Uploaded by Geraldo Mirabeau

Introdução à Psicologia no Futebol

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TELA CHEIA
Copyright 2019 Futebol Interativo / Natal – RN ©
Coordenador
George Cunha
Autores
Camila Bicalho
George Klinger
Designer Editorial e Interação
José Antonio Bezerra Junior
Capa
Marcus Arboés
Para sua melhor interação clique em nossa navegação.
TELA CHEIA
SUMÁRIO
SUMÁRIO
PSICOLOGIA DO FUTEBOL TENDÊNCIAS FUTURAS
Psicologia no Futebol Profissional
Atuação do Psicólogo na Avaliação do Atleta e da equipe de
Futebol: dos tempos atuais às tendências
Como avaliar os atletas de futebol?
Psicologia do Esporte e Neurociências: Uma relação possível?
EMOTIV
Conhecendo os tipos de ondas cerebrais: Delta, Theta, Alfa, Beta e
Gama
Treinamento Mental em atletas: Desafios para o Psicólogo do
esporte
Dor: não pode viver com ela, não pode viver sem ela
Implicações futuras para o trabalho do psicólogo no Futebol
REFERÊNCIAS
Sobre os autores
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
PSICOLOGIA DO FUTEBOL
TENDÊNCIAS FUTURAS
CAMILA BICALHO
GEORGE KLINGER
TELA CHEIA
SUMÁRIO
A Psicologia do Esporte é uma ciência do treinamento esportivo que se mostra
fundamental para a formação do atleta. Por exemplo, se em um jogo decisivo o
jogador de futebol acerta no final de uma partida um pênalti, mesmo sob pressão
da torcida adversária, revertendo o placar, pode-se dizer que foi forte mentalmente para lidar com a situação. Por outro lado, se este mesmo jogador errasse
a cobrança, diriam que ele “tremeu”. Situações como esta podem ser “treinadas”?
Seria possível preparar um atleta para lidar com as emoções do contexto do
Futebol? Como otimizar o desempenho do atleta a partir da sua performance
mental? Esse e-Book abordará alguns desafios desse cenário da psicologia do
esporte aplicada no alto rendimento, iniciando com um breve histórico sobre o
trabalho do psicólogo no futebol e aprofundando nas perspectivas de trabalho
para os próximos anos.
Birgit Prinz é psicóloga (Universidade de Frankfurt)
e ex atleta da seleção alemã feminina de Futebol
Psicologia no Futebol Profissional
A atuação do psicólogo esportivo no Brasil antecedeu à regulamentação da
profissão, só ocorrida através da Lei nº 4119, de 27 de agosto de 1962. Em 1954, João
Carvalhaes inicia o trabalho da psicologia no futebol. Carvalhaes foi contratado
pela Federação Paulista de Futebol para trabalhar na avaliação, seleção e treinamento de árbitros de futebol (HERNANDEZ, 2011). A atuação de Carvalhaes no futebol destaca o pioneirismo do Brasil na aplicação prática da psicologia esportiva,
visto que nos anos de 1970, nos EUA, predominava a pesquisa psicológica restrita
aos meios acadêmicos (HERNANDEZ, 2011). Em 1966, Bruce Ogilvie, psicólogo oriundo
da clínica psicológica, inicia nos EUA um trabalho prático de assessoramento à
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
atletas e equipes esportivas, tendo sido considerado o pai da Psicologia aplicada
ao esporte na América do Norte.
O trabalho de Carvalhaes iniciou através de entrevistas e observações dos
árbitros mais experientes. A partir deste trabalho, ele identificou um conjunto de
aptidões que estariam relacionadas com as tarefas do árbitro dentro do campo de futebol: personalidade, nível mental, visão estereoscópica, estimativa da
velocidade relativa, noção de espaço, tempo de reação (CARVALHAES, 1974). Foi
o sucesso dos resultados do seu trabalho com a arbitragem que o levou a ser
convidado a atuar no São Paulo Futebol Clube (SPFC). No SPFC, Carvalhaes atuou
por 17 anos, tornando-se não só o primeiro psicólogo a ser contratado por uma
equipe de futebol profissional, como também o que permaneceu por maior tempo nesta ocupação.
João Carvalhães foi o pioneiro da Psicologia do Esporte no Brasil com atuações na
Federação Paulista de Futebol, São Paulo FC e seleção brasileira.
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
Entre as técnicas de avaliação utilizadas com os jogadores do SPFC, Carvalhaes (1974) afirma ter usado o Army Test, revisado para uso civil por Kellogg e
Morton (1934). Este instrumento mede o fator g, inteligência geral não específica, constituído por seis subtestes: labirintos, símbolos, reconhecimento de erros,
formas, figuras incompletas e avaliação de diferenças. Além da obtenção de
resultados por subteste, era calculado um resultado global, transformado num
valor de quociente de inteligência (QI).
De acordo com Costa (2006), Carvalhaes recebe o convite de atuar junto à
Seleção Brasileira de Futebol numa conjuntura de reestruturação da comissão
técnica após a derrota na Copa do Mundo de Futebol de 1950 para o Uruguai.
Neste período, de acordo com o autor supracitado, os atletas brasileiros foram
acusados de jogar sem fibra, o famoso “complexo de vira-latas”. Posteriormente,
durante a preparação dos jogadores para a Copa de 1958, foram aplicados o teste de inteligência (Army Test), os testes de personalidade PMK e Figura Humana.
O PMK é uma técnica projetiva proposto por Mira (1958). Esta técnica consiste da
análise de traços e desenhos (linhas, círculos, “ziguezagues” e retas paralelas)
feitos com lápis para a avaliação de aspectos da personalidade. Na continuidade, foi incorporado ao trabalho de Carvalhaes o aconselhamento psicológico
individual, baseado no método do humanista Carl Rogers.
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
Em estudos da atual frequência de uso de testes por revisão de literatura,
o Desenho de Figura Humana (DFH) aparece como o sexto instrumento mais
utilizado na avaliação da personalidade nos Estados Unidos e o terceiro
lugar no conjunto dos instrumentos de avaliação psicológica no Brasil.
Depois de 50 anos de experiências de pesquisas e intervenções em Psicologia
do Esporte, sabe-se que testes psicológicos não devem ser utilizados para selecionar uma equipe. A aplicação de testes psicológicos deve ser considerada
para o trabalho de intervenção junto ao atleta, associado a outras medidas, tais
como, desempenho físico, avaliações do técnico e níveis reais de jogo. Ainda, o
resultado de um teste por si só não representa o trabalho efetivo do Psicólogo do
Esporte. É preciso interpretar, compreender e analisar cada resultado dos testes
dentro do contexto em que foi aplicado. Para conseguir um resultado otimizado, é
o conjunto do trabalho do psicólogo na observação diária do atleta e do treinador
que garantirá a interpretação coerente dos resultados dos testes psicológicos.
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
Você
Sabia?
História da
Psicologia do Esporte
Empregar apenas
inventários de
personalidade para
selecionar atletas
para um time ou
para cortá-los de um
time é um abuso de
testagem que não
deve ser tolerado.”
Becker Jr. (2000)
TELA CHEIA
SUMÁRIO
Para Vieira, Nascimento e Vieira (2013), no que tange ao campo de intervenção
em Psicologia do Esporte, verifica-se uma grande carência de profissionais, uma
vez que a intervenção requer a formação em Psicologia, com conhecimento das
Ciências do Esporte. Nessa perspectiva, cita-se Coimbra et al. (2008) que analisou
o papel do psicólogo do esporte na visão de atletas e treinadores, destacando
que 90,8% dos atletas e 96,6% dos treinadores reconhecem a importância do
trabalho psicológico no contexto esportivo; por outro lado, 57,6% dos treinadores
e 64,3% dos atletas nunca trabalharam com um psicólogo do esporte, evidenciando a carência desse tipo de profissional no cenário brasileiro.
Atualmente, a Confederação Brasileira de Futebol, sustentada pela Lei Pelé (Lei
9.615/1998), reconhece a necessidade do psicólogo atuando nos clubes de formação,
diretamente nas categorias de base. Já no cenário do futebol profissional é possível
identificar poucos profissionais com formação em psicologia atuando na preparação psicológica dos atletas. O projeto de Lei 13/2012 está tramitando no Congresso
Nacional com o objetivo de obrigar o cuidado com a saúde mental dos atletas profissionais, por meio de apoio de psicólogos.
Atuação do Psicólogo na Avaliação do Atleta e da equipe de
Futebol: dos tempos atuais às tendências futuras.
Uma das práticas do psicólogo do esporte é, justamente, a avaliação psicológica de atletas e/ou equipes. O psicodiagnóstico esportivo se refere ao levantamento de aspectos particulares do atleta ou da sua relação com a modalidade
escolhida (RUBIO, 2007). Rubio (2002) destaca que esta é uma atividade de grande
importância e que confere visibilidade aos psicólogos esportivos, além de criar
grandes expectativas em comissões técnicas e dirigentes. A avaliação psicológica é um elemento norteador do trabalho a ser desenvolvido em contextos
esportivos. Garcia e Borsa (2016) mostram que a importância da condução de
uma avaliação psicológica no início do trabalho foi atrelada, principalmente, à
obtenção de dados que serviram de base, direcionamento, às futuras intervenções do psicólogo.
Você
Sabia?
História da
Psicologia do Esporte
“Em entrevista à
revista digital “The
Tactical Room”,
em 2017, o técnico
colombiano Juan
Carlos Osorio, exSão Paulo, seleção
mexicana e Atlético
Nacional, disse:
Desgraçadamente,
sabemos muito
pouco sobre a mente
humana e dedicamos
muito pouco tempo a
estudá-la. (...) Eu faço
um esforço genuíno
para entender que a
preparação mental
é a mais importante
para qualquer atleta”
Trecho retirado
da reportagem de
Alexandre Lozetti
Fonte: https://
globoesporte.
globo.com/blogs/
blog-do-lozetti/
post/2019/04/29/
tres-zagueiros-ouquatro-atacantesbrasileirao-debochados-rotulos-naprimeira-rodada.
ghtml
Avaliação do Atleta
Quem não sabe o que
procura, não entende
o que encontra”
(p. 27). Assef e
Grupenmacher (2011)
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
É recomendado que a avaliação psicológica esteja presente em todas as
etapas do planejamento da temporada, envolvendo inclusive os períodos pré e
pós-competitivo (FLEURY, 2002; GARCIA; BORSA, 2016). Considerando o modelo de
planejamento do treinamento do futebol, as capacidades psicológicas tendem a
ser avaliadas no início da temporada e monitoradas no decorrer do ano, de acordo com as demandas dos treinos e dos jogos. Na perspectiva de Fleury (2002) é
preciso considerar, além de mudanças no próprio atleta, diferenças inerentes a
cada etapa da temporada: início, meio e final.
Como avaliar os atletas de futebol?
Garcia e Borsa (2016) analisaram uma lista de testes psicológicos aplicados
em atletas e observaram a inexistência de instrumentos com evidências de validade e favoráveis pelo Satepsi com aplicação no esporte. Por essa razão, alguns
psicólogos tem optado por utilizá-los com os atletas testes validados com parecer favorável para outros contextos (alguns exemplos no Quadro 1). Entretanto, é
preciso ter cautela na seleção destes instrumentos uma vez que, o uso de testes
não validados para a avaliação dos parâmetros psicológicos no contexto esportivo são criticados por desconsiderar as especificidades do comportamento
e do desempenho cognitivo do atleta.
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
Quadro 1: Testes psicológicos com parecer favorável do
Satepsi utilizados por psicólogos do esporte.
Teste
Objetivo
Autores
Bateria fatorial de
personalidade (BFP)
Avaliação da
Personalidade
Nunes; Nunes; Hutz e
Nunes (2010)
Inventario Fatorial de
Personalidade (IFP)
Avaliação da
Personalidade
Azevedo; Pasquali e
Ghesti (1997)
Inventario Beck de Ansiedade
(BAI)
Avaliação da intensidade
dos sintomas de
ansiedade
Cunha (2001)
Inventário de Expressão de
Raiva com Expressão e traço
(STAXI-2)
Avaliação da expressão
da raiva com estado e
traço
Spielberger (1992; 2010)
Inventário de sintomas de
Stress para adultos de Lipp
(ISSL)
Identificação de quadros
característicos do stress
Lipp (2000)
Bateria Psicológica para
Avaliação da Atenção (BPA)
Avaliação da capacidade
geral da atenção, e
de tipos de atenção
específicos (Atenção
concentrada, atenção
dividida e atenção
alternada.
Rueda (2013)
Inventário de Ansiedade
Traço-Estado (IDATE )
Composto de duas
escalas distintas de
auto-relatório para medir
dois conceitos distintos
de ansiedade: estado de
ansiedade (A-estado)
e traço de ansiedade
(A-traço)
Biaggio; Natalício e
Spielberger (1977)
Bateria Psicológica para
Avaliação da Atenção - BPA
Realizar uma avaliação
da capacidade geral de
atenção, assim como uma
avaliação individualizada
Rueda (2012)
de tipos de atenção
específicos, quais sejam,
atenção concentrada
(AC), atenção dividida (AD)
e atenção alternada (AA).
Fonte: Adaptado de Garcia e Borsa (2016).
Nota: Neste quadro foram incluídos outros testes já publicados e utilizados no esporte.
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
No quadro 2 são exemplificados alguns testes validados para aplicação no
contexto esportivo, porém não consta parecer do Satepsi.
Teste
Objetivo
Autor (validação)
Athletic Coping Skills Inventory
28 (ACSI-28)
Avaliação de diferentes
estratégias para lidar com o
estresse no esporte.
Miranda et al (2018).
Questionário de Burnout para
atletas
Avalia a frequência de
sentimentos relativos ao
burnout.
Pires et al.(2006).
Questionário de Estresse e
Recuperação (Rest-Q)
Mensuração da frequência do
estado de estresse atual junto
à frequência de atividades de
recuperação associadas.
Costa; Samulski
(2008)
Questionário de Sintomas
Clínicos de Overtraining
Avalia aspectos das diferentes
variáveis relacionadas à
síndrome do overtraining
em diferentes fases do
treinamento.
Bara Filho et al
(2010).
Inventário da Dor
para o Esporte - SIP
Mede as diferentes formas de
enfrentamento da dor e o uso
ou não de estratégias mentais,
tais como imaginação, nas
situações onde é necessário
lidar com a dor.
Meyers, Bourgeois,
Stewart; Leunes,
(1992)
Escala de Ansiedade-traço
competitiva (Sport Competition
Anxiety Test – SCAT)
Avaliação da ansiedade-traço
competitiva.
De Rose (1985, 1997)
Escala de Motivação para o
Esporte (SMS)
Avaliação da motivação do
atleta no esporte.
COSTA et al (2011)
Motivos para Atividade Física Medida Revisada (MPAM-r)
Avalia as razões, motivos,
que levam os indivíduos a
praticarem atividade física.
Albuquerque et al
(2017)
Fonte: Adaptado de Garcia e Borsa (2016).
Nota: Neste quadro foram incluídos outros testes já publicados e utilizados no esporte.
Psicologia do Esporte e Neurociências: Uma relação possível?
As pesquisas na área da psicologia do esporte têm estudado temas em geral
voltados para a avaliação da ansiedade, motivação e concentração (VILARINO et
al., 2017; VIEIRA; NASCIMENTO; VIEIRA, 2013). A década de 90 representou um marco
no que diz respeito ao início da história científica e tecnológica sobre o funcionamento do cérebro e os avanços na compreensão do comportamento humano
através de novos estudos da Neurociência Cognitiva e Comportamental (TAKASE,
2005). Para Takase (2005) a Neurociências se aproxima da Psicologia do Esporte
com o intuito de melhor compreender as funções neurais nas diversas situações
de tarefas cognitivas e emocionais dos atletas em situações de treinamento e
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
competição. O objetivo da aproximação destas duas áreas é auxiliar os pesquisadores e profissionais a construir novas alternativas no treinamento/desenvolvimento das habilidades físicas e psicológicas, a fim de melhorar a performance
e o equilíbrio mente-corpo dos atletas.
Cientistas analisam
a habilidade de Neymar Junior
Dentro do cérebro de um craque! Conheça mais acerca de
estudo realizado com o atleta da seleção brasileira.
Veja ao vídeo
clicando aqui
Os estudos sobre o comportamento do atleta em situações de pressão têm
sido cada vez mais analisados pelo viés cognitivo da Neurociências. Os atletas
são avaliados em parâmetros como ansiedade, ativação, autoregulação, cognição a partir de equipamentos e testes desenvolvidos por neurocientistas especializados no comportamento humano.
O comportamento visual é um aspecto perceptivo-cognitivo relevante no
contexto esportivo do futebol, principalmente no que tange o foco de atenção
na busca de sinais relevantes (WILLIANS; FORD, 2008). A partir dos dados do comportamento visual, é possível analisar de que forma o atleta usa o seu sistema
visual para extrair informações do ambiente (AFONSO; MESQUITA, 2013). Por exemplo, numa situação ofensiva, como o atleta realiza a leitura dos seus adversários?
Ergoneers: Eye-Tracking
Cristiano Ronaldo
Qual o comportamento visual de Cristiano Ronaldo?
Para se medir o comportamento visual foi desenvolvida uma tecnologia denominada eyetracking (Figura 1), em português rastreamento visual (DUCHOWSKI,
2007). Eyetracking refere-se a um conjunto de tecnologias que permite medir e
registar os movimentos oculares de um indivíduo perante a amostragem de um
estímulo em ambiente real ou controlado, por meio de sinais infravermelhos (DUCHOWSKI, 2007). A partir do rastreamento ocular, é possível identificar variáveis
importantes para se entender o comportamento visual de um indivíduo durante
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
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TELA CHEIA
SUMÁRIO
uma cena ou tarefa, como: o número, duração e local das fixações visuais (SÁEZ-GALLEGO et al., 2013). No esporte esta tecnologia vem sendo usada em investigações para se entender, através do comportamento visual, a expertise de atletas,
como por exemplo no futebol (NORTH et al., 2009; LEVRINI et al., 2019).
O movimento dos olhos dos participantes é rastreado por um sistema de laser infravermelho acoplado a um óculo. O óculo é conectado a um smartphone
que envia informações e imagens para um notebook. Os softwares acoplados
iViewETG® BeGaze 3.4® fazem a leitura e armazenamento dos dados.
É possível fazer análises de número de fixações visuais, duração das fixações
visuais, local das fixações visuais.
Figura 1 - desenvolvido por SensoMotoric Instruments®.
Foto: Mobile Eyetracking® (rastreamento ocular móvel),
O estudo de Levrini et al. (2019) analisou a performance de atletas profissionais de futebol chutando pênaltis, previamente influenciados ou estimulados
emocionalmente antes da sessão chutes a gol. Para avaliação, foi utilizado o
eyetracking, combinado com o autorelato dos atletas, buscando diferenças de
perfis e padrões de eficácia e conversibilidade dos pênaltis em gols. Os autores
concluíram que o comportamento visual do atleta possibilita avaliar padrões de
eficácia na conversão dos pênaltis em gols. A utilização do eyetracking, possibilitou analisar o padrão visual do atleta e sua eficácia na conversão dos pênaltis
em gols. Levrini et al (2019) também confirmaram que a prévia estimulação dos
neurônios proporciona um aumento de conversibilidade dos pênaltis, de modo
que o grupo estimulado demostrou um desempenho maior na conversão de
gols. Os atletas expostos a técnicas de motivação, atenção e concentração se
demostraram mais eficientes, convertendo 57 gols em 60 possíveis, enquanto
que o grupo controle conseguiu apenas 37 gols.
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
EMOTIV
O Emotiv (EPOC; Figura 2) foi desenvolvido pela Emotiv Systems e validado por
Badcock et al. (2013). O equipamento consiste em um capacete com 14 eletrodos, e é capaz de traduzir sinais neurais em 30 possíveis formas, detectando a
atividade cerebral de maneira não invasiva com a eletroencefalografia (EEG). A
EEG mede ondas cerebrais por meio de sensores externos ao longo do couro cabeludo, que captam as ondas elétricas em várias partes da superfície do córtex
cerebral, uma região que gera a maior ordem de pensamentos. Uma típica saída
dos resultados do EMOTIV é apresentada na figura 3.
Figura 2 – Emotiv EPOC
Fonte: Manual Emotiv.
O EMOTIV usa sensores para sintonizar sinais elétricos produzidos pelo cérebro
para detectar pensamentos, sentimentos e expressões do usuário.
Pensamentos conscientes (Cognitiv suite): 13 tipos de movimento, sendo: 6
direções (esquerda, direita, para cima, para baixo, para frente e “puxar/zoom”), 6
rotações (rotação [anti-horária], vire à esquerda e à direita e balanço para trás
e para frente); visualização (“desaparecer”).
Emoções (Affectiv suite): Excitação, Engajamento, Frustração.
Figura 3 (A) capacete neural; (B) saída do software Emotiv Testbench: Emotiv EPOC grava
sinais de eletroencefalografia (EEG) de 14 posições do sensor de acordo com o Sistema
Internacional 10-20. Os sinais EEG brutos são então “traduzidos” e classificados em
diferentes estados emocionais e (C) saída do painel de controle do Emotiv e “Affectiv suite”
(Fonte: ASPINALL et al, 2013)
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
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TELA CHEIA
SUMÁRIO
A dinâmica do cérebro está na base da realização de alto desempenho no esporte (CHERON, et al. 2016). Como perspectivas futuras os autores propõem que os
ritmos cerebrais unificados e a continuidade entre estados de vigília e sono devem
fornecer um modelo funcional para biomarcadores de EEG no esporte. Ainda, estudos que relacionaram o desempenho cognitivo com as cargas de treinamento
ainda são escassos, especialmente no que se trata de atletas do futebol.
Conhecendo os tipos de ondas cerebrais: Delta, Theta, Alfa, Beta e Gama
O eletroencefalógrafo, ou EEG, é capaz de monitorizar mudanças nas frequências e padrões das nossas ondas cerebrais. O cérebro produz ondas de correntes
que fluem através das ligações neurais (TIMO-IARIA; PEREIRA, 1971). O tipo de onda
cerebral é definido pela frequência que pulsa e este tipo particular de pulsação
influenciará o estado mental do indivíduo. Existem 5 tipos de ondas cerebrais
(figura 4) que em conjunto são capazes de formar uma sintonia harmônica na
qual os pensamentos, as emoções e as sensações podem alcançar um equilíbrio
perfeito, com o qual é possível sentir-se mais equilibrado e receptivo a tudo o que
nos rodeia. É a predominância de um padrão sobre os outros que determina o
estado de consciência do indivíduo.
Figura 4: Tabela das Ondas Cerebrais (Fonte: Expandir a mente)
Assim, uma área emergente e que está em pleno desenvolvimento é a
neuropsicológica esportiva. Para a realização do melhor desempenho no esporte,
Cheron et al. (2016) afirmam que a dinâmica cerebral precisa ser levada em
conta, pois determina tanto o controle motor quanto fatores psicológicos cruciais
para o desempenho esportivo. Após uma densa análise da literatura, os autores
apresentaram um direcionamento para os biomarcadores de desempenho
do EEG (Figura 5). A conjunção de conclusões fisiológicas adotadas graças ao
desenvolvimento de pesquisas básicas realizadas (tanto em animais quanto
16
TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
em humanos) fora do domínio esportivo e as investigações mais práticas
podem permitir a definição de uma linha básica de biomarcadores de EEG, a
fim de explorar a atividade cerebral associada ao esporte. É ainda uma área
com muito a se descobrir, com palavras dos próprios autores, “Em uma visão
otimista, estamos, portanto, no início de uma nova era exploratória, para a qual
o estabelecimento de uma metodologia sólida e abrangente será útil para
entender melhor o funcionamento do cérebro no desempenho esportivo.”
Figura 5: Cinco biomarcadores de EEG organizados hierarquicamente seguindo o
número de funções correspondentes (Fonte: CHERON et al (2016);
Figura sem autorização para tradução.)
Como área proeminente na psicologia esportiva, alguns estudos têm mostrado o efeito de funções cognitivas sobre os aspectos psicológicos e performance
de atletas em diferentes modalidades esportiva (Quadro 3). Especificamente
no futebol, o estudo de Greenlees, Eynon, Thelwell (2013) fornece a primeira evidência de que o resultado real de um confronto esportivo pode ser influenciado
pela cor do uniforme dos jogadores. Neste estudo os autores mostraram o efeito
dos uniformes vermelhos sobre o desempenho esportivo da equipe adversária.
Os resultados deste estudo fortalece a crescente hipótese de que os uniformes
vermelhos podem estar associados a resultados esportivos. Outras evidências
podem ser encontradas nos estudos de Greenlees et al.(2008), Feltman e Elliot
(2011), Allen e Jones (2012).
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
Quadro 3: Fatores Psicológicos avaliados sob a perspectiva
da Neurociências no esporte.
Fatores Psicológicos
Modalidade
Atletismo,
Burnout (RYU et al, 2015) Futebol,
Voleibol.
Biofeedback na
redução da ansiedade
(PAUL; GARG,2012)
O estudo comparou a atividade cerebral de adolescentes com ou sem burnout a uma versão
computadorizada do Stroop Test. Os resultados
indicaram que os atletas sem burnout exibiram
uma precisão significativamente maior do que
seus colegas com burnout. Os atletas sem burnout também apresentaram maiores amplitudes
de potência teta, alfa e beta nas áreas frontais do
cérebro do que os atletas com burnout.
Uniformes vermelhos foram comparados com
uma variedade de uniformes alternadamente
coloridos. Os resultados mostraram que jogadores que enfrentam goleiros vestidos de vermelho
pontuam com menos chutes de pênalti do que
aqueles que enfrentam goleiros vestidos de azul
ou verde, mas não houve diferenças na expectativa de sucesso. Os atletas que vestem vermelho
podem ter uma vantagem sobre seus oponentes.
Efeito da cor do
uniforme sobre o
desempenho do atleta.
Futebol
(GREENLEES; EYNON;
THELWELL 2013)
Atenção seletiva
(ABDOLLAHIPOUR et al.,
2015)
Indicativos
Ginástica
O desempenho da habilidade de salto das ginastas, assim como de outras habilidades é reforçado por um foco de atenção externo. Além disso,
os resultados fornecem evidências de que uma
instrução relativamente simples pode afetar positivamente tanto o resultado do movimento (aumento da altura do salto) quanto a qualidade do
movimento (menos erros).
Basquete
O biofeedback de VFC informa o índice de expressão emocional a partir da interação existente entre os sistemas simpático e parassimpático. Uma
baixa VFC está associada a uma menor atividade
do nervo vago e aumento da atividade do sistema
nervoso simpático. Intervenções que aumentem a
VFC e melhorem o tônus vagal podem diminuir a
ansiedade. O VFC reduziu a ansiedade antes dos
jogos e melhorou o desempenho dos atletas, que
foi medido a partir dos itens: passe, arremesso e
drible da bola. Foram utilizadas técnicas de manejo de estresse como RMP, respiração profunda
e visualização, durante 10 dias consecutivos associados ao biofeedback (Biograph Procomp Infinity
5.0), por 20 minutos diários.
Estudo de
Tomada de decisão
revisão no
(RENFREE et al., 2014)
esporte
O estudo identificou várias teorias de tomada de
decisão e relacionou à regulação do trabalho durante o exercício individualizado.
Fonte: Autoria própria.
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
Treinamento Mental em atletas: Desafios para o Psicólogo do esporte
Uma das técnicas mais buscadas para o trabalho com os atletas é o Treinamento Mental. Para os atletas que chegam ao mais alto nível de competição esse
pode ser o grande diferencial, que irá distinguir o primeiro do segundo colocado
em momentos de decisão ou ao longo da preparação nas diferentes etapas da
periodização do treinamento (RUBIO, 2018).
Existem diferentes conceitos e visões sobre o Treinamento Mental no esporte. Descobertas anteriores sugerem que capacidades mentais específicas são
necessárias para atingir o desempenho máximo, incluindo controle de atenção,
foco, relaxamento e afeto positivo. Samulski (1997) entende por Treinamento Mental a imaginação de forma planejada, repetitiva e consciente de habilidades
motoras, técnicas esportivas e estratégicas táticas.
Os benefícios da imagética mental vão desde a simples elaboração cognitiva
das melhores estratégias para lidar com as situações, até o
treinamento mental de para o tratamento de questões adversas
O Treinamento Mental é orientado para dois objetivos no esporte: movimentos
e situações (SAMULSKI, 2002). Como movimentos Samulski (2002, p.253) define as
habilidades motoras específicas desenvolvidas nos esportes (técnicas) e como
situações as ações táticas e estratégicas esportivas inseridas no contexto da
modalidade. Dessa forma, a natureza da tarefa e o nível de habilidade do atleta
afetam a forma como o treinamento mental melhorará o seu desempenho. A
literatura tem mostrado que os atletas que usam o treinamento mental em ta19
TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA
SUMÁRIO
refas cognitivas apresentam efeitos mais positivos (WEINBERG; GOULD, 2016). Para
Godtsfriedt, Andrade e Vasconselos (2014) praticar treinamento mental é explorar
o ilimitado potencial que existe dentro do atleta.
Com os avanços da neurociências, Dekker et al. (2014) mostraram que em uma
situação de treinamento mental, a atividade cerebral do eletroencefalograma
(EEG) alfa tem sido associada à inibição neural durante processos de atenção
seletiva por melhorar a eficiência no processamento de informações. Os autores testaram em ginastas uma técnica de aprendizado de autoregulação. Eles
dividiram as atletas em dois grupos e disponibilizaram para cada atleta um fone
de ouvido para ouvirem suas músicas favoritas.
As atletas sentavam em uma cadeira de relaxamento e na primeira sessão
de treinamento permaneceram por 50 minutos, começando com 5 minutos de
olhos abertos e 5 minutos de olhos fechados. Posteriormente, três períodos de 8
minutos de treinamento de força alfa foram dados, alternados por duas tarefas
cognitivas (Mental Rotation e Stroop task). Para evitar que as ginastas adormecessem e para aumentar a sensação de alegria durante o experimento foi aplicado a alternância do treinamento de potência alfa com tarefas cognitivas. Ao
mesmo tempo, o “grupo A” recebia treinamento de força alfa, o “grupo controle
(B)” recebeu treinamento de força beta aleatória (atividade beta está associada
a função cognitiva executiva de alta ordem).
Assim, ambos os grupos receberam treinamento de atividade cerebral real e
podem ter experimentado sucesso percebido no controle da qualidade da música e de sua atividade cerebral. A atividade cerebral foi controlada e a técnica
mostrou aumentar o poder das ondas alfa, melhorando assim as capacidades
mentais como focalizar a atenção. Esta abordagem de treinamento aumentou
significativamente a satisfação das atletas participantes. Os resultados deste
procedimento também indicaram pequenas melhorias na qualidade do sono,
na forma mental e física das atletas foram alcançadas.
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
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SUMÁRIO
A rotação mental é a capacidade de girar representações mentais de objetos
bidimensionais e tridimensionais, pois está relacionada à representação visual dessa
rotação na mente humana.
Em psicologia, o efeito Stroop (efeito Jaensch) é uma demonstração de interferência no tempo de reação de uma tarefa. Por exemplo, quando uma palavra
como azul, verde, vermelho, etc, é impressa numa cor que difere da cor expressa
pelo significado semântico (exemplo: a palavra vermelho impressa com tinta
azul), ocorre um atraso no processamento da cor da palavra, causando tempos
de reacção mais lentos e um aumento de erros.
Rubio (2018) mostrou através de um relato de experiência como um atleta
medalhista olímpico, de uma modalidade individual, assimilou e organizou o treinamento mental ao longo de sua carreira esportiva, tanto em situações de treino
como de competições. Dentre os focos de discussão, foi destacado a imaginação
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
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e a mentalização. O recurso da imaginação foi utilizado como a capacidade de
criação de imagens mentais relacionadas com a prática esportiva, tanto naquilo que se refere a simulação mental de habilidades motoras como também
na criação de situações que o atleta pode experimentar tanto em momentos
de treinamento como de competição. O termo mentalização estava associado
à criação ou recriação mental de uma situação esportiva já vivida ou desejada
para o futuro.
Dor: não pode viver com ela, não pode viver sem ela
O último tópico deste e-Book visa abordar um dos desafios do Psicólogo do
esporte com os atletas: o ensino do manejo da dor. A dor é um sentido importante, alguns diriam o mais importante. Um atleta sem dor é surpreendentemente
fácil sofrer lesões e desconhecer o seu próprio limite. A IASP, International Association for the Study of Pain, define a dor como “como uma experiência sensitiva
e emocional desagradável, associada a dano real ou potencial dos tecidos ou
descrita em termos de tal lesão”. Ao falar da dor no esporte, estamos tratando de
um fenômeno completamente diferente da dor representada na vida cotidiana
(SILVA; RABEL; RUBIO, 2010). Para as autoras, no esporte, por exemplo, um atleta
suportará silenciosamente a dor, afirmando valores culturais como coragem,
lealdade e masculinidade tão fortemente associados à pratica esportiva.
Como estratégia de intervenção o reconhecimento da dor pelo atleta é a
primeiro passo. Silva, Rabel e Rubio (2010) mostram que identificar as diferentes
formas de dor é fundamental. A dor do treinamento é aquela necessária para que
existam adaptações fisiológicas e a dor da lesão aquela que retira os atletas da
rotina de treinamento. Para muitos atletas, a diferenciação da dor é uma linha
muito tênue, e acaba sendo ultrapassada invariavelmente durante a carreira
esportiva.
Como segundo passo é indicado a elaboração de estratégias de enfretamento. No estudo de Silva, Rabel e Rubio (2010) as estratégias mais utilizadas são
as que envolvem ações cognitivas. Ao criar um conjunto de técnicas mentais, o
atleta faz jogos consigo mesmo, tentando afastar o pensamento da dor e pode,
dessa maneira, concentrar-se na tarefa que precisa executar e desempenhar
da melhor forma possível seu papel dentro da equipe.
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Você
Sabia?
Técnicas da
terapia cognitiva
comportamental no
esporte? Clique aqui e
acesse esses estudos!
Treinamento
psicológico desportivo
em atletas corredores
de revezamento: Um
relato de experiência
Dor no esporte de alto rendimento é muito comum. Boas estratégias de enfrentamento
auxiliarão atletas a manejar o desconforto.
Para Nascimento (2018) as terapias cognitivas são formas alternativas de gerenciamento de dor. No seu estudo de revisão, a autora identificou que a TC reduz
a dor ao abordar as influências psicológicas através de técnicas como a modificação da forma como atendemos a um estímulo (distração) ou a forma como
interpretamos o significado de um estímulo (reavaliação) ou concentrando-se
na própria sensação. Ainda que não aplicados diretamente com atletas, em indivíduos saudáveis, a técnica da meditação apresentou eficácia sobre o manejo
da dor. No entanto, os mecanismos neurais pelos quais modulam a dor ainda
não foram totalmente elucidados. Por ser uma área pouco pesquisada, muitos
psicólogos esportivos atuam com base nas suas experiências clinicas deixando
um caminho aberto para os estudos aplicados na área do esporte.
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SUMÁRIO
Implicações futuras para o trabalho do psicólogo no Futebol
É crescente o interesse das interações das áreas da psicologia com a neurociência (NCC), especialmente no entendimento de como surge os pensamentos e
emoções, bem como, quais as influências desses na saúde mental do atleta. Para
TAKASE (2005) a formação de psicólogos do esporte e do exercício com enfoque
em NCC fará diferença nos próximos anos, pois negar as contribuições da NCC
é impedir o desenvolvimento ou atrofiamento de novas teorias psicológicas. Segundo o atuor, os psicólogos do esporte e exercício a médio prazo serão influenciados e motivados a introduzir a NCC nos seus trabalhos e disciplinas porque:
a) na maioria das modalidades esportivas, a competitividade está sendo decidida cada vez mais pelo lado mental;
b) no desenvolvimento físico e psicológico das crianças, o enfoque em neurociências é fundamental na educação;
c) na área da saúde, quanto mais cedo introduzirmos o trabalho mental à
atividade física, melhores serão os benefícios a longo prazo.
A busca por biomarcadores neurais de desempenho continua sendo um
desafio na ciência do movimento e na psicologia do esporte. A natureza não
invasiva da gravação de eletroencefalografia de alta densidade (EEG) tornou
a via mais promissora para fornecer feedback quantitativo aos profissionais e
treinadores.
Por fim, neste e-Book foi apresentado alguns aspectos da Neurociências que
associada ao trabalho do psicólogo podem desencadear importantes mudanças na sua atuação nos próximos anos. Sabe-se que muito há que se discutir
como campo de tendências futuras para o trabalho do psicólogo no futebol,
assim como diz Al-Chalabi, Turner e Delamont (2006) “os cérebros humanos são
especiais e surpreendentes e que, embora saibamos muito sobre eles, ainda
resta muito a aprender.”
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Psicologia: conheça o trabalho feito no
futebol do Cruzeiro
Conheça os segredos da genialidade de
Lionel Messi
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SUMÁRIO
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SUMÁRIO
Sobre os autores
Camila Bicalho, Professora do Departamento de Ciências do
Movimento Humano da Universidade do Estado de Minas Gerais.
Mestre e Doutoranda em Treinamento Esportivo pelo Programa
de Ciências do Esporte da UFMG. Atualmente é supervisora do
setor científico da equipe de Psicologia do Esporte do Centro de
Treinamento Esportivo da UFMG.
George Klinger, Psicólogo e Mestre em Psicologia. Durante seu
mestrado (2014-2016) mergulhou de cabeça em sua dissertação
com atletas de futebol. Realizou período sanduíche por 6 meses
na Universidade Autónoma de Nuevo León com estágio no clube
Tigres UANL, ambos em Monterrey, México. Foi instrutor e consultor
da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol na Federação
Norteriograndense de Futebol e na Federação Mineira de Futebol (FMF). Foi
ainda assistente de comitê olímpico nacional nos Jogos Olímpicos (TIME Malásia)
e Paraolímpicos (TIME Emirados Árabes Unidos) Rio 2016, dentro da Vila Olímpica.
Em 2017 se iniciou o maior dos desafios: fundar o Futebol Interativo.
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