpetuação do capitalismo?
Quais seriam os efeitos dos meios de comunicação de massa na arte? Diante do
cinema, o teatro poderia desaparecer? A pintura desapareceria diante da fotografia?
Finalmente, a partir dessas indagações, nasceu uma das mais fascinantes vertentes da
sociologia. A sociologia da cultura. Vamos conhecê-la?
Cultura de massa.
Como vimos, a partir do advento da
modernidade,
a
conjunção
entre
densidade demográfica, urbanização e
industrialização promove um processo de
proletarização das cidades europeias e
norte-americanas.
A
grande
multidão
passa a ser presença constante nesse
mundo urbano-industrial e, consequentemente, surgem os problemas sociais
relacionados a essa presença. Desse modo, ainda no século XIX, nasce a realidade de
uma sociedade de massas. De uma maneira geral, este conceito parte da ideia de que o
52
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 12 - A CULTURA DE
Roberto Donato
surgimento das grandes multidões força o desaparecimento das individualidades e das
identidades culturais dos seus integrantes, a partir de um processo de homogeneização
dos gostos e valores. Com o advento das massas, o senso crítico tenderia ao
desaparecimento; nasce, assim, uma cultura de massas.
A ideia de uma sociedade e cultura de massas nasce atrelada as correntes de
pensamentos que apresentam uma visão negativa do fenômeno. Um exemplo é o
surgimento da psicologia das massas (Matterland, 1999), que desejava compreender o
comportamento coletivizado e “irracional” dessas massas a partir dos conceitos de
“sugestão” e “contágio”. As greves e revoltas operárias foram o foco privilegiado de
análise dessa concepção. É nítido que essas teorias contribuíram para a tentativa de
controle das camadas proletarizadas da população, a partir de parâmetros cientificistas.
Diante da uma ameaça coletiva potencialmente incontrolável, foi necessário o
desenvolvimento de mecanismos de manipulação e controle. A medicina e a psicologia
foram chamadas a contribuir para a criação desses mecanismos.
As formas de arte crítica foram substituídas
por culturas simples e repetitivas, o intuito
disso, é afastar o proletariado de possíveis
conscientizações que geraram mudanças
na sociedade.
(Fonte: http://cartacampinas.com.br/2014/03/teatro-de-opera-de-campinas-pode-ter-custo-anual-demanutencao-de-ate-r-10-milhoes/ )
De forma geral, o surgimento de uma sociedade de massas é interpretado como
uma ameaça para a produção cultural do ocidente. As elites europeias viam as massas
populares como incapazes de compreender o significado das óperas, dos clássicos da
53
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 12 - A CULTURA DE
Roberto Donato
literatura, dos grandes artistas da pintura e dos salões de teatro. Esse temor se
“confirmou” para essas elites, com o advento da fotografia e, principalmente, do
cinema. A subjetividade materializada nas telas dos grandes pintores foi fortemente
ameaçada pela objetividade das lentes fotográficas. O processo reflexão contemplativa
das artes tradicionais cedeu espaço para a diversão e entretenimento que saem dos
mecanismos do cinematógrafo.
Seria o cinema uma nova arte ou uma degeneração da arte? Qual seria a relação
das massas com o cinema, com a fotografia e com discos fonográficos? As massas
populares teriam condições de produzir cultura a partir dessas novas e mecanizadas
técnicas? Ou, ao contrário, as massas seriam apenas manipuladas pelas elites
dominantes através desses meios de comunicação?
Esse questionamento foi o ponto de partida para que um conjunto de cientistas
sociais alemães iniciasse uma série de pesquisas sobre a cultura de massas e da
indústria cultural. Walter Benjamin, Max Horkheimer e Theodor Adorno, dentre outros,
construíram análises fundamentais para a compreensão sociológica sobre esses
fenômenos. Com pontos de vista diversos e até opostos entre si, esses pensadores
formaram um grupo denominado genericamente de “Escola de Frankfurt”. O centro de
produção intelectual dos frankfurtianos foi a Revista para a Pesquisa Social, fundada em
1933. Engajados politicamente na luta contra o nazifascismo, esse pensadores, cada um
ao seu modo, utilizaram a sociologia marxista como referência para a construção das
suas teorias. Essa escola de pensamento é, até hoje, umas das referências fundamentais
da sociologia da cultura.
BUSCANDO CONHECIMENTO
A cultura de massas é um tema muito estudado pelos sociológicos da cultura,
pois representa uma realidade triste da nossa atual sociedade. A ideia de cultura e artes
massificadas tem como intuito, favorecer as esferas econômicas e políticas de uma
54
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 12 - A CULTURA DE
Roberto Donato
determinada sociedade. Controlar os gostos e ações gera nas pessoas uma passividade
necessária para a manutenção do status quo1 e o controle da produção e consumo.
O pensador Noam Chomsky (1928 – Atual) elegeu 10 técnicas de como os
poderosos da sociedade usam para controlar as massas, elas são:
1. Estratégia de distração: Essa técnica procura distrair a população com
problemas fúteis, distanciando ela dos verdadeiros problemas da
sociedade.
2. Criar problemas e oferecer Soluções: Aqueles que o poder utiliza-se desta
tática para ganhar apoio das massas, eles criam problemas e já tem uma
solução formulada, assim, eles ganham prestigio e gratidão da população.
3. Estratégia da gradação: Para introduzir uma política considerada
irracional ou que só privilegia uma classe específica da sociedade, os
poderosos inserem aos poucos para a população não perceber, até estar
inserida completamente.
4. Estratégia do deferido: Outra forma para a população aceitar uma
decisão que só convém uma parte específica da sociedade, é fazer que
eles acreditar que aquela decisão é “dolorosa e necessária” e que não
existe outro caminho.
5. Tratar o público como se fossem crianças: Esse método tem como
objetivo condicionar as pessoas como se fossem crianças dóceis e que
aceita as coisas dos adultos.
6. Usar o emocional mais que o racional: Dar ênfase ao emocional faz as
pessoas desligarem o senso crítico.
7. Manter o povo na ignorância: É dar para as camadas pobres uma
educação simples e medíocre, sem acesso a conteúdos críticos.
8. Estimular a permanecer na ignorância: É acostumar o povo a gostar da
ignorância.
1
Status quo se refere ao estado social onde não ocorrem mudanças nas esferas sociais, econômicas e políticas,
beneficiando quem está no poder e controle.
55
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 12 - A CULTURA DE
Roberto Donato
9. Reforçar a autoculpabilidade: Estimular o indíviduo que ele é o único
responsável pelas coisas que acontecem com ele, por exemplo, a sua
situação econômica é resultado exclusivamente dele.
10. Conhecer melhor os outros que a si mesmo: Com avanço da tecnologia e
das ciências, o homem se interessou mais nos outros que a si mesmo,
não conhecendo os seus limites e qualidades.
56
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 13 - TEORIA TRADICIONAL E TEORIA CRÍTICA
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
O objetivo desta unidade é compreender as diferenças e definir a teoria
tradicional e a teoria crítica.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Max Horkheimer (1885-1973) foi o pensador
que desenvolveu as linhas teóricas fundamentais
Escola de Frankfurt. Essa responsabilidade se deu
tanto por sua posição de diretor do Instituto para a
Pesquisa Social, base institucional da Escola de
Frankfurt,
quanto
pela
sua
preocupação
com
construção de uma nova forma de teoria que fosse
capaz de contribuir com a luta contra as formas de
opressão. Esse esforço teórico foi denominado por Horkheimer de teoria crítica.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Para definir as bases de uma teoria crítica, o autor começa com a crítica à
concepção tradicional de teoria científica. A ciência, para Horkheimer, foi constituída
tradicionalmente por um processo de racionalização do pensamento. Para o autor, a
figura fundamental na formação da teoria tradicional foi René Descartes (1596 – 1650).
O método cartesiano nasceu de um pressuposto fundamental: os sentidos
humanos levam inevitavelmente à ilusão e ao erro. A subjetividade, a emoção humana,
fortemente ligada a esses sentidos, deve ser desconsiderada com forma de se encontrar
a verdade. A busca pela realidade das coisas deve ser empreendida pelo pensamento
lógico, que desconfia de todas as intuições e sensações, apegando-se unicamente nas
57
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 13 - TEORIA TRADICIONAL E TEORIA CRÍTICA
Roberto Donato
relações causa/efeito e na quantificação dos fenômenos. Ou seja, é através da dedução
matemática que a explicação dos fatos ganha explicação irrefutável. Nesse sentido, a
busca pela verdade científica deve ser realizada com um processo de simplificação da
aparente complexidade dos fenômenos. A natureza, para o pensamento cartesiano,
tem um funcionamento mecânico. Por isso, a ciência deve decompor os fenômenos em
partes analisáveis, a fim de compreender seus mecanismos de funcionamento interno.
Essas considerações, você deve ter percebido, fundamenta a prática científica vigente
até os dias atuais e possibilitam a especialização científica tão características de nossas
universidades.
Horkheimer faz uma análise crítica dessas bases tradicionais do pensamento
científico:
Na medida em que se manifesta uma tendência nesse conceito tradicional de teoria, ela
visa um sistema de sinais puramente matemáticos. Cada vez menor é o número de
nomes que aparecem como elementos da teoria e partes das conclusões e preposições,
sendo substituídos por símbolos matemáticos na designação de objetos observados.
Também as próprias operações lógicas já estão racionalizadas a tal ponto que, pelo
menos em grande parte da ciência natural, a formação de teorias tornou-se construção
matemática (HORKHEIMER, 1975, p. 126-127).
Para o autor, esse processo de racionalização tornou o homem incapaz de
compreender a pluralidade do mundo, na medida em que o pensamento lógico tornase a via de acesso para a verdade sobre os fenômenos. Tudo o que não se enquadra à
lógica matemática é considerado como falso e ilusório. Além disso, Horkheimer
considera que as “verdades” cartesianas são desprovidas de construção histórica: a
“verdade” está lá, imutável, e só a ciência é capaz de desvendá-la. A natureza – passiva
e matematizada – pode ser assim controlada e dominada. A eficiência e a racionalidade
devem estar acima de qualquer coisa, justificando, assim, os modelos de exploração da
natureza e do próprio homem. Desse modo, para Horkheimer, o projeto científico
tradicional dá suporte para o processo de industrialização em curso. A racionalização
da produção industrial eleva a técnica como a capacidade de materialização dessa
58
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 13 - TEORIA TRADICIONAL E TEORIA CRÍTICA
Roberto Donato
dominação do ser humano sobre a natureza. Assim como, da dominação da burguesia
sobre o proletariado, no modelo capitalista de sociedade.
O que os cientistas consideram como a essência da teoria, corresponde àquilo
que tem constituído de fato sua tarefa imediata. O manejo da natureza física,
como também daqueles mecanismos sociais e econômicos determinados
requer a informação do material do saber, tal como é, dado em uma
estruturação hierárquica das hipóteses. Os progressos técnicos da idade
burguesa são inseparáveis desse tipo de funcionamento da ciência (idem, p.
129).
BUSCANDO CONHECIMENTO
A teoria tradicional tem para Horkheimer, por fim, o objetivo de justificar e
fundamentar as relações capitalistas de produção.
A teoria em sentido tradicional, cartesiano, como se encontra em vigor em
todas as disciplinas especializadas, organiza a experiência à base de
formulações de questões que surgem em conexão com a reprodução da vida
dentro da sociedade atual. Os sistemas de disciplinas contêm os
conhecimentos de tal forma que sob circunstâncias dadas, são aplicáveis ao
maior número de possível de ocasiões. A gênese social dos problemas, as
situações reais nas quais a ciência é empregada e nos fins perseguidos em sua
aplicação são por ela mesma consideradas exteriores (ibidem, p. 163).
A partir dessas críticas à concepção tradicional de teoria científica, Horkheimer
tenta construir sua teoria crítica. Quais seriam as inovações necessárias ao
conhecimento para a fundamentação dessa nova teoria? O autor defende a posição de
que o conhecimento nunca pode ser construído sem levar em consideração a
contextualização social e histórica dos fenômenos que devem ser analisados
teoricamente. Ou seja, é necessário levar em consideração os interesses sociais e
políticos de determinado momento histórico, para, desse modo, compreender a
articulação do fenômeno observado e teorizado com as relações sociais que o
produziram.
59
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 13 - TEORIA TRADICIONAL E TEORIA CRÍTICA
Roberto Donato
A teoria crítica da sociedade, ao contrário, tem como objeto os homens como
produtores de todas as suas formas históricas de vida. As situações efetivas,
nos quais a ciências se baseia, não é para ela uma coisa dada, cujo único
problema estaria na mera constatação e previsão segunda as leis da
probabilidade. O que é dado não depende apenas da natureza, mas também
do poder do homem sobre ela. Os objeto e espécie de percepção, a
formulação das questões e o sentido da resposta dão provas da atividade
humana e do grau do seu poder (idem).
Se a teoria tradicional cartesiana isola os fenômenos de suas condições históricas
e naturais para compreendê-los em sua “essência” matemática, a teoria crítica deseja,
por sua vez, compreender os fenômenos, a partir de suas condições materiais de
existência. Em outras palavras: a teoria crítica pretende, antes de tudo contextualizar os
fenômenos a serem observados em suas condições históricas, atrelados às atividades
humanas, que propiciam seu aparecimento.
Horkheimer acredita que análises críticas das condições sociais de surgimento
dos fenômenos econômicos e socioculturais é o caminho para a libertação dos homens
da opressão no capitalismo. No entanto, Horkheimer, assim como Adorno, não adotam
uma postura marxista pura e simples. Para esses autores, Marx oferece um ponto de
partida para a teoria crítica. No entanto, sabe-se que uma formulação deve buscar
inspiração em outros autores. Horkheimer não considera o desenvolvimento da
civilização ocidental sobre o prisma do progresso e do contínuo aperfeiçoamento;
tampouco acredita no potencial revolucionário do proletariado, tal como Marx.
Horkheimer pega algumas influências do marxismo,
como a divisão de classes e o capitalismo opressor,
mas discorda da teoria quando ela afirma na
evolução do homem e no potencial da revolução.·.
(fonte: http://www.tocadacotia.com/cultura/historia/revolucao-proletaria )
60
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 13 - ADORNO E A INDÚSTRIA CULTURAL
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos:
Propiciar conhecimentos sobre a Indústria Cultural
ESTUDANDO E REFLETINDO
A partir da teoria crítica, Horkheimer e Adorno desenvolveram sua concepção
sobre os efeitos do processo de industrialização da arte e da cultura. Para os autores,
esse processo de massificação não produz cultura. Produz, ao contrário, um conjunto
de mecanismos de esvaziamento da criatividade humana. Os valores e concepções não
são produzidos pelas massas, mas imposto a elas num processo determinado pela
indústria do entretenimento.
Controlada pelos que detêm o poder econômico, as técnicas de comunicação de
massa colocam-se a serviço do processo de alienação.
Por enquanto, a técnica da indústria cultural levou apenas à padronização e à
produção em série, sacrificando o que fazia a diferença entre a lógica da obra
e a do sistema social. Isso, porém, não deve ser atribuída a nenhuma lei
evolutiva da técnica enquanto tal, mas à sua função na economia atual. A
passagem do telefone ao rádio separou claramente os papéis. Liberal, o
telefone permitia que os participantes ainda desempenhassem o papel de
sujeito. Democrático, o rádio transforma-os a todos igualmente em ouvintes,
para entregá-los autoritariamente aos programas, iguais uns aos outros, das
diferentes estações (idem, p.114).
A
indústria
cultural
fundamenta-se,
para
o
frankfurtianos,
numa
homogeneização da linguagem e dos formatos dos programas. A linguagem utilizada é
uma tendência à simplificação da mensagem e está a serviço da tentativa de atingir o
público de forma mais direta. Nesse sentido, não há espaço para experimentalismo. A
busca é por fórmulas prontas de constituição de entretenimento.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
61
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 13 - ADORNO E A INDÚSTRIA CULTURAL
Roberto Donato
O esquematismo do procedimento mostra-se no fato de que os produtos
mecanicamente diferenciados acabam-se por se revelar sempre a mesma
coisa. (...) não somente os tipos de canções de sucesso, os astros e a novelas
ressurgem ciclicamente com invariantes fixos, mas o conteúdo específico do
espetáculo ele próprio derivado deles e só varia na aparência os detalhes
tornam-se fungíveis. A breve sequência de intervalos, fácil de memorizar,
como demonstrou a canção de sucesso; o fracasso temporário do herói que
ele sabe suportar como good Sport que é; (...) são como detalhes, clichês
prontos para serem empregados aqui e ali e completamente definidos pela
finalidade que lhes cabe no esquema (idem, p. 118).
BUSCANDO CONHECIMENTO
A indústria cultural tem por objetivo, ainda, fundir a experiência cotidiana com as
imagens produzidas. Isso possibilita a repressão das capacidades criativas do
espectador, assim como influencia diretamente na satisfação dos seus desejos. Adorno
e Horkheimer recorrem ao pensamento freudiano para demonstrar o efeito moralizador
e repressor dessa fusão sobre a sexualidade dos espectadores. Por trás do erotismo
amplamente divulgado nos filmes e programas de televisão, não se constitui uma
concepção de sexualidade livre de preconceitos e amarras morais. O que ocorre é um
processo de paralisação repressiva dos desejos sexuais. O disponível torna-se
inatingível.
A indústria cultural não sublima, mas reprime. Expondo repetidamente o
objeto de desejo, o busto no suéter e o torso nu do herói esportivo ela apenas
excita o prazer preliminar não sublimado que o hábito da renúncia há muito
mutilou reduziu ao masoquismo. Não há nenhuma situação erótica que não
junte à alusão e à excitação a indicação precisa de que jamais deve ser chegar
a esse ponto. (...) As obras de arte são ascéticas e sem pudor, a indústria
cultural é pornográfica e puritana. A produção em série do objeto sexual
produz automaticamente seu recalcamento (ibidem, p. 131).
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
62
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 13 - ADORNO E A INDÚSTRIA CULTURAL
Roberto Donato
Assim temos, ao mesmo tempo, um mecanismo de controle social com uma
eficácia sem precedentes e um instrumento de reprodução das relações capitalistas de
produção. Ou seja, a promoção de uma passividade psicológica dos indivíduos leva-os
à necessidade de satisfação de desejos imediatistas de consumo. O criar é substituído
pelo consumir. Isso não acontece sem o indivíduo assumir um sentimento de
impotência. Destituído de potencialidades criadoras, só resta a ele consumir aquilo que
é produzido pelos meios industrializados.
A
indústria cultural exerce um poder sobre a
atividade libidinosa dos indivíduos,
moldando-os para melhor controla-los.
(Fonte: http://www.mundodastribos.com/programas-de-tv-estimulam-sexualidade-em-adolescentes.html
)
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
63
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 13 - ADORNO E A INDÚSTRIA CULTURAL
Roberto Donato
Tudo se torna mercadoria. Do chinelo ao sorriso de um ator de cinema, tudo
deve promover uma (in) satisfação só acessível pelo comércio. Por isso, a dinâmica do
capital monopolista se realiza plenamente na indústria cultural.
A cultura é uma mercadoria paradoxal. Ela está tão completamente submetida
a lei de troca que não é mais trocada. Ela se confunde tão cegamente com uso
que não se mais usá-la. É por isso que ela se funde com a publicidade. (...) Os
motivos são marcadamente e econômicos. (...) Ela consolida os grilhões que
encadeiam os consumidores às grandes corporações. Só quem pode pagar
continuamente as taxas exorbitantes cobradas pelas agências de publicidade,
(...), isto é quem já faz parte do sistema ou é cooptado com base nas decisões
do capital bancário e industrial, pode entrar como vendedor no
pseudomercado. Os custos de publicidade, que acabam por retornar aos
bolsos das grandes corporações, poupam as dificuldades de eliminar pela
concorrência os intrusos indesejáveis (idem, p. 151-152).
Por fim, os autores consideram o aparecimento de um obscurantismo moderno
como resultado desse processo de industrialização da cultura. A racionalidade científica,
supostamente desenvolvida para libertar o ser humano das amarras da ignorância e das
concepções religiosas, acabou por promover uma nova fase de cegueira coletiva, de
produção artificial de sentimentos e de transformação dos desejos em mercadoria.
Nesse sentido, para Adorno e Horkheimer, a adoção dos valores consumistas pela
democrática sociedade estadunidense da década de 1950 obedece aos mesmos
princípios dos valores nazistas assumidos pela Alemanha na década 1930: ambos são
frutos a industrialização da cultura.
O consumo exacerbado, de acordo com Adorno e
Horkheimer, seguem a mesma lógica de domínio
do partido Nazista, é controlando e aprisionando o
homem mentalmente é a melhor forma de
controle da sociedade.
(Fonte: http://magazinebrasil.blogspot.com.br/2013/12/espirito-natalino-e-consumismo.html)
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
64
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 15 - WALTER BENJAMIN (1882 – 1940) E A CRÍTICA DA REPRODUÇÃO DA ARTE
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
O objetivo desta unidade é propiciar ao aluno, conhecimento sobre a crítica
realizada do filósofo/sociólogo Walter Benjamin (1882 – 1940) a respeito da arte nas
sociedades modernas.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Walter Benjamin e a reprodutibilidade técnica da arte.
Walter Benjamin (1882 – 1940) é atualmente
considerado uns dos pensadores mais interessantes do
século XX. No entanto, em vida, Benjamin foi bastante
incompreendido pelo tratamento inovador aos temas
pelos quais se interessava. Sua tese de livre-docência –
“Origem do drama barroco alemão” – foi, por
exemplo, rejeitada pela universidade de Frankfurt, pelo
teor crítico em relação ao conservadorismo intelectual alemão do seu tempo. Judeu e
marxista, Benjamin foi perseguido dentro e fora da Alemanha pelos nazistas. Em 1940,
tentou atravessar a fronteira da França com a Espanha, para, assim, refugiar-se da
perseguição nazista nos EUA. Diante das dificuldades da fuga e da possibilidade de ser
preso e entregue aos nazistas pelos espanhóis, cometeu suicídio, ao tomar uma grande
quantidade de morfina.
Benjamin foi um dos pensadores que, na década de 1930, contribuíram para
combater a tendência economicista na sociologia marxista. Até então, a produção
sociológica dessa corrente estava preocupada em compreender a organização
econômica da sociedade capitalista, como forma de buscar elementos teóricos que
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
65
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 15 - WALTER BENJAMIN (1882 – 1940) E A CRÍTICA DA REPRODUÇÃO DA ARTE
Roberto Donato
agregassem valores à luta revolucionária socialistas dos trabalhadores. Os aspectos
culturais são analisados de forma secundária por essa tendência economicista.
Benjamin parte do princípio de que, a partir do século XX, a industrialização passa a
produzir não somente bens materiais, mas, principalmente, bens culturais. Nesse
sentido, era fundamental compreender, do ponto de vista sociológico e revolucionário,
como esta industrialização dos bens culturais poderia alienar ou libertar o proletariado.
Em “a obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica” (1975), escrita em 1936,
Benjamim coloca a questão da seguinte forma:
Na época em que Marx empreendeu sua análise, o modo de produção
capitalista ainda estava em seus primórdios. Marx soube orientar sua pesquisa
de modo a lhe conferir um valor de prognóstico. Remontando às relações
fundamentais, pode prever o futuro do capitalismo. (...) Como as
superestruturas evoluem bem mais lentamente do que as infra-estruturas, foi
preciso mais de meio século para que a mudança advinda nas condições de
produção fizesse sentir seus efeitos em todas as áreas culturais. Dessas
constatações, devem-se extrair determinados prognósticos, menos, (...), dos
aspectos da arte proletária, após a tomada de poder pela classe operária (...)
do que a respeito das tendências evolutivas da arte dentro das condições
atuais de produção (BENJAMIN, 1975, p. 11).
Semelhante a todo bom marxista de seu tempo, Benjamin acreditava na
inevitável chegada da revolução socialista como produto das contradições do próprio
modo de produção capitalista. A citação demonstra, no entanto, que o autor desejava,
mais do que prever como seria uma cultura socialista, compreender as potencialidades
revolucionárias do processo de industrialização dos bens culturais. As tecnologias
científicas trouxeram uma nova forma de produção e circulação da arte. A capacidade
de reprodução em massa das manifestações artísticas seria, para Benjamin, o ponto
fundamental
desse
processo
de
industrialização;
por
isso
mesmo,
é
na
reprodutibilidade técnica da arte que reside esse potencial revolucionário.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
66
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 15 - WALTER BENJAMIN (1882 – 1940) E A CRÍTICA DA REPRODUÇÃO DA ARTE
Roberto Donato
Com o advento do século XX, as técnicas de reprodução atingiram tal nível
que, em decorrência, ficaram em condições não apenas de se dedicar a todas
as obras de arte do passado e de modificar de modo bem profundo os seus
meios de influência, mas elas próprias se imporem como formas originais de
arte (idem, p. 12).
Assim, para Benjamin, a reprodução das peças artísticas tem a capacidade de
transformar a relação entre artista e publico: para se contemplar “A Última Ceia”, de
Leonardo da Vinci, não é mais necessário ir ao convento de Santa Maria delle Grazie,
em Milão – Itália. Pode-se comprar uma reprodução do original numa papelaria; a
dramatização de um ator pode ser reproduzida diversas vezes e demonstrada a
diferentes
públicos
em
diferentes
países,
desde
que
ela
tenha
sido
cinematograficamente gravada. Esse ator não necessita estar presente para entreter seu
público. Esse processo implica, ao mesmo tempo, um distanciamento e uma
aproximação entre artista e seu público.
Como assim? Ora, ao não ser necessário presenciar a execução de um concerto
musical para escutar sua música, perde-se toda a “entrega” emocional dos músicos no
momento exato da produção da sua obra de arte; desperdiça-se parte significativa da
dramatização de um ator quando não estamos no mesmo ambiente de execução da
arte, caso do teatro. Eis um caso de distanciamento. Por outro lado, surge certa
aproximação entre artista e público, quando, graças à captação dos microfones,
assimilamos certos detalhes sonoros que não seriam perceptíveis numa execução
musical ao vivo. Um locutor de rádio fala a milhões de ouvintes simultaneamente,
gerando a sensação de dirigir-se a cada um deles diretamente. Para Benjamin, esse
processo implica a destituição de um componente essencial à arte antes de sua
tecnicidade: o “hic et nunc” ou a “aura” do objeto artístico. Quanto ao primeiro:
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
67
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 15 - WALTER BENJAMIN (1882 – 1940) E A CRÍTICA DA REPRODUÇÃO DA ARTE
Roberto Donato
À mais perfeita reprodução falta sempre algo: o hic et nunc da obra de arte, a
unidade de sua presença no próprio local onde se encontra. (...) O hic et nunc
do original constitui aquilo que se chama de sua autenticidade. (...) A própria
noção de autenticidade não tem sentido para uma reprodução, seja ela
técnica ou não. Pode ser que as novas condições assim criadas pelas técnicas
de reprodução, em paralelo, deixem intacto o conteúdo da obra de arte; mas,
de qualquer maneira, desvalorizam seu hic et nunc (idem, p.13).
BUSCANDO CONHECIMENTO
A desvalorização do hic et nunc – o aqui e agora – da obra de arte, implica a
incapacidade de ela trazer em si o testemunho histórico daquilo que desejava
representar. Explico. A reprodução de um quadro de Michelangelo torna lisa uma
superfície que, no seu original, estaria marcada pelas pinceladas do mestre. Essas
pinceladas trazem o testemunho sutil do momento exato no qual a obra foi executada.
De alguma maneira, está contido naquela superfície o espírito da Itália renascentista, da
qual Michelangelo foi um representante ilustre. Essa historicidade se perde
irremediavelmente, tornando a obra radicalmente atual, passando a representar mais as
condições contemporâneas de sua reprodução do que o momento no qual foi
originalmente produzida. Numa bonita passagem de seu texto, Benjamin descreve esse
fenômeno da seguinte maneira:
Poder-se ia resumir todas essas falhas, recorrendo-se à noção de aura, e
dizer: na época das técnicas de reprodução, o que é atingido na obra de arte
é a sua aura. Esse processo tem valor de sintoma, sua significação vai além do
terreno da arte. (...) Multiplicando as cópias, elas transformaram o evento
produzido apenas uma vez num fenômeno de massas. Permitindo ao objeto
reproduzido oferecer-se à visão e à audição, em quaisquer circunstâncias,
conferem-lhe atualidade permanente. Esses dois processos conduzem a um
abalo considerável da realidade transmitida – a um abalo da tradição, que se
constitui na contrapartida da crise que passa a humanidade e a sua renovação
atual. Estão em estreita correlação com os movimentos de massa hoje
produzidos. Seu agente mais eficaz é o cinema. Mesmo considerado sob
forma mais positiva (...) não se pode apreender a significação social do
cinema, caso seja negligenciado o seu aspecto destrutivo e catártico: a
liquidação do elemento tradicional dentro da herança cultural (idem, p. 14).
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
68
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 15 - WALTER BENJAMIN (1882 – 1940) E A CRÍTICA DA REPRODUÇÃO DA ARTE
Roberto Donato
Para
Benjamin, a
reprodutibilidade das
obras artísticas gera a
perca da aura da obra, perde também o valor histórico contido em cada pincelada que,
o apreciador não terá conhecimento.
(Fonte: http://tecnogeek.com.br/onde-estara-a-monalisa-de-verdade-dna-esclarecerao-enigma/ )
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
69
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 15 - O CINEMA E A CONSCIENTIZAÇÃO DO PROLETARIADO
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
O objetivo desta unidade é entender o funcionamento do cinema como
ferramenta conscientizadora da classe proletária.
ESTUDANDO E REFLETINDO
O desaparecimento da aura pela reprodutibilidade técnica da arte trouxe para a
cultura um fenômeno central no processo de modernização capitalista, que Marx
denominou de “autodestruição criativa” (MARX & ENGELS, 1977, p. 24). Ou seja, uma
das características da modernidade concentra-se no processo incessante de destruição
do velho para a construção do novo. O carro novo torna-se velho rapidamente;
precisamos, assim, de um novo carro novo. Esse “precisamos” ganha uma dupla
dimensão: é uma necessidade material – a depreciação da máquina – e uma
necessidade “espiritual” – o de adquirir status e respeitabilidade pela capacidade de
consumir novas mercadorias. Com o cinema, a fotografia, o rádio e a imprensa
mecanizada, este processo ininterrupto de atualização chega ao domínio da produção
dos valores e das concepções. A obra de arte está desencantada e racionalizada. O
consumidor da arte enxerga nela apenas as marcas do seu próprio tempo. Desse modo,
o desaparecimento da aura implica a produção industrializada da arte e sua
transformação em mercadoria. Implica, portanto, a modificação das relações sociais de
produção da arte. Repetição, divisão do trabalho e alienação inserem-se na produção
artística.
(...) o intérprete do filme sente-se estranho frente à sua própria imagem que
lhe apresenta à câmera, de início, tal sentimento se parece com o de todas as
pessoas, quando se olham no espelho. Mas, daí em diante, a sua imagem no
espelho separa-se do indivíduo e torna-se transportável. E aonde a levam?
Para o público. Trata-se de um fato do qual o ator cinematográfico permanece
sempre consciente. (...) Nesse mercado dentro do qual não vende apenas a sua
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
70
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 15 - O CINEMA E A CONSCIENTIZAÇÃO DO PROLETARIADO
Roberto Donato
força de trabalho, mas também a sua pele e seus cabelos, seu coração e seus
rins, quando encerra um determinado trabalho, ele fica nas mesmas condições
de qualquer produto fabricado (BENJAMIN, 1975, p. 11).
Benjamin interpreta esse processo de desencantamento da obra de arte de
forma dúbia. A desvalorização da aura é, ao mesmo tempo, destrutiva e construtiva:
perde-se a sacralidade da obra de arte, seu testemunho histórico e a capacidade de se
contemplar individualmente os objetos artísticos; no entanto, a arte torna-se
instrumento de politização, de reflexão crítica da coletividade diante dos problemas
sociais.
A fim de se estudar a obra de arte na época de sua reprodução, é
preciso levar na maior conta esse conjunto de relações. Elas
colocam em evidência um fato verdadeiramente decisivo e o qual
vemos aqui aparecer pela primeira vez na história do mundo: a
emancipação da obra de arte com relação à existência parasitária
que lhe era imposta pelo seu papel ritualístico. (...) Mas, desde
que o critério de autenticidade não é mais aplicável à produção
artística, toda a função da arte fica subvertida. Em lugar de se
basear sobre o ritual, ela se funda, doravante, sobre outra forma
de práxis: a política (idem, p 17).
Esse processo de politização da arte e da cultura tem condições, na perspectiva
de Benjamin, de dotar as massas proletarizadas em massas revolucionárias. O cinema
tem a peculiaridade de unir fruição (prazer) com senso crítico.
No cinema, o público não separa crítica de fruição. Mais do qualquer outra parte, o
elemento decisivo aqui é que as reações individuais, cujo conjunto constitui a reação
maciça do público, ficam determinadas desde o começo pela virtualidade imediata de
seu caráter coletivo. Ao mesmo tempo em que se manifestam, essas reações se
controlam mutuamente (ibidem, p.23).
Benjamin argumenta que esse controle das reações individuais permite o
entrelaçamento do entretenimento puro e simples com o olhar crítico sobre a realidade
que é representada pelas telas do cinema.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
71
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 15 - O CINEMA E A CONSCIENTIZAÇÃO DO PROLETARIADO
Roberto Donato
Mas o homem que se diverte também pode assimilar hábitos; diga-se mais é
claro que ele não pode efetuar determinadas atribuições, num estado de
distração, a não ser que elas se tenham tornado habituais. Por essa espécie de
divertimento, pela qual ela tem o objetivo de nos instigar a arte nos confirma
tacitamente que o nosso modo de percepção está hoje apto a responder
novas tarefas. E como, não obstante o indivíduo alimenta a tentação de
recusar essas tarefas, a arte se entrega àquelas que são mais difíceis e
importantes, desde que possa mobilizar as massas. É o que ela faz agora,
graças ao cinema. Essa forma de acolhida pela seara da diversão, cada vez
mais sensível nos dias de hoje, em todos os campos da arte, e que é também
sintoma de modificações importantes quanto à maneira de percepção,
encontrou, no cinema, o seu melhor terreno. Através do seu efeito de choque,
o filme corresponde a essa forma de acolhida. Se ele deixa em segundo plano
o valor de culto da arte, não é apenas porque transforma cada espectador em
aficionado, mas porque a atitude desse aficionado não é produto de nenhum
esforço de atenção. O público das salas obscuras é bem um examinador,
porém um examinador que se distrai (ibidem, p.32-33).
Além do aspecto negativo da perda da aura
nas obras artísticas, Benjamin viu uma
oportunidade de conscientizar a camada
trabalhadora por meio do cinema.
(Fonte: http://revistaoque.com/tempos-modernos-charles-chaplin/ )
BUSCANDO CONHECIMENTO
Para Benjamin, o cinema pode orientar a construção de uma consciência de
coletividade, através do hábito e da circulação de gostos em seu público. Essa
consciência coletiva pode ser orientada criticamente para a formação de uma massa
revolucionária, capaz de transformar a sociedade capitalista em prol de experiências
socialistas. Isso significa afirmar que Benjamin tece uma interpretação positiva da
cultura de massas. O ser humano proletarizado pela fábrica e massificado pela arte
tecnificada é o componente essencial da revolução desejada pelos marxistas.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
72
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 15 - O CINEMA E A CONSCIENTIZAÇÃO DO PROLETARIADO
Roberto Donato
Finalmente, a aceitação do cinema em
nosso mundo contemporâneo deve muito à
interpretação progressista de Walter Benjamin. O
cinema, como crítica social, como instrumento de
educação ou sensibilização de modos de vida
diferenciados ao nosso tem sido constantemente
estimulado, como forma de amenizar a tendência
hollywoodiana
do
entretenimento
cinematográfico alienador. No entanto, essa interpretação esperançosa da obra de arte
não foi totalmente aceita pela Escola de Frankfurt. Horkheimer e Adorno tinham um
posicionamento muito mais crítico ao processo de industrialização da arte. Para eles, o
rádio, o cinema e a disco não eram instrumentos de libertação; antes instrumentos de
aprisionamento do ser humano.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
73
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 16 - A INFLUÊNCIA NIETZSCHEANA NA TEORIA CRÍTICA
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
O objetivo desta unidade é entender a crítica realizada pelo filósofo alemão
Friedrich Nietzsche a cultura moderna.
ESTUDANDO E REFLETINDO
O filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 – 1900), refletiu sobre a
modernidade, enfatizando os seus aspectos destrutivos. A razão classificadora e
ordenadora separou a existência em domínios distintos: humanidade e natureza,
pensamento e corpo: uns sujeitos superiores, outros objetos manipuláveis. O domínio
do corpo e da natureza pelo pensamento humano levou à ideia, ilusória segundo o
filósofo, de que a “superioridade” humana poderia controlar todos os fenômenos.
Assim, o processo de racionalização e desencantamento do mundo levaria a um
processo de “coisificação”, onde tudo perderia o sentido.
O sentido histórico quando reina irrefreado e traz todas as suas consequências,
erradica o futuro, porque destrói as ilusões e retira às coisas sua atmosfera,
somente na qual elas poderiam viver. A justiça histórica, mesmo quando é
exercida efetivamente e em intenção pura, é uma virtude pavorosa, porque
sempre solapa o que é vivo e o faz cair: seu julgamento é sempre uma
condenação à morte. Quando por trás do impulso histórico não atua nenhum
impulso construtivo, (...) então o instinto criador é despojado de sua força e
seu ânimo (NIETZSCHE, 1983, p. 65).
O filósofo alemão se distancia da tendência moderna do culto a razão, o seu
objetivo está em destruir a imagem boa e poderosa que, desde a antiguidade vem
sendo criada para justificar o uso da razão. A razão não passa de uma limitadora da
vida, de um artifício para controlar os fortes por natureza, aqueles em que a vontade de
viver - os instintos naturais, fala mais alto e guiam eles rumo a uma vida autêntica. Por
meio da razão, comenta Nietzsche, o homem negou essa vontade e criou a filosofia e a
74
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 16 - A INFLUÊNCIA NIETZSCHEANA NA TEORIA CRÍTICA
Roberto Donato
religião para dominar os fortes e negar a este mundo. A origem do niilismo1 iniciou-se
com Sócrates de Atenas (469 a.C. – 399 a.C.) e sua doutrina da alma, depois Platão (428
a.C. – 348 a.C) intensificou essa ideia, criando a divisão da realidade em dois mundos: o
mundo das Ideias e o mundo das cópias. Para ele, o mundo sensível é um mundo falso,
onde só existe imperfeição e ilusão, essa ideia serviu como base para a religião cristã e
sua doutrina que condena esse mundo, condenando também a vida sensível.
Essas características fundamentais de modernidade estão presentes no
pensamento teóricos da sociologia da cultura que analisamos no módulo anterior.
Benjamin, Horkheimer e Adorno, cada um à sua maneira, pensaram o processo de
massificação da cultura a partir desses princípios de definição de um mundo moderno.
Walter Benjamin, mais fiel à concepção marxista de modernidade, entendeu esse
processo de massificação através da chegada da técnica industrial à arte e aos meios de
comunicação. Para ele, esse processo era destrutivo e criativo. A reprodutibilidade
técnica destruiu antigos vínculos da arte com a experiência sagrada – mítica ou religiosa
– através da desvalorização da aura. Mas, ao mesmo tempo, o autor considerava que a
diversão cinematográfica possibilitaria a circulação de posições críticas sobre a
sociedade, capaz, inclusive, de estimular movimentos revolucionários.
Através de sua crítica a racionalização e moralidade ocidental, Nietzsche
influenciou o pensamento dos teóricos da escola de Frankfurt.
(Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Nietzsche )
1
Niilismo significa “culto ao vazio”, isso ocorre quando o homem nega a sua realidade para viver algo que ele
não tem certeza que existe. Não consegue viver nem os valores desta realidade e da outra realidade.
75
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 16 - A INFLUÊNCIA NIETZSCHEANA NA TEORIA CRÍTICA
Roberto Donato
A massificação da cultura poderia conter as condições de desenvolvimento de
uma nova sociedade, a socialista, na qual o homem proletarizado e massificado seria o
redentor. Harvey nos apresenta uma boa síntese da visão de Benjamin sobre
modernidade:
Os fatos dessa vida (...) tiveram mais do que uma influência passageira sobre a
sensibilidade estética criada, por mais que os próprios artistas proclamassem
uma aura de “arte pela arte”. Para começar, como Benjamin assinalou em seu
célebre ensaio (...), a capacidade técnica mutante de reproduzir, disseminar, e
vender livros e imagens a públicos em massa, e a invenção de fotografia e,
depois, do filme (ao que hoje acrescentamos o rádio e a televisão), mudaram
radicalmente as condições materiais de existência dos artistas e, portanto, seu
papel social e político. E, sem relação com a consciência geral do fluxo e da
mudança presente em todas as obras modernistas, um fascínio pela técnica,
pela velocidade e pelo movimento, pela máquina e pelo sistema fabril, bem
como pela cadeia de novas mercadorias que penetravam na vida cotidiana,
provocou uma nova gama de respostas estéticas que iam da negação à
especulação sobre especulação utópicas, passando pela imitação (HARVEY,
2007, p. 32).
Horkheimer e Adorno, por sua vez, combinaram a visão marxista com a
percepção nietzscheana sobre a modernidade. Essa combinação pode ser
apreciada na frase anteriormente citada: “a maldição do progresso irrefreável é
a irrefreável regressão” (ADORNO & HORKHEIMER, 1999, p. 54).
O pessimismo dos dois autores sobre a indústria cultural expressa a ideia de que
a massificação é um resultado indesejado, mas inevitável, do projeto iluminista.
O século XX – com seus campos de concentração e esquadrões da
morte, seu militarismo e duas guerras mundiais, sua ameaça de
aniquilação nuclear e sua experiência de Hiroshima e Nagasaki –
certamente deitou por terra esse otimismo. Pior ainda, há a suspeita de
que o projeto do iluminismo estava fadado a voltar-se contra si mesmo
e transformar a busca da emancipação humana num sistema de
opressão universal em nome da libertação humana. Foi essa a atrevida
tese apresentada por Horkheimer e Adorno em A dialética do
esclarecimento. Escrevendo sob as sombras da Alemanha de Hitler e da
Rússia de Stálin, eles alegavam que a lógica que se oculta por trás da
racionalidade iluminista é uma lógica da dominação e da opressão. A
ânsia por dominar a natureza envolvia o domínio dos seres humanos, o
que no final só poderia levar a uma tenebrosa condição de
autodominação. A revolta da natureza, na qual eles apresentavam
como única saída para o impasse tinha, portanto de ser concebida
como uma revolta da natureza humana contra o poder opressor da
76
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 16 - A INFLUÊNCIA NIETZSCHEANA NA TEORIA CRÍTICA
Roberto Donato
razão puramente instrumental sobre a cultura e a personalidade
(HARVEY, 2007, p. 32).
BUSCANDO CONHECIMENTO
A ciência e a técnica industrializaram a consciência dos indivíduos e os
entregaram ao consumo impensado, seja de mercadorias ou de ideologias políticas.
Isso implica uma extensão dos elementos racionalizadores a todas as esferas da
sociedade,
inclusive
a
cultura,
e,
consequentemente,
o
ponto
máximo
de
desenvolvimento da modernidade. Essa extensão foi demonstrada pelos frankfurtianos
de forma original. Pode-se afirmar, então, que esses autores foram fundamentais para
os movimentos sociais e políticos que proliferaram a partir da década de 1960. Eles
deram suporte teórico para a contestação dos padrões modernos de sociabilidade.
Esses autores contribuíram, finalmente, para se compreender que a modernidade
chegou ao auge das suas possibilidades. E, talvez, o momento de sua superação...
77
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 17 - A CULTURA CONTEMPORÂNEA SEGUNDO MORIN E DEBORD
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos:
Explicitar as ideias de cultura contemporânea segundo Morin e Debord.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Partir da década de 1960, surgem novas concepções teóricas sobre a cultura
de massas. Essas concepções tendem a compreender a massificação da cultura,
não como um reflexo inevitável da dinâmica econômica do capitalismo, mas,
sobretudo, como capaz de transformar e de se descolar do próprio processo
econômico que lhe deu o impulso.
Edgar Morin (1921 – Atual.), um dos propositores de uma nova concepção de
modernidade, passa a compreender a cultura de massas como uma religião terrena.
A cultura de massa é um embrião da religião da salvação terrestre,
mas falta-lhe a promessa da imortalidade, o sagrado e o divino para
realizar-se como religião. Os valores individuais por ela exaltados –
amor, felicidade, auto-realização – são precários e transitórios; o
indivíduo terrestre e mortal, fundamento da cultura de massa, é ele
próprio o que há de mais precário e transitório; essa cultura está
comprometida com a História em movimento, seu ritmo é o da
atualidade, seu modo de participação é lúdico-estético, seu modo de
consumo é profano, sua relação com o mundo é realista (MORIN,
1990, p.167).
Diferentemente da concepção adorniana de que a massificação da cultura é
mero reflexo da universalização do processo de industrialização, Morin encara a
cultura de massa como propulsora de um novo tipo de ação humana na realidade
que passa a orientar esse processo.
O que constitui a originalidade, a especificidade da cultura de massa
é a direção de uma parte do consumo imaginário, pela orientação
dos processos de identificação, para as realizações. Nas sociedades
ocidentais esse desenvolvimento do consumo imaginário provoca um
aumento da procura real, das necessidades reais (elas mesmas cada
vez mais embebidas do imaginário, como as necessidades de padrão
social, luxo, prestígio); o crescimento econômico caminha num
sentido que parecia incrível um século atrás: realizar o imaginário
(idem, p.168).
78
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 17 - A CULTURA CONTEMPORÂNEA SEGUNDO MORIN E DEBORD
Roberto Donato
Como resultado dessa orientação da realidade pela cultura de massa, nasce
um processo bifurcado, que torna a mentalidade humana ao mesmo tempo
homogênea e individualizada; objetiva e subjetiva; microcósmica e macrocósmica. A
promoção do individualismo é realizada partir da ideia de que esse indivíduo pode
ter acesso a possibilidades cósmicas. A massificação permite que uma viagem
espacial seja apropriada pelo mais simples trabalhador de uma linha de produção,
afundado em seu cotidiano repetitivo.
Daí essa contradição dialética que se apodera, dos homens e do
universo tecnicizado. Os homens sofrem em seu próprio ser os
processos de objetivação, mas, ao mesmo tempo, ficam
impregnados de valores subjetivos estéticos. Assim, a dupla natureza
da cultura de massa, tecnicista e contratecnicista, abstrata e
concreta, objetivadora e subjetivadora, industrial e individualista
encontra seu fundamento no próprio fundamento da técnica (ibidem,
p. 173).
Porém, diferentemente de Horkheimer e Adorno, Morin não se torna um
pessimista quanto aos resultados civilizatórios da proliferação da cultura de massas.
Para o autor, a valorização máxima do individualismo realizada pela massificação
esconde uma semente de grandiosidade; a busca pela satisfação pessoal
imediatista faz esse indivíduo massificado busca sua satisfação numa percepção
universal da existência.
Podemos, enfim, perceber o seguinte: há na cultura de massa, outra
coisa, um aquém e um além, que a prende no devir profundo da
humanidade, algo escondido, como uma semente sob o caroço dos
mitos do indivíduo privado. Há, moldada, fundida, aglutinada sob a
fixação individualista a espera e a busca milenar de mais bondade,
mais piedade, mais amor e mais liberdade. (...) Há, no homem que
parece esconder-se como um eremita, sob os estranhos objetos de
sua propriedade, a cega aspiração à comunicação com o outro. Há
no pequeno-burguês televisual uma relação precisamente pelo vídeo
com o cosmonauta que navega pelos espaços, e é, por mais tênue
que seja, uma relação de pulsação com o mundo, com o Espírito do
Tempo... (ibidem, p. 180)
79
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 17 - A CULTURA CONTEMPORÂNEA SEGUNDO MORIN E DEBORD
Roberto Donato
BUSCANDO CONHECIMENTO
A capacidade de Morin em encontrar a
grandiosidade humana no exato momento de
sua pequeneza, não encontra eco em outro
influente
pensador
dos
anos
1960.
Guy
Debord, a partir de uma crítica ácida ao que ele
chama de sociedade do espetáculo, denuncia o
processo de estabelecimento das relações
humanas, através da proliferação de imagens
alienadoras da realidade. Marx, nos anos 1860,
escreveu capítulo I de O Capital: “A riqueza das sociedades onde rege a produção
capitalista configuração em imensa produção de mercadorias (MARX, 1984, p.41)”.
Debord, cem anos depois, escreveu no capítulo I de A Sociedade do Espetáculo:
“Toda a vida nas sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção
se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era vivido
diretamente tornou-se representação.” (DEBORD, 1997, p. 13).
A sociedade do espetáculo descrita por Debord revela a condição cultural do homem atual
que perdeu sua autonomia e vive passivo aos veículos de comunicação
(Fonte: http://www.redemegafone.com.br/mensalao-o-circo-e-nenhum-pao-por-mauro-iasi/)
A partir da ideia de que a produção, circulação e consumo de imagens
espetacularizadas
tornaram-se
o
processo
dominante
do
capitalismo
contemporâneo, o autor anuncia a morte do homem que vive experiências reais. As
80
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 17 - A CULTURA CONTEMPORÂNEA SEGUNDO MORIN E DEBORD
Roberto Donato
imagens espetaculares passam então a mediar às relações sociais entre as
pessoas.
Como suas teses foram desenvolvidas no momento-auge da Guerra Fria
(1965-1967), Debord considerava que a sociedade do espetáculo podia se
manifestar de duas formas básicas: a difusa e a concentrada. A primeira, típica das
democracias liberais do mundo capitalista, garante uma capa democrática na
difusão das imagens que devem ser consumidas pela massa. A segunda forma,
concentrada, está fundamentalmente presente nos regimes ditatoriais e totalitários,
nos quais a construção do espetáculo está diretamente ligada aos interesses
políticos do Estado. Com o fim da guerra fria, Debord atualizou seus conceitos ao
afirmar que, no mundo contemporâneo, vigora o espetáculo do tipo “integrado”1: “A
sociedade modernizada até o estágio do espetacular integrado se caracteriza pela
combinação de cinco aspectos principais: incessante renovação tecnológica, a fusão
econômico estatal, o segredo generalizado, a mentira sem contestação e o segredo
perpétuo.” (DEBORD, 1997, p. 174).
1
O espetáculo integrado e suas características: “O movimento de inovação tecnológica, que já dura
muito tempo, é constitutivo da sociedade capitalista (...). Mas, desde que recebeu seu mais recente
impulso (logo após a Segunda Guerra Mundial), ele reforçou ainda mais a autoridade espetacular: por
seu intermédio todos se veem inteiramente entregues ao corpo de especialistas, a seus cálculos e
seus juízos sempre satisfeitos com esses cálculos. A fusão econômico-estatal é a tendência mais
manifesta do século XX; ela se tornou o motor do desenvolvimento econômico recente. A aliança
defensiva e ofensiva – firmada entre essa duas forças, a economia e o Estado, garantiu-lhes os
maiores ganhos comuns em todos os domínios: pode-se dizer que cada uma das duas possui a outra
(...). O segredo generalizado mantém-se por trás do espetáculo, como o complemento decisivo
daquilo que mostra e, se formos ao fundo das coisas, como sua mais importante operação. (...) O fato
de não ter contestação conferiu à mentira uma nova qualidade. Ao mesmo tempo, a verdade deixou
de existir em quase toda a parte, ou no melhor caso ficou reduzida a uma hipótese que nunca poderá
ser demonstrada. A mentira sem contestação consumou o desaparecimento da opinião pública (...). A
construção de um presente em que a própria moda, do vestuário aos cantores se imobilizou e da
impressão de já não acreditar no futuro, foi conseguida pela circulação incessante de informação que
a cada instante retorna a uma lista bem sucedida tolices (...) (idem, p. 175-176).
81
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 18 - CULTURA E PÓS-MODERNIDADE
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos:
Propiciar conhecimentos sobre Cultura e Pós Modernidade
ESTUDANDO E REFLETINDO
Passagem dos anos 1960 para os 1970 marcam um período de grandes
transformações, que, de certo modo, determinam o nosso modo ser e se relacionar
com o mundo na atualidade. Essas transformações ocupam o centro do debate nas
ciências sociais em nossos dias. Muitos pensadores afirmam que atravessamos um
período que guarda diferenças fundamentais com a sociedade nascida com a revolução
industrial na passagem do século XVIII para o século XIX. Ou seja, estaríamos na
passagem de um mundo moderno para um mundo pós-moderno.
A modernidade é caracterizada pela autodestruição criadora, pela fé na
racionalidade científica e compreensão de mundo como uma totalidade organizada,
quais seriam as características fundamentais da pós-modernidade?
Poderíamos tentar resolver essa difícil questão, a partir das transformações
econômicas surgidas no capitalismo global entre 1960 e 1970. Para Eric Hobsbawn, o
período 1945 – 1973 pode ser definido como a “era de ouro” do século XX, período no
qual a reconstrução do mundo no pós-guerra teria dado grande impulso ao
desenvolvimento econômico capitalista. Fundamentado no modelo fordista de
produção industrial, surgiu um novo ímpeto de consumo e de cultura de massa, no
qual o consumismo e individualismo tornaram-se os valores fundamentais. A derrota
do
nazifascismo
na
II
Guerra
Mundial
(1939-1945)
fez
surgir
um
mundo
geopoliticamente polarizado (a Guerra Fria) e, em termos culturais, a crença em que o
mundo ocidental capitalista era a materialização dos objetivos fundamentais do já
discutido projeto iluminista: bem-estar, direitos humanos e progresso econômico.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
82
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 18 - CULTURA E PÓS-MODERNIDADE
Roberto Donato
No entanto, esse modelo começa a apresentar sinais de enfraquecimento, no
final dos anos 1960, dando abertura para uma reorganização sociocultural significativa.
David Harvey coloca a questão nos seguintes termos:
Aceito amplamente a visão de que o longo de período de expansão de
pós-guerra, que se estendeu de 1945 a 1973, teve como base um
conjunto de práticas de controle de trabalho, tecnologias hábitos de
consumo e configurações de poder político-econômico, e de que esse
conjunto pode com razão pode ser chamado de fordista-keynesiano.
O colapso desse sistema a partir de 1973 iniciou uma rápida mudança,
de fluidez e incerteza (HARVEY, 2007, p.119).
Dessas transformações socioeconômicas surge um novo modelo de organização
produtiva denominado de “acumulação flexível” ou “toyotismo”. Esse modelo implica
um processo de incorporação de novas tecnologias no processo de trabalho que se
corporificam na informatização e na robotização das indústrias. A partir dessas
possibilidades tecnológicas, ocorre todo um conjunto de transformações na
organização do trabalho, no qual a velha linha de produção fordista entra em
decadência. O trabalhador passa a integrar uma dinâmica produtiva no qual seu braço
perde importância em relação aos mecanismos robotizados de produção. A
robotização e informatização agilizam o processo produtivo de tal forma que as
indústrias deixam de realizar grandes estoques de mercadorias produzidas, passando a
produzir unicamente para a demanda de procura de seus clientes. Ou seja, de forma
geral, a produção só acontece após a “solicitação” do consumidor. A produção
industrial torna-se flexível: maior demanda, maior produção; menor procura, menor
produção. Esse modelo exigiu um novo modelo de relação capital-trabalho, no qual o
trabalhador pode ser rapidamente contratado e demitido pelas empresas. Nasce, assim,
o que chamamos em sociologia, de flexibilização das relações de trabalho.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
83
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 18 - CULTURA E PÓS-MODERNIDADE
Roberto Donato
A acumulação flexível, como vou chamá-la, é marcada por um
confronto direto com a rigidez do fordismo, ela se apóia na
flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos
produtos e dos padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento
de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de
fornecimento financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas
altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e
organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos
padrões de desenvolvimento desigual, tanto em setores como em
regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no
emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos
industriais completamente novos em regiões geográficas até então
subdesenvolvidas (...) (idem, p. 140).
BUSCANDO CONHECIMENTO
No plano sociocultural, vem ocorrendo um conjunto de movimentos e
contestações ao modelo dominante de produção cultural, que acompanha esse
processo de reestruturação dos padrões econômicos do capitalismo. A rejeição aos
modelos de bem-comportados da família e da cultura de massa, vigentes até a década
de 1960, passa a estimular a busca de novos padrões de comportamento.
Inicia-se, então, um processo de reformulação dos valores culturais que
fundamentaram a modernidade – nas artes, na filosofia e nas ciências – a partir de
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
84
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 18 - CULTURA E PÓS-MODERNIDADE
Roberto Donato
noção fundamental de que a realidade não era mais possível de ser compreendida
como uma totalidade articulada. As relações de causa e efeito não seriam mais capazes
de explicar a multiplicidade de fenômenos que acontecem na natureza, nas sociedades
e nas culturas. Michel Foucault explica essa concepção da seguinte forma:
É preciso entender por acontecimento não um tratado, um reino, ou
uma batalha, mas uma relação de forças que se inverte, um poder
confiscado, um vocabulário retomado e voltado contra os seus
utilizadores, uma dominação que se enfraquece, se distende, se
envenena e uma ou outra que faz sua entrada mascarada. As forças
que se encontram em jogo na história não obedecem nem a uma
destinação, nem a uma mecânica, mas ao acaso da luta. (FOUCAULT,
1984, p.28).
Assim, a ideia fundamental é que a realidade pode ser considerada um conjunto
de colagens, justaposições de práticas sociais, políticas e culturais dificilmente
apreendidas de forma total. A cultura não teria correspondência às características
socioeconômicas. A proliferação de diferentes modos de vida e a pulverização dos
movimentos contestatórios passa a vigorar. O feminismo, o movimento negro, o
ambientalismo, as lutas estudantis substituiriam a velha luta revolucionária entre capital
e trabalho. É a pós-modernidade...
Isso significa que vivemos num mundo “pós-capitalista”? A pós-modernidade
não é ruptura total com o mundo moderno. A pós-modernidade radicaliza
características propriamente modernas. Nesse sentido, a pós-modernidade pode ser
apresentada, segundo Jameson, como a lógica cultural do capitalismo tardio.
O que ocorreu é que a produção estética hoje está integrada à
produção de mercadorias em geral: a urgência desvairada da
economia em produzir novas séries de produtos que cada vez mais
pareçam novidades (de roupas a aviões), com um ritmo de turn over
cada vez maior, atribui uma posição e uma função estrutural cada vez
mais essenciais à inovação estética e ao experimentalismo (JAMESON,
1996, p. 31).
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
85
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 18 - CULTURA E PÓS-MODERNIDADE
Roberto Donato
Nesse sentido, podemos concluir que a pós-modernidade é a saturação do
processo expansão capitalista rumo à integração entre industrialização e cultura,
tendência que já tinha sido pensada pelos autores clássicos estudados nessa apostila:
Walter Benjamin, Adorno e Horkheimer.
Pode-se afirmar, ainda, que não só os meios de comunicação de industrialização,
como os próprios bens culturais se tornaram mercadorias vendáveis. Na atualidade, é
muito comum afirmar que, para se ter “acesso à cultura”, é necessário estar integrado
às dinâmicas de vida das grandes metrópoles, local onde as comunidades teatrais e
salas de cinema acabaram por se refugiar. O “status”, em nossa sociedade, não se
resume em possuir bens “palpáveis”, mas, também, de consumir bens “culturais”.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
86
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 20 - TECNOLOGIA E CULTURA CONTEMPORÂNEA
Roberto Donato
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos:
Compreender o relacionamento entre tecnologia e cultura nos dias atuais.
ESTUDANDO E REFLETINDO
A inovação tecnológica atingiu os anos 1990, a partir da proliferação de um novo
e revolucionário meio de comunicação: a informatização. Sua manifestação mais
impressionante, a Internet, questionou o modelo básico de massificação da informação,
pautado em emissores de produção de informação para uma multidão de receptores: o
rádio, o cinema e a televisão. A Internet proporciona uma comunicação interativa entre
seus usuários. Com essas inovações comunicativas, Manuel Castells (1942 – Atual.)
propõe o conceito de sociedade em rede:
Na segunda metade da década de 90, um novo sistema de
comunicação eletrônica começou a ser formado a partir da fusão da
mídia de massa personalizada globalizada com a comunicação
mediada por computadores. (...) o novo sistema é caracterizado pela
integração de diferentes veículos de comunicação e seu potencial
interativo. Multimídia, como o novo sistema logo foi chamado estende
o âmbito da comunicação eletrônica para todo o domínio da vida: de
casa a trabalho, de escolas a hospitais, de entretenimento a viagens
(Castells, 2000, p. 387).
Quais são as consequências sociais da proliferação do multimídia? Castells
destaca quatro características fundamentais:
Primeira: diferenciação social e cultural muito difundida levando à
segmentação dos usuários/ espectadores/ leitores/ ouvintes. As
mensagens não apenas segmentadas pelos mercados mediante as
estratégias do emissor, mas também são cada vez mais diversificadas
pelos usuários da mídia dos seus interesses (...). Segunda: crescente
87
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 20 - TECNOLOGIA E CULTURA CONTEMPORÂNEA
Roberto Donato
estratificação social entre os usuários, não apenas opção ficará restrita
àqueles com tempo e dinheiro para o acesso (...), mas também as
diferenças culturais/educacionais serão decisivas no uso e interação
para o proveito de cada usuário. (...) Assim o mundo da multimídia será
habitado por duas populações: a interagente e receptora de interação
(...). Terceira: a comunicação de todos os tipos de mensagens no
mesmo sistema (...) induz a uma integração de todas as mensagens em
um padrão cognitivo comum. O acesso a notícias, educação e
espetáculos audiovisuais no mesmo meio, mesmo a partir de fontes
diferentes intensifica a mistura de conteúdos que já estava ocorrendo
na televisão direcionada às massas. (...) Finalmente, a característica mais
importante da multimídia seja de ela capta em seu domínio a maioria
das expressões culturais em toda a sua diversidade (...) (idem, p. 393394).
Diante
dessas
transformações
sem
precedentes na cultura de massas, Castells nos
apresenta um conceito novo para determinar as
características
culturais
de
nosso
mundo
contemporâneo: a cultura de uma virtualidade real. A
realidade é totalmente captada e significada num
mundo de imagens virtuais, no qual as aparências se
tornam a própria experiência. A sociabilidade entre
as pessoas é totalmente mediada pela imagem que compõe suas personalidades e
posicionamento expostos no mundo virtual. Ao que parece, Castells entende
virtualidade, onde Debord considera espetáculo. Esse mundo do “faz de conta” virtual
tem, finalmente, consequências profundas em nossa sociabilidade:
O novo sistema de comunicação transforma radicalmente o espaço e
tempo, as dimensões fundamentais da vida humana. Localidades ficam
despojadas de seu sentido cultural, histórico e geográfico e reintegramse em redes funcionais ou em colagens de imagens, ocasionando um
espaço de fluxos que substitui o espaço dos lugares. O tempo é
apagado no novo sistema de comunicação já que passado, presente e
futuro podem ser programados para interagir entre si na mesma
mensagem. Os espaços de fluxos e o tempo intemporal são as bases
principais de uma nova cultura que transcende e inclui a diversidade
88
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 20 - TECNOLOGIA E CULTURA CONTEMPORÂNEA
Roberto Donato
dos sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da
virtualidade real, onde o faz de conta vai se tornando realidade.
Parece que as concepções sobre o processo de massificação da cultura nos
últimos quarenta anos, através dos autores aqui apresentados, tendem a chamar nossa
atenção para dois aspectos não apresentados pelos frankfurtianos: a individualização e
a virtualização. Morin nos apresenta a ideia de que a cultura de massa promove o
individualismo ao objeto de culto dessa “religião terrena” que é a cultura de massas.
Por outro lado, Debord e Castells nos apresentam um mundo contemporâneo
destituído de sua base real, no sentido de que só tem materialidade àquilo que é
espetacularizado e virtualizado.
Com o advento da internet,
as relações e noções de
espaço e tempo são
abaladas profundamente,
causando grandes
impactos na sociedade.
89
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
SOCIOLOGIA E CULTURA
UNIDADE 20 - TECNOLOGIA E CULTURA CONTEMPORÂNEA
Roberto Donato
BUSCANDO CONHECIMENTO
Outro pensador que se interessou pelos estudos de virtualização e da condição
da cultura atual, foi o filósofo francês Pierre Lévy (1956 – Atual.). Para ele, o conceito de
virtual não se situa muito distante da realidade dos indivíduos, esse conceito não existe
somente dentro das máquinas e dos computadores, ele se apresenta na
problematização dos meios de comunicação.
O virtual não faz oposição ao real, pois o virtual existe, mas como potência, por
isso o antônimo de virtual seria o atual.
90
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
POLOS EAD
Av. Ernani Lacerda de Oliveira, 100
Bairro: Pq. Santa Cândida
CEP: 13603-112
Araras / SP
(19) 3321-8000
ead@unar.edu.br
Rua Américo Gomes da Costa, 52 / 60
Bairro: São Miguel Paulista
CEP: 08010-112
São Paulo / SP
(11) 2031-6901
eadsp@unar.edu.br
0800-772-8030
www.unar.edu.br
Download