Às vezes me perguntam se consigo lembrar o momento em que me dei conta de que queria ser escritor. A rigor, esse momento não existiu. A única coisa que eu sabia era que gostaria de trabalhar para um jornal. Mas posso apresentar uma série de atitudes que incorporei muito cedo em minha vida e que me guiam desde então. Elas vieram dos dois lados da família, por caminhos diferentes. Minha mãe gostava de bons textos, e os encontrava nos jornais com a mesma frequência que nos livros. Tinha o hábito de recortar colunas e artigos que lhe agradavam pela excelência no uso da língua, pela perspicácia ou pela visão original que continham a respeito da vida. Por causa dela, desde muito pequeno aprendi que um bom texto pode ser encontrado em qualquer lugar, mesmo no jornal mais modesto, e que o que conta é o texto em si, não o veículo em que foi publicado. A partir daí, sempre procurei escrever tão bem quanto podia, dentro dos meus padrões; nunca alterei o meu estilo para me adaptar ao tamanho ou à suposta formação intelectual do público para o qual escrevia. Minha mãe era também uma mulher bem-humorada e otimista. São dois quesitos que facilitam a escrita, assim como a vida, e um escritor que tenha a sorte de carregá-los em sua bagagem certamente começará o seu dia com uma dose a mais de autoconfiança. Em princípio, eu não estava destinado a ser escritor. Meu pai era um homem de negócios. Seu avô viera da Alemanha na grande onda imigratória de 1848 trazendo uma fórmula para produzir verniz. Ele construiu uma pequena fábrica em um terreno pedregoso ao norte de Manhattan — onde é agora o cruzamento entre a rua 59 e a Décima avenida — e abriu um negócio a que deu o nome de William Zinsser & Company. Guardo comigo uma fotografia daquela cena pastoral; o terreno descia em direção ao rio Hudson, e a única criatura viva era uma cabra. A empresa permaneceu nesse mesmo lugar até 1973, quando foi transferida para Nova Jersey. É bastante raro que um negócio se mantenha em uma mesma família em um mesmo quarteirão de Manhattan por mais de um século, e eu, sendo um menino, não tinha como escapar da pressão de dar continuidade a tudo aquilo, pois eu era o quarto William Zinsser e o único filho homem; quis o destino que antes de mim meu pai tivesse três filhas. Naquela Idade das Trevas, aideia de que as filhas poderiam tocar um negócio tão bem quanto os filhos, ou até mesmo melhor do que eles, estava a décadas de distância. Meu pai amava o seu negócio. Em nossas conversas, nunca me pareceu que ele o encarava como uma empreitada apenas para ganhar dinheiro; era uma arte, que precisava ser praticada com imaginação e usando somente os melhores materiais. Ele era apaixonado pela qualidade e não tinha paciência para coisas de segunda categoria; nunca entrava em uma loja de olho em pechinchas. Cobrava mais pela sua mercadoria porque a produzia com os melhores ingredientes, e sua empresa, assim, prosperou. Ela representava um futuro já estabelecido para mim, e meu pai estava ansioso pelo dia em que eu começaria a trabalhar com ele. Mas, de forma inevitável, o dia que chegou foi outro. Pouco tempo depois do meu retorno da guerra, comecei a trabalhar para o New York Herald Tribune e precisei dizer ao meu pai que não iria tocar adiante o negócio da família. Ele recebeu a notícia com a sua habitual generosidade e me desejou felicidade no campo que havia escolhido. Não há presente melhor do que esse para um jovem ou uma jovem. Eu estava liberado de atender às expectativas de outra pessoa, que não eram as que combinavam comigo. Eu estava livre para vencer ou perder à minha maneira.