Uploaded by Denis Souza

tpc feminina Adam Abbas

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Os efeitos mais comuns do excesso de andrógenos circulantes em mulheres incluem
quadros de hirsurtismo, irregularidades ovulatórias e menstruais, além de casos menores
como acne e queda de cabelo. A principal causa natural de tais manifestações é a
chamada Síndrome do Ovário Policístico (SOP), patologia caracterizada por sintomas
anovulatórios além de uma produção elevada de LH em relação a FSH aumentando a
produção de andrógenos (Rosenfield RL, 1999; Ehrmann DA, Barnes RB, Rosenfield
RL 1995). Outra possive causa para a SOP seria a esteroidogênese anormal, onde o
nível de andrógenos intraovarianos levaria a crescimento excessivo de pequenos
folículos inibindo a maturação folicular e desenvolvimento do folículo dominate (aquele
que liberaria o óvulo do mês), estimulando a luteinização prematura das células do
tecido granuloso e da teca, em consonância com hiperplasia estromal e cortical.
Outros casos que podem levar a quadros de hiper-androgenia seriam a hiperplasia da
glândula adrenal, tumores adrenais e ovarianos, além do objeto deste trabalho de
divulgação, o uso de drogas androgênicas.
O tratamento do quadro de hiper-androgenia pós ciclo pode ser estabelecido de acordo
com o objetivo desejado: caso a mulher queira engravidar após o ciclo (reestabelecendo
seu ciclo ovulatório/mestrual com sangramento mensal) ou não.
No primeiro caso, o tratamento para a promoção de ovulação pode ser baseado tanto em
uso de SERMs (tamoxifeno ou clomifeno, com ou sem uso associado de metformina)
ou uso de gonadotrofinas.
Caso a fertilidade não seja o objetivo principal, apenas a atenuação dos efeitos colaterais
decorrentes do uso de andrógenos, o uso de supressão ovariana por meio de
contraceptivos orais sozinhos ou combinados com drogas anti-androgênicas seria
recomendado.
Em casos de SOP, testosterona é o hormônio secretado majoritariamente, num processo
que é altamente dependente de LH e insulina. Nesses casos, assim como quando do uso
de andrógenos, terapia com contraceptivos orais reduziriam os níveis de andrógenos
através da supressão da secreção de LH, estímulo de produção de SHBG, proteína que
se liga a andrógenos séricos diminuindo sua concentração livre, além de inibição da
ligação de andrógenos a seus receptores.
As terapias mais utilizadas e de maior acesso em casos de uso de andrógenos incluem
aquelas baseadas em contraceptivos estrogênico-progestínico. O agente estrogênico
encontrado na maior parte das vezes é o etinil-estradiol, ou ainda mestranol, associados
a agentes progestínicos nor-etindrona, acetato de nor-etindrona, nor-etisterona, noretinodrel, etinodiol diacetato, norgestrel e levonorgestrel. Além de reestabelecer o ciclo
de sangramento vaginal, a queda da concentração de andrógenos circulantes pode ser
associado com a melhora de quadros de hirsutismo e acne (60-100%; Givens JR,
Andersen RN, Wiser WL, Fish AS, 1974; Givens JR, Andersen RN, Wiser WL, Umstot
ES, Fish AS, 1976; Raj SG, Raj MH, Talbert LM, Sloan CS, Hicks B, 1982; Dewis P,
Petsos P, Newman M, Anderson DC, 1985).
Associado ao uso de contraceptivos orais, podem ser feito usos de drogas antiandrogênicas, como espironolactona, flutamida (casos graves, não use sem
acompanhamento médico), e finasterida (não indicada para mulheres, salvos raros
casos. Não deve ser utilizada em conjunto com drogas 17aa, como oximetalona devido
ao seu potencial hepatotóxico). Estas drogas competem pelo receptor androgênico ou
ainda inibem a enzima 5-alfa-redutase, responsável pela conversão de testosterona em
di-hidrotestosterona (finasterida). O uso combinado de espironolactona com
contraceptivos orais se mostrou eficaz no combate a acne e hirsurtismo, além de
reestabelecimento dos níveis séricos de hormônios sexuais (Pittaway DE, Maxson WS,
Wentz AC, 1985; Board JA, Rosenberg SM, Smeltzer JS, 1987).
Assim, uma estratégia plausível para uma possível terapia pós ciclo para mulheres que
fizeram uso de andrógenos anabólicos seria a associação de um contraceptivo oral
(excessão ao uso do Levonorgestrel, uma droga progestínica potencialmente
androgênica), reduzindo os níveis circulantes de andrógenos, reestabelecendo o ciclo
menstrual, além de evitar possíveis gravidezes indesejadas pelo crash hormonal pós
ciclo (elevação rápida de estrogênio, também conhecido como rebote), o uso de
moduladores seletivos do receptor de estrogênio, evitando a supersaturação destes após
o fim do ciclo devido ao crash hormonal, assim como o uso de drogas antiandrogênicas,
em particular a espironolactona, por apresentar além de atividade antiandrogênica, atuar
como diurético poupador de potássio (antagonista de receptores de aldosterona).
O uso de contraceptivos orais tem efeitos sobre os níveis séricos de triglicérides, além
de diminuir os níveis de HDL (o que não é interessante já que algumas drogas, como o
stanozolol afetam o perfil lipídico reduzindo HDL e elevando LDL e VLDL).
Associações contendo etinodiol diacetato, desogestrel, drospirenona ou nor-etindrona
resultam em quadros mais favoráveis quanto ao perfil lipídico para um pós ciclo.
Exemplo:
Contraceptivo oral: Drospirenona (3mg), Etinil estradiol (30mcg). Ciclo de 21 dias on,
7 off para sangramento mensal.
Formulações disponíveis no mercado: Ocella 28 (Barr); Safyral 28 (Bayer); Syeda 28;
(Sandoz); Yasmin 28 (Bayer); Zarah 28 (Watson).
SERM: Tamoxifeno 10mg/dia acompanhada por exames periódicos para verificar a
estabilização dos níveis de estradiol pós ciclo.
Anti Androgênico (para controle de acne e hirsurtismo): Espironolactona 50200mg/dia por 1 mês ou até o alívio dos sintomas. Formulações disponíveis no
mercado: Espironolactona 25,50,100mg (Diacqua); Espironolactona 25, 50, 100mg
(Germed); Espironolactona 25, 50mg (Eurofarma); Aldactone 100mg; Spiroctan 25mg.
Abraços
Adam Abbas
Givens JR, Andersen RN, Wiser WL, Fish SA. Dynamics of suppression and recovery of plasma
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