Corrente Alternada 10ª Edição – Novembro 2016 Engº José Roberto Pereira APRESENTAÇÃO Este trabalho é o resultado de muitos dias (e noites) de pesquisa, estudo, planejamento, organização, redação, desenho, compilação, cálculos, etc., e foi elaborado sem finalidade comercial ou sequer para obtenção de qualquer espécie de remuneração ou lucro financeiro. Seu objetivo é, unicamente, divulgar e propagar o seu conteúdo entre o maior número possível de pessoas, de modo a fomentar o saber e estimular o conhecimento. Espero assim que, de alguma forma, ele seja uma forma de contribuição para o aprimoramento e a elevação do espírito humano, e da evolução da nossa espécie. Por esta razão, o seu conteúdo não está protegido por qualquer tipo de patente ou “copyright”, sendo a sua cópia, distribuição e divulgação não apenas permitida, mas também (e principalmente) estimulada, no todo ou em parte, em qualquer tipo de mídia, seja ela física, eletrônica ou qualquer outra que, futuramente, possa surgir, desde que não seja vendida ou comercializada de qualquer forma e que a fonte seja devidamente citada. Acredito que, com este pequeno legado, estarei contribuindo, mesmo que humildemente, para fazer deste nosso mundo um lugar melhor para se viver. Serão muito bem-vindas quaisquer colaborações apontando eventuais erros ou sugerindo melhorias para este trabalho, que poderão ser enviadas para o e-mail do autor, indicado no rodapé. Rio de Janeiro, março de 2011. José Roberto Pereira “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe.” (Jean Piaget) 1 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 1 Advertência Para a perfeita compreensão do conteúdo deste trabalho é necessário o conhecimento prévio de alguns conceitos básicos de matemática, cujo domínio é fundamental para o acompanhamento e a resolução dos exercícios propostos. Listamos abaixo os principais conceitos considerados pré-requisitos: - Quatro Operações Aritméticas Fundamentais: Adição, Subtração, Multiplicação e Divisão - Números Decimais e Operações com Números Decimais - Frações e Operações com Frações - Razões e Proporções – Regra de Três - Porcentagem - Potenciação - Radiciação - Sistemas de Medidas – Múltiplos e Submúltiplos - Notação Científica (Potência de 10) - Equações do Primeiro Grau - Sistemas de Equações do Primeiro Grau - Noções de Cálculo Vetorial - Trigonometria - Números Complexos (Forma Polar e Retangular) - Operações com Números Complexos - Logaritmos - Resolução de Triângulos Retângulos (Teorema de Pitágoras) Os conteúdos acima podem ser obtidos na bibliografia sugerida no final deste trabalho. Recomandamos enfaticamente o seu estudo, conhecimento e domínio. 2 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 2 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – A Corrente Alternada 04 CAPÍTULO 2 – Vetores e Quantidades Complexas 14 CAPÍTULO 3 – Reatância e Impedância 19 CAPÍTULO 4 – Circuitos de C.A. Monofásicos Ideais 22 CAPÍTULO 5 – Circuitos Monofásicos de C.A. 27 CAPÍTULO 6 – Ressonância 52 CAPÍTULO 7 – Filtros Passivos 58 CAPÍTULO 8 – Sistemas Polifásicos 71 CAPÍTULO 9 – Harmônicas 84 BIBLIOGRAFIA 87 ÍNDICE 88 3 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 3 CAPÍTULO 1 A CORRENTE ALTERNADA 1.1 - Produção de uma tensão alternada senoidal No capítulo 13 da Apostila de Eletricidade I, estudamos a f.e.m. induzida num condutor que se movimenta num campo magnético, conforme a figura abaixo: N Emáx α S Vimos também que o seu valor instantâneo é dada pela expressão e = β . L . v . sen α onde: e = valor instantâneo da f.e.m. induzida no condutor, em Volts (V) β = densidade do fluxo magnético, em Teslas (T) L = comprimento da parte do condutor submetida ao campo magnético, em Metros (m) v = velocidade com que o condutor atravessa o campo, em (m/s) sen α = seno do ângulo entre a direção do movimento do condutor e a direção do campo Esse valor será zero quando α = 0º ou α = 180º, uma vez que sen 0º = sen 180º = 0. Por outro lado, esse valor será máximo quando α = 90º, resultando em sen 90º = 1. Nesta condição, podemos dizer que e = β . L . v = Emáx A equação da f.e.m. instantânea pode então ser escrita como: e = Emáx . sen α Esta f.e.m. pode assim ser representada por um vetor girante ou fasor, cujo raio ou amplitude é igual ao valor de pico ou valor máximo dessa f.e.m. e que gira no sentido anti-horário com velocidade angular ω. e = Emáx . sen ωt 4 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 4 A projeção de Emáx (ou Vmáx) no eixo vertical é uma função do seno do ângulo, reproduzindo, portanto, a tensão senoidal v(t) ou v(α), dependendo do domínio. Isso é mostrado na figura abaixo: Analisemos agora o caso de uma espira móvel, da figura abaixo, que roda com velocidade constante, no sentido indicado pela seta F, num campo magnético uniforme: Na posição indicada na figura, os condutores AB e CD se deslocam perpendicularmente com as linhas de força do campo, as quais têm o sentido H. Aplicando-se aos dois condutores uma das regras da mão esquerda antes mencionadas, observar-se-à que o sentido das f.e.m. nos mencionados condutores é respectivamente (e) e (e1). Estas duas f.e.m., embora de sentido oposto, somam seus efeitos no circuito da própria espira. Nestas condições, nos bornes da mesma existe no instante considerado a diferença de potencial igual a 2e. Na posição indicada na mesma figura, os dois condutores se deslocam perpendicularmente às linhas de força do campo (α = 90o) e por isso a f.e.m. que neles se gera é máxima, pois é máximo o número de linhas de fôrça cortadas pelos condutores, por cada unidade de comprimento percorrido. 5 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 5 O valor da f.e.m. vai decrescendo sucessivamente até reduzir-se a zero quando, depois de uma rotação de 90°, a espira alcança o plano YY, onde os condutores deslocam-se paralelamente com as linhas de fôrça do campo (α = 0o), sem cortar nenhuma delas. Deste instante em diante, a f.e.m. induzida volta a crescer mas o seu sentido, em relação aos bornes da espira, fica invertido, pois o condutor AB irá deslocar-se no sentido em que antes deslocava-se o condutor CD e vice-versa. No instante em que a bobina passa pela posição que alcança depois de meia volta, a f.e.m. nela induzida adquire um valor igual, mas em sentido contrário ao alcançado com a espira na posição indicada na figura anterior. Desta posição em diante a f.e.m. induzida na espira volta a diminuir para anular-se, outra vez mais, quando a espira passa pelo plano YY. O fenômeno processa-se conforme está indicado na figura abaixo, na qual está representado o diagrama de variação da f.e.m., constituído tomando-se como abcissas os ângulos de rotação e como ordenadas os valores que a f.e.m. adquire quando passa por cada uma das posições definidas pelas abcissas. Consideram-se positivas as f.e.m. dirigidas num sentido, prefixado arbitràriamente, e negativas as dirigidas no sentido contrário. O processo se repete identicamente em cada volta e se a espira estiver ligada a um circuito fechado, a f.e.m. nela induzida lança neste uma corrente que sofre variações análogas às da f.e.m. que a produz. As f.e.m. e as correntes dêste tipo são chamadas f.e.m. e correntes alternadas. 6 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 6 1.2 - Análise gráfica e matemática da função seno Uma função periódica senoidal genérica pode ser representada graficamente de duas formas: no domínio temporal (em função do tempo) ou no domínio angular (função do ângulo), como mostra a figura abaixo: v(t) v(α) α = ωt No caso dessa função expressar o comportamento de uma tensão elétrica, a amplitude máxima que esta tensão senoidal pode atingir é denominada tensão de pico (Vp), ou tensão máxima (Vmáx) e a amplitude total entre os valores máximos positivo e negativo, é denominada tensão pico a pico (Vpp), sendo: Vpp = 2 . Vp = 2 . Vmáx O tempo que a função necessita para completar um ciclo é chamado de período (T) e o número de vezes que o ciclo se repete por segundo é chamado de freqüência (f), sendo a relação entre eles a seguinte: f= onde: 7 1 T [T] =s segundo [ f ] = Hz ou c/s Hertz ou ciclos / segundo Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 7 Matematicamente, os gráficos de uma tensão senoidal nos domínios temporal e angular podem ser representados, respectivamente, por: v = Vp . sen ωt onde: v = Vp . sen α ou v(t) = v(α) = valor da tensão no instante t ou para o ângulo α Vp = Valor de pico ou valor máximo da tensão (em Volts) ω = velocidade angular ou freqüência angular (em rd/s) α = ângulo (em rd) A freqüência angular ou velocidade angular, representada pela letra grega ω (ômega) , corresponde ao valor do ângulo α do sinal em função do tempo. Das expressões matemáticas anteriores, tiramos a relação: α = ωt. Comparando os gráficos dos domínios temporal e angular, notamos que quando α = 2π, tem-se que t = T. Assim, é válida a relação ωT = 2π. Portanto, a freqüência angular ω pode ser calculada por: ω= 2π T ou ω = 2π.f 1.3 - Fase inicial Nos circuitos elétricos, nem sempre um sinal senoidal inicia o seu ciclo no instante t=0. neste caso, dizemos que o sinal possui uma fase inicial θ0. Assim sendo, a expressão para representar o sinal senoidal deve incluir esta fase inicial: v = Vp . sen (ωt + θ0) Se o sinal inicia o seu ciclo adiantado, θ0 é positivo. Se o sinal inicia o seu ciclo atrasado, θ0 é negativo, como mostra a figura ao lado: 8 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 8 1.4 – Offset Offset é o deslocamento vertical de uma onda senoidal, ou o nível C.C. que está somado a uma onda alternada. Pode ser positivo ou negativo. Corresponde a um deslocamento vertical do eixo de simetria da senóide. A figura abaixo, à esquerda, mostra uma tensão senoidal com amplitude de 4 Vpp e offset = 0. A figura da direita exemplifica outra tensão senoidal de mesma amplitude (4 Vpp), porém com um offset positivo de 1 volt. Neste caso, a expressão completa da tensão exemplificada na figura da direita com offset positivo de 1V ficaria como abaixo: v = Vp . sen (ωt + θ0) + 1 v v 3V 2V 2V 1V 1V 0 t -1V 0 t -1V -2V Offset = 0 Offset = 1V 1.4 - Valores Médio e Eficaz de uma f.e.m. Senoidal O valor médio de uma função periódica geral é dado pela integral abaixo: T Ymed = ∫ 1 T y(t) dt 0 Para uma função senoidal, podemos escrever: 2π Ymed = 9 1 2π ∫ Ymax sen (ωt) d(ωt) 0 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 9 Substituindo-se o termo genérico “Y” pela tensão, uma vez que esta é uma função senoidal, e integrando para os dois semiciclos, uma vez que a senóide foi retificada em meia onda (o valor médio não é mais igual a zero), temos que: 2π Vmed = ∫ 1 2π Vmax sen (ωt) d(ωt) 0 Resolvendo a integral, temos: Vmax 2π Vmed = . (cos 0 – cos 2π) Sendo cos 0 = 1 e cos 2π = 1, podemos então escrever: Vmax 2π Vmax . (1 – 1) = 2π Vmed = .0 = 0 Desta forma, verificamos que o valor médio de uma função senoidal com zero de offset é igual a zero, o que faz sentido, uma vez que o semiciclo positivo é igual ao semiciclo negativo. No entanto, sabemos que uma corrente alternada circulando numa resistência produz trabalho, sob a forma de calor, o que nos leva a deduzir que existe um valor responsável pela realização deste trabalho. Este valor é chamado de Valor Eficaz e é obtido calculando-se a raiz quadrada da média dos quadrados dos valores instantâneos (eleva-se ao quadrado para converter o semiciclo negativo em positivo e assim calcular a média). Por esta razão, este valor também é chamado de Valor RMS (de ROOT – MEAN – SQUARE). A sua fórmula geral está indicada abaixo: T ∫ 1 T Yef = y2 (t) dt 0 Para uma função senoidal, podemos escrever: 2π Vef = 1 2π ∫ (Vmax sen ωt)2 d(ωt) 0 Resolvendo a integral, temos: Vef = 10 Vmáx √2 ou Vef = 0,707 Vmáx Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 10 Podemos também calcular o valor eficaz de forma mais simples, utilizando o método gráfico. O quadrado de uma senóide é outra senóide, porém, com todos os valores instantâneos positivos. A figura abaixo mostra uma tensão senoidal com valor de pico igual a “vp”. v vp 2 vp2 2 vp t 2 Elevando-se essa tensão ao quadrado, obtemos a senóide com valor de pico igual a “vp ”. 2 O seu valor médio será, então, igual a “vp / 2”. O valor eficaz será a raiz quadrada desse valor médio: vef = vp2 2 vef = vp √2 vef = 0,707 vp O valor eficaz de uma tensão ou corrente é definido como o valor que ela deveria ter, se fosse constante (como uma C.C. constante) para produzir uma certa quantidade de calor num determinado tempo, ou seja, é o valor responsável pela dissipação de potência. Quando dizemos que uma corrente alternada tem, por exemplo, o valor eficaz de 1A, isto quer dizer que ela é capaz de produzir tanto calor por segundo quanto uma corrente contínua constante de 1A. Em geral, quando se fala de uma tensão ou corrente alternada, faz-se referência ao seu valor eficaz, e os medidores indicam comumente valores eficazes. Assim, salvo observação em contrário, sempre que nos referirmos a um valor de tensão ou corrente alternada, estaremos nos referindo ao seu valor eficaz. Dissemos anteriormente que o valor médio de uma onda senoidal com offset zero é igual a zero. Existe, no entanto, uma forma de se calcular o valor médio de uma função senoidal evitando que o mesmo seja zero. Isso é feito considerando somente um semi-ciclo, uma vez que o valor médio da onda completa é zero. O valor médio é dado pela fórmula abaixo: π Vmed = 11 1 π ∫ 0 Vmax sen (ωt) d(ωt) Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 11 Resolvendo a integral, temos: Vmed = Vmax π . (cos 0 – cos π) Sendo cos 0 = 1 e cos π = – 1, podemos então escrever: Vmed = Vmax π . (1 + 1) = 2Vmax π Então: Vm = 2.Vmáx π ou Vm ≅ 0,636 Vmáx Um gráfico mostrando os valores de uma tensão senoidal com tensão de offset = 0 pode ser visualizado abaixo: V Vp Vef = 0,707 Vp Vm = 0,636 Vp T 0 t Vpp - Vp v = Vmáx . sen (ωt + θ0) + offset 12 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 12 Vp = Vmáx = Tensão de pico (ou tensão máxima) Vef = Tensão eficaz Vm = Tensão média v = Tensão instantânea Vpp = Tensão pico-a-pico ( Vpp = 2.Vp ) ω = 2 . π . f (rd/s) T = Período (segundos) 13 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 13 CAPÍTULO 2 VETORES E QUANTIDADES COMPLEXAS Quando expressamos, por exemplo, o comprimento, a massa ou o volume de um corpo, Um único número ou valor, chamado “Módulo”, acompanhado da sua unidade, é suficiente para definirmos perfeita e completamente a sua grandeza ou magnitude, como por exemplo: 2 metros, 3,5 quilogramas, 5 litros e assim por diante. Grandezas desse tipo são chamadas ESCALARES. Por outro lado, existem outras grandezas que, para serem perfeitamente definidas, é preciso conhecer não apenas o seu valor numérico ou módulo, mas também a sua direção, o seu sentido e o seu ponto de aplicação. Essas grandezas são chamadas VETORIAIS. Por exemplo, se desejamos saber o que acontece com um corpo submetido a uma força, é necessário que se conheça não somente a sua intensidade (módulo), mas também a sua direção, o seu sentido e o ponto onde foi aplicada. Analogamente, não podemos dizer que dois automóveis possuem a mesma velocidade simplesmente porque os seus velocímetros têm as mesmas leituras, porque os seus movimentos podem ter direções diferentes. As grandezas vetoriais são representadas graficamente por segmentos de reta orientados, chamados VETORES. O comprimento do segmento de reta representa o módulo da grandeza. A posição do segmento, em si, representa a direção e a seta em uma das suas extremidades representa o sentido. Isso significa que, para cada direção, dois sentidos são possíveis, dependendo da extremidade onde a seta se encontra. Os vetores são, normalmente, referidos a uma referência, que pode ser um sistema de coordenadas cartesianas. No nosso caso particular para estudo das correntes alternadas, esse sistema possui apenas dois eixos, chamados aqui de eixo das grandezas reais e eixo das grandezas imaginárias (ou reativas). Quando diversos vetores interagem sobre um corpo, a sua resultante é representada por um único vetor, equivalente à soma vetorial dos vetores em questão. A soma vetorial, diferentemente da soma algébrica, que utiliza apenas os módulos, visto que todos se encontram em um mesmo eixo, leva também em conta os seus ângulos, decompondo cada vetor em suas projeções nos eixos cartesianos e, só então, somando suas componentes reais e reativas entre si, obtendo, então, o vetor resultante. A figura abaixo demonstra a soma de dois vetores V1 e V2. y Onde: V1x = V1 cos φ1 V 1 + V2 V1y + V2y V1 V1y V2y V1y = V1 sen φ1 V2 φ1 φ2 V1x 14 V2x V1x + V2x x Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 14 2.1 – Representação vetorial de ondas senoidais Como visto na página 5, uma senóide é produzida pela projeção vertical de um vetor girante, também chamado de FASOR. No entanto, não é muito conveniente a combinação de várias ondas senoidais para a resolução de circuitos de C.A. É mais prático a utilização de vetores, ou fasores, para a representação das grandezas senoidais que variam com o tempo. Apesar da vantagem da solução gráfica que os fasores podem proporcionar, aliada à aplicação de relações trigonométricas, é ainda mais prática a sua utilização em Coordenadas Polares e/ou em Cordenadas Retangulares. 2.2 – Coordenadas Polares Um vetor pode ser expresso pelo seu módulo e pelo ângulo (argumento) que forma com um eixo de referência. Definido deste modo, dizemos que está na FORMA POLAR. Na figura anterior, admitindo que o valor V2 seja o módulo e φ2 o ângulo do vetor V2, este pode ser expressado, na forma polar, como: V2 = V2 | φ2 Importante salientar que a simbologia empregada acima não significa uma divisão, mas apenas representa o módulo e o argumento (ângulo) do vetor na forma polar. 2.3 – Coordenadas Retangulares Um vetor também pode ser representado como um número complexo, pelas suas projeções (componentes horizontal e vertical) num sistema de coordenadas retangulares (eixos cartesianos), onde o eixo horizontal representa a parte real e o eixo vertical a parte imaginária, como mostra a figura da página anterior. Para representar uma grandeza complexa sem o auxílio do gráfico, fazemos uso do operador “j”, que é o equivalente ao operador “i” da matemática (√-1) quando estudamos números complexos. Como em eletricidade a letra “i” é utilizada para representar a intensidade de corrente, utilizamos a letra “j” em seu lugar para evitar confusões. Observemos a figura abaixo: –A A Nela, temos o vetor A sobre o eixo horizontal, à direita do eixo vertical. À esquerda deste eixo, temos o vetor –A, de mesmo módulo, porém defasado de 180° do outro vetor ou, em outras palavras, multiplicado por (–1). E se desejássemos que o vetor se deslocasse apenas 90°? Sabemos que –1 é o mesmo que √-1 x √-1 e que multiplicar um número por –1 significa deslocá-lo em 180°. Então podemos dizer que multiplicar um vetor por √-1 ou “j” é o mesmo que deslocá-lo em 90° no sentido anti-horário, visto que multiplicá-lo duas vezes por esse valor equivale a 180°. Assim, multiplicar um vetor por ( – j ) é o mesmo que girá-lo de 90° no sentido horário. 15 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 15 Dessa forma, a representação do vetor V1 da página 12 na forma retangular (também chamada de binômia, complexa ou cartesiana) ficaria como abaixo: V1 = V1x + j V1y ou V1 = V1 cos φ1 + j V1 sen φ1 2.4 – Conversão da Forma Retangular em Polar As componentes do vetor, em um sistema de coordenadas retangulares, formam, com o próprio vetor, um triângulo retângulo, no qual o vetor é a hipotenusa e as suas componentes horizontal e vertical, os catetos. Então, com relação ao seu módulo, aplicando o Teorema de Pitágoras, podemos dizer que: |V1| = √ V1x2 + V1y2 Da trigonometria, podemos calcular o seu argumento. φ1 = arctg V1y V1x pois tg φ1 = V1y V1x 2.5 – Conversão da Forma Polar em Retangular Para transformar da Forma Polar para a Retangular utilizamos a trigonometria: V1x = V1 cos φ1 V1y = V1 sen φ1 2.6 – Operações com vetores na Forma Retangular A soma, a subtração, a multiplicação e a divisão de vetores nesta forma seguem às regras da álgebra. Para somar ou subtrair, opera-se de forma independente as partes real e imaginária, como no exemplo abaixo: 20 + j 35 -2 + j 5 -3 – j 8 15 + j 32 16 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 16 Para multiplicar vetores na Forma Retangular, multiplica-se membro a membro. (2 + j 4) (3 – j 5) = 6 – j 10 + j12 – j2 20 = 26 + j 2 (Como j2 = -1, - j2 = 1) A divisão de dois vetores na Forma Retangular é determinada pela aplicação do princípio da racionalização do denominador, isto é, multiplicando os termos da divisão pelo conjugado do denominador. Exemplo: Dividir (36 + j 12) por (8 – j 4) 36 + j 12 = 8–j4 = 240 + j 240 80 36 + j 12 x 8–j4 8+j4 8+j4 = 288 + j 144 + j 96 + j2 48 64 – j2 16 = = 3+j3 2.7 – Operações com vetores na Forma Polar Não é possível somar ou subtrair grandezas vetoriais na Forma Polar. Para essas operações deve-se converter, antes, para a Forma Retangular, fazer a operação e converter o resultado para a Forma Polar. Para multiplicar, basta multiplicar os módulos e somar os argumentos. 3 | 15° x 7 | 20° = 21 | 35° Para dividir, divide-se os módulos e subtrai-se os argumentos. 65 | 48° ÷ 13 | 15° = 5 | 33° Exercícios propostos: 1 ) Converter os números abaixo para a forma polar: a) N1 = 30 – j 15 R: 33,54 | -26,57° e) N5 = 10 R: 10 | 0° b) N2 = 12 + j 20 R: 23,32 | 59° f) N6 = -45 R: 45 | - 180° c) N3 = 60 – j 40 R: 72,11 | -33,69° g) N7 = j 82 R: 82 | 90° d) N4 = 6 – j 13 R: 14,32 | -65,22° h) N8 = - j 17 R: 17 | -90° 17 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 17 2) Converter os números abaixo para a forma retangular: a) N1 = 75 | 60° R: 37,5 + j 64,95 e) 75 | 0° R: 75 + j 0 b) N2 = 28 | -45° R: 19,8 – j 19,8 f) 127 | 90° R: 0 + j 127 c) N3 = 15 | 33° R: 12,58 + j 8,17 g) 220 | -90° R: 0 – j 220 d) N4 = 59 | -28° R: 52,09 – j 27,7 h) 29,5 | 30° R: 25,55 + j 14,75 3) Efetuar as operações abaixo, deixando as respostas nas formas polar e cartesiana. a) 75 | 60° + 28 | -45° R: 72,95 | 38,2° = 57,3 + j 45,15 b) 84 | -25° – 39 | -60° R: 56,66 | 1,75° = 56,63 – j 1,73 c) (30 – j 15) / (12 + j 10) R: 2,15 | -66,37° = 0,86 – j 1,97 d) 59 | -28° x (25 – j 30) R: 19,95 | -78,2° = 4,08 – j 19,53 18 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 18 CAPÍTULO 3 REATÂNCIA E IMPEDÂNCIA 3.1 - Reatância Indutiva Segundo a Lei de Lenz (Apostila de Eletricidade I – Capítulo 13), a f.e.m. de auto-indução oferece uma oposição às variações de corrente. Esta oposição tem o nome de REATÂNCIA INDUTIVA (XL) e num circuito de C.A., é dada pela fórmula XL = 2.π.f.L ou XL = ω.L XL = reatância indutiva em Ohms (Ω) f = freqüência em Hertz (Hz) L = coeficiente de auto-indutância em Henrys (H) ω = freqüência angular da corrente (rd/s) 3.2 - Reatância Capacitiva Por sua vez, um capacitor se opõe às variações de tensão e neste caso, esta oposição chamase REATÂNCIA CAPACITIVA (XC), que num circuito de C.A. é dada pela expressão XC = 1 2.π.f.C ou XC = 1 ω.C XC = reatância capacitiva em Ohms (Ω) f = freqüência em Hertz (Hz) C = capacitância em Farads (F) ω = freqüência angular da corrente (rd/s) 3.3 - Impedância ( Z ) Esta grandeza é o conjunto de todos os fatores que devem ser vencidos pela f.e.m. aplicada ao circuito de corrente alternada, para que se possa estabelecer uma corrente elétrica. Compreende, portanto, a resistência efetiva do circuito e as reatâncias indutiva e capacitiva. Em outros termos, a impedância é a soma vetorial das reatâncias com a resistência, como pode ser melhor compreendido na figura abaixo: 19 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 19 XL Z XL - XC R XC Em conseqüência do exposto, é fácil concluir que a Lei de Ohm, quando aplicada a circuitos de C.A., passa a ter o seguinte enunciado: "A INTENSIDADE DA CORRENTE ELÉTRICA É DIRETAMENTE PROPORCIONAL À FORÇA ELETROMOTRIZ E INVERSAMENTE PROPORCIONAL À IMPEDÂNCIA." I= V Z Z = impedância em Ohms (Ω) V = tensão em Volts (V) I = corrente em Ampères (A) Obs.: As equações para o cálculo das reatâncias indutiva e capacitiva só são válidas para correntes alternadas senoidais. 3.4 - Potência em C.A. A energia aplicada por segundo a um circuito de corrente alternada (potência do circuito) é destinada a vencer as três dificuldades normalmente presentes no mesmo: a resistência efetiva, a reatância indutiva e a reatância capacitiva. A parte destinada a vencer a resistência efetiva do circuito é denominada POTÊNCIA REAL, POTÊNCIA ATIVA ou POTÊNCIA ÚTIL (P) do circuito. É expressa em WATTS. Esta potência corresponde à energia elétrica que está realizando trabalho elétrico, ou sendo transformada em calor, em cada segundo, e costuma ser chamada também de POTÊNCIA EFETIVA. A parcela gasta para sobrepujar a reatância do circuito é denominada POTÊNCIA REATIVA (Q), sendo expressa em VOLT-AMPÈRE REATIVO (VAr). A soma vetorial das potências real e reativa é igual ao produto da tensão aplicada ao circuito pela intensidade da corrente no mesmo. Este produto é conhecido como POTÊNCIA APARENTE ou POTÊNCIA TOTAL (S) do circuito, e corresponde, como dissemos no início deste item, à energia aplicada por segundo ao circuito. A potência aparente é dada em VOLTAMPÈRE (VA). 20 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 20 O cálculo da potência em C.A. é feito com as mesmas equações estudadas em C.C., observados apenas os seguintes fatos: - a potência aparente refere-se à energia gasta por segundo para vencer a dificuldade total do circuito; para calculá-la devemos considerar a impedância (Z) e a tensão total aplicada ao circuito (V) S=V.I - = I2 . Z = V2 / Z VOLT-AMPÈRE (VA) a potência real é a energia gasta por segundo para vencer apenas a resistência efetiva. No seu cálculo é considerada simplesmente a resistência efetiva (R) e a tensão ER: P = VR . I = I2 . R = VR2 / R - WATTS (W) a potência reativa é a energia gasta por segundo unicamente para vencer a reatância do circuito. Para calculá-la, consideramos a reatância (X) e a parcela da tensão destinada a vencê-la (VX): Q = VX . I = I2 . X = VX2 / X VOLT-AMPÈRE REATIVO (Var) 3.5 - Fator de Potência Como vimos, a potência em WATTS (POTÊNCIA REAL) é apenas uma percentagem da POTÊNCIA APARENTE. A relação entre a potência real e a potência aparente é denominada FATOR DE POTÊNCIA do circuito: Fator de Potência = cos φ = P S O fator de potência do circuito é igual a 1 quando a única dificuldade no circuito é a resistência efetiva. Quando há reatância de qualquer espécie, o fator de potência é um número igual ou menor do que 1. É muito comum se referir ao fator de potência como “cosseno fi” , pois ele exprime o valor do cosseno do ângulo “φ” formado por P e S. Triângulo das Potências S = Potência Aparente (VA) P = Potência Ativa (W) S Q Q Q = Potência Reativa (VAr) φ P P = S cos φ Posteriormente, veremos este assunto com mais detalhes. 21 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 21 CAPÍTULO 4 CIRCUITOS DE C.A. MONOFÁSICOS IDEAIS 4.1 - Circuito Puramente Resistivo Trata-se de um circuito como a figura abaixo, em que a única dificuldade a ser vencida pela tensão aplicada é a resistência efetiva, e, portanto, Z = R I V~ VR R Convém esclarecer que “R” não é apenas a resistência de um resistor, e sim A RESISTÊNCIA EQUIVALENTE DE TODOS OS ELEMENTOS QUE CONSTITUEM O CIRCUITO. A intensidade da corrente fornecida pela fonte é I=V/Z = V/R A tensão VR e a intensidade da corrente atingem valores correspondentes ao mesmo tempo: VR Quando isto ocorre com duas grandezas, dizemos que estão EM FASE. Em outras palavras, a tensão VR e a intensidade da corrente no circuito atingem seus valores máximos, mínimos e quaisquer outros valores no mesmo instante. Como as duas grandezas VR e I são senoidais e estão em fase, podemos representá-las vetorialmente conforme a figura abaixo: I 22 VR Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 22 Toda a energia aplicada a este circuito é usada para vencer apenas sua resistência. Assim, podemos concluir que: Potência reativa = 0 Potência real = Potência aparente Como vimos, o circuito que está sendo considerado não apresenta reatância, e a potência reativa é nula. O fator de potência do circuito é igual a 1 ou 100%; isto porque toda a energia aplicada ao circuito está sendo gasta para vencer sua resistência. Também pela expressão abaixo chegamos à mesma conclusão: Fator de potência = P / S = 1 4.2 - Circuito Puramente Indutivo I V~ VL L Neste circuito, a única dificuldade apresentada para o estabelecimento de uma corrente elétrica é a reatância indutiva. Desta forma, podemos escrever que: Z = XL = 2.π.f.L = ω.L XL simboliza a reatância total do circuito; é a reatância oferecida pela auto-indutância equivalente do circuito. A intensidade da corrente no circuito é: I = V / Z = V / XL = V / 2.π.f.L 23 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 23 Estudamos que a indutância no circuito se opõe às variações da corrente, ou seja, retarda seu crescimento e sua queda; vimos também que a f.e.m. de auto-indução (f.c.e.m.) é máxima quando I é igual a zero, e vice-versa. Portanto, VL e I estão sempre defasadas de 90 graus elétricos, o que pode ser representado como mostra a figura: Neste caso, dizemos que I está atrasada 90° em relação a VL. Vetorialmente, podemos representar estas duas grandezas do seguinte modo: VL φ = ângulo de defasagem φ I A energia aplicada ao circuito tem a exclusiva finalidade de vencer a reatância indutiva, donde concluímos que: Potência reativa = Potência aparente Potência real = 0 As potências aparente e reativa podem ser calculadas com qualquer das expressões abaixo: Q = S = V . I = VL . I = I2 . Z = I2 . XL = V2 / Z = VL2 / XL O fator de potência do circuito é zero, porque não está sendo gasta energia para vencer resistência. Chega-se à mesma conclusão pela expressão abaixo: Fator de potência = P / S = 0 / S = 0 24 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 24 4.3 - Circuito Puramente Capacitivo I V~ VC C Neste caso, o único obstáculo ao estabelecimento de uma corrente no circuito é a reatância capacitiva. Assim, podemos escrever que: Z = XC = 1 2.π.f.C XC simboliza a reatância capacitiva total do circuito, isto é, a reatância oferecida pela capacitância equivalente do circuito. A intensidade da corrente no circuito é I = V / Z = V / XC = V.2.π.f.C Sabemos que a d.d.p. entre as placas de um capacitor é zero quando a corrente de carga é máxima, e vice-versa. Neste circuito, VC e I não atingem valores correspondentes ao mesmo tempo, como mostra a figura abaixo: 25 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 25 Dizemos então que VC e I estão DEFASADAS de 90 graus elétricos; como os valores de I se antecipam aos valores de VC, afirmamos que I está adiantada de 90 graus elétricos em relação a VC. Como estas duas grandezas são senoidais e estão defasadas de 90°, podemos representá-las vetorialmente de acordo com a figura I φ VC φ = ângulo de defasagem Toda a energia aplicada a este circuito é usada para vencer sua reatância capacitiva. Concluímos que: Potência real = 0 Potência reativa = Potência aparente As potências aparente e reativa podem ser calculadas com qualquer das expressões abaixo: Q = S = V . I = VC . I = I2 . Z = I2 . XC = V2 / Z = VC2 / XC O fator de potência do circuito é zero, pois não há gasto de energia para vencer resistência, ou, como mostra a expressão abaixo: Fator de potência = P / S = 0 / S = 0 26 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 26 CAPÍTULO 5 CIRCUITOS MONOFÁSICOS DE C.A. 5.1 - Circuito R-L em Série i vR R vL L v~ Na prática, diferentemente do indutor ideal, visto em 3.2, um indutor real apresenta indutância e resistência elétrica (devido à resistividade do fio do indutor). Portanto, a corrente elétrica, ao percorrer um indutor, encontra dois tipos de oposição: a reatância indutiva e a resistência ôhmica do fio. O circuito equivalente de um indutor real é um indutor ideal em série com a sua resistência ôhmica interna, como na figura acima. Quando uma tensão alternada é aplicada a um circuito R-L série, a corrente continua atrasada em relação à tensão, só que de um ângulo menor que 90° pois, enquanto a indutância tende a defasá-la em 90°, a resistência tende a mantê-la em fase com a tensão. A figura acima mostra um circuito R-L em série, no qual R e L simbolizam, respectivamente, a resistência equivalente de todas as resistências em série com o indutor (inclusive a resistência ôhmica do fio do indutor) e a auto-indutância equivalente do circuito. A impedância do circuito é a soma vetorial de R e XL. A intensidade de corrente fornecida pelo gerador é a mesma que circula pelo resistor e pelo indutor e sua fórmula pode ser expressa por: i=v/Z A tensão aplicada ao circuito pelo gerador (v) é a soma vetorial das tensões no resistor (vR)e no indutor (vL), como mostra o diagrama abaixo: vL v φ = arctg vL vR φ vR i O valor de φ depende da razão entre vR e vL, ou da razão entre R e XL (as razões são iguais). 27 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 27 Pelo diagrama fasorial, vê-se que a corrente (i) está em fase com (vR) mas no indutor está atrasada de 90° em relação à tensão (vL). Como tensão e corrente num resistor estão sempre em fase, (vR) e (i) estão representadas no mesmo eixo. A tensão (v) do gerador é a soma vetorial de (vL) com (vR), resultando numa defasagem φ menor que 90° em relação à corrente. A figura abaixo mostra a representação das formas de ondas de um circuito RL série: V VL VR i φ 5.1.1 - Impedância Indutiva (ZL) A oposição total que um circuito R-L oferece à passagem da corrente elétrica depende de R e de XL e é chamada de Impedância Indutiva. O seu valor é o da soma vetorial de R + XL. A figura abaixo facilita essa compreensão: ZL XL φ R Podemos dizer, então, que: ZL = R + j XL Na forma polar, o seu módulo será: |ZL| = √ R2 + XL2 28 E o seu ângulo de fase será igual a: φ = arctg XL R Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 28 Exemplos: 1 – Uma bobina, quando ligada a uma fonte CC de 10V, consome uma corrente de 100mA e, quando ligada a uma fonte CA de 10Vrms / 500Hz, consome uma corrente de 20mA. Calcular: a) A resistência da bobina b) A reatância e a indutância da bobina c) A impedância complexa da bobina d) O diagrama fasorial do circuito (considerando a corrente como referência de fase nula) Resolução: a) Quando a bobina é ligada à fonte CC, só existe o efeito da sua resistência ôhmica. Portanto: R = V / I = 10V / 100 x 10-3A R = 100 Ω b) Quando a bobina é ligada à fonte de CA, além da resistência ôhmica há o efeito da reatância indutiva. Então, o módulo da impedância será: ZL = v / i = 10V / 20 x 10-3A = 500 Ω Como ZL2 = R2 + XL2, temos que: XL2 = ZL2 – R2 ou XL = √ ZL2 – R2 XL2 = √ 5002 – 1002 XL = 2.π.f.L XL = 490 Ω Logo, L = XL 2πf L = 490 / 2 x 3,14 x 500 L = 156 mH c) ZL = R + j XL ZL = 100 + j 490 d) A tensão estará em fase com a impedância total e a corrente estará em fase com a resistência. Então, o ângulo de fase entre a tensão e a corrente será dado por: XL φ = arctg = arctg 490 / 100 = arctg 4,9 φ = 78,5° R vL v |vL| = v sen φ = 10 sen 78,5° = 10 x 0,978 = 9,78 V |vR| = v cos φ = 10 cos 78,5° = 10 x 0,199 = 1,99 V 78,5° vR 29 i Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 29 R = 30 Ω 2 – Dado o circuito a seguir, determinar: a) A impedância do circuito e o valor de L b) A corrente no circuito v = 110 90° Vrms 60 Hz c) O diagrama fasorial ~ XL = 40 Ω Resolução: a) Na forma cartesiana: Z = 30 + j 40 Ω Na forma polar: |Z| = √ R2 + XL2 = √ 302 + 402 = 50 Ω (Módulo) Fase: φ = arctg 40 / 30 = 53° Portanto: Z = 50 53° Ω Pela reatância indutiva, calcula-se L: XL = 2 π f L L = XL / 2 π f L = 40 / 2 π .60 L = 106 mH b) A corrente no circuito será: i= v ZL i= 110 90° 50 53° = 2,2 37° Arms c) Uma vez que, pelo enunciado, a tensão está a 90°, o seu vetor deverá ficar nesta direção (vertical). A corrente, 53° atrasada em relação à tensão, ou seja, a 90 – 53 = 37º. vR está em fase com a corrente e vL adiantado de 90° em relação a vR, ou seja 90 + 37 = 127° Cálculo de |vL| e |vR|: |vL| = XL x i = 40 |90° x 2,2 |37° = 88 |127° V |vR| = R x i = 30 | 0° x 2,2 |37° = 66 |37° V 37° + 53° + 37° = 127° V = 110V VL = 88V I = 2,2 A 37° VR = 66V 53° 37° 30 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 30 Obs.: Se tomássemos a corrente como referência (φ = 0°), o diagrama ficaria como abaixo (o mesmo diagrama, rotacionado de 37° no sentido horário): VL = 88V V = 110V 37° 53° VR = 66V I = 2,2 A 5.2 – Potência em Circuitos Indutivos Consideremos o circuito R-L série da figura abaixo: i vR R vL L v~ A sua representação fasorial ficaria como a figura abaixo: v vL φ vR Multiplicando-se as tensões por (i), obtemos as potências: Q S φ P 31 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 31 P = vR . i = Potência Ativa ou Potência Real ou Potência Útil => Watt (W) Q = vL . i = Potência Reativa => Volt-Ampère Reativo (VAr) S = v . i = Potência Aparente ou Potência Total => Volt-Ampère (VA) Pelo Teorema de Pitágoras, temos: S2 = P2 . Q2 ou S = √ P2 + Q2 A relação entre a potência real P e a potência aparente S é chamada FATOR DE POTÊNCIA (FP), cuja expressão é mostrada abaixo: Fator de potência = Como S=v.i temos: P S = cos φ P = S . cos φ donde P = v . i . cos φ - É comum chamar o fator de potência de ”cosseno fi”, devido à sua expressão. - O fator de potência dá uma medida do aproveitamento da energia fornecida à carga pelo gerador. - Se a carga é puramente resistiva, não há potência reativa e, portanto, S = P, ou seja, FP = 1. Neste caso, a carga aproveita toda a energia fornecida pelo gerador (dissipa potência por efeito Joule). - Se a carga é puramente indutiva (ou reativa), não há potência ativa e, portanto, S = Q, ou seja, FP = 0. Neste caso, a carga não aproveita nenhuma energia fornecida pelo gerador (não dissipa potência). 2 2 2 - Em um circuito R-L, há potência ativa e reativa e, portanto, S = P + Q , ou seja, 0 ≤ FP ≤ 1. Neste caso, a carga aproveita uma parte da energia fornecida pelo gerador, ou seja, somente a parte resistiva dissipa potência. Neste tipo de circuito, como a corrente está atrasada em relação à tensão, dizemos que o circuito apresenta FATOR DE POTÊNCIA ATRASADO. - O fator de potência de um circuito deve ser mantido o mais próximo de 1 quanto possível. Um fator de potência baixo significa que o gerador e as linhas de transmissão estão fornecendo energia maior do que aquela que está sendo efetivamente aproveitada pela carga. Em outras palavras, é necessário um superdimensionamento tanto do gerador quanto das linhas de transmissão, implicando em maior custo e maior perda de energia, pois são necessárias maior corrente e maior potência aparente para a obtenção de uma determinada potência real.. 32 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 32 Por esta razão, a legislação vigente permite que as concessionárias de energia elétrica obriguem, sob pena de multa, que os consumidores mantenham o fator de potência de suas unidades consumidoras acima de 0,92. Como, na maioria das instalações industriais, as maiores cargas são predominantemente indutivas (transformadores, motores, reatores de lâmpadas fluorescentes, etc.), é necessário corrigir o fator de potência para o nível exigido pela concessionária. Isto é conseguido instalando-se capacitores, que corrigem o fator de potência, adequando-o às exigências da legislação. A fim de facilitar o cálculo da correção, os capacitores especialmente construídos para essa finalidade são especificados em KVAr. 5.3 – Circuito R-L em Paralelo Para análise deste tipo de circuito, consideraremos o indutor como ideal. No circuito R-L em paralelo, a tensão do gerador (v), é a mesma do resistor (vR) e do indutor (vL). No entanto, a corrente fornecida pelo gerador (i) é igual à soma vetorial das correntes no resistor (iR) e no indutor (iL). A corrente no resistor (iR) está em fase com a tensão (v), assim como a corrente no indutor (iL) está atrasada de 90° em relação à tensão, como mostra a figura abaixo: iR v = v R = vL φ i v ~ iR R XL iL iL i A representação senoidal do circuito está mostrada na figura abaixo: i V iR iL φ 33 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 33 5.3.1 – Impedância num Circuito R-L Paralelo Existem diversas formas para se calcular a impedância em um circuito R-L paralelo. A mais simples, no entanto, é através da tensão e da corrente totais no circuito. Z = v i Exemplo: 1 - Calcular a impedância total de um circuito constituído de um resistor de 200 Ω em paralelo com um indutor de 1,06 H ligados a uma fonte de 400V x 60Hz. iR = v / R = 400 / 200 = 2A XL = 2 π f L = 2 x 3,14 x 60 x 1,06 = 400 Ω iL = v / XL = 400 / 400 = 1A |i| = √ iR2 + iL2 = √ 22 + 1 2 = √ 5 = 2,24 A φ = arc tg iL / iR = arc tg -1 / 2 φ = - 26,6° Z = v / i = 400 | 0° / 2,24 | -26,6º Z = 179 26,6° Ω 2 – Dado o circuito ao lado, calcular: a) A expressão da corrente total b) A impedância total c) O diagrama fasorial i v = 110 0° Vrms 60 Hz ~ iR R = 60 Ω XL = 80 Ω iL iR = 110 / 60 = 1,83 A iL = 110 / 80 = 1,37 A |i| = √ 1,832 + 1,372 iR 1,83 A |i| ≈ 2,3 A φ = arc tg iL / iR = arc tg -1,37 / 1,83 v 110 V φ = -37° φ ≈ - 37° i = 2,3 - 37º A Z = v / i = 110 | 0° / 2,29 | -37° Z = 48 37° Ω 34 iL 1,37 A Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br i 2,3 A 34 5.4 – Circuito R-C em Série i v~ i vR vC vR φ R φ = – arctg C vC vC vR v Quando uma tensão alternada é aplicada a um circuito R-C série, a corrente fica adiantada em relação a ela, só que de um ângulo menor que 90°, pois enquanto a capacitância tende a defasá-la em 90°, a resistência tende a colocá-la em fase com a tensão. Pelo diagrama fasorial, representado acima, vê-se que a corrente i (que é a mesma no resistor e no capacitor) está adiantada em relação à tensão vC. Como a tensão e a corrente num resistor estão sempre em fase, vR e i estão representadas no mesmo eixo. A figura abaixo mostra as formas de onda de um circuito R-C série: v vR vC i φ 5.4.1 – Impedância Capacitiva (ZC) A oposição total que um circuito R-C oferece à passagem da corrente elétrica depende de R e de XC, e é chamada de impedância capacitiva. O seu valor é a soma vetorial de R + XC. A figura abaixo facilita essa compreensão: R φ XC 35 Z Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 35 Podemos dizer, então, que: ZC = R – j XC Na forma polar, o seu módulo será: E o seu ângulo de fase será igual a: |ZC| = √ R2 + XC2 φ = – arctg XC R 5.5 – Potência em Circuitos Capacitivos Consideremos o circuito R-C série da figura abaixo: i v~ vR vC R C A sua representação fasorial ficaria como a figura abaixo: vR φ vC v Multiplicando-se as tensões pela corrente i, obtemos as potências: P φ Q S P = vR . i = Potência Ativa ou Potência Real ou Potência Útil => Watt (W) Q = vC . i = Potência Reativa => Volt-Ampère Reativo (VAr) S = v . i = Potência Aparente ou Potência Total => Volt-Ampère (VA) Como, num circuito R-C série, a corrente está adiantada em relação à tensão, dizemos que o circuito apresenta FATOR DE POTÊNCIA ADIANTADO. 36 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 36 5.6 – Circuito R-C Paralelo No circuito R-C em paralelo, a tensão do gerador (v), é a mesma do resistor (vR) e do capacitor (vC). No entanto, a corrente fornecida pelo gerador (i) é igual à soma vetorial das correntes no resistor (iR) e no capacitor (iC). A corrente no resistor (iR) está em fase com a tensão (v), assim como a corrente no capacitor (iC) está adiantada de 90° em relação à tensão, como mostra a figura abaixo: i v ~ i iC R iR iC XC φ iR v = vR = vC A figura abaixo mostra as formas de onda de um circuito R-C paralelo: i iC iR v φ 5.6.1 – Impedância num Circuito R-C Paralelo Da mesma forma que no circuito R-L paralelo, a maneira mais simples de calcular é através da tensão e da corrente totais no circuito. Z = 37 v i Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 37 Exemplo: 1 - Calcular a impedância total de um circuito constituído de um resistor de 100 Ω em paralelo com um capacitor de 2 µF, ligados a uma fonte de 120V x 994Hz. iR = v / R = 120 / 100 = 1,2A XC = 1 / 2 π f C = 1 / 2 x 3,14 x 994 x 2 x 10-6 = 80 Ω iC = v / XC = 120 / 80 = 1,5 A |i| = √ iR2 + iC2 = √ 1,22 + 1,52 φ = arc tg iC / iR = arc tg 1,5 / 1,2 = √ 3,69 = 1,92 A => φ = 51,34° Z = v / i = 120 | 0° / 1,92 | 51,34° Z = 62,4 -51,34° Ω 5.7 – Circuito R-L-C Série i R vR v ~ vL L vC C Neste tipo de circuito, três situações podem ocorrer: vL vL v vL – vC i vL φ i φ vR vR = v vL – vC v vC vC i vC vL > vC vL < vC vL = vC XL > XC XL < XC XL = XC porque 38 vR porque Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br porque 38 No primeiro caso, o circuito se comporta como um circuito indutivo (R-L); no segundo, torna-se capacitivo e no último caso, apresenta praticamente as características de um circuito puramente resistivo. Os diagramas fasoriais das impedâncias, nos três casos, ficam como mostrado abaixo: XL XL Z XL – XC R φ Z=R φ XC XL XL – XC R Z XC XC 5.8 – Circuito R-L-C em Paralelo i v ~ iR R iC C iL L Neste circuito vigoram as mesmas características gerais já estudadas nos circuitos paralelos: - A tensão aplicada ao circuito é igual à tensão entre os terminais de cada braço do circuito; - A intensidade da corrente total fornecida pela fonte é igual à soma vetorial das correntes nos diversos braços em paralelo; - O inverso da impedância total é igual à soma vetorial dos inversos das impedâncias dos diversos braços em paralelo; - A corrente no resistor está em fase com a tensão; - A corrente no indutor está atrasada de 90° em relação à tensão; - A corrente no capacitor está adiantada de 90° em relação à tensão. Portanto, as correntes iC e iL estão defasadas de 180° entre si, sendo que a sua soma vetorial é a diferença entre os seus módulos, com fase igual à da corrente com maior módulo. 39 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 39 A figura abaixo mostra o diagrama fasorial das correntes de um circuito R-L-C paralelo: IC i IC – I L φ iR IL v Caso o módulo de iC seja maior que o de iL, o circuito comportar-se-á como capacitivo. No caso contrário (iL > iC), o seu comportamento será indutivo. A partir deste ponto, a sua resolução será praticamente idêntica à dos circuitos R-L e R-C paralelos, dependendo do seu comportamento predominante. Exemplo: 1) Dado o circuito abaixo, calcular a corrente em cada braço, a corrente total, a impedância do circuito e o diagrama fasorial das correntes. v = 20 0° V i R = 1 kΩ v XL = 200 Ω ~ iR R iC C iL L XC = 500 Ω Calculando os módulos das correntes: | iR | = 20 / 1000 = 0,02A | iC | = 20 / 500 = 0,04A | iL | = 20 / 200 = 0,1A iC A corrente reativa total será igual a: φ iR iC – iL = 0,04 – 0,1 = – 0,06A O diagrama fasorial ficará como ao lado: O ângulo φ será igual a: iC – i L i φ = arctg (iC – iL) / iR = arctg (– 0,06 / 0,02) = arctg (– 3) φ = – 71,56° 40 iL Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 40 O módulo da corrente total será: | i | = √ 0,022 + 0,062 | i | = 0,063 A A impedância total do circuito será igual a: Z = 20 | 0° / 0,063 | -71,56° = 316,2 | 71,56° Ω Respostas: iR = 0,02 0° A iC = 0,04 90° A iL = 0,1 – 90° A i = 0,063 – 71,56° A Z = 316,2 71,56° Ω 5.9 – Circuitos R-L-C Mistos Uma vez que aos circuitos de corrente alternada se aplicam as mesmas regras para os circuitos de corrente contínua, temos que o inverso da impedância total é igual à soma dos inversos das impedâncias nos diversos braços do circuito: 1 Zt = 1 Z1 1 + Z2 + 1 Z3 + ... Ou, se trabalharmos com apenas duas impedâncias em paralelo de cada vez: Zt = Z1 . Z2 Z1 + Z2 A figura abaixo representa as impedâncias dos diversos braços de um circuito misto. A impedância de cada braço é a impedância resultante de cada circuito série. v 41 ~ Z1 Z2 Z3 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 41 i1 i i2 i3 10 Ω 40 Ω v = 100 |0° Vrms 60 Hz ~ Z1 Z2 53 mH Z3 80 µF 50 µF 30 mH Neste caso, a forma mais simples de resolução é a que calcula as correntes nos diversos braços (que são circuitos série) na forma cartesiana ou retangular, e então somá-las, calculando, assim, a corrente total, ainda na forma retangular. Feito isso, converte-se a corrente total para a forma polar e calcula-se a impedância total dividindo-se a tensão pela corrente. Exemplo: No circuito da figura acima, calcular a corrente e a impedância totais. a) Cálculo de Z1: XL1 = 2 π . 60 . 53 . 10-3 = 20 Ω Z12 = 402 + 202 Z1 = 44,7 Ω φ = arctg 20 / 40 = 26,56° i1 = v / Z1 = 100 | 0° / 44,7 | 26,56° = 2,24 | –26,56° A Como o circuito é indutivo, a corrente está atrasada, então, o seu ângulo é negativo. Convertendo para a forma retangular: i1 = 2,24 cos (–26,56°) + j 2,24 sen (–26,56°) = 2 – j 1 A b) Cálculo de Z2: Z2 = XC2 = 1 / 2 π . 60 . 50 . 10-6 = 53,05 | –90° Ω i2 = 100 | 0° V / 53,05 | –90° Ω = 1,88 | 90° A Como o circuito é puramente capacitivo, a corrente está adiantada de 90°. Então, o seu ângulo será: φ = 90° Temos então, que i2 = 0 + j 1,88 A 42 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 42 c) Cálculo de Z3: XC3 = 1 / 2 π . 60 . 80 . 10-6 = 33,15 Ω XL3 = 2 π . 60 . 30 . 10-3 = 11,3 Ω X3 = 11,3 – 33,15 = – 21,85 Ω (A impedância equivalente do braço 3 é capacitiva) Z32 = 102 + 21,852 Z3 = 24 Ω φ = arctg –21,85 / 10 = – 65,4° i3 = 100 | 0° / 24 | –65,4° = 4,17 | 65,4° A Como o circuito é capacitivo, a corrente está adiantada, então, o seu ângulo é positivo. i3 = 4,17 cos (65,4°) + j 4,17 sen (65,4°) = 1,74 + j 3,79A Somando-se as três correntes, temos: i1 = 2 –j1A i2 = 0 + j 1,88 A i3 = 1,74 + j 3,79A i = 3,74 + j 4,67 A i = 3,74 + j 4,67 A Z= ou i = 5,98 | 51,3° A 100 | 0° 5,98 | 51,3° Z = 16,7 | - 51,3° A Ou na forma retangular: Z = 16,7 cos (-51,3°) + 16,7 sen (-51,3°) Z = 10,43 – j 13,03 Ω 43 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 43 Graficamente, podemos representar o diagrama fasorial da seguinte forma: iX 4,67 i = 5,98A i3 3,79 1,88 i2 51,3° 2 1,74 –1 iR 3,74 i1 – iX Uma outra forma de se calcular circuitos em paralelo é através da sua admitância (Y), que é o inverso da impedância (Z), assim como a condutância (G) é o inverso da resistência (R) e a susceptância (B) é o inverso da reatância (X). Todas as três são medidas em “Siemens”. Admitâncias, condutâncias ou susceptâncias em paralelo, se somam. Assim, o exemplo anterior pode ser resolvido da seguinte forma: a) Cálculo da admitância do braço 1: Z1 = 40 + j20 Y1 = Y1 = 44 1 = 40 + j20 40 2000 – j20 2000 1 40 + j20 x 40 – j20 40 – j20 = 40 – j20 2 2 40 + 20 = 40 – j20 2000 = 0,02 – j0,01 Siemens Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 44 b) Cálculo da admitância do braço 2: Z2 = – j53,05 Y2 = 1 1 = – j53,05 – j53,05 x j53,05 j53,05 = j53,05 2814,3 = j0,0189 Siemens c) Cálculo da admitância do braço 3: Z3 = 10 – j21,85 Y3 = Y3 = 1 10 – j21,85 10 577,4 1 = 10 – j21,85 j21,85 + 577,4 x 10 + j21,85 10 + j21,85 = 10 + j21,85 102 + 21,852 10 + j21,85 = 577,4 = 0,0173 + j0,0378 Siemens A admitância total será a soma das três admitâncias Y = 0,02 – j0,01 + j0,0189 + 0,0173 + j0,0378 Y = 0,0374 + j0,0466 Siemens A impedância total será então o seu inverso. 1 1 Z= = x 0,0374 + j0,0466 0,0374 + j0,0466 Z= 0,0373 0,00357 – j0,0466 0,00357 φ = arctg –13,03 / 10,43 = arctg –1,249 0,0374 – j0,0466 0,0374 – j0,0466 = 0,00357 Z = 10,43 – j13,03 Ω φ = – 51,3° |Z2| = 10,432 + 13,032 Z = 16,7 | –51,3° Ω i = v / Z = 100 | 0° / 16,7 | – 51,3° i = 5,98 | 51,3° A 45 0,0374 – j0,0466 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 45 Este método (da soma das admitâncias) é particulrmente interessante para se resolver circuitos mais complexos, nos quais o método das correntes não pode ser aplicado, como no circuito abaixo, no qual foi introduzida uma reatância em série com o circuito do exemplo anterior: L1 = 90 mH 10 Ω 40 Ω v = 100 Vrms 60 Hz ~ 80 µF 53 mH XL1 = 2 π . 60 . 90 . 10-3 50 µF Circuito Anterior 30 mH XL1 = 33,93 Ω Substituindo-se agora os três braços paralelos (no interior da linha pontilhada) pelo seu circuito equivalente, o circuito pode, então, ser redesenhado da seguinte forma: 33,93 Ω 10,43 Ω v = 100 Vrms 60 Hz ~ – 13,03 Ω O circuito, agora, se tornou um R-L-C série e a sua impedância total será então igual a: Z = 10,43 – j13,03 + j33,93 Z = 10,43 + 20,9 Ω φ = arctg 20,9 / 10,43 = arctg – 0,888 φ = 63,48° |Z|2 = 10,432 + 20,92 Z = 23,36 | 63,48° Ω i = v / Z = 100 | 0° / 23,36 | 63,48° i = 4,28 | – 63,48° A 46 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 46 5.10 - Correção do Fator de Potência Como dissemos anteriormente, o fator de potência exprime o grau de aproveitamento da energia fornecida à carga pelo gerador. Um fator de potência muito baixo significa que o gerador está fornecendo uma energia muito superior àquela que está sendo aproveitada pela carga. Por esta razão, as concessionárias de energia elétrica aplicam multa nos consumidores que estiverem com o fator de potência abaixo de 0,92. Como a maioria das cargas em uma indústria é de natureza indutiva (motores, transformadores), o seu fator de potência costuma ser baixo, sujeitando o consumidor às multas aplicadas pela concessionária. Isso, no entanto, pode ser evitado, através da correção do fator de potência, que consiste na instalação de capacitores em paralelo com a carga, de modo a compensar aquele desvio. Sabendo que as reatâncias indutiva e capacitiva se opõe e que a reatância resultante é a soma vetorial daquelas, devemos instalar no circuito capacitores de forma que o novo fator de potência esteja no valor desejado. Exemplo: Suponhamos que em uma conta de energia elétrica, de uma instalação de 220V referente a um período de 30 dias, os valores medidos sejam: Energia ativa = 15.840 kWh Energia reativa = 12.643 kVArh Observando esta mesma conta, percebemos também que ocorreu uma cobrança de consumo reativo. O que devemos fazer para, no futuro, evitarmos este tipo de cobrança? O primeiro passo é calcular as potências: Sabendo que o período é de 30 dias e que cada dia tem 24 horas, temos um total de 720 horas. Calculamos as potências dividindo a energia, no período, pelo tempo. Potência ativa = 15.840 kWh / 720 h = 22 kW Potência reativa = 12.643 kVArh / 720 = 17,56 kVAr Potência aparente = √ 222 + 17,562 = √ 484 + 308,35 = √ 792,35 = 28,15 kVA Fator de potência = 22 / 28,15 = 0,83 => (abaixo de 0,92) O gráfico das potências ficaria como na figura abaixo: Q = 17,56 kVAr S = 28,15 kVA cos φ = 0,78 φ ≅ 38,6° P = 22 kW 47 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 47 Como o fator de potência mínimo exigido pela legislação é de 0,92, a cobrança de multa por consumo reativo se justifica. Para elevarmos o fator de potência igualando-o a 1, bastaria instalarmos capacitores de correção no valor de 17,56 kVAr, anulando assim o consumo reativo, como na figura abaixo: 17,56 kVAr P = 22 kW -17,56 kVAr Potência reativa = 17,56 kVAr – 17,56 kVAr = 0 Potência aparente = Potência Ativa = 22kVA Fator de potência = 1 Entretanto, mais capacitores significam também maior custo, e o que se faz na prática é calcular um valor de capacitores que elevem o fator de potência até um nível suficiente para evitar-se o pagamento da cobrança por consumo reativo. Vamos, neste exemplo, calcular o valor necessário de capacitores para elevar o fator de potência para 0,94. Sabendo que a potência ativa é de 22kW, para um fator de potência de 0,94 a potência aparente será de: S = 22 / 0,94 = 23,4 kVA A potência reativa, para este novo valor do cos φ será de: S2 = P2 + Q2 donde: Q = √ 23,42 - 222 Q2 = S2 – P2 = √ 548 – 484 ou = Q = √ S2 – P2 √ 64 = 8 kVAr Como a potência reativa atual é de 14,78 kVAr, para obtermos a nova potência reativa calculada, basta instalarmos capacitores no valor de: 17,56 – 8 = 9,56 kVAr Temos, então, o valor dos capacitores a serem instalados no circuito, em kVAR. 48 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 48 Se quisermos calcular o valor da sua capacitância, devemos considerar que a potência reativa é igual a: Q= v2 Xc v2 1 2πfC = => Q = v2 . 2 . π . f . C => C = Q 2 π f v2 Considerando a freqüência de 60 Hz, temos que 2 . π . 60 ≅ 377. Assim, C = Q 377 v2 Então, se considerarmos uma tensão de 220V, a capacitância do capacitor de 6,78 kVAR será de: C = 9,56 x 103 / 377 x 2202 => C = 523,9 µF Com isto, evitamos o pagamento da cobrança por consumo reativo e teremos um custo com capacitores da terça parte do que teríamos para fazer cos φ = 1. O novo gráfico das potências, após a instalação dos capacitores, ficará como na figura abaixo: 17,56 kVAr 28,15 kVA 8 kVAr 23,4 kVA cos φ = 0,94 φ ≈ 19,95° 22 kW 9,56 kVAr Podemos, agora, comparar as correntes circulantes na linha de transmissão antes e depois da correção do fator de potência: 49 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 49 Antes da correção: v = 220 V S = 28,15 kVA i = S / V = 28.150 / 220 = 127,95 A Após a correção: v = 220 V S = 23,4 kVA i = S / V = 23.400 / 220 = 106,4A Constatamos que, para a realização do mesmo trabalho necessitamos, após a correção, transportar uma corrente mais baixa pela linha de transmissão, permitindo agora, utilizar um cabo de bitola mais estreita (menor seção transversal). Os transformadores de distribuição de energia também serão menos sobrecarregados. Exercícios Propostos: 1) Um amperímetro, um voltímetro e um wattímetro são ligados no circuito de um motor de indução monofásico e indicam, respectivamente, 10A, 220V e 1.900W. Determinar: a) o fator de potência do motor; R: 0,86 b) o ângulo de defasagem; R: 30,68° c) a impedância do circuito; R: 22 Ω d) a resistência efetiva. R: 18,92 Ω 2 ) 75% da energia aplicada por segundo a um circuito de C.A. são transformados em calor. O circuito, que é indutivo, apresenta uma resistência de 10 Ω. Determinar: a) o fator de potência do circuito; R: 0,75 b) a impedância do circuito; R: 13,3 Ω c) a reatância indutiva do circuito. R: 8,8 Ω 3) Uma impedância de 4 – j 3 Ω foi ligada a uma fonte de 100V. Determinar os seguintes elementos do circuito: a) a resistência efetiva; R: 4 Ω b) a reatância; R: 3 Ω c) a intensidade da corrente; R: 20 | 36,87° A d) o fator de potência; R: 0,8 e) a potência aparente; R: 2.000 VA f) a potência real; R: 1600 W g) a potência reativa.. R: 1.200 VAr 50 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 50 4) Uma bobina é ligada em série com um motor monofásico para reduzir a tensão aplicada aos terminais do motor. A tensão aplicada ao conjunto é de 130 | 45° V e a tensão somente no motor é de 90 | 30° V. Calcular, na forma polar, a d.d.p. nos terminais da bobina. R: 48,96 | 73,4° V 5) Um circuito em série de C.A. contém um resistor, um capacitor e uma bobina que apresenta tanto resistência quanto indutância. Sabendo que a tensão no resistor é de 40V, no capacitor é de 80V e na bobina é de 60V, determinar a tensão aplicada ao circuito, na forma polar. Sabe-se ainda que a corrente está atrasada de 45° em relação à tensão entre os terminais da bobina. R: 90,58 | -24,5° V 6) Um circuito formado por um capacitor de 30 µF e um resistor está ligado a uma linha de 120V e 60Hz. Qual deve ser o valor da resistência para que a corrente seja de 1 A? R: 81,13 Ω 7) Calcule a indutância de uma bobina cuja resistência é de 500 Ω, se ela drena 10 mA de uma fonte de 110 V e 60 Hz. R: 29,15 H 8) Calcule o fator de potência do motor de uma máquina de lavar roupa se esta consome 4 A e 420 W de uma linha de 110VCA. R: 0,954 9) Para que um relé opere corretamente, é necessária uma corrente de 100 mA através da sua bobina. Para que o mesmo funcione em C.C. são necessários 24 V. Se alimentado por uma fonte de C.A. de 60 Hz são necessários 160V. Qual a capacitância, em série com o relé, que permitirá o seu funcionamento com uma fonte de 120 V e 60 Hz? R: 6,5 µF 10) Determinar a tensão necessária para produzir uma corrente de 3,5 | 0° A em um circuito C.A. em série, constituído de 18 Ω de resistência, 9 Ω de reatância indutiva e 22 Ω de reatância capacitiva. R: 77,7 | -35,8° V 11) Um circuito alimentado por uma tensão de 650V @ 50 Hz possui, em um braço, um resistor de 30 Ω em série com um indutor de 127,32 mH. O outro braço, em paralelo com o primeiro, possui um resistor de 5 Ω em série com um capacitor de 265,258 µF. Calcular: a) a corrente total, na forma polar; R: 44,8 | 52,9° A b) a impedância total, na forma polar; R: 14,5 | -52,9° Ω c) o fator de potência; R: 0,6 d) o módulo da potência aparente; R: 29.120 VA e) o módulo da potência ativa; R: 17.472 W f) o módulo da potência reativa. R: 23.296 VAr 51 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 51 CAPÍTULO 6 RESSONÂNCIA Quando, em um circuito R-L-C série ou paralelo, ocorre o caso particular no qual a freqüência é tal que XL = XC, dizemos que o circuito está em ressonância, pois ambas se anulam e o circuito se comporta como puramente resistivo. 6.1 – Ressonância nos Circuitos em Série Quando é estabelecida a igualdade entre a reatância indutiva e a reatância capacitiva (caso 3), caso esse em que as tensões vC e vL são iguais, dizemos que o circuito está em RESSONÂNCIA. Esta condição é desejável em diversos circuitos eletrônicos, mas pode trazer conseqüências desagradáveis, com danos para os elementos de um circuito, quando não é prevista. Sabemos que a reatância indutiva é diretamente proporcional à freqüência, enquanto que a reatância capacitiva é função inversa da mesma. Assim, quando alimentamos um circuito com uma fonte de C.A. e fazemos a freqüência variar desde um valor praticamente nulo até um valor bem alto, podemos observar o crescimento da reatância indutiva e a queda da reatância capacitiva. Numa determinada freqüência, as duas grandezas tornam-se iguais e o circuito apresenta características especiais que correspondem à condição denominada “ressonância”. A figura abaixo ilustra essa condição. Z, X, R Z XC XL R fr f As características de um circuito série na freqüência de ressonância são as seguintes: a) A impedância do circuito torna-se mínima, ficando reduzida ao valor da resistência; b) A intensidade da corrente é máxima, como conseqüência do item anterior, e limitada apenas pelo valor da resistência; c) O circuito torna-se puramente resistivo; d) Toda a energia aplicada ao circuito é gasta para vencer a sua resistência; e) O fator de potência (cos φ) é igual a 1. 52 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 52 A freqüência de ressonância de um circuito em série é dada pela equação abaixo: fo = 1 2 π √ LC fo = freqüência de ressonância, em HERTZ (Hz) L = auto-indutância do circuito, em HENRYS (H) C = capacitância do circuito, em FARADS (F) Com efeito, se XL = XC, temos: 2 π fo L = fo = 1 2 π fo C 4 π2 fo2 L C = 1 1 fo = 4 π2 L C 1 2 π √ LC Observando esta equação, constatamos que a resistência do circuito não influi na sua freqüência de ressonância, e que esta depende somente do produto LC. Isso significa que circuitos com valores diferentes de L e de C podem entrar em ressonância na mesma freqüência, desde que os produtos LC sejam iguais. Por outro lado, a resistência do circuito influi no que é conhecido como Fator de Mérito ou FATOR DE QUALIDADE (ou FATOR Q) do circuito ressonante, que é definido como a relação entre a energia armazenada nas reatâncias e a energia dissipada na resistência do circuito. Como, na freqüência de ressonância XL = XC, podemos usar apenas uma delas, como mostrado abaixo: Q= I2 XL t I2 R t Q= XL R Como, normalmente, a resistência do circuito é constituída, principalmente, pela resistência do fio da bobina, é comum referenciar-se à resistência da bobina e à sua reatância indutiva. A variação da corrente num circuito R-L-C série, quando a freqüência da fonte é variada, pode ser representada graficamente, constituindo o que chamamos de uma CURVA DE RESSONÂNCIA, e que é mostrada na figura abaixo. Nota-se que, quanto menor a resistência, maior o fator “Q” e mais estreita (ou mais seletiva) é a curva. 53 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 53 i fr f 6.2 – Largura de Faixa em um circuito ressonante série A Largura de Faixa, ou Banda de Passagem (BW – do inglês Band Width) é definida como a faixa de freqüências na qual a potência dissipada é maior do que a metade da potência máxima. 2 Como a potência ativa fornecida ao circuito é igual a R.I , quando I = 0,707 Io ou I = Io / √2 , a potência é igual à metade do valor máximo. Na figura abaixo, f1 e f2 são os pontos de meia potência, nos quais a corrente I = 0,707 Io. Io 0,707 Io BW f1 fo f2 f (Hz) A largura de faixa (BW) será, neste caso, definida como: BW = 54 fo Q Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 54 6.3 – Ressonância nos Circuitos em Paralelo Uma vez que este circuito entra em ressonância quando XL = XC, a fórmula para o cálculo da freqüência de ressonância é idêntica à do circuito R-L-C série. fo = 1 2 π √ LC A diferença, neste caso, é que, ao contrário do circuito série, na freqüência de ressonância, o circuito em paralelo apresenta impedância máxima (Z = R) e corrente mínima. As figuras abaixo ilustram essas características. f fr fr f No circuito ressonante paralelo (também chamado “Circuito Tanque), o Fator de Qualidade é dado pela equação: Q = 55 R XL Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 55 6.4 – Oscilação num circuito R-L-C ressonante Capacitores e indutores são dispositivos de armazenamento de energia. Porém, enquanto o primeiro armazena-a sob a forma de campo elétrico, o segundo armazena sob a forma de campo magnético. Isso significa que, no capacitor, a energia é máxima quando a tensão é máxima e, no indutor, a energia é máxima quando a corrente é máxima. Em ambos, a corrente é mínima quando a tensão é máxima e vice-versa, ou seja, corrente e tensão estão defasadas, como já estudamos. Observemos o circuito abaixo: 1 SW 2 L V C R Inicialmente, carregamos o capacitor com a tensão V, colocando a chave SW na posição 1. A 2 energia armazenada no capacitor será igual a CV /2, conforme estudado no item 10.3 da Apostila de Eletricidade I. Ao passarmos a chave para a posição 2, o capacitor irá se descarregar através do indutor e do resistor, provocando o surgimento de uma corrente elétrica. Essa corrente, inicialmente baixa devido à oposição criada pela auto-indutância (Lei de Lenz), irá aumentando gradativamente até atingir o seu valor máximo. Neste momento, a tensão (e a energia) no capacitor será zero, tendo este transferido toda a sua energia para o indutor, a qual será máxima. Inicia-se, então, o processo inverso, de transferência da energia do indutor para o capacitor e assim sucessivamente, entrando o circuito em oscilação, na sua freqüência de ressonância. Caso não existissem resistências que dissipassem essa energia (circuito L-C ideal), essa oscilação permaneceria indefinidamente, o que não ocorre na prática. Dependendo do valor da resistência, o circuito se comportará de acordo com um dos regimes abaixo: Sub-amortecimento R2 < 56 4L C Amortecimento crítico R2 = 4L C Amortecimento super-crítico R2 > Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 4L C 56 No regime sub-amortecido, a amplitude dessas oscilações decresce exponencialmente, como mostra a figura abaixo: O circuito se comporta de forma análoga ao de um sistema formado por massa & mola, estudado na Física (Movimento Harmônico Simples – MHS). Exercícios Propostos: 1) Um circuito série alimentado por uma tensão de 120 VCA é composto por um resistor de 10 Ω, um indutor de 0,5 mH e um capacitor de 0,022 µF. Calcular: a) a freqüência de ressonância; R: 47,987 kHz b) a freqüência de corte inferior; R: 46,3955 kHz c) a freqüência de corte superior; R: 49,5785 kHz d) a corrente na freqüência de ressonância. R: 12 A 2) Calcular o valor do resistor de um circuito série no qual: L = 0,1 mH e C = 33 nF, para que a largura de faixa seja de 27 kHz quando em ressonância. R: 16,964 Ω 3) Um circuito contém um resistor de 3,3 kΩ, um indutor de 1 mH e um capacitor de 0,01 µF, todos em paralelo. Sabendo que a sua tensão de alimentação é de 66V, calcular: a) a freqüência de ressonância; R: 50.329 Hz b) a freqüência de corte inferior; R: 47.917,5 Hz c) a freqüência de corte superior; R: 52.740,5 Hz d) a corrente na freqüência de ressonância. R: 20 mA 57 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 57 CAPÍTULO 7 FILTROS PASSIVOS Filtros são circuitos que permitem a passagem de apenas determinadas freqüências. Eles podem ser classificados em ativos e passivos. Filtros passivos são aqueles formados apenas por componentes passivos, como resistores, capacitores e indutores, e filtros ativos são os que incorporam componentes ativos, como transistores, FETs, amplificadores operacionais, etc. Neste capítulo abordaremos apenas os primeiros. Os filtros ativos são assunto da cadeira de eletrônica e nela estudados. Pelo fato de utilizarem apenas componentes passivos, uma das suas principais características é terem o ganho de tensão (Av) sempre igual ou menor do que 1 (0dB), uma vez que não possuem componentes ativos capazes de amplificar o sinal. Com relação ao seu comportamento em função da freqüência, os filtros podem ser classificados em: - Filtro Passa-Baixas - Filtro Passa-Altas - Filtro Passa-Faixa - Filtro Rejeita-Faixa 7.1 – O Decibel (dB) Sabemos, da Física, que o bel (ou seu submúltiplo mais conhecido, o decibel) é uma medida de intensidade sonora e está ligado diretamente ao nosso sentido da audição. Esta, por sua vez, apresenta um comportamento não linear, no que diz respeito à sua sensibilidade. Ao contrário, o seu comportamento obedece a uma curva logarítmica. Por exemplo, se uma potência sonora de 1W provoca uma certa sensação de intensidade em uma pessoa, para que ela tenha a sensação do dobro da intensidade não basta dobrarmos a potência para 2W. Para que se provoque a sensação do dobro da potência é preciso multiplicála por 10, ou seja, 10W. Para dobrá-la novamente, a nova potência deverá ser de 100W. Essa variação corresponde a uma escala logarítmica, que pode ser vista na figura abaixo: 10.000 1.000 100 10 1 58 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 58 O Bel é utilizado para relacionar grandezas de mesma natureza. A essa relação damos o nome de “Ganho”, que representaremos pela letra “A”. Como se trata de uma relação, ele pode ser menor, igual ou maior do que 1. Quando temos [A > 1], dizemos que houve uma amplificação e quando [A < 1], dizemos que houve uma atenuação. Se considerarmos um quadripolo no qual é injetada uma determinada potência P1 na sua entrada e obtida uma potência P2 na sua saída, podemos afirmar que o ganho de potência desse quadripolo será igual a: Ap = P2 P1 P1 P2 Podemos utilizar o bel (B) para relacionar dois níveis de potência P1 e P2 através da expressão abaixo: Ap = log P2 P1 [B] O bel (B), no entanto, é muito grande para ser utilizado na medição dos fenômenos elétricos. Por esta razão, utiliza-se o seu submúltiplo decibel (dB), ficando a expressão do ganho: Ap = 10 log P2 P1 [dB] Logo, caso P2 = 100.P1, teremos um ganho de potência (ou amplificação) de 20dB. Por outro lado, se P2 = 0,01.P1, o ganho será Ap = - 20dB, ou seja, a potência foi atenuada em 20dB. Se, ao invés das potências, relacionarmos as tensões de saída (V2) e de entrada (V1), sabendo que a potência é uma função do quadrado da tensão, a expressão do ganho de tensão (Av) ficará assim: Av = 20 log V2 V1 [dB] É comum, particularmente na área de telecomunicações, utilizar-se o padrão de 1dBm, que é a potência de 1mW dissipada sobre uma impedância de 600Ω. 59 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 59 7.2 – Filtro Passa-Baixas Um filtro passa-baixas ideal teria sua curva de resposta de freqüência como a da figura abaixo: Ap 1 0 f fc Para freqüências abaixo da freqüência de corte (fc), o ganho é igual a 1, ou seja, a potência de saída é igual à potência de entrada. Para freqüências acima da freqüência de corte, o ganho é zero, isto é, a potência de saída (P2) é nula. Na prática, porém, não é possível construir-se um filtro passivo de modo que a sua resposta de freqüência possua um corte tão abrupto. 7.2.1 – Filtro Passa-Baixas com Circuito R-L Sabendo que a reatância indutiva aumenta com a freqüência, um filtro passa-baixas pode ser implementado utilizando um indutor em série com um resistor, formando um divisor de tensão variável com a freqüência, como mostra a figura abaixo: L R Vi Vo Nas freqüências baixas, a reatância indutiva é baixa (XL << R), fazendo com que a tensão no resistor (Vo) seja alta em relação à queda de tensão no indutor. No caso das freqüências altas, a reatância indutiva aumenta (XL >> R), aumentando a queda de tensão no indutor e reduzindo a tensão no resistor (Vo). Neste circuito, a tensão de saída Vo (tensão no resistor) em função da tensão da entrada (Vi) é igual a: Vo = Vi . R R + jXL Pela expresão, constatamos que a tensão de saída é inversamente proporcional à freqüência, ou seja: quanto maior a freqüência, menor a tensão de saída. Por definição, a freqüência de corte de um filtro (também chamada de freqüência de meia potência) é aquela onde a potência de saída é a metade da potência de entrada, ou a potência de entrada seja o dobro da potência de saída ou seja: Pi = 2.Po. Neste ponto, a potência no resistor será igual à potência no indutor e, da mesma forma, a tensão no resistor será igual à tensão no indutor. Isso ocorrerá na freqüência em que XL = R, ou quando o ângulo de fase φ for igual a 45°. 60 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 60 Então, igualando ambas, temos: 2.π.fc.L = R fc = => R 2.π.L Como o ângulo é de 45°, a tensão no resistor será igual a tensão de entrada multiplicada pelo cosseno de 45°, ou 0,707. Vo = Vi √ 2 2 ou Vo = 0,707.Vi O ganho de potência em dB será: Ap = 10 log Po 2.Po => 1 Ap = 10 log 2 Ap = – 3 dB O ganho de tensão em dB será igual a: Av = 20 log 0,707.Vi Vi => Ap = 20 log 0,707 Av = – 3 dB Assim, concluimos que: Na freqüência de corte, tanto o ganho de tensão quanto o ganho de potência são iguais a –3 dB Podemos, agora, traçar a curva de resposta de freqüência do filtro passa-baixas: fc 61 f Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 61 7.2.2 – Filtro Passa-Baixas com Circuito R-C A figura abaixo mostra um filtro passa-baixas com circuito R-C. Como o anterior, é um divisor de tensão variável com a freqüência. Neste caso, para freqüências baixas, a reatância capacitiva é alta (XC >> R), fazendo com que a tensão no capacitor seja alta em relação à queda no resistor. R Vi Vo C No caso das freqüências altas, a reatância capacitiva diminui (XC << R), aumentando a queda de tensão no resistor e reduzindo a tensão no capacitor (Vo). Neste circuito, a tensão de saída Vo (tensão no capacitor) em função da tensão da entrada (Vi) é igual a: Vo = Vi . – j XC R – j XC Analogamente ao circuito anterior, a freqüência de corte se dará no ponto onde R = XC. Então: R= 1 2.π.fc.C Logo: fc = 1 2.π.R.C Da mesma forma que no circuito R-L, na freqüência de corte teremos: Vo = Vi √ 2 ou Vo = 0,707.Vi 2 Os ganhos de tensão e de potência em dB na freqüência de corte também serão iguais a -3dB e a curva de resposta de freqüência será idêntica à do filtro passa-baixas com circuito R-L. 62 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 62 7.3 – Filtro Passa-Altas Um filtro passa-altas ideal teria sua curva de resposta de freqüência como a da figura abaixo: Ap 1 0 f fc Para freqüências acima da freqüência de corte (fc), o ganho é igual a 1, ou seja, a potência de saída é igual à potência de entrada. Para freqüências abaixo da freqüência de corte, o ganho é zero, isto é, a potência de saída (P2) é nula. Na prática, da mesma forma que o filtro passa-baixas, não é possível construir-se um filtro de modo que a sua resposta de freqüência possua um corte tão abrupto. 7.3.1 – Filtro Passa-Altas com Circuito R-L Sabendo que a reatância indutiva aumenta com a freqüência, um filtro passa-altas pode ser implementado utilizando um indutor em série com um resistor, formando um divisor de tensão variável com a freqüência, como mostra a figura abaixo: R Vi L Vo Nas freqüências baixas, a reatância indutiva é baixa (XL << R), fazendo com que a tensão no indutor (Vo) seja pequena em relação à queda de tensão no resistor. No caso das freqüências altas, a reatância indutiva aumenta (XL >> R), aumentando a tensão no indutor (Vo) e reduzindo a tensão no resistor. Neste circuito, a tensão de saída Vo (tensão no indutor) em função da tensão da entrada (Vi) é igual a: Vo = Vi . jXL R + jXL Sabendo que na freqüência de corte XL = R, temos: 2.π.fc.L = R 63 => fc = R 2.π.L Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 63 Da mesma forma que nos circuitos anteriores, na freqüência de corte teremos: Vo = Vi √ 2 ou 2 Vo = 0,707.Vi Os ganhos de tensão e de potência em dB na freqüência de corte também serão iguais a -3dB e a curva de resposta de freqüência será a da figura abaixo: f fc 7.3.2 – Filtro Passa-Altas com Circuito R-C A figura abaixo mostra um filtro passa-altas com circuito R-C. Como o anterior, é um divisor de tensão variável com a freqüência. Neste caso, para freqüências baixas, a reatância capacitiva é alta (XC >> R), fazendo com que a tensão no resistor (Vo) seja baixa em relação à queda no capacitor. C Vi R Vo No caso das freqüências altas, a reatância capacitiva diminui (XC << R), reduzindo a queda de tensão no capacitor e aumentando a tensão no resistor (Vo). Neste circuito, a tensão de saída Vo (tensão no resistor) em função da tensão da entrada (Vi) é igual a: Vo = Vi . 64 R R – jXC Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 64 Pela expressão, constatamos que a tensão de saída é diretamente proporcional à freqüência, ou seja: quanto maior a freqüência, menor a tensão de saída. Analogamente aos circuitos anteriores, a freqüência de corte se dará no ponto onde R = XC. Então: R= 1 2.π.fc.C 1 2.π.R.C fc = Logo: Também da mesma forma que nos circuitos anteriores, na freqüência de corte teremos: Vo = Vi √ 2 ou 2 Vo = 0,707.Vi Os ganhos de tensão e de potência em dB na freqüência de corte também serão iguais a -3dB e a curva de resposta de freqüência será idêntida à do filtro passa-altas com circuito R-L. 7.4 – Filtro Passa-Faixa com circuito R-C Este filtro, também chamado de “Filtro Passa-Banda”, tem, como característica, uma curva de resposta de freqüência que é mostrada na figura abaixo: AV fci fcs f Como pode ser visto, ele deixa passar apenas uma faixa de freqüências, situada entre a freqüência de corte inferior (fci) e a freqüência de corte superior (fcs). O seu circuito é a combinação de um filtro passa-altas em série com um filtro passa-baixas, como mostra a figura abaixo: C1 Vi R2 R1 Passa-Altas 65 C2 Vo Passa-Baixas Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 65 As freqüências de corte inferior e superior são dadas pelas seguintes expressões: fci = 1 2.π.R1.C1 fcs = 1 2.π.R2.C2 Observe que a freqüência de corte do filtro passa-altas (fci) deve ser mais baixa do que a do filtro passa-baixas (fcs). 7.5 – Filtro passa-faixa com circuito L-C Devido à característica de resposta de freqüência dos circuitos L-C, é possível implementar-se filtros passa-faixa tanto com o circuito em série, como com o paralelo, como mostram as figuras abaixo: L C Vi R R Vo Passa-faixa com L-C série C Vi L Vo Passa-faixa com L-C paralelo As freqüências de corte inferior e superior dependerão da largura de faixa dos circuitos. 7.6 – Filtro Rejeita-Faixa com circuito L-C Este filtro, também chamado de “Filtro Rejeita-Banda”, tem, como característica, uma curva de resposta de freqüência que é mostrada na figura abaixo: AV 1 0,707 0 66 fci fcs Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br f 66 Como pode ser visto, ele bloqueia uma faixa de freqüências, situada entre a freqüência de corte inferior e a freqüência de corte superior. O seu circuito é a combinação de um filtro passa-altas em paralelo com um filtro passa-baixas, como mostra a figura abaixo: L Vi C R1 Vo R2 R1 em conjunto com C formam o filtro passa-altas, enquanto que R2 juntamente com L formam o filtro passa-baixas. Podemos notar que os dois resistores estão em paralelo, assim como o indutor está em paralelo com o capacitor, podendo o circuito acima ser redesenhado da seguinte maneira: L Vi C Vo R1//R2 Observando o circuito, constatamos que o mesmo nada mais é do que um circuito L-C paralelo, que apresenta impedância máxima na freqüência de ressonância, como visto em 6.3. Assim, sua freqüência central será dada pela sua freqüência de ressonância, e as freqüências de corte inferior e superior dependerão da sua largura de faixa. Analogamente, um circuito rejeita-faixa também pode ser implementado utilizando-se um circuito L-C série, conforme a figura abaixo: R Vi L Vo C Uma vez que o circuito L-C série apresenta impedância mínima na freqüência de ressonância, a tensão de saída será mínima nessa condição e as freqüências de corte dependerão, da mesma forma que o circuito anterior, da largura de faixa. 67 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 67 7.7 – Filtro Rejeita-Faixa com circuito R-C Este filtro é implementado com um tipo de malha chamada de “Duplo T”, como mostra a figura abaixo: C C R R Vi Vo R 2 2C Sua curva de resposta de freqüência assemelha-se à de um circuito sintonizado, no qual a freqüência na qual se dá a maior rejeição (“ressonância”), é dada por: fo = 1 2.π.R.C 7.8 – Circuito Integrador O circuito integrador é um filtro passa-baixas que opera em uma freqüência muito superior à sua freqüência de corte. Ele é assim chamado porque a forma de onda (função) de saída representa a integral da onda (função) de entrada. R Vi C Vo No caso da tensão de entrada ser uma forma de onda quadrada (função degrau) com freqüência f >> fc, a saída terá uma forma de onda praticamente triangular (função rampa), como mostrado na figura abaixo: 68 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 68 Vi Vo VC -VC Considerando o capacitor inicialmente descarregado, aplica-se, no tempo t = t0, uma tensão positiva na entrada com amplitude Vi = E. Nesse momento o capacitor começa a se carregar através do resistor R com uma constante de tempo τ = R.C. Uma vez que a freqüência de operação é muito maior que a freqüência de corte, ou seja, T << τ, a tensão de entrada muda, em T/2, o seu valor para Vi = -E. O capacitor, então, que se encontrava carregado com a tensão VC, passa a se descarregar e a se carregar com uma polaridade inversa até atingir o valor Vo = -VC em t = T. O processo se repete a cãda semiciclo da tensão de entrada. Como foi visto no capítulo 14 da Apostila de Eletricidade I, a curva de carga do capacitor não é linear, mas exponencial. Assim, quanto maior a constante de tempo em relação ao período da tensão de entrada, mais próxima de uma onda triangular perfeita será a tensão no capacitor (Vo), embora sua amplitude seja menor. 7.9 – Circuito Diferenciador O circuito diferenciador é um filtro passa-altas que opera em uma freqüência muito inferior à sua freqüência de corte. Ele é assim chamado porque a forma de onda (função) de saída representa a derivada da onda (função) de entrada. C Vi 69 R Vo Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 69 No caso da tensão de entrada ser uma forma de onda quadrada (função degrau) com freqüência f << fc, a saída terá uma forma de onda do tipo pulsante (função impulso), como mostrado na figura abaixo: Vi E -E Vo VR -VR O seu funcionamento baseia-se no fato de que um capacitor é praticamente um curto-circuito para variações muito bruscas de tensão, o que ocorre nos momentos de variação da tensão de entrada entre –E e E (e vice-versa), fazendo com que essas variações apareçam na saída como impulsos positivos e negativos. Durante os períodos em que a tensão de entrada permanece constante (C.C.), ele se comporta como um circuito aberto. Como a constante de tempo é muito menor do que o período (τ << T), o capacitor se carrega rapidamente com a tensão de entrada, levando a tensão no resistor (Vo) a zero. 70 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 70 CAPÍTULO 8 SISTEMAS POLIFÁSICOS 8.1 - Funcionamento de um alternador monofásico Vimos, no capítulo 1, como uma tensão alternada senoidal é produzida ao se girar uma espira em um campo magnético. Para se conseguir tensões elevadas, utilizam-se várias espiras enroladas girando no campo. O seu comportamento é idêntico ao de diversas espiras unitárias conectadas em série, somando suas tensões induzidas. ALTERNADOR é o nome dado à máquina elétrica construída desta forma, destinada a produzir uma corrente alternada. A figura abaixo indica esquematicamente a disposição de um alternador monofásico de induzido rotativo, com dois pólos. O enrolamento induzido possui dois bornes, arbitrariamente denominados de princípio e fim (P e F). Para facilitar nosso estudo, consideremos que a f.e.m. do circuito possui seu valor máximo positivo quando o princípio P do circuito passar em baixo do pólo N, conforme mostra a figura. A freqüência da tensão ou corrente alternada depende do número de rotações do mesmo, pois quanto maior o número de voltas que o condutor completar em um determinado tempo, maior o número de ciclos produzidos nesse tempo. Também o número de pólos da máquina influi na freqüência. Conforme o número de pólos, poderão ser completados vários ciclos em cada rotação de máquina. Há a seguinte relação entre o número de pólos da máquina e o número de ciclos produzidos para cada volta completa do alternador: 2 pólos – 1 ciclo 4 pólos – 2 ciclos 6 pólos – 3 ciclos etc. As observações acima permitem escrever a equação que se segue, com a qual é possível determinar a freqüência de um alternador: f = n . p / 120 f = freqüência em Hertz (Hz) n = número de rotações por minuto (rpm) da máquina p = quantidade de pólos 71 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 71 Gerador de 2 pólos Gerador de 4 pólos Gerador de 6 pólos 8.2 – Inconvenientes dos sistemas monofásicos Em muitas aplicações da corrente alternada apresentam-se fortes objeções ao emprego do sistema monofásico. Nestes, a potência entregue é pulsante. Mesmo nos sistemas onde o Fator de Potência é igual a 1 (corrente em fase com a tensão), a potência se anula duas vezes em cada ciclo, como pode ser visto na figura abaixo. 72 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 72 Nos sistemas com Fator de Potência menor que 1, onde tensão e corrente encontram-se defasadas de um ângulo θ, não só a potência é nula quatro vezes, como ainda é negativa duas vezes, em cada ciclo, como mostram as áreas hachuradas (B) na figura abaixo. Obs.: como potência negativa entende-se que a rede está devolvendo energia ao gerador. Tal fato é análogo ao que se passa em um motor a explosão monocilíndrico, no qual o volante devolve energia ao cilindro durante a parte do ciclo que corresponde à compressão. Num ciclo completo, tanto o cilindro quanto o gerador entregam à carga mais energia do que recebem de volta, sendo o seu balanço positivo. Essa natureza pulsante da energia nos circuitos monofásicos os torna impróprios para muitas aplicações. Um circuito polifásico comporta-se como um motor a explosão de muitos cilindros. Assim, a potência entregue ao volante é praticamente uniforme, posto que um ou mais cilindros estão produzindo potência enquanto outros estão em período de compressão. O mesmo ocorre com circuitos polifásicos. Mesmo que a potência de uma fase qualquer seja negativa em alguns momentos, a potência total é invariável se as cargas estiverem equilibradas. Essa característica é o que torna os sistemas polifásicos particularmente recomendáveis para cargas de força motriz (motores elétricos). A capacidade de potência de um dado motor ou gerador aumenta com o número de fases, o que é um dado muito importante a ser considerado. A tabela abaixo mostra um comparativo aproximado das capacidades de potências para uma determinada máquina, com diferentes números de fases, em porcentagem, atribuindo-se o índice 100 a uma máquina monofásica. Uma fase 100 Duas fases 140 Três fases 148 Seis fases 148 Corrente contínua 154 As máquinas com três e seis fases apresentam a mesma capacidade porque os mesmos enrolamentos são usados de igual modo em ambos os casos. 73 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 73 Uma outra vantagem do sistema trifásico é na transmissão de energia pois, considerando a tensão constante entre condutores, assim como invariáveis os outros fatores de trabalho, este necessita de apenas ¾ do peso de cobre necessário a um sistema monofásico de mesma potência. 8.3 - Funcionamento de um alternador trifásico Se no espaço livre do induzido colocarmos mais dois circuitos, conforme a figura abaixo, teremos um alternador com três circuitos induzidos denominado alternador trifásico. O o deslocamento geométrico das três fases é de 120 geométricos e os bornes de cada bobina são chamados de princípio e fim, respectivamente, de cada fase. O exemplo da figura abaixo mostra um gerador trifásico de dois pólos. o Neste caso, as f.e.m. induzidas nos três enrolamentos estão defasadas de 120 , ou seja de 1/3 do período, como na figura abaixo, que mostra a forma de onda e sua representação vetorial, o que é feita por meio de três vetores deslocados de 120 entre si: 74 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 74 Querendo representar as fases do alternador em questão por meio de indutâncias, deve-se o colocá-las a 120 uma da outra como indicam as figuras abaixo: Nos esquemas distinguem-se, com as letras F e P numeradas, o fim e o princípio das várias fases e indica-se com uma seta o sentido positivo das f.e.m., as quais, por convenção, são dirigidas, em todas as fases, do fim para o princípio. Entre todos os vários sistemas polifásicos realizáveis, os que mais encontram aplicação prática são o monofásico, o trifásico e o hexafásico. O mais difundido de todos, porém, é o trifásico, que constitui o sistema universal adotado para geração, transmissão à distância e distribuição da energia elétrica em corrente alternada. 8.4 - Agrupamento dos Circuitos Trifásicos em Estrela Um sistema trifásico, como todos os circuitos polifásicos, poderia trabalhar com as fases independentes, isto é, cada fase geradora poderia alimentar um circuito de utilização, independentemente das outras, como indica a figura abaixo (a). Tal sistema de aproveitamento não é entretanto usado na prática, pois é preferível usar-se o sistema agrupado, como em (b). Em primeiro lugar devemos observar que o aproveitamento com as fases separadas requer 6 condutores e, além disso, examinando a figura (a), pode-se ver que os três fios ligados com os fins das fases, servem para trazer de volta as correntes I1; I2 e I3; daí surgir a idéia de que um único condutor poderia transportar as três correntes. Isto é realizado por meio do sistema indicado na figura (b), que, como se pode ver, possui somente 4 fios em lugar dos 6 indicados na figura (a). 75 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 75 O sistema assim constituído chama-se sistema trifásico em estrela. O fio comum que liga os dois centros das estrelas, denominado também fio neutro, recolhe as três correntes das fases consumidoras para o centro das fases geradoras. O fio neutro é percorrido então por uma corrente que é a resultante das correntes nas três fases. Nota-se que o agrupamento em estrela das fases geradoras efetua-se unindo os três fins ou os três princípios das mesmas. Esta junção é denominada centro da estrela. 8.5 - Tensão de Linha e Tensão de Fase Chamamos TENSÃO DE FASE (VF) à d.d.p. medida entre cada uma das fases e o fio neutro e TENSÃO DE LINHA (VL) à d.d.p. medida entre duas fases. Nos sistemas normais, equilibrados, as tensões de fase, que o gerador possui entre os princípios e fins das suas fases, são iguais, isto é, V1 = V2 = V3 = VF e defasadas entre si de 120°. Portanto, três voltímetros ligados entre os fios 1; 2 e 3 e o fio neutro medirão três tensões iguais que são as tensões de fase. Correspondentemente, três voltímetros ligados, respectivamente entre os fios (1-2); (2-3); (3-1), medirão as tensões concatenadas ou tensões de linha, que são iguais entre si, mas são maiores que as tensões de fase. 1 VF VL VL 120° VF 120° 60° 60° VF 90° 2 VL 2 30° VL 2 3 VL = VF cos 30° 2 VL = 2 . VF cos 30° VL = VF . √ 3 VL = 2 . VF √ 3 2 76 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 76 8.6 - Agrupamento dos Circuitos Trifásicos em Triângulo O aproveitamento das fases de um sistema trifásico, em circuitos independentes, pode ser feito com a disposição indicada na figura (a) abaixo, a qual é idêntica à indicada na figura (a) do agrupamento em estrela, possuindo também seis fios. Agrupando-se as fases, obtém-se um sistema como o indicado na figura (b), ao qual se chega observando que na figura (a), os fios a e b transportam as correntes I1 e I3 e podem ser substituídos por um único fio, que será atravessado pela corrente resultante da diferença geométrica entre I1 e I3 Analogamente, os fios c e d podem ser substituídos por um único fio, atravessado pela corrente que resulta da diferença geométrica entre I3 e I2 e os fios e e f podem ser substituídos por um fio que transportará a corrente resultante da diferença geométrica entre I2 e I1. Para substituir os pares de fios por condutores únicos, é necessário agrupar as fases como indica a figura (b) acima, isto é, une-se o fim da primeira fase F1 com o princípio da segunda P2, o fim da segunda F2 com o princípio da terceira P3 e o fim da terceira F3 com o princípio da primeira P1. As fases geradoras e as consumidoras, agrupadas desta maneira, formam uma malha triangular, e disso provém o nome de agrupamento em triângulo. Neste sistema de agrupamento, três voltímetros derivados entre os fios de linha medirão as tensões V1-2; V2-3; e V3-1, as quais coincidem com as tensões de fase, que em geral são iguais e defasadas entre si de 120°. 77 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 77 8.7 - Corrente de Linha e Corrente de Fase Em um circuito trifásico em triângulo, como não há o condutor neutro, as tensões de linha e de fase são iguais. Entretanto, a corrente de linha é maior que a corrente de fase: IL = I F . √ 3 8.8 - Potência Elétrica nos Circuitos Trifásicos A potência aparente de um sistema trifásico é dada pela soma das potências aparentes das três fases, sejam estas independentes, agrupadas em estrela ou em triângulo, isto é: S = VF1 . IF1 + VF2 . If2 + VF3 . IF3 Se o sistema é equilibrado e simétrico, as correntes e as tensões são iguais, logo S = 3 . VF . IF Devemos agora expressar a potência deste sistema em função da tensão e da corrente de linha. Para tal, consideraremos: 8.8.1 – Agrupamento em estrela Neste sistema, a tensão de fase VF é dada por VF = VL / √ 3 e a corrente de fase IF = IL = I. Substituindo os valores, teremos: S = 3 . VL / √ 3 . I Logo, S = VL . I . √ 3 Volts-Ampères (VA) 8.8.2 – Agrupamento em triângulo Neste caso, a tensão de linha e de fase são iguais (VF = VL = V), porém IF = IL / √ 3 . S = 3 . V . IF ou substituindo os valores: S = 3 . V . IL / √ 3 Logo, S = V . IL . √ 3 78 Volts-Ampères (VA) Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 78 Observando as fórmulas da potência nos circuitos em estrela e triângulo, verificamos que ambas são idênticas. Para calcularmos a potência real ou potência útil, basta multiplicarmos o valor da potência aparente pelo fator de potência: P = V . I . √ 3 . cos φ Watts (W) 8.9 – Cargas balanceadas e desbalanceadas Como dissemos anteriormente, o cálculo acima é válido para circuitos equilibrados, ou balanceados, com impedâncias de cargas iguais nas três fases, no qual as tensões e correntes de carga são iguais. Assim, num circuito equilibrado em estrela a corrente no neutro é igual a zero. Na prática, num sistema composto por um gerador trifásico, nem sempre as cargas por ele alimentadas são também trifásicas e/ou equilibradas, como por exemplo: lâmpadas, motores monofásicos, aparelhos eletrodomésticos, etc. Ao executarmos um projeto de instalação elétrica, devemos procurar distribuir as cargas monofásicas de maneira equitativa, de modo a manter o sistema tão equilibrado quanto possível. 8.9.1 – Agrupamento em estrela (gerador e carga) com carga balanceada Consideremos o circuito abaixo: IA A 120 | 0° V 120 | 120° V C 10Ω 120 | -120° V B 10Ω IN 10Ω IB IC As tensões de fase e de linha serão: VF = 120V VL = VF √3 = 208V 79 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 79 As correntes de fase, de linha e de neutro serão: IF = IL = 120 = 12 A 10 Como a carga é resistiva, as correntes estão em fase com suas tensões, porém defasadas de 120º entre si, isto é: IA = 12 | 0° A IB = 12 | -120° A = – 6 – j10,39 A IC = 12 | 120° A = – 6 + j10,39 A A corrente de neutro será, então: IN = IA + IB + IC = 12 + (– 6 – j10,39) + (– 6 + j10,39) = 0 A 8.9.2 – Agrupamento em estrela (gerador e carga) com carga desbalanceada Consideremos o circuito abaixo: IA A 120 | 0° V 120 | 120° V B IB = IC = 10 120 | 120° 20 IB = 12 | 0° A 120 | – 120° 12 12Ω IC 120 | 0° IA = 20Ω 120 | -120° V C 10Ω IN = 10 | – 120° A = – 5 – j8,66 A = 6 | 120° A = – 3 + j5,2 A IN = 12 + (– 5 – j8,66 A) + (– 3 + j5,2 A) = 4 – j3,46 A = 5,29 | – 40,9º A obs.: Para cargas desbalanceadas, a corrente de neutro não é igual a zero. 80 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 80 8.9.3 – Agrupamento em triângulo com carga balanceada Consideremos o circuito abaixo: IA A 380 | 120° V A 20Ω 380 | 0° V 20Ω ICA B C IB C IAB 20Ω 380 | -120° V B IBC IC As correntes de fase serão: IAB = VAB ZAB = IBC = VBC ZBC = ICA = VCA ZCA = 380 | 0° 20 = 19 | 0º A 380 | – 120° 20 380 | 120° 20 = 19 | – 120º A = – 9,5 – j16,45 A = 19 | 120º A = – 9,5 + j16,45 A As correntes de linha serão: IA = IAB – ICA = 19 – (– 9,5 + j16,45) = 28,5 – j16,45 A = 32,9 | – 30º A IB = IBC – IAB = (– 9,5 – j16,45) – 19 = – 28,5 – j16,45 A = 32,9 | – 150º A IC = ICA – IBC = (– 9,5 + j16,45) – (– 9,5 – j16,45) = j32,9 A = 32,9 | 90º A No agrupamento em triângulo com carga equilibrada, apesar de não haver corrente de neutro, uma vez que não existe esse condutor, o somatório das correntes é igual a zero, como demonstrado abaixo: IA + IB + IC = 28,5 – j16,45 + (– 28,5 – j16,45) + j32,9 IA + IB + IC = 28,5 – j16,45 – 28,5 – j16,45 + j32,9 = 0 81 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 81 8.9.4 – Agrupamento em triângulo com carga desbalanceada Consideremos o circuito abaixo: IA A 220 | 120° V A 25Ω 220 | 0° V 10Ω ICA B C IB C IAB 20Ω 220 | -120° V B IBC IC As correntes de fase serão: IAB = VAB ZAB = IBC = VBC ZBC = ICA = VCA ZCA = 220 | 0° 10 = 22 | 0º A 220 | – 120° 20 220 | 120° 25 = 11 | – 120º A = – 5,5 – j9,5 A = 8,8 | 120º A = – 4,4 + j7,6 A As correntes de linha serão: IA = IAB – ICA = 22 – (– 4,4 + j7,6) = 26,4 – j7,6 A = 27,47 | – 16º A IB = IBC – IAB = (– 5,5 – j9,5) – 22 = – 27,5 – j9,5 A = 29,1 | – 161º A IC = ICA – IBC = (– 4,4 + j7,6) – (– 5,5 – j9,5) = 1,1 + j17,1 A = 17,13 | 86º A Note-se que, devido ao desbalanceamento da carga, as correntes de linha, além de possuirem módulos diferentes, não ficam mais defasadas de 120° entre si. 82 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 82 8.9.5 – Agrupamento em estrela (gerador) / triângulo (carga) Consideremos o circuito abaixo: IA A A 120 | 0° V ZAC 120 | 120° V ICA 120 | -120° V B C ZAB ZBC C IB IAB B IBC IC Para resolver este agrupamento, transformamos o gerador em estrela em seu equivalente em triângulo, considerando que VL = VF . √ 3 ou: VL = 120 . √ 3 = 208 V Assim, o circuito tomará a forma da figura abaixo, sendo VL = 208 V, e o condutor neutro do gerador ficará desconectado. IA A 208 | 120° V A ZAC 208 | 0° V ICA B C IB 208 | -120° V IAB ZAB ZBC C B IBC IC A partir deste ponto, sua resolução se dá como já visto anteriormente para o agrupamento em triângulo com carga balanceada ou desbalanceada, conforme o caso (itens 8.9.3 e 8.9.4). 83 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 83 CAPÍTULO 9 HARMÔNICAS Até aqui estudamos tensões e correntes alternadas com a forma de onda puramente senoidal. No entanto, quando o sistema alimenta cargas não lineares, como retificadores, inversores de freqüência, cargas indutivas com saturação do núcleo e outras, ocorre uma distorção da forma de onda, seja ela de tensão ou de corrente, deixando de ser uma senóide perfeita. Por outro lado, quando estudamos o som e suas propriedades, verificamos que o timbre de um som, que é um dos fatores que diferenciam o som proveniente de de um instrumento, de uma voz ou de qualquer outra fonte sonora, de outro, depende diretamente da sua forma de onda. Por exemplo, o som de uma flauta, que é um tubo ressonante, é puramente senoidal, enquanto que o de uma clarineta ou de um violino têm formas de onda não-senoidais, como mostram as figuras abaixo. Forma da onda sonora emitida por um clarinete Forma da onda sonora emitida por um violino 9.1 – Série de Fourier Fourier demonstrou que qualquer onda periódica pode ser expressa como sendo a soma de uma componente em corrente contínua (freqüência zero) e uma série de ondas senoidais (ou co-senoidais) contendo a freqüência fundamental e freqüências múltiplas da mesma, chamadas “harmônicas” (ou “harmônicos”). A componente de corrente contínua, responsável pelo offset, pode não existir. Essas freqüências múltiplas são denominadas de acordo com a relação da sua freqüência com a fundamental. Assim, se chamarmos “fo” à freqüência fundamental, suas freqüências múltiplas serão assim chamadas: 2º harmônico => f = 2.fo 3º harmônico => f = 3.fo 4º harmônico => f = 4.fo 5º harmônico => f = 5 fo E assim sucessivamente. 84 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 84 Nos circuitos de corrente alternada usualmente encontrados, somente aparecem os harmônicos ímpares. Esses harmônicos, à medida em que vão sendo adicionados, provocam um “achatamento” da senóide, aproximando-a de uma onda quadrada. A figura abaixo mostra o efeito da adição somente do terceiro harmônico. Na verdade, uma onda quadrada é formada pela freqüência fundamental adicionada de TODOS os harmônicos ímpares (até o infinito). Na figura abaixo mostramos o resultado da adição dos harmônicos ímpares até o de número 11. Fundamental 85 3º Harmônico 5º Harmônico 7º Harmônico 9º Harmônico 11º Harmônico Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 85 Uma onda dente-de serra é formada pela soma de TODOS os harmônicos (pares e ímpares). A figura abaixo mostra que a adição apenas do segundo e do terceiro harmônico já provocam a tendência da onda resultante de assumir aquela forma. Resultante Fundamental 86 2º Harmônico 3º Harmônico Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 86 Bibliografia: - A COURSE IN ELECTRICAL ENGINEERING – Chester L. Dawes (6 vol.) - ELECTRIC CIRCUITS – Joseph A. Edminister - BASIC ELECTRICITY – Van Valkenburgh, Nooger & Neville, Inc. - BASIC ELECTRICITY – U.S. Navy, Bureau of Naval Personnel - FUNDAMENTOS DE ELETROTÉCNICA – P. J. Mendes Cavalcanti - CIRCUITOS EM CORRENTE ALTERNADA – Rômulo Oliveira Albuquerque - ELETRICIDADE BÁSICA – Milton Gussow - TEORIA DA ELETROTÉCNICA – Alfonso Martignoni - NOÇÕES DE ELETROTÉCNICA – Senai - FÍSICA – Halliday - Resnick Bibliografia Recomendada de Matemática - MATEMÁTICA – Ary Quintella – Coleção Completa (ou quaisquer outros livros de Matemática do Ensino Fundamental e Médio) - MATEMÁTICA – Arlindo Clemente – Volume I - MATEMÁTICA COMPLETA – José Ruy Giovanni / José Roberto Bonjorno / José Ruy Giovanni Jr. - MATEMÁTICA – Benigno Barreto Filho / Claudio Xavier da Silva Sites de Matemática 87 - http://www.matematicadidatica.com.br/ - http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/index.html - http://www.matematica.com.br/site/ - http://www.brasilescola.com/matematica/ Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 87 ÍNDICE CAPÍTULO 1 - A CORRENTE ALTERNADA 04 1.1 - Produção de uma tensão alternada senoidal 04 1.2 - Análise gráfica e matemática da função seno 07 1.3 - Fase inicial 08 1.4 - Offset 09 1.4 - Valores Médio e Eficaz de uma f.e.m. Senoidal 09 CAPÍTULO 2 - VETORES E QUANTIDADES COMPLEXAS 14 2.1 - Representação vetorial de ondas senoidais 15 2.2 - Coordenadas Polares 15 2.3 - Coordenadas Retangulares 15 2.4 - Conversão da Forma Retangular em Polar 16 2.5 - Conversão da Forma Polar em Retangular 16 2.6 - Operações com vetores na Forma Retangular 16 2.7 - Operações com vetores na Forma Polar 17 CAPÍTULO 3 - REATÂNCIA E IMPEDÂNCIA 3.1 - Reatância Indutiva 19 3.2 - Reatância Capacitiva 19 3.3 - Impedância ( Z ) 19 3.4 - Potência em C.A. 20 3.5 - Fator de Potência 21 CAPÍTULO 4 - CIRCUITOS DE C.A. MONOFÁSICOS IDEAIS 22 4.1 - Circuito Puramente Resistivo 22 4.2 - Circuito Puramente Indutivo 23 4.3 - Circuito Puramente Capacitivo 25 CAPÍTULO 5 - CIRCUITOS MONOFÁSICOS DE C.A. 5.1 - Circuito R-L em Série 27 27 5.1.1 - Impedância Indutiva (ZL) 28 5.2 - Potência em Circuitos Indutivos 31 5.3 - Circuito R-L em Paralelo 33 5.3.1 - Impedância num Circuito R-L Paralelo 88 19 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 34 88 5.4 - Circuito R-C em Série 5.4.1 - Impedância capacitiva (ZC) 35 5.5 - Potência em Circuitos Capacitivos 36 5.6 - Circuito R-C Paralelo 37 5.6.1 - Impedância num Circuito R-C Paralelo 37 5.7 - Circuito R-L-C Série 38 5.8 - Circuito R-L-C em Paralelo 39 5.9 – Circuitos R-L-C Mistos 41 5.10 - Correção do Fator de Potência 47 CAPÍTULO 6 - RESSONÂNCIA 52 6.1 - Ressonância nos Circuitos em Série 52 6.2 - Largura de Faixa em um circuito ressonante série 54 6.3 - Ressonância nos Circuitos em Paralelo 55 6.4 - Oscilação num circuito R-L-C ressonante 56 CAPÍTULO 7 - FILTROS PASSIVOS 58 7.1 - O Decibel (dB) 58 7.2 - Filtro Passa-Baixas 60 7.2.1 – Filtro Passa-Baixas com Circuito R-L 60 7.2.2 – Filtro Passa-Baixas com Circuito R-C 62 7.3 - Filtro Passa-Altas 89 35 63 7.3.1 – Filtro Passa-Altas com Circuito R-L 63 7.3.2 – Filtro Passa-Altas com Circuito R-C 64 7.4 - Filtro Passa-Faixa com circuito R-C 65 7.5 - Filtro passa-faixa com circuito L-C 66 7.6 - Filtro Rejeita-Faixa com circuito L-C 66 7.7 - Filtro Rejeita-Faixa com circuito R-C 68 7.8 - Circuito Integrador 68 7.9 - Circuito Diferenciador 69 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 89 CAPÍTULO 8 - SISTEMAS POLIFÁSICOS 71 8.1 - Funcionamento de um Alternador 71 8.2 - Inconvenientes dos sistemas monofásicos 72 8.3 - Funcionamento de um alternador trifásico 74 8.4 - Agrupamento dos Circuitos Trifásicos em Estrela 75 8.5 - Tensão de Linha e Tensão de Fase 76 8.6 - Agrupamento dos Circuitos Trifásicos em Triângulo 77 8.7 - Corrente de Linha e Corrente de Fase 78 8.8 - Potência Elétrica nos Circuitos Trifásicos 78 8.8.1 – Agrupamento em estrela 78 8.8.2 – Agrupamento em triângulo 78 8.9 - Cargas balanceadas e desbalanceadas 79 8.9.1 – Agrupamento em estrela com carga balanceada 79 8.9.2 – Agrupamento em estrela com carga desbalanceada 80 8.9.3 – Agrupamento em triângulo com carga balanceada 81 8.9.4 – Agrupamento em triângulo com carga desbalanceada 82 8.9.5 – Agrupamento estrela (gerador) / triângulo (carga) 83 CAPÍTULO 9 - HARMÔNICAS 9.1 - Série de Fourier 84 84 BIBLIOGRAFIA 87 ÍNDICE 88 90 Eletricidade II – Engº. José Roberto Pereira - 10ª Edição – Novembro 2016 e_mail: jroberto_rio@yahoo.com.br 90