FELIPE RIBEIRO DE OLIVEIRA A SAÚDE MENTAL DO ACOMPANHANTE DO PACIENTE Cidade Na Londrina 2021 FELIPE RIBEIRO DE OLIVEIRA A SAÚDE MENTAL DO ACOMPANHANTE DO PACIENTE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade do Norte do Paraná como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Psicologia. Orientador: Maria Gabriela FELIPE RIBEIRO DE OLIVEIRA LONDRINA 2021 Dedico este trabalho em especial a minha mãe que fez tudo o que pode para que eu fosse quem quisesse ser. A meu primo Fábio, que sempre acreditou em meu potencial e a minha companheira Beatriz que sempre esteve presente e me apoia em tudo. “Honrai as verdades com a prática”. (Helena Blavatsky) OLIVEIRA, Felipe Ribeiro. A saúde mental do paciente do acompanhante. 2021. 23 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação Psicologia) – Universidade Pitágoras Unopar, Londrina, 2021. RESUMO Essa revisão bibliográfica tem como objetivo apresentar ao leitor a importância que tem o atendimento psicológico na vida do acompanhante do paciente hospitalizado, uma vez que um acompanhante é uma pessoa que abdicou por um tempo de sua vida pessoal para prestar cuidados a um terceiro, sendo assim, estar em atendimento psicológico poderá ajudá-lo a entender melhor sobre a sua responsabilidade com o próximo e consigo mesmo. Demonstrando que o ser humano é um ser biopsicossocial, sendo assim, tem suas necessidades fisiológicas, psicológicas e age sempre em conjunto de outras pessoas em seu entorno social. Mostrando então, alternativas saudáveis para o acompanhante lidar com a dor sem que seja sozinho, alertando sempre que o ambiente hospitalar provém de ajuda para vários tipos de demandas, sejam elas pessoais ou sociais. O paciente não é um ser isolado no processo de hospitalização, além da equipe multidisciplinar do hospital, existe uma peça chave não menos importante para o processo de cura, que é a presença de um acompanhante bem instruído e em boas condições tanto física como psicológicas. Palavras-chave: Hospital. Psicologia. Paciente. Biopsicossocial. Psicoterapia. OLIVEIRA, Felipe Ribeiro. The mental health of the companion's patient. 2021. 23 sheets. Course Conclusion Paper (Psychology Graduation) – Universidade Pitágoras Unopar, Londrina, 2021. ABSTRACT This bibliographic review aims to present the reader about the importance of psychological care in the life of the hospitalized patient's companion, since a companion is a person who has abdicated his personal life to take care of the patient, thus, being in psychological care can help you better understand your responsibility to others and to yourself. Demonstrating that the human being is a biopsychosocial being, therefore, he or she needs physiological and psychological help, together with other relationship. Searching, an healthy alternatives for the companion to deal with the pain without being alone, always showing that the hospital has various types of help, both personal and social. The patient is not an isolated being in the hospitalization process, in addition to the hospital's multidisciplinary team, the companion is a very important person for the healing process of the patient, in fact, the companion in good psychological conditions, helps a lot. Keywords: Hospital. Psychology. Patient. Biopsychosocial. Psychotherapy. SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO................................................................................................7 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................9 3 - ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO E A DOR........................................12 4 - O MODELO BIOPSICOSSOCIAL.................................................................15 5 - RECURSOS SOCIAIS E PSICOLÓGICOS EXISTENTES PARA O PACIENTE E O ACOMPANHANTE NA HOSPITALIZAÇÃO...........................18 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................21 7 - REFERÊNCIAS.............................................................................................22 7 1 - INTRODUÇÃO Demonstrar a relevância do acompanhamento psicológico para os acompanhantes de pacientes hospitalizados é uma tarefa muito significativa para a eficácia do tratamento do paciente. O acompanhante com conflitos internos e externos (da instituição da hospitalização) terá menos foco no auxílio ao seu paciente e todo trabalho que demanda cuidado de terceiros tende a ser mais árduo, pois, o mesmo tem duas demandas de cuidados: o auto cuidado e o do outro. Sendo assim, o acompanhante é um indivíduo remunerado ou não, que presta cuidados a outra pessoa doente, criança, idoso ou inválido. O modelo biopsicossocial de reconhecer o indivíduo é essencial para o Psicólogo Hospitalar, pois o acompanhante é mente e corpo não só dentro da instituição como fora, tem seu entorno social, seus afazeres, sua projeção de futuro, tem uma vida fora da instituição, assim como o paciente. O acompanhante pode receber a mesma importância do qual recebe o paciente, perante o profissional psicólogo. A discussão predominante no âmbito hospitalar é de fato sobre o paciente, com tudo, é dever da sociedade, previsto no artigo 5°, que todo e qualquer indivíduo tem direitos iguais perante a lei. O acompanhante do paciente também foi, é ou pode vir a ser um paciente, sendo assim, é importante que o mesmo saiba de seus direitos e deveres dentro da instituição, tão bem como a disponibilidade de acompanhamento psicológico. Também se faz presente o atendimento do Serviço Social atuando como atividade multidisciplinar, dando apoio ao acompanhante e paciente quando necessário. O tema sugere reflexão sobre o acompanhante e suas ações no mundo com intuito de demonstrar que com os devidos cuidados, minimizará alguns sintomas gerados pelo esgotamento psicológico. Por isso, a saúde mental do acompanhante, sendo ele um indivíduo muitas vezes sobrecarregado de suas tarefas e de terceiros, deve ser tratado com os cuidados necessários. O acompanhante se cuidando pode proporcionar melhores cuidados, tanto para o paciente, quanto para ele próprio. O tratamento de um enfermo crônico é melhorado quando há permanência de um acompanhante em bons estados físicos e psicológicos. 8 Considerando a temática propostas esta pesquisa propôs a seguinte problemática: Quais os possíveis problemas gerados ao acompanhante do paciente, quando o mesmo não tem acompanhamento psicológico? A pesquisa elencou com objetivo geral: Demonstrar a importância da Psicoterapia, concatenando com o modelo biopsicossocial, o ambiente hospitalar e suas funcionalidades. Como objetivos específicos selecionou-se: Demonstrar a relevância do acompanhamento psicológico para o acompanhante; descrever o modelo biopsicossocial; discutir sobre os recursos sociais e psicológicos existentes para o acompanhante e o paciente no hospital. Optou-se pela orientação metodológica da pesquisa bibliográfica, qualitativa e descritiva. Portanto, buscou-se referenciais teóricos como livros, artigos científicos de bases de dados como Google Acadêmico e Scielo e artigos disponíveis em revistas científicas eletrônicas. Determinou-se como palavras chaves para busca: Psicologia; Hospital; Paciente; Biopsicossocial; Psicoterapia. 9 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Pouco se fala sobre o acompanhante hospitalar, pois, quando o assunto é a saúde do paciente uma peça fundamental é o entorno social desse indivíduo, que fica restrito ao acompanhante, no momento da internação hospitalar ou cuidados domiciliares. Segundo Lautert, Echer e Unicovsky (1998 apud SCARELLI, 1994) o acompanhante do paciente adulto é um elemento que pouco aparece nas investigações em enfermagem e psicologia; desta forma, relegado a um segundo plano, quando falamos em cuidado, assistência integral e outros discursos comuns em nosso meio. Segundo Sousa, Sudário e Duarte (2018) A atuação do psicólogo no âmbito hospitalar faz parte de uma estratégia da psicologia da Saúde que busca construir, na atenção terciária, intervenções em uma perspectiva integral do sujeito, ou seja, em seus aspectos físicos, sociais e psicológicos. Fornecendo conhecimento para o acompanhante, sobre as funcionalidades do atendimento terapêutico, dissolvendo o preconceito ainda existente sobra a psicoterapia. Com permanência no hospital, os familiares acompanhantes tendem a procurar por si mesmos meios para satisfazer suas necessidades no que se refere ao desconforto da poltrona para dormir, à dificuldade para usar banheiros devido à grande demanda no mesmo local, à medicação para amenizar suas dores – uma vez que não possuem atendimento por parte da equipe de saúde do hospital –, entre outras necessidades abordadas. É enfatizada a importância da rede de apoio do familiar acompanhante quando se trata de apoio financeiro, ao revezamento dos familiares para acompanhar o paciente (mesmo que por um curto período de tempo), às trocas de roupas limpas que são levadas ao familiar, e o apoio espiritual que foi considerado por parte dos acompanhantes em estudos (SOUSA; SUDÁRIO; DUARTE, 2018 apud MORAIS, 2015). A mudança de rotina do acompanhante do paciente se torna uma dificuldade a enfrentar, agravando ainda mais mediante as quantidades de tarefas que o mesmo desempenha em sua vida, muita das vezes o acompanhante tem algum outro dependente (filhos, outra pessoa doente) ou mesmo um trabalho formal ou informal. Desta maneira, buscar o atendimento psicológico no ambiente hospitalar é importante para encontrar a resolução dos conflitos internos, onde a psicóloga irá acolher e escutar ou até mesmo acionar 10 o serviço social caso houver necessidades. Pois um acompanhante que não conhece seus limites psicológicos no momento do acompanhamento em uma hospitalização, pode passar por um burnout (esgotamento mental, emocional e físico) e não conseguir cuidar nem de si e do paciente. Sousa, Sudário e Duarte (2018) realizaram uma pesquisa para saber se os acompanhantes de uma determinada instituição foram informados sobre a disponibilidade do atendimento psicológico, verificou-se que 67% (vinte participantes) dos familiares acompanhantes não receberam informações sobre a disponibilidade do atendimento psicológico, sendo que apenas 33% (dez participantes) obtiveram acesso a essas informações, e 30% (nove participantes) destes receberam atendimento psicólogo. O psicólogo hospitalar irá trabalhar com o acompanhante do paciente no acolhimento, mudança de pensamentos, comportamentos, promover entendimento sobre o aqui e agora, trabalhar sobre a óptica do que dá para fazer agora (o real) e descartar o que não dá (o irreal), ajudar a entender os pensamentos em suas devidas temporalidades, coisas do passado, do presente e futuro, dado ao fato que: O ser humano deve ser considerado como um todo, um ser que é biológico, com corpo e mente e que vive em sociedade. A psicoterapia procura levá-lo em direção à mudança, seja na forma de agir, pensar, sentir ou a aceitar a realidade como realmente é (LAZZARETTI, 2007, P. 37). O desgaste tanto físico como emocional por estar acompanhando o doente deve ser levado em consideração, pois a qualidade com que o cuidado será exercido pode acabar sendo danoso ao invés de benéfico. Ser acompanhante também é estressante, triste e cansativo, provocando um desgaste físico e emocional por conviver de perto com o sofrimento do paciente (ROMÃO; BALBINO; SUHETT; SOUZA; CASTRO; INOCENTE; 2010 apud SHIOTSU; TAKAHASHI, 2000). Procurar apenas um fator causal produz uma imagem incompleta da saúde e da doença de uma pessoa, portanto os psicólogos da saúde trabalham a partir da perspectiva Biopsicossocial (mente e corpo), essa perspectiva reconhece que forças biológicas, psicológicas e socioculturais agem em conjunto para determinar a saúde e a vulnerabilidade do indivíduo à doença; ou seja, a 11 saúde e a doença devem ser explicadas em relação a contextos múltiplos, pois o indivíduo é um ser biopsicossocial (STRAUB, 2012, P. 13). Tanto o paciente como o acompanhante têm seus direitos e deveres dentro do ambiente hospitalar, o setor de psicologia trabalha dentro da equipe multidisciplinar do hospital, para atendimentos quando solicitado e também espontâneo, o serviço social no hospital compete em estar de prontidão para a resolução das dificuldades presentes pelos usuários da rede hospitalar naquilo em que está na alçada social. O Assistente Social na equipe de saúde, é o profissional que identifica as necessidades dos usuários e as condições sociais em que ele está inserido, passando a interpretar junto à equipe, aspectos relevantes no âmbito social. Nesta perspectiva é necessário que seja um profissional bem informado quanto aos objetivos e normas das instituições, reconhecendo as necessidades dos usuários e disponibilizando os recursos existentes, identificando falhas, num constante processo de reelaboração do seu objeto de interesse, levando em consideração as necessidades da organização e dos usuários (ROMÃO; BALBINO; SUHETT; SOUZA; CASTRO; INOCENTE; 2010 apud RODRIGUES, 2002). A questão dos acompanhantes e sua relação com a equipe de saúde é complexa tornando-se necessário a ampliação do apoio social, operacionalizado, a partir de estratégias mobilizadoras, tanto naturais como a família, ou organizadas a partir de serviços sociais institucionais. Identificar as possibilidades de uma ação capaz de renovar e recriar novas práticas na interação entre usuários e profissionais de saúde. Os espaços públicos da saúde contam com uma nova política de humanização que apoia, através da legislação, a presença do acompanhante como direito dos pacientes e também da visita da família, no entanto é uma prática que se desenvolve dentro de um antagonismo que pode ser mediada através da intervenção do assistente social (ROMÃO; BALBINO; SUHETT; SOUZA; CASTRO; INOCENTE; 2010 apud DIBAI; CADE, 2007). 12 3 – ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO E A DOR Não seria errado considerar que boa parte dos estudos sobre dor e psicologia repete uma lógica reducionista típica dos paradigmas científicos da modernidade (NEUBERN 2010; apud MORIN, 1991; SANTOS, 2000). Grande parte das pessoas são ensinadas a sempre solucionar os problemas com algum tipo de imediatismo, seja dor física ou psíquica, buscam soluções em pílulas ao invés de tratar a causa do problema. A psicoterapia surge com a proposta de que o cliente exponha sua dor em forma de palavras, dissolvendo e entendendo suas angustias e traumas, para que o mesmo possa progredir no tratamento, pois quando a dor é reconhecida fica mais fácil de ser aliviada ou até mesmo eliminada. Tornando-se uma entidade independente do próprio sujeito, a dor parece ser encapsulada em um corpo impessoal que consiste num terreno à parte do mundo social e de suas tramas e se encontra distante de processos simbólicos e das influências da cultura (NEUBERN 2010). Sendo assim, cada pessoa é individual e por ser único suas dores também serão, cada um interpretará de modo diferente os acontecimentos em sua vida, o sentimento que surgirá cada em ação será sentida diferente, desse modo o trabalho na clínica com o psicoterapeuta será de muita ajuda, para que o cliente consiga identificar a conhecer seu próprio modo de existir no mundo, descobrir o contexto em que se inseriu no momento das decisões sobre suas escolhas e saber se responsabilizar por essas escolhas. Entender o reflexo em que suas ações geram, é de tamanho alivio para o cliente, pois o mesmo poderá entender como se colocou em cada situação, podendo futuramente evita-las de modo mais fácil e seguro. Não é um corpo que sente e vive a dor, mas um sujeito para quem ela se torna uma realidade concreta e, por vezes, implacável, que é perpassada por problemas cotidianos como as relações conjugais, familiares e de trabalho, as questões de gênero, a experiência religiosa, o desemprego, as trocas sociais, a violência e o uso do dinheiro. Ao mesmo tempo, o sujeito não consiste em mero expectador dessa complexidade, uma vez que sua postura e forma de subjetivação dessas influências implicam um determinante central na fabricação da experiência de dor e seus sentidos subjetivos (NEUBERN 2010). Em outras 13 palavras, a dor do cliente é uma queixa de onde ele mesmo resolveu estar, e é nesse sentido que deve se reconhecer como agente transformador de sua vida, tomando como base a responsabilização pelo seus próprios atos e consequências, o mesmo saberá o caminho para identificar as futuras consequências de seus atos perante os fenômenos vivenciados. Ou seja, sempre que o cliente não se responsabilizar pelos seus atos porque as consequências não foram do jeito em que ele projetou, sempre haverá procura de outro para responsabilizar. Ao mesmo tempo em que se insere e envolve as relações terapêuticas, ele também as antecede, mas pode ser influenciado pelos sujeitos que dele tomam parte que, em certa medida, também o fabricam por meio de suas ações. Desse modo, pode-se assim considerar que a psicoterapia pode se tornar uma oficina de contextos, isto é, um momento relacional que pode influenciar e reconstruir importantes momentos dos sistemas de dimensões que se entrecruzam nas relações entre os sujeitos (NEUBERN 2010). Assim dizendo, o cliente em acompanhamento possivelmente estará mais reflexivo perante as situações cotidianas, mais atento aos seus atos, conseguindo identificar melhor a causalidade de suas angustias, dores, ambições, anseios, desejos, entre outros sentimentos. Um dos primeiros pontos da construção do contexto terapêutico é a desconstrução da narrativa segundo a qual a dor é uma entidade desvencilhada da vida cotidiana das pessoas, como algo que simplesmente se impõe ao corpo e pouco se pode esperar. Desse modo, o psicoterapeuta deve promover de início dois enquadres distintos, mas complementares, sobre a experiência da dor, entendendo-se aqui “enquadre” como o conjunto de expressões, falas e atitudes do terapeuta que proporcionam um contexto simbólico específico (NEUBERN 2010; apud BATESON, 1972/2000; ERICKSON & ROSSI, 1979). Concluímos nesse capítulo que a dor de fato acomete fatores fisiológicos, e que também, tem seu fator psicológico inserido no modo de vivência dessa dor, de percepção, responsabilização, sentimento e acometimento. Sendo assim, há estudos sobre resultados eficientes em pacientes em acompanhamento psicológicos. O cotidiano da prática clínica ligada a demandas de dor, a despeito de toda uma tradição dicotômica entre mente e corpo no pensamento ocidental, remete ao entrelaçamento de uma série de dimensões distintas cuja abordagem 14 requer uma reflexão complexa. A dor não se restringe a uma questão puramente biológica, embora possa encontrar aí boa parte de sua causalidade: ela implica num processo subjetivo que é perpassado por registros sociais, culturais, noológicos, econômicos, dentre outros, que concorrem, durante a ação social do sujeito, para a construção de sentidos, emoções e significados bastante particulares (ERICKSON, 1985; NEUBERN, 2009b). Ao mesmo tempo, o sujeito não consiste em mero expectador dessa complexidade, uma vez que sua postura e forma de subjetivação dessas influências implicam um determinante central na fabricação da experiência de dor e seus sentidos subjetivos (NEUBERN 2010). Dito isso, fica claro que a dor é causada por diversos fatores, que se não for levado a exposição em uma psicoterapia pode vir a se tornar uma exaustiva dor sem fim, perpassando esse sofrimento do acompanhante para o paciente. 15 4 – O MODELO BIOPSICOSSOCIAL Quando se fala em perspectiva biopsicossocial estão articulando que o ser humano não é um ser isolado no mundo, apesar de ser um indivíduo único com sua particularidade ímpar, nunca esteve sozinho no mundo, sempre foi influenciado e influenciou os outros em seu entorno pessoal, sendo assim, um indivíduo com seu sistema biológico, psicológico e social. Uma maneira de entender a relação entre sistemas é imaginar um alvo, com uma mosca no centro e anéis concêntricos crescendo a partir dela. Assim, considere cada um de nós um sistema formado por sistemas em interação, como o sistema endócrino, cardiovascular, o nervoso e o imune. (Tenha em mente que, em cada um de nossos sistemas biológicos, existem subsistemas menores, que consistem em tecidos, fibras nervosas, fluidos, células e material genético). Se você partir da mosca no centro e em direção aos anéis externos, verá sistema maiores que interagem conosco – e esses anéis incluem nossa família, nosso bairro, nossa sociedade e nossas culturas (STRAUB, 2012, P. 19). Pesquisas realizadas com famílias, gêmeos idênticos ou fraternos e crianças adotadas demonstram claramente que pessoas (sobretudo homens) com parente biológico dependente de álcool tem mais probabilidade de abusar de álcool (STRAUB, 2012; apud NIAAA, 2010). Além disso, pessoas que herdam uma variação genética que resulte em deficiência de uma enzima fundamental para metabolizar o álcool são mais sensíveis a seu efeito, sendo muito menos provável que tenham problemas com bebida (STRAUB, 2012; apud ZAKHARI, 2010). Do ponto de vista psicológico, ainda que não tentem mais identificar uma única “personalidade alcoolista”, os pesquisadores se concentram em traços específicos da personalidade e comportamentos que estão ligados à dependência e ao abuso de álcool. Um desses traços é a baixa autorregulação, caracterizada por uma incapacidade de exercer controle sobre a bebida (STRAUB, 2012; apud HUSTAD, CAREY, CAREY e MAISTO, 2009). No aspecto social, o abuso de álcool as vezes decorre de uma história de beber para enfrentar fatos da vida ou demanda sociais avassaladoras. A pressão dos outros, ambientes difíceis em casa e no trabalho e a tentativa de reduzir a 16 tensão também podem contribuir para problemas com a bebida (STRAUB, 2012). A mensagem central da psicologia da saúde, obviamente, é que a saúde e a doença estão sujeitas a influências psicológicas. Por exemplo, um fator fundamental para determinar o quanto uma pessoa consegue lidar com uma experiência de vida estressante é a forma como o evento é avaliado e interpretado. Eventos avaliados como avassaladores, invasivos e fora do controle custam mais do ponto de vista físico e psicológico do que os que são encarados como desafios menores, temporários e superáveis (STRAUB, 2012). Então cabe sempre ao psicólogo, nesse caso o hospitalar ou clinico, em que o acompanhante poderá estar em atendimento, saber identificar e intervir quanto as interpretações que o acompanhante e o paciente levam para ele, entender que naquele momento do tratamento, esse problema pode perdurar por muito tempo, e solicitar apoio multidisciplinar quando houver necessidade. Os fatores psicológicos também desempenham um papel importante no tratamento das condições crônicas. A efetividade de todas as intervênções incluindo medicação e cirurgia, bem como acupuntura e outros tratamentos alternativos - é poderosamente influenciada pela postura do paciente. Um indivíduo que acredito que um medicamento ou outro tratamento irá lhe causar apenas efeitos colaterais desconfortáveis é capaz de experimentar uma tensão considerável, que pode, na verdade, piorar sua reação física à intervenção, desencadeando um círculo vicioso, no qual a crescente ansiedade antes do tratamento é seguida por reações físicas progressivamente piores, à medida que o regime terapêutico continua (STRAUB, 2012). Por isso o acompanhante é protagonista fundamental na ajuda do tratamento de seu paciente, o acompanhante em acompanhamento psicológico pode obter ajuda em como lidar com a situação negativa de seu paciente, ou minimamente, em como não piorar a situação, uma vez que, o acompanhante é um símbolo de entorno pessoal para que o paciente não perca totalmente sua identidade. Um aspecto importante a ser levado em conta pelo psicólogo quanto ao atendimento de acompanhantes de paciente, são os padrões socioeconômicos, religiosos e culturais em geral, ao entender que cada pessoa é um indivíduo ímpar, singular, e com razões diferentes para estar ali, poderá então promover ajuda no que diz respeito ao entendimento reconhecido pelo próprio 17 acompanhante em atendimento. Os padrões socioeconômicos, religiosos e outros culturais também podem explicar por que existem variações na saúde não apenas entre os grupos étnicos, mas também de região para região, estado para estado e até mesmo de um bairro para outro (STRAUB, 2012). Também no contexto social, a perspectiva de gênero em psicologia da saúde se concentra no estudo de problemas de saúde específicos dos gêneros e em barreiras que tal condição encontra nos serviços de saúde. Com exceção de problemas no sistema reprodutivo e subnutrição, os homens são mais vulneráveis do que as mulheres a quase todas as outras condições de saúde. Além disso, muitos homens consideram o cuidado preventivo em saúde algo que não é masculino, mas as mulheres tendem a responder de forma mais ativa do que eles a sintomas de doenças e a procurarem tratamento mais cedo (STRAUB, 2012; apud WILLIAMS, 2003). O efeito é cumulativo e, aos 80 anos de idade, as mulheres são mais numerosas que os homens, em uma proporção de 2 para 1 (STRAUB, 2012; apud U.S. CENSUS BUREAU, 2010). 18 5 – RECURSOS SOCIAIS E PSICOLÓGICOS EXISTENTES PARA O PACIENTE E O ACOMPANHANTE NA HOSPITALIZAÇÃO Tanto para o enfermo, como também para seu acompanhante a permanência no hospital, não é algo confortável psicologicamente e nem fisicamente, por mais preparado que seja o hospital e os profissionais. Oferecer apoio psicológico ao familiar faz parte do tratamento e é elemento fundamental para conseguir lidar com essas necessidades. Sendo assim, a importância de o psicólogo trabalhar com a possibilidade de o familiar acompanhante permanecer próximo ao paciente estando ciente dos fatos que acontecem quanto aos procedimentos que envolvem a internação, além de o familiar ser coadjuvante na interação com os outros familiares (SOUSA; SUDÁRIO; DUARTE, 2018) A presença da família não deveria ser apenas uma concessão do hospital, mas deveria ser compulsória e os horários para visitas deveriam ser livres, já que nos hospitais particulares pode-se manter um acompanhante permanentemente junto da pessoa doente, que paga o atendimento, sem que estes aspectos sejam questionados (CREPALDI, 1999). O paciente e seu acompanhante têm o direito de saber sobre quaisquer informações sobre procedimentos realizados com o paciente, resultado de exames, entre outras manobras realizadas pela equipe multidisciplinar. O paciente tem direito a obter informações precisas, quando estas estão disponíveis, sobre sua doença, as dimensões e implicações das terapêuticas a que será submetido, como o uso de medicação, de dispositivos médicos de alta tecnologia, ter informações sobre exames necessários, e ser dispensado de exames desnecessários. Além de ser consultado sobre se deseja ou não ser submetido a estes procedimentos (CREPALDI, 1999). A presença do Psicólogo Hospitalar se torna fundamental, e pode funcionar como o diferencial deste momento existencial familiar. Este profissional traz, com sua compreensão teórica e habilidade técnica, a possibilidade de auxílio na reorganização egóica do todo familiar, frente ao sofrimento atual. Facilita a elaboração de fantasias, medos e angústias próprios de um momento como este. Pode dar suporte ao enfrentamento da dor, sofrimento e medo da perda do paciente (LUSTOSA, 2007) 19 Tarefa fundamental deste profissional é a detecção de focos de ansiedade e de dúvidas entre o grupo familiar, levando à sua extinção ou diminuição. Além destas tarefas, ao Psicólogo Hospitalar deve também caber a aproximação do grupo familiar à equipe de saúde, facilitando a comunicação entre eles, para que contribuam para o tratamento do membro necessitado (LUSTOSA, 2007). Sendo assim, a presença da Psicologia dentro do Hospital não carece de maiores discussões, e sua atuação não se cansa de demonstrar utilidades diversas neste âmbito. Entretanto, ainda é comum ouvirem-se relatos de parentes e pacientes que, durante internação hospitalar, denunciam a ausência de um profissional desta área, expondo, não raro, a falta sentida deste apoio num momento angustiante como este (LUSTOSA, 2007). Existem vários tipos de apoios sociais que ajudam na hora da permanência hospitalar: A religiosidade como apoio social - Na vigência da doença, a espiritualidade se apresenta como um apoio importante na construção dos significados da vida para a família. A religiosidade pode aumentar o apoio social, porque provê acesso às redes sociais e estabelece formas de assistência, como cuidado espiritual nas fases de angústia aguda. O suporte religioso inclui preces, procura de conforto de alguém da fé, obtenção de apoio de membros da igreja e está associado à melhor saúde mental, melhor adaptação psicológica dos pacientes e seus familiares com diminuição da depressão. Extremos níveis de religiosidade foram associados ao aumento da angústia, enquanto que níveis moderados foram associados à diminuição da depressão (SANCHEZ, FERREIRA, DUPAS, COSTA, 2010). A presença do acompanhante é algo importantíssimo como vimos anteriormente, mas, e quanto ao apoio social para esse acompanhante, sendo ele religioso ou não, entender a existência de uma essência da qual o mesmo dá sentido a sua vida é algo que pode apresentar-se em psicoterapia. O apoio social proveniente de programas educativos, atividades grupais e recursos tecnológicos são tipos de apoio que podem ser oferecidos, como: instrumental, espiritual, psicossocial, informacional, emocional e físico,que devem estar relacionados a cada fase da doença e de acordo com cada perfil familiar, devendo ser direcionados de um modo sensitivo. A falta de apoio social pode levar a internações desgastantes. Intervenções psicológicas melhoram a 20 habilidade de enfrentamento, diminuem a sobrecarga e aumentam a qualidade de vida do acompanhante. O acompanhante despreparado e com pouca afinidade com o paciente, pode se beneficiar da psicoterapia de apoio e intervenção psicológica disponibilizada pelo hospital (SANCHEZ, FERREIRA, DUPAS, COSTA, 2010). Então esse acompanhante estando em acompanhamento psicoterapêutico particular, poderá ser instruído – caso seja o pretendido – a buscar o apoio social dentro do âmbito hospitalar, e sendo essa psicoterapia no ambiente hospitalar, com o psicólogo hospitalar, pode ser direcionado com clareza a buscar de forma autônoma os serviços sociais dentro do hospital quando necessário, dessa forma, facilitando a permanecia como sendo acompanhante, e transmitindo essa satisfação ao seu paciente. 21 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao logo do trabalho, buscou-se destacar pontos na saúde mental do acompanhante do paciente e de como é necessário priorizar essa saúde, tanto para fins próprios como para o cuidado com o próximo, compreendemos que a dor tanto física como psicológica não é algo desvencilhado do próprio ser - como em ente separado - mas sim, um conjunto todo do ser. Todo incomodo será diferente de pessoa para pessoa, cada um terá uma resposta diferente, por isso dá-se a importância do acompanhante do paciente estar em psicoterapia, seja ela pela rede hospitalar ou particular. É importante que o acompanhante reconheça seu papel diante da situação de promover assistência ao paciente, tanto ele como o paciente são seres sociais e estão fortemente sendo influenciados e influenciando outras pessoas, quaisquer comportamentos proferidos pelo acompanhante gera algum impacto em pessoas a sua volta, portanto, a tentativa de reduzir a tensão por parte do acompanhante, pode promover um ambiente mais harmonioso e menos sofrido. Por fim, e não menos importante, o acompanhante e seu paciente não estão sozinhos no tratamento, existe uma rede de apoio multidisciplinar dentro do ambiente hospitalar, e é importante que saibam disso, pois a assistência psicológica, nutricional, social, entre outras, são auxiliadoras para o bom desenvolvimento em sanar problemas básicos, que por ventura possam existir. 22 8 - REFERÊNCIAS LUSTOSA, M. A. A família do paciente internado. Revista da SBPH, 2007. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rsbph/v10n1/v10n1a02.pdf. Acesso em: 27 de abril de 2021 COSTA, Danielli; DUPAS, Giselle; FERREIRA, Noeli; SANCHEZ Keila; Apoio social à família do paciente com câncer: identificando caminhos e direções. Universidade Federal de São Carlos, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/reben/v63n2/19.pdf. Acesso em: 27 de abril de 2021 DUARTE, Suzani; SOUSA, Bruna; SÚDARIO, Eliana; Atenção Psicológica Voltada aos Familiares Acompanhantes de Pacientes Hospitalizados. Centro Universitário Adventista de São Paulo – Unasp 2018. Disponível em: https://revistas.unasp.edu.br/LifestyleJournal/article/download/1096/1090/. Acesso em: 18 out. 2020. CREPALDI, M. A. Bioética e interdisciplinaridade: direitos de pacientes e acompanhantes na hospitalização. Paidéia, 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/paideia/v9n16/09.pdf. Acesso em: 27 de abril de 2021 LAZZARETTI, Claire. Manual de Psicologia ConexãoPsi – Série Técnica. Curitiba: 2007. Hospitalar: Coletânea ECHER, Isabel; LAUTERT, Liana; UNICOVSKY, Margarita; O Acompanhante do Paciente Adulto Hospitalizado. Porto Alegre, jul, 1998. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/303964057.pdf. Acesso em: 16 out. 2020. BALBINO, Enizete. et al. O Acompanhante Hospitalar: Relações com a Equipe de Saúde e a Intervenção do Serviço Social. Universidade do Vale do Paraíba/ Curso de Serviço Social. São José dos Campos. Disponível em: http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2010/anais/arquivos/0061_0016_01.pdf. Acesso em: 23 out. 2020. STRAUB, Richard. Psicologia Da Saúde: Uma Abordagem Biopsicossocial. Michigan: 2012. 23 NEUBERN, Maurício. Psicoterapia, Dor & Complexidade: Construindo o Contexto Terapêutico. Universidade de Brasília, 2010;