Escola de Verão 2012 da PGMAT-UFBA Teoria dos Conjuntos e Aplicações – 2012.1 Curso de Verão – Professores João Paulo e Samuel Teorema de Indução Transfinita sobre um ordinal e a demonstração do Teorema de Recursão sobre ω na 2a. forma Corolário 5.36 (Indução Transfinita sobre um ordinal). Sejam α um ordinal e b ⊆ α. Suponha que ∀ β < α (β ⊆ b → β ∈ b). Então, b = α Teorema 5.45 (Recursão sobre ω, 2a. forma). Sejam a um conjunto e F : <ω a → a uma função. Então, existe uma única sequência g : ω → a tal que ∀ n ∈ ω (g(n) = F (g n)) (i.e., g(0) = F (g 0) = F (g ∅) = F (∅) e g(n+ ) = F (g n+ ) = F (g {0, 1, . . . , n}) = = F (hg(0), g(1), . . . , g(n)i), para cada n ∈ ω). 1 Demonstração: (Unicidade): Sejam g e h sequências em a tais que ∀ n ∈ ω ((g(n) = F (g n)) e ∀ n ∈ ω (h(n) = F (h n)). Considere o conjunto b :≡ {n ∈ ω : g(n) = h(n)}. Seja n ∈ ω tal que n ⊆ b. Então, para cada m < n, tem-se que m ∈ b. Logo, ∀ m < n (g(m) = h(m)). Por conseguinte, g(n) = F (g n) = F (g {m : m < n}) = = F (hg(m)im<n ) = F (hh(m)im<n ) = = F (h {m : m < n}) = F (h n) = h(n), o que implica que n ∈ b. Portanto, por indução finita na 2a. forma (i.e., Corolário 5.36 aplicado a α = ω), conclui-se que b = ω, i.e., que g = h. (Existência): Sejam n ∈ ω e f ∈ <ω a quaisquer. Dizemos que f é uma (n, F )-aproximação (em a) se valer as seguintes condições: (i) dom(f ) = n. (ii) ∀ m < n (f (m) = F (f m)). Considere então os seguintes conjuntos: A :≡ {f ∈ <ω a : ∃ n ∈ ω (f é uma (n, F )-aproximação)} e g :≡ Afirmamos que: (1) im(g) ⊆ a. (2) dom(g) = ω. (3) g é uma função. (4) ∀ n ∈ ω (g(n) = F (g n)). Com efeito: 2 S A. (1) : Tome um y ∈ im(g) qualquer. Então, pode-se fixar uma f ∈ A e um m ∈ dom(f ) tais que y = f (m) = F (f m). Logo, y ∈ a. (2) : É claro que, para cada x ∈ dom(g), existe uma f ∈ A tal que x ∈ dom(f ), o que implica que x ∈ ω. Se provarmos que (†) ∀ n ∈ ω ∃ f ∈ <ω a (f é uma (n, F )-aproximação), então: para cada m ∈ ω, existirá uma (m+ , F )-aproximação f em a, i.e., uma f ∈ A tal que dom(f ) = m+ . Logo, para cada m ∈ ω, tem-se que m ∈ dom(g) (já que m ∈ m+ ). Provemos então (†): como a referida asserção é equivalente a afirmar que ω é igual ao conjunto c :≡ {n ∈ ω : ∃ f ∈ <ω a (f é uma (n, F )-aproximação)}, basta então verificar que c é indutivo (visto que ω é o único subconjunto indutivo de si mesmo). Verifiquemos isto: (2.1) Por vacuidade, temos o seguinte: dom(∅) = im(∅) = 0 e ∀ m < 0 (hm, F (∅ m)i ∈ ∅). Então, a função ∅ é uma (0, F )-aproximação em a. Logo, 0 ∈ c. (2.2) Tome n ∈ c qualquer e fixe uma (n, F )-aproximação f em a. Afirmamos que a relação f∗ :≡ f ∪ {hn, F (f )i} é uma (n+ , F )-aproximação em a. De fato: • dom(f∗ ) = dom(f ) ∪ dom({hn, F (f )i}) = n ∪ {n} = n+ e im(f∗ ) = im(f ) ∪ im({hn, F (f )i}) ⊆ a ∪ a = a. • Como dom(f ) = n, então n 6∈ dom(f ). Disso, e de f ser uma função, segue que f∗ é uma função. • Fixe um m < n+ qualquer. Suponha que m < n. Como n = dom(f ), temos que ∀ l < m (l ∈ dom(f )). Logo, 3 f∗ (m) = f (m) = F (f m) = F (f {l : l < m}) = = F (hf (l)il<m ) = F (hf∗ (l)il<m ) = = F (f∗ {l : l < m}) = F (f∗ m). Caso seja m = n, é claro que f∗ (m) = F (f ) = F (f∗ m). Consequentemente, conclui-se que n+ ∈ c. (3) : Como A é uma famı́lia de funções, para concluir que g é uma função, é suficiente mostrar que: ∀ h0 , h1 ∈ A ∀ n ∈ dom(h0 ) ∩ dom(h1 ) (h0 (n) = h1 (n)). Para mostrarmos isto, fixe h0 , h1 ∈ A quaisquer. Já que dom(h0 ), dom(h1 ) ∈ ω, tome então m0,1 :≡ min{dom(h0 ), dom(h1 )}. É fácil ver que m0,1 = dom(h0 ) ∩ dom(h1 ). Agora, considere o conjunto d :≡ {n ∈ m0,1 : h0 (n) = h1 (n)}. Utilizando argumentação análoga a que foi dada para mostrar que b = ω (mas aplicando o Corolário 5.36 a α = m0,1 ), conclui-se que d = m0,1 , i.e., que: ∀ n ∈ m0,1 (h0 (n) = h1 (n)). (4) : Fixe um m ∈ ω qualquer. Por (2), temos que ω = dom(g). Logo, podemos fixar uma função f ⊆ g tal que dom(f ) ∈ ω, m ∈ dom(f ) (i.e., m ⊂ dom(f )) e f (m) = F (f m). Disso, segue que f m = g m e que: g(m) = f (m) = F (f m) = F (g m). Portanto, concluı́mos que g é a única sequência em a tal que ∀ n ∈ ω (g(n) = F (g n)). 4