Encontro Nacional BETÃO ESTRUTURAL - BE2012 FEUP, 24-26 de outubro de 2012 Integração da Metodologia BIM na Engenharia de Estruturas José Carlos Lino1 Miguel Azenha2 Paulo Lourenço3 RESUMO O building information modelling (BIM) é atualmente reconhecido como um importante desenvolvimento na indústria da arquitetura, engenharia e construção, estando conotado com uma mudança de paradigma no processo de execução dos projetos das diferentes especialidades. No atual contexto nacional, já se podem encontrar casos práticos de aplicação desta metodologia em gabinetes de projeto, no entanto, alguns entraves têm contribuído para uma lenta adoção destes novos procedimentos de modo generalizado. É porém consensual que cada vez mais profissionais na área da construção necessitarão de adquirir conhecimentos e competências para colaborar e comunicar através das ferramentas BIM, o que necessariamente englobará o processo educativo e a formação dos engenheiros civis. Apresentam-se neste artigo alguns exemplos práticos de aplicação do BIM em projeto de estruturas, bem como uma experiência de ensino na Universidade do Minho, onde se integrou esta metodologia na transmissão de conhecimentos de betão armado. Palavras-chave: Building information modelling (BIM); Projeto de estruturas; Ensino de engenharia 1. INTRODUÇÃO Atualmente, a indústria da arquitetura, engenharia e construção (AEC), está perante mudanças e desafios relevantes, quer tecnológicos, quer institucionais, onde se inclui a proliferação da informação, a necessidade de aplicação apropriada de práticas sustentáveis, as preocupações energéticas globais, a melhoria da produtividade, nomeadamente através de práticas LEAN, entre outras [1]. Esta indústria, usualmente tradicional e avessa à mudança, está progressivamente a optar por soluções de automatização e modernização. Os engenheiros e os arquitetos do século XXI têm que saber lidar com esta rápida mudança tecnológica, partilhando informação e promovendo a comunicação interdisciplinar. O BIM é uma das tendências emergentes que vem introduzir novas metodologias na elaboração do projeto de estruturas e na produção da sua documentação, através da construção virtual do edifício 1 NEWTON - Consultores de Engenharia, Porto. jclino@newton.pt; jclino@civil.uminho.pt ISISE, Univ. do Minho, Escola de Engenharia, Dep. de Engenharia Civil, Guimarães. miguel.azenha@civil.uminho.pt 3 ISISE, Univ. do Minho, Escola de Engenharia, Dep. de Engenharia Civil, Guimarães. pbl@civil.uminho.pt 2 Integração da Metodologia BIM na Engenharia de Estruturas num modelo digital que apoia os arquitetos, os engenheiros e os construtores a melhor projetarem e a melhor planearem a sua construção e operação [2]. O BIM sistematiza assim, um conjunto de políticas, processos e tecnologias interrelacionados, e proporciona uma metodologia para gerir o projeto do edifício e os seus dados, num formato digital, ao longo da vida do edifício. São apresentados nesta comunicação alguns casos de aplicação prática deste conceito, no âmbito da atividade de projetista de fundações e estruturas do primeiro autor, enquadrando-os com os aspetos mais consolidados do atual estado de desenvolvimento tecnológico da metodologia BIM, mas não deixando de referir também os principais entraves à sua completa implementação. No atual estado de desenvolvimento e divulgação da metodologia BIM é premente a necessidade de profissionais com competências adequadas à sua aplicação prática [3]. Tendo em conta a reconhecida importância das Universidades na formação dos futuros engenheiros, desejavelmente detendo competências em técnicas emergentes como o BIM, foram identificados conceitos programáticos cuja apresentação pode ser apoiada com recurso a modelos BIM. Neste trabalho é apresentado o contributo que a Universidade do Minho tem dado nesse sentido, especificamente no âmbito da unidade curricular “Estruturas de Betão I”, onde se transmitiram exemplos de aplicação à engenharia de estruturas dos conceitos estudados através de modelos BIM, tendo os alunos sido incentivados a proceder à sua experimentação virtual. Foi avaliado o impacto desta ação junto dos alunos através da realização de um inquérito, apresentando-se aqui as principais conclusões. 2. O CONCEITO BIM O BIM pode, muito genericamente, definir-se como uma tecnologia de modelação e um conjunto de processos associados, para produzir, comunicar e analisar modelos de uma construção (edifícios e outras obras de engenharia civil, incluindo elementos estruturais, não-estruturais e geotécnicos) [1], a qual possibilita a rigorosa transmissão da informação de engenharia sem a necessidade de desenhos detalhados [3]. O conceito BIM assenta, essencialmente, numa metodologia de partilha da informação entre todos os intervenientes, durante as fases do ciclo de vida de um edifício (projeto, construção, manutenção, desconstrução) (ver Fig. 1a), nomeadamente entre a arquitetura, as especialidades, os construtores e os donos de obra, materializando-se na existência de um modelo digital tridimensional, acessível através de software e que permite a construção virtual desse mesmo edifício. Esse modelo de informação digital além de conter dados sobre as características geométricas dos elementos que compõem o edifício, também inclui as suas propriedades e atributos, sejam elas propriedades mecânicas, sejam o prazo ou o custo da construção. Igualmente importantes são a capacidade para guardar informação paramétrica com relações entre os diversos elementos bem como o apoio aos fluxos de trabalho funcionais entre as diversas atividades do processo construtivo. A introdução pelo BIM de modelos 3D paramétricos tem oferecido várias vantagens sobre as abordagens 2D tradicionais [4], tendo mudado o tipo de documentação de base utilizada na construção, transformando-a de um tipo de documentos apenas legível por humanos (desenhos) para novas representações de dados que passaram a ser interpretáveis pelos computadores [5]. O modelo digital virtual permite a produção e atualização de cortes, alçados, plantas e pormenores de forma consistente, possibilitando a extração automática de listas de quantidades de materiais e permitindo uma larga gama de atividades analíticas tais como: verificação de normas e regulamentos, análises estruturais ou análises de eficiência energética (ver Fig. 1b). Além disso, dadas as suas características, facilmente se conseguem detetar incompatibilidades e conflitos entre os diversos elementos que compõe cada uma das especialidades tornando explícita a interdependência que existe entre as estruturas, a arquitetura, as instalações elétricas ou as instalações mecânicas e hidráulicas, integrando tecnologicamente todos os projetistas. O modelo digital virtual contém também uma série de informações relativas a outros dados, como por exemplo catálogos de fabricantes e ainda introduz de 2 Lino, Azenha e Lourenço forma integrada e evolutiva no projeto, uma quarta dimensão, o tempo (4D) e o planeamento de obra, e uma quinta dimensão, o custo (5D) [6]. Figura 1.a) BIM presente em todo o ciclo de vida do edifício Autodesk [7]); b) Aplicação da abordagem BIM ao projeto [5]. A colaboração e partilha entre os diversos intervenientes no processo, torna essencial a agilização da troca de dados entre sistemas diferentes e a correta transmissão de informação. No caso do formato de dados para transferência de informação de objetos 3D, a normalização do modelo do produto, usada para representar informação de edifícios, é feita através do formato aberto designado por Industry Foundation Classes (IFC) desenvolvido pela organização BuildingSMART [8], que tende a ser uma norma de aceitação universal para a troca de dados de modelos de edifícios e que inclui a geometria, a estrutura do objeto e atributos de material e de desempenho. No entanto, esta estandardização, na sua tentativa de ser o mais abrangente possível (projeto, construção, dados dos produtos), tem limitações, tais como a representação de geometrias complexas [5], pelo que se torna crucial a contínua promoção do estudo e desenvolvimento de linhas de investigação que identifiquem a troca de informações entre os fluxos de trabalho do projeto de edifícios e especifiquem os seus conteúdos e o seu nível de detalhe [8]. Entre os habituais equívocos de perceção, de quem inicia um primeiro contacto com este conceito e talvez a par com a intuição redutora de associar o BIM apenas a um visualizador 3D, estará, porventura, a ideia de o confundir com um software. O conceito teórico do BIM só adquire efetivamente tangibilidade quando é interpretado através de softwares que corporizam estas metodologias e as integram com os mais recentes desenvolvimentos na área das tecnologias de informação, em particular nos serviços de comunicação e colaboração globais, aproveitando a “nuvem”, de que é exemplo o conceito de service oriented architecture (SOA) [9]. No entanto é muito importante que o desenvolvimento teórico do BIM continue a ser estimulado pois, é através de linhas de investigação e estudo que se podem traçar novos rumos e novas abordagens que, mais tarde, são naturalmente exploradas do ponto de vista tecnológico. Para o projetista de estruturas, tão importante quanto o software de modelação BIM que escolher, será a sua capacidade para comunicar, do modo mais transparente possível, com o software de análise estrutural e dimensionamento que utiliza. Vários pacotes de software optam por integrar estas valências (modelação BIM + análise estrutural) enquanto outros pacotes apostam em protocolar plataformas mais integradoras de comunicação que abrangem também o planeamento dos custos e mesmo o planeamento da manutenção [5]. Já vários países assumiram o BIM nos seus quadros legislativos, sendo que em alguns deles esta metodologia é mesmo obrigatória para obras públicas de elevado valor [8]. Atualmente, em Portugal, não existe nenhuma legislação nem orientação sobre o BIM, no entanto, já se podem encontrar várias iniciativas transversais às empresas, aos organismos do estado e às universidades, que procuram estudar boas práticas que possam vir a servir de orientação inicial para a implementação do BIM, 3 Integração da Metodologia BIM na Engenharia de Estruturas como sejam o BIMFORUM Portugal ou o grupo de trabalho da Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção. 3. IMPLEMENTAÇÃO PRÁTICA Existe um conjunto de barreiras e limitações que estão a inibir a adoção rápida do BIM na prática profissional. Muitas condicionantes são de natureza técnica e têm sido gradualmente abordadas pelos produtores de software, pelos investigadores e pelas organizações. No entanto, são as questões centradas nas pessoas e nas organizações as que colocam os maiores desafios à implementação do BIM uma vez que a mudança de procedimentos e fluxos de comunicação, responsabilização e confiança, não é facilmente alterável [6]. Entre outros aspetos destacam-se os seguintes: - Investimento: a necessidade de um investimento inicial com a aquisição de um novo software bem como com a sua amortização, com custos adicionais de aprendizagem inicial; - Curva de aprendizagem lenta: além da natural complexidade do software e das múltiplas opções que este apresenta, talvez seja na alteração de conceitos e no novo modo de olhar para o modelo, que se exige mais investimento pessoal; - Envolvimento da equipa: ainda é escassa, no nosso país, a proliferação desta metodologia entre equipas que conseguem o envolvimento de todos os projetistas. Assim, ao se reduzir logo à partida, o âmbito possível de uma das maiores potencialidades do BIM que é a interação colaborativa, a qual permite lidar com alterações e com incompatibilidades entre especialidades de modo imediato, está-se, naturalmente, a contribuir para a redução da sua relevância e do retorno do investimento; - Interoperabilidade: caso seja necessária a comunicação entre entidades que usam diferentes plataformas tecnológicas, a exportação/importação entre sistemas ainda não é isenta de falhas; - Responsabilização/autoridade: a necessidade de definir explicitamente novos modos de comunicar e partilhar o modelo entre os diversos projetistas e entre estes e o construtor, passará por uma contratualização que, baseada na confiança e delegação, permita a partilha, sem comprometer os direitos de autor e a responsabilização de cada interveniente. Ilustra-se de seguida a constatação prática e concreta de alguns dos aspetos referidos, através de uma breve apresentação de projetos de estruturas modelados em BIM e realizados no gabinete NEWTON Consultores de Engenharia, Lda. 3.1 Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões Este projeto de arquitetura estrutural (ver Fig. 2), desde as primeiras fases conceptuais, englobou o BIM como ferramenta preferencial de transmissão de informação, quer entre projetista de estruturas e projetista de arquitetura, quer com o dono de obra, para comunicação visual de soluções. Figura 2. Terminal de Cruzeiros de Leixões: a) visualização da estrutura sem as lâminas envolventes; b) Visualização tridimensional. 4 Lino, Azenha e Lourenço A elevada complexidade das formas da envolvente, idealizada pela equipa de arquitetura, levantou bastantes dificuldades à sua importação direta pelo software BIM de modelação estrutural (REVIT Structure). O tipo de objetos e famílias associadas a estas formas menos regulares, ao longo dos últimos anos, tem sofrido uma evolução significativa. No entanto, na altura em que foi iniciada a primeira fase do projeto, essa limitação de comunicação entre softwares revelou-se talvez a principal debilidade neste processo. Em consequência disso, a comunicação com o software de análise estrutural adotado (ROBOT), exigiu uma redefinição dessa envolvente, modelando-a em elementos identificáveis para a análise estrutural. A estrutura em si, altamente hiperestática, com uma redistribuição complexa de esforços entre os diversos elementos estruturais, só foi possível de calcular e analisar com todas as suas particularidades realizando uma modelação completa. A outra grande vantagem apresentada por esta metodologia, relacionou-se com a medição exata das lâminas, elementos de grande dimensão e com dupla curvatura, cuja quantificação também teria sido mais difícil através de outra tecnologia. 3.2 ETAR do Ave No projeto da empreitada da ETAR do Ave (ver Fig. 3), foi aplicada com sucesso a metodologia BIM para colaboração entre o projeto de processo de tratamento e o projeto de fundações e estruturas. Foi possível a partilha do modelo, otimizando dinamicamente as soluções preconizadas, para que estas fossem ao encontro das necessidades conjuntas dos projetistas. A fácil e dinâmica deteção de problemas e interferências entre os dois projetos, como as implicações da alteração das espessuras das paredes e lajes dos reservatórios nos cálculos do processo ou na exata localização e dimensionamento dos atravessamentos de tubagens, foi antecipadamente verificada e ultrapassada. O detalhe e os critérios definidos pelos projetistas para a elaboração do modelo, permitiram o fácil entendimento e a integração do projeto no seu todo. Foi particularmente importante a eficácia da análise das implicações provocadas pela atualização de espessuras e soluções estruturais no projeto base, desenvolvido pela equipa de projeto de processo, a qual permitiu otimizar as soluções de fixação de equipamentos e definir a sua implantação. Figura 3. ETAR do Ave: interação colaborativa entre o projeto do processo de tratamento e o projeto de fundações e estruturas. 5 Integração da Metodologia BIM na Engenharia de Estruturas A utilização deste modelo em BIM além de facilitar a análise e validação das soluções através da visualização tridimensional e de permitir a rápida extração de detalhes construtivos, também possibilitou a inclusão, no modelo, do faseamento construtivo. Foi assim possível, ao longo do tempo, a visualização 3D de cada uma das fases, facilitando o entendimento pelo empreiteiro e um apurado controlo das quantidades de betão a encomendar. A dinâmica da partilha do modelo permitiu poupar tempo na elaboração das peças desenhadas do projeto mas também rentabilizar o tempo despendido no projeto, beneficiando não só o projetista, mas também o construtor e o cliente final. 3.3 INESC II Neste projeto (ver Fig. 4), destaca-se a facilidade de produção das peças documentais do processo, através da extração automática de plantas, cortes, alçados e pormenores selecionados, que em muito contribuiu para assegurar o cumprimento de prazos curtos. A automatização das principais peças desenhadas não significa que se tenha abandonado o desenho em CAD 2D, tendo-se verificado que a equipa de projeto alterou a tecnologia preferencial para a produção destes documentos, passando a mesma para o BIM e sendo o CAD encarado como complementar e, essencialmente, para o detalhe. Em particular, a pormenorização das peças em betão armado e pré-esforçado, que continua a estar muito conotada com o CAD 2D, tem merecido, ultimamente, amplos desenvolvimentos por parte dos produtores de software que buscam a sua inclusão mais automatizada no BIM, tornando a sua utilização mais prática e a expressão do seu detalhamento mais adequada ao nosso mercado. Figura 4. INESC II: a) Visualização das fundações; b) Extração automática de corte pela caixa de escadas. 3.3 Construção em Afife Além dos vários aspetos referidos a propósito dos exemplos anteriores, destaca-se o facto de, por vezes, a equipa de projetistas de estruturas ser o único interveniente a utilizar o BIM. A NETWON optou por assumir a realização dos seus projetos, maioritariamente, em BIM, mesmo que, a arquitetura ou as restantes especialidades estejam a trabalhar de modo mais convencional. Nestes casos, a modelação é realizada sobre as bases de trabalho fornecidas (ver Fig. 5), quaisquer que sejam os formatos em que estas sejam disponibilizadas. Outro aspeto que começa a ser cada vez mais corrente nas fases iniciais do projeto é a importação automática do modelo da topografia do terreno, a qual possibilita, desde logo, a contabilização dos volumes de escavação e a interação com os arranjos exteriores. 6 Lino, Azenha e Lourenço Figura 5. a) Construção do modelo sobre uma arquitetura 2D; b) Modelo tridimensional em alvenaria estrutural. 4. FORMAÇÃO E PROCESSO EDUCATIVO No contexto da indústria AEC, cada vez mais empresas necessitarão de técnicos com conhecimentos e competências para colaborar e comunicar através das tecnologias BIM 3D/4D/5D. A falta de pessoal com competências BIM é apontada como um dos maiores entraves à sua divulgação geral, mesmo em países com já longo registo nesta tecnologia [3, 10]. A formação de engenheiros tem vindo a alterar-se de uma posição tradicional, baseada num currículo em que se privilegiava a transmissão de teoria, para uma aprendizagem em equipa, orientada para a resolução de problemas com múltiplas soluções, que incluem a aplicação prática, bem como as especificações e a comunicação [10]. Na engenharia mecânica e projeto industrial, a modelação paramétrica de sólidos já substituiu a abordagem clássica ao desenho técnico e já se reduziu o conteúdo programático da geometria descritiva [3]. Muitos cursos de engenharia civil, apesar de diversas alterações curriculares recentes, ainda tardam em substituir os processos de desenho tradicional e CAD pelo BIM [3]. Outros cursos de engenharia civil optam por associar esta temática a uma cadeira de opção do último ano ou até a cursos de pós-graduação, dando ao BIM uma conotação de tópico complexo ou sofisticado [3]. Diversos estudos têm sido realizados a avaliar a oportunidade de ensino desta nova tecnologia nos cursos de engenharia civil e a incentivar o seu uso, em paralelo ou mesmo independentemente das tecnologias mais tradicionais de CAD [10], constatando-se que esta tecnologia se pode revelar de grande utilidade na transmissão do conhecimento, nomeadamente na temática específica de estruturas de betão armado [11]. O BIM deverá ser introduzido nos cursos de engenharia civil como uma evolução natural das ferramentas de visualização e comunicação, seja explicitamente, através de unidades curriculares de modelação ou desenho, seja implicitamente, através do apoio continuado a todas as unidades curriculares ao longo do curso, com modelos em que os alunos podem ir explorando e testando os conhecimentos específicos de cada temática (arquitetura, estruturas, hidráulica, medições e orçamentos, gestão e planeamento da construção, análise de sustentabilidade, etc.). A compreensão natural da importância do BIM e o investimento necessário para a sua aprendizagem inicial, terá que emergir dos alunos, claro que, devidamente enquadrados e motivados pelos docentes. Na Universidade do Minho deu-se continuidade a uma experiência piloto realizada em 2010, de transmissão de conhecimentos relativos a estruturas de betão armado, com o apoio do BIM. Nessa data foram apresentados, aos alunos de Estruturas de Betão II, modelos de partes de estruturas de betão armado, tendo um deles (viga com pré-esforço) sido disponibilizado, em formato IFC, para visualização fora do ambiente da sala de aula. O conceito de aplicação de BIM na transmissão de conhecimento foi posteriormente alargado à unidade curricular de Estruturas de Betão I, distinguindose da abordagem já comunicada em [11] em dois aspetos fundamentais que se detalham de seguida. 7 Integração da Metodologia BIM na Engenharia de Estruturas Em primeiro lugar, ao invés de produzir vários exemplos avulsos ilustrativos da pormenorização construtiva, procedeu-se à modelação, em BIM, do exemplo contido nos apontamentos da unidade curricular (exercícios resolvidos [12]), relativo ao dimensionamento completo de uma viga contínua, em betão armado, com três tramos, para a qual os alunos dispõem de justificação detalhada de cálculo e disposições construtivas. A disponibilização do modelo BIM em simultâneo com a apresentação do seu desenho tradicional, com alçados longitudinais e cortes, numa fase em que, os alunos são, pela primeira vez, confrontados com a importância da pormenorização em betão armado, poderá apresentar-se como uma mais-valia, quer do ponto de vista pedagógico, quer do ponto de vista da sua perceção das vantagens do uso de BIM. O segundo aspeto de diferenciação prendeu-se com a constatação, em anos letivos anteriores, da dificuldade de grande parte dos alunos lidarem com os softwares de visualização BIM, disponíveis gratuitamente, quer do ponto de vista da compreensão da forma de operação, quer da sua usabilidade [11]. Tal aspeto relacionava-se, essencialmente, com a necessidade de recorrer a softwares gratuitos, com utilização pouco amigável. Foi recentemente lançado um visualizador gratuito com capacidades alargadas por parte da Tekla, denominado Tekla BimSight, que se resolveu explorar no âmbito desta iniciativa. Além de ser mais fácil de utilizar do que os visualizadores anteriormente adotados, este novo visualizador permitiu melhorar aspetos formativos relativamente à abordagem anterior, incluindo no modelo, informação didática para mais fácil apreensão pelo aluno, nomeadamente: - Detalhe da armadura no modelo com colorações específicas de alguns varões – Fig. 6a e 6b; - Gravação prévia de vistas que permitem realçar alguma zona ou detalhe quer através do ângulo de visão, quer através da ativação/desativação de partes do modelo – Fig. 6c. Com esta abordagem é possível que o aluno de forma interativa possa selecionar imagens previamente preparadas para realçar aspetos formativos, e navegá-las de forma interativa; - Cortes dinâmicos, emulando tomografias em tempo real ao longo da estrutura, que permitem transmitir os detalhes de supressão de armaduras e a sua montagem – Figs 7a, b e c. - Distribuição de notas com comentários em partes do modelo, que combinadas com as vistas gravadas permitem aumentar a qualidade da transmissão de conteúdos – Fig. 7d. Figura 6. Tekla BIMSight: a) Vista do modelo BIM com armaduras coloridas; Figura 7. Tekla BIMSight: a) Corte dinâmico; b) Vista do modelo BIM com armaduras coloridas; b) Corte dinâmico; c) Corte dinâmico; c) Vista gravada. d) Notas comentadas no ambiente BIM. 8 Lino, Azenha e Lourenço O modelo BIM foi apresentado aos alunos durante uma aula teórica, e foi também disponibilizado para visualização durante o período de estudo, fora do horário letivo. Foi elaborado um inquérito sobre estas experiências e sobre a sua integração na unidade curricular, que foi distribuído aos alunos tendo sido recolhidas as suas opiniões em relação à eficácia desta ação, seja no que diz respeito à melhoria da sua compreensão das matérias em causa, seja à sua perceção da pertinência da temática BIM. Um primeiro aspeto relevante a destacar dos resultados dos inquéritos é o desconhecimento generalizado do conceito BIM dado que apenas 12% revelaram já conhecer o BIM (ver Fig. 8a). Com base nas respostas dos 65 alunos que assistiram à aula em que o modelo foi apresentado e realizaram a experimentação virtual do mesmo, em horário não presencial, efetua-se uma análise breve das principais ilações. Em primeiro lugar, confirmou-se a perceção generalizada de que se trata de uma matéria muito relevante para a prática profissional (96% consideram relevante ou muito relevante numa escala de 5 opções) bem como para reduzir os erros na obra (93% consideram relevante ou muito relevante) (ver Fig. 8b). Em relação ao aumento da compreensão deste conteúdo, neste caso do dimensionamento de betão armado (ver Fig. 8c), 93% concordaram e concordaram totalmente (também numa escala de 5 opções) que a apresentação BIM ajudou a aumentar a sua compreensão. Esta percentagem reduziu-se para 65% quando questionados sobre se a sua própria experiência pessoal de manipulação do modelo também teria contribuído para o aumento dessa compreensão. Retira-se a ilação de que apesar de este visualizador ser bastante mais amigável do que versões anteriores, poderá ser útil dedicar algum tempo à formação específica sobre a utilização propriamente dita do mesmo, minimizando o tempo de aprendizagem individual por parte dos alunos. Figura 8. a), b) e c) Resultados parciais do inquérito aos alunos de Estruturas de Betão I. 5. CONCLUSÕES De um modo irrevogável, a comunicação das atividades de engenharia e arquitetura entre os diversos intervenientes e processos que se desenrolam ao longo do ciclo de vida de um edifício, veio receber um novo incentivo com as potencialidades do BIM, que eleva o trabalho colaborativo, integrando as tecnologias de informação, para um novo patamar. O BIM deixou de ser encarado como apenas uma mera mudança tecnológica e de software para passar também a uma mudança de procedimentos. A implementação prática desta metodologia junto dos projetistas de estruturas começa a ser evidente, tendo ainda que lidar com dificuldades, nomeadamente, as inerentes ao investimento e à curva de aprendizagem, aos direitos de propriedade e de responsabilização pelo modelo, ao diferente estado de maturidades em que se encontram os diversos intervenientes num projeto e também à complexificação da modelação estrutural de formas menos correntes, entre outras. Começa a sentir-se a necessidade de adquirir competências a nível profissional, a qual irá impelir as entidades promotoras do ensino e da formação profissional de engenheiros civis a iniciar a sua inclusão explícita nos currículos e bases programáticas ou, de forma implícita, na promoção do seu uso. A exploração das novas potencialidades dos visualizadores BIM, no âmbito pedagógico, para além de orientar os alunos na exploração do modelo tridimensional, transmitindo mais informação para além da informação visual, poderá ainda tornar-se mais alargada, ao servir, por exemplo, de instrumento de avaliação através de questões colocadas numa vista do modelo ou numa nota comentada. 9 Integração da Metodologia BIM na Engenharia de Estruturas Finalmente refere-se que, várias iniciativas têm vindo a ser realizadas para a divulgação e assimilação do BIM nos procedimentos correntes da indústria de arquitetura, engenharia e construção, como são exemplos o BIMFORUM Portugal e a constituição, no âmbito da Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção, de um grupo de trabalho, especificamente para a temática do BIM. AGRADECIMENTOS Ao Eng.º Hugo Fontes pela disponibilidade na elaboração do modelo BIM apresentado aos alunos. REFERÊNCIAS [1] Becerik-Gerber, B.; Kensek, K. (2010). 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