Uploaded by Katya Hochleitner

Cosmococas artigo

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Universidade de São Paulo
Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Disciplina AUP5891-5
As Aproximações e Contaminações entre Artes e Design Visual, Arquitetura e Cidade
Prof. Sérgio Regis Moreira Martins
“Cosmococa: Programa in progress” em Inhotim: Cinema, Artes Plásticas e
Arquitetura
Uma entrevista com Neville D’Almeida
Katya de Castro Hochleitner
2013
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Objetivo:
Este artigo tem como objetivo explorar a intersecção do diálogo entre Cinema, Artes
Plásticas e Arquitetura, examinando cinco Cosmococas, o pavilhão construído especialmente
para elas no Instituto Inhotim, o ponto de vista dos arquitetos responsáveis pelo Pavilhão e o
ponto de vista do co-autor das Cosmococas (junto com Hélio Oiticica), o cineasta Neville
D’Almeida.
1. Introdução
Cosmococas é o nome dado pelo artista plástico Hélio Oiticica e pelo cineasta Neville
D’Almeida a uma série de obras criadas em 1973: são ambientes fechados com projeção de
slides, trilhas sonoras e diversos elementos táteis. As obras relacionam-se com a ideia de
“Quasi-Cinema”, desenvolvida por Oiticica e D’Almeida, que pretendiam com elas
investigar e alterar a relação do público com a imagem-espetáculo do cinema, como exibido
normalmente nas salas comerciais. A série tornou-se um referencial para a arte
contemporânea. Em Inhotim, cinco Cosmococas – Trashiscapes, Onobject, Maileryn,
Nocagions e Hendrix-War – são exibidas em um pavilhão que foi projetado especialmente
para recebê-las.
Este artigo tem como objetivo explorar a intersecção do diálogo entre Cinema, Artes
Plásticas, e Arquitetura, examinando as Cosmococas, o pavilhão construído especialmente
para elas em Inhotim, incluindo o ponto de vista de Neville D’Almeida, a partir de uma
entrevista em 06/08/2013.
A ideia original das Cosmococas é de Neville D’Almeida. Na entrevista com Neville,
tentamos compreender sua opção pelo "não cinema", uma vez ser ele conhecido exatamente
por seus filmes de longa metragem, e exploramos o processo de criação das Cosmococas.
2. Cosmococas em Inhotim: cinema, artes visuais e arquitetura
2.1 Cosmococas
Segundo o co-autor Neville de Almeida, em entrevista de 06 de julho de 2013, o
funcionamento da Cosmococa é sempre o mesmo: numa sala fechada, há o uso do sistema de
projeção múltipla e simultânea de slides e trilhas sonora , e ainda elementos táteis que
propiciam interatividade e funcionam sensorialmente.
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De acordo com definição de Alberto Saraiva no livro “Quase Cinema”de Neville D’Almeida,
a Cosmococa é “construção de imagem e som que exclui a narrativa...”
No livro mesmo livro, é possível encontrar detalhes do planejamento da Cosmococa: era um
“múltiplo composto por imagens, sons, performance, etc, onde cada um podia montá-la de
modo diferenciado”. Havia a caixa edição de posters e a caixa performance, com “instruções
que orientam as dinâmicas”. Segundo Neville, no mesmo livro: “ignorar as instruções é não
participar da experiência”.
Cosmococa 5 Hendrix War.
Fonte: http://www.inhotim.org.br/arte/obra/view/191
Na época da criação das Cosmococas, em 1973, havia um outro curioso aspecto de rigor
formal: “acabava o rolo do filme, acabavam as imagens para a Cosmococa” diz Neville ma
entrevista de 06/07/2013.E continua: normalmente as Cosmococas contavam com 36
imagens. No caso da Cosmococa Yoko Ono, só há 25 imagens.
Segundo Wally Salomão (em seu livro de 2003, “Hélio Oiticica: Qual é o Parangolé?”),
Hélio Oiticica, em toda a sua obra, e não só nas Cosmococas, tentava aprofundar os
conceitos: de “inter-relação entre as artes”, queria a “participação do espectador na obra de
arte” e a “conjunção Arte-Vida”. Oiticica trabalhou com parceiros de diferentes áreas (a lista
no livro traz 14 nomes) porque acreditava que “a experamentabilidade...está apoiada...nas
vivências de poéticas com e de outro.”
Os teóricos concordam com Oiticica. Para Hilton Japiassu: “A interdisciplinaridade
caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real
das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa”. E para Ivani Fazenda, em “A
História da Interdisciplinaridade, “a interdisciplinaridade se consolida na ousadia da
busca...próprio também do movimento interdisciplinar é o estabelecimento de novas e
melhores parcerias...”
Saraiva diz também que Neville teria sempre se interessado pelo “limite das linguagens”,
absorvendo, em sua obra cinematográfica, conceitos de slides, cartazes, fotografia e
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fotonovela. E que Neville e Oiticica queriam destruir os limites que separavam a produção de
arte em segmentos. A Cosmococa seria não um projeto híbrido, mas uma nova modalidade
de arte, renovando o conceito de cinema e espaço. Em 1967 Neville já tinha utilizado
projeção de slides em seu filme “Jardim de Guerrra”. A partir daí pensou em um “filme em
slides”. Saraiva afirma que Oiticica não inventaria nada como a Cosmocococa se não fossem
as conversas com Neville e seu filme de longa metragem “Mangue Bangue” (1971).
As Cosmococas em Inhotim, foram todas criadas em 1973:
1. CC1 Trashiscapes
2. CC2 Onobject
3. Maileryn
4. CC4 Nocagions
5. CC5 Hendrix-War
2.2 O espaço de exposição de arte, Inhotim, e o Pavilhão das Cosmococas
2.2.1 Aspectos do espaço de exposição da arte
No seu livro “Entre cenografias: o Museu e a Exposição de arte no século XX”, Lisbeth
Rebollo Gonçalves explica: a palavra museu vem do grego e em qrego quer dizer “templo
dedicado ás musas”, expor é “por para fora” e o museu surge do ato de colecionar. A partir
de1789, da Revolução Francesa, o museu, que expõe as obras de uma coleção, passa a ser
aberto ao público. Ela cita Omar Calabresa : “era o museu templo, agora é o museu
monumento, da sociedade do espetáculo”. Guy Debord definiu em seu livro “La Société du
Spetacle” (“A Sociedade do Espetáculo”), 1967, que: “O espetáculo não é um conjunto de
imagens, mas uma relação social entre pessoas, midiatizadas por imagens”, quando o
processo de acúmulo de capital e de acúmulo de imagens são interdependentes.
Brian O’Doherty afirma em seu livro “No interior do cubo branco: a ideologia do espaço da
arte” que, a partir dos anos 50, no século XX, com a construção do MOMA em Nova Iorque,
o espaço de exposição da arte passa a ser com um cubo branco, “...asséptico e atemporal. O
mundo exterior não pode entrar...as janelas são lacradas...paredes pintadas de branco...o teto
torna-se a fonte de luz...” As obras de arte devem parecer “intocadas pelo tempo e pelas
vicitudes” . Como se fosse necessário estar morto para estar numa galeria.
Há um paralelo com os templos religiosos, com o que vemos em câmaras mortuárias
egípcias, igrejas medievais e templos atenienses. São construções que pretendem “eliminar a
consciência do mundo exterior” e reforçar a ideia de eternidade, da vida após a morte. O cubo
branco afirma o poder do grupo que é sensível a ele. Nessas galerias “não se fala alto, não se
come,...não se vive”. O cubo branco se coloca contra a vida concreta do mundo, que é
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defendida por Doherty. O cubo traz dentro de si a arte cara, difícil de compreender, destinada
a um público elitista.
O’Doherty continua: nos anos 70 a arte radical questionou o sistema, a estrutura rígida,
fazendo projetos mais soltos, intervenções, utilizando “gêneros sem hierarquia” e “soluções
provisória ” . “Quem a produz tem preocupações sociais”, mas nem sempre é politicamente
eficiente.”
2.2.2 Inhotim
O Instituto Inhotim, localizado em Brumadinho, no estado de Minas Gerais, foi concebido
por Bernardo Paz, empresário brasileiro da área de siderurgia. Hoje Inhotim agrega um
importante acervo de Arte Contemporânea, um Jardim Botânico, e promove ações de
educação, cultura e cidadania. O projeto paisagístico contou com a colaboração do renomado
paisagista Roberto Burle Marx.
Em Inhotim foram construídos vários pavilhões para abrigar as obras de arte da coleção do
Instituto. São 21 galerias, construídas para a exibição da criação de artistas como Cildo
Meireles, Lygia Pape, Adriana Varejão e outros.
Além disso há várias obras espalhadas pelos jardins, de artistas como Waltércio Caldas,
Yayoi Kusama e Olafur Eliasson. Uma delas é de Hélio Oiticica: “Invenção da cor,
Penetrável Magic Square # 5, De Luxe”, de 1977.
Invenção da cor, Penetrável Magic Square # 5, De Luxe, 1977
Fonte: http//www.inhotim.org.br
Gonçalves afirma: em Inhotim o visitante, tal como o peregrino, é colocado num universo em
que experimenta uma participação sensível num mundo que até então lhe parecia estranho.”
Inhotim fabrica “uma história, uma memória indelével”.
2.2.3 Pavilhão das Cosmococas
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O Pavilhão das Cosmococas foi projetado pelo escritório ARQUITETOS ASSOCIADOS,
um estúdio colaborativo de arquitetura e urbanismo localizado em Belo Horizonte, MG.
No seu web site os Arquitetos Associados, declaram: “O escritório trata cada projeto como
um trabalho específico para o qual uma organização de trabalho própria é definida, o que
permite a formação de equipes de projeto variadas, inclusive com a participação eventual de
colaboradores externos”.
Os sócios adotam “a tradição da arquitetura moderna brasileira como ponto de partida”. São
arquitetos titulares: Alexandre Brasil, André Luiz Prado, Bruno Santa Cecília, Carlos
Alberto Maciel e Paula Zasnicoff Cardoso.”
Ainda de acordo com o site, o edifício que abriga as Cosmococas é marcado “pela ausência
de hierarquia entre as obras expostas. Quem vê de fora não percebe que existem cinco salas e
quatro entradas no prédio. A visitação é totalmente livre e propositalmente confusa”.
Planta Baixa do Pavilhão da Cosmococas
Fonte:http://chalon86.wix.com/inhotim-eh-assim#!_pavilhoes/g.-cosmococas/albumphotos3=6
E mais: “O prédio foi construído de forma a desaparecer na paisagem. Quem olha de cima
consegue enxergar apenas as linhas que demarcam as paredes do edifício. A pedra do
revestimento externo do edifício ajuda o prédio à (se confundir com a) paisagem. Em alguns
momentos do dia a pedra fica da mesma cor do céu e da mata”.
Foto do Pavilhão das Cosmococas
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Fonte: http://www.arquitetosassociados.arq.br
De acordo com o site do escritório de arquitetura, foram responsáveis pelo projeto do
Pavilhão das Cosmococas os arquitetos: Alexandre Brasil, André Luiz Prado, Bruno Santa
Cecília, Carlos Alberto Maciel e Paula Zasnicoff com a colaboração de: Bruno Berg e
Manoela Campolina.
O Pavilhão, projeto de 2008, tem área construída de 835m2 e foi construído durante 2009 e
2010.
O local: “faz parte de uma área de expansão do parque, num terreno de declividade acentuada
que liga a nova área de expansão a uma área já consolidada, localizada no alto do parque. O
terreno é conformado em três lados por áreas não edificantes: em uma lateral há uma área de
preservação permanente onde existe um córrego, na outra lateral, uma adutora da Companhia
de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) e em sua parte mais baixa um brejo onde existe
outro córrego.
“O programa do projeto estabelece o edifício em um único nível, em que se desenvolve a
galeria, e trata a cobertura do edifício como um terraço verde que dá continuidade à paisagem
existente. A galeria é composta por cinco salas expositivas, que, por solicitação da equipe
curatorial do museu, não deveriam estar conformadas hierarquicamente, promovendo uma
visitação livre de percursos sugeridos pelo espaço.
As obras do programa Cosmococa a serem expostas, foram relacionadas por Hélio Oiticica
com o conceito de “quase cinema”. Todas são compostas por projeções nas paredes, em
alguns casos também no teto, e possuem diferentes trilhas sonoras. Assim, as salas
expositivas são escuras e tem pé-direito duplo. Elas estão ligadas a um hall, sobre o qual se
encontra toda a área técnica, onde estão parte da casa de máquinas do ar-condicionado e as
salas para equipamentos audiovisuais necessários para a instalação das obras. As paredes que
limitam as salas expositivas são duplas, conformando um corredor técnico que promove
melhor isolamento acústico entre as salas e permite a instalação dos equipamentos e
instalações necessárias para o funcionamento das obras.”
Com relação á forma e construção, o edifício é uma intervenção radical na topografia que
reforça sua presença ambígua como um artefato de pedra construído, quando visto de baixo,
e como uma cobertura verde que é uma continuidade da paisagem com sutis limites
ortogonais, quando visto do alto, o que macula intencionalmente os limites entre edifício e
paisagem. A organização não hierárquica dos acessos e das salas expositivas para estimular
indeterminação é associada com uma sequencia de mudança de escala e luz – a extensão da
natureza, o fechamento parcial do pátio com passagens estreitas e altas, o hall escuro e
horizontal, as salas expositivas. O volume edificado é tratado externamente com
revestimento em pedra local, reforçando sua integração com a paisagem. Há uma
continuidade deste revestimento no hall, que promove uma transição de escala e ambientação
para as salas expositivas.”
Em entrevista à imprensa, disponível no You Tube,
(em http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=eBLYPlSZfdk),
os arquitetos Carlos Alberto Maciel e Alexandre Brasil adicionam mais detalhes sobre o
projeto: “Tem uma outra coisa interessante que é a variação de escalas....Tem um Hall que
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reduz a escala, om um pé direito que é a metade da altura do prédio, aí você entra numa sala
mais escura, que é bem baixinha, e isto te prepara para entrar na sala onde está a obra de arte,
que é , de novo, uma sala com pé direito alto, uma transição de larguras, dimensões, alturas e
luz, que promove a transição entre o ambiente natural e da obra.” Sobre o revestimento
externo do edifício comentam: “a pedra potencializa a nossa ideia de edifício para tentar se
misturar um pouco mais à paisagem...Pensar um prédio para abrigar obras que têm uma
relevância no cenário da arte contemporânea é sempre um desafio porque, por um lado, ele
não pode ser excessivamente neutro, de modo que ele não contribua nada para a paisagem,
para o lugar em que será implantado. E por outro lado, ele não deve competir com a obra.
Houve um contato muito intenso com os curadores, que definiram em conjunto com a
arquitetura toda a dinâmica e estratégia expositiva e espacial, e também com o Neville
D’Almeida, que é um dos artistas, e também com o César, que é representante também da
Família Oiticica.”
2.3 Entrevista com Neville D’Almeida
Neville D’Almeida
Foto: Paula Martins
Neville Duarte de Almeida é mineiro de Belo Horizonte, nascido em 18 de dezembro de
1941. Hoje com 71 anos, é mais conhecido pelo seu trabalho como cineasta, sobretudo por
títulos importantes do cinema nacional como “A Dama do Lotação” (1978) e “Os Sete
Gatinhos” (1980). Mas Neville é um artista da interdisciplinaridade: atuou como ator em dez
filmes, assina obras de arte (como as instalações “Cosmococas”, “Kayapoemas” e
“Tabamazônica”) e publicou recentemente os livros “A Dama da Internet”, com Ricardo
Amaral, e “Além Cinema”.
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Como diretor de cinema, Neville é responsável pelos filmes: Jardim de Guerra (1970),
Piranhas do Asfalto (1971), Mangue Bangue (1971), Gatos na Noite (1972) Surucucu
Catiripapo (1973), A Dama do Lotação (1978), Os Sete Gatinhos (1980), Música para
sempre (1980), Rio babilônia (1982), Matou a Família e foi ao Cinema (1991), Navalha na
Carne (1997), Hoje é Dia de Rock (1999).
Em 06 de julho de 2013 visitei o cineasta Neville DÁlmeida em sua residência, na cidade do
Rio de Janeiro, na Ilha da Gigóia, perto da Barra da Tijuca. Ele explicou porque escolheu este
lugar acessível apenas por barco: “gosto de espaço. Acho aqui muito bom para trabalhar, para
criar, para escrever, para desenhar, para fazer objetos, criar filmes, projetos, entrevistas
tudo...Um lugar que é propício para a criação.”
Neville D’Almeida e a entrevistadora Katya Hochleitner
Foto: Paula Martins
Perguntado sobre os projetos em que está atualmente trabalhando, Neville detalhou:“Hoje
estou envolvido em dez projetos. Estou trabalhando simultaneamente em dez, doze
projetos...
Estou fazendo três projetos de cinema: “A Frente Fria Que A Chuva Trouxe”, uma peça de
Mario Bortolotto que eu adaptei para o cinema; estou trabalhando no roteiro original “Bye
Bye Amazônia” e acabo de fazer o roteiro de “A Dama da Internet”.
Acabei de lançar o livro “A Dama da Internet”.
Estou trabalhando em três instalações, uma para a Freeze de Londres em outubro, da obra
Cosmococa e duas instalações na Alemanha, em Frankfurt: uma mostra chamada Brasiliana,
(em) que eu participo com uma Cosmococa e uma outra mostra chamada “Museu é o
Mundo”(nota: é uma mostra que aconteceu em 2010, no Instituto Itaú Cultural, em São
Paulo, seguindo à risca as orientações deixadas por Hélio Oiticica sobre suas obras), onde eu
participo com uma outra Cosmococa. Sou o único artista que faz parceria com o Hélio
Oiticica.
E vou inaugurar a Galeria Gentil Carioca, também com uma Cosmococa.
Isto porque estamos comemorando este ano 40 anos da Cosmococa, que foi criada em 73...
Vou inaugurar uma galeria em São Paulo em setembro...
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Estou fazendo também um programa de televisão com a Lucélia Santos, chamado "Conta
tudo!" Um programa de entrevistas que eu criei, bolei, idealizei. Já fiz a lista dos
entrevistados e a lista das 50 perguntas-chave. É um programa diferente de todos...Tem que
falar em tudo o que está acontecendo, que é sobre a desigualdade social”
Há seis meses, Neville está trabalhando em várias microsséries, filmes de trinta segundos a
seis minutos, mas ainda não tem editor.
Está criando também as Cosmococas 10 e 11, com o sobrinho de Hélio Oiticica, César
Oiticica Filho, para o Festival de Berlim.
Neville falou então sobre a criação do conceito da Cosmococa: “Sempre tem a ideia de filme,
mas eu tive a ideia de fazer um filme de slide, como esgotamento da linguagem, das
limitações técnicas e artísticas. O cinema é arte cativa, a música é arte livre, assim como a
literatura, a arquitetura e a escultura. O cinema comercial é cheio de controles. Nós (Oiticica
e Neville) queríamos mudar o cinema com o Quasi-Cinema, a Cosmococa.”
Para Neville, a parceria com Hélio foi perfeita. Ambos eram um “concurso de loucura”. Eram
iconoclastas e queriam “sair da parede”. Eram contra o abstracionismo e a favor das
tecnologias.A ideia era fazer uma “obra aberta”, abolindo a autoria. Qualquer um poderia
criar uma Cosmococa , já que o conceito estava estabelecido.
Segundo Neville, a Cosmococa foi inicialmente pensada como uma “interlocução espacial”,
o nome que foi dado a elas (por eles) antes do advento da palavra “instalação”. A Cosmococa
teria sido então, inventada por Neville e Hélio Oiticica, como uma “instalação audiovisual
sensorial interativa, com imagens, ambiente e trilha sonora. Era o Quasi-Cinema. Com isso
era criado o movimento de imagens físicas e estava feita a ligação entre arte visual e cinema.
Inicialmente a dimensão (da Cosmococa) poderia ser variável, algumas versões poderiam ser
montadas na casa de qualquer pessoa interessada.
Os slides feitos com pintura de cocaína romperam paradigmas. A cocaína era emprestada de
um traficante local e teve que ser devolvida após as fotos.
O tema de cada Cosmococa era baseado sempre em figuras da contestação na sociedade
americana, personalidades que eram de certa maneira rejeitadas pelo establishment: Luiz
Buñuel, Yoko Ono, Marilyn Monroe, John Cage e Jimmy Hendrix.
Toda a concepção era anotada no papel, durante um período no West Village em que os
recursos eram escassos. Segundo Neville, Hélio escrevia porque sentia que ia morrer: “ele
dizia: vamos anotar tudo”, e fazia questão de manter “os notebooks da Cosmococa”.
A trilha sonora destas 5 Cosmococas foi definida depois por Neville.
A primeira Cosmococa só foi realizada 20 anos depois de criada.
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Neville comentou que, com relação às Cosmococas, os diários estão no site do Instituto Itaú
Cultural.
Página dos Diários da Cosmococa
Fonte: HTTP//www.itaucultural.org.br
Wally Salomão pensa sobre a Cosmococa: “Mas que siginifica este
cosmo?...ultrapassamento de linha ou estabelecimento de um paralelo zen..anulação absoluta
dos seres orgânicos do neoconcretismo...afirmação da reversibilidade potencial de qualquer
imagem e da indeterminação do sentido...terreno virtual...catatonia...vertigem..E lixar as
unhas, deitar na rede, são atos que negam o “time is money” e afirmam”time is pleasure”, (é)
o reinado do princípio do prazer e a suspensão do princípio da realidade”.
Hélio e Neville queriam o futuro, eram contra Andy Warhol. Hoje Neville afirma que é
fascinado pela “arte para multidões, pela “arte para consumo”.
Sobre o Pavilhão das Cosmococas em Inhotim, Neville contou que” Bernardo Paz quis
comprar as Cosmococas e mandou construir um pavilhão”. Neville e César Oiticica,
sobrinho de Hélio, participaram do processo de planejamento, juntamente com os arquitetos.
Aconteceu inclusive uma reunião entre o escritório de arquitetura e Neville e César. Ao
apreciar o projeto dos arquitetos, Neville comentou que achava o hall pequeno para o número
de pessoas que poderia estar circulando entre as cosmococas 1-5. Mais espaço seria
necessário, inclusive para emergências. Os arquitetos discordaram e disseram que não
alterariam o projeto. Mas Bernardo Paz, ao ficar ciente da divergência, solicitou aos
arquitetos que o hall fosse aumentado, dobrando o espaço inicialmente previsto.
Na opinião de Neville, a arte contemporânea e a arquitetura têm uma ligação muito maior do
que a que hoje está sendo explorada.
Houve um contato muito intenso com os curadores, que definiram em conjunto com a
arquitetura toda a dinâmica e estratégia expositiva e espacial, e também com o Neville
D’Almeida, que é um dos artistas, e também com o César, que é representante também da
Família Oiticica.”
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3. Conclusão:
Este artigo examina as Cosmococas à luz do diálogo entre cinema, artes plásticas e
arquitetura, atividades necessárias para que as Cosmococas estivessem hoje no seu pavilhão
em Inhotim.
Em 1973, o objetivo de Hélio Oiticica e Neville D’Almeida, com a criação das cinco
Cosmococas, era contestar as instituições, a sociedade e os limites das artes de então. Era
também alterar a relação do público com a imagem-espetáculo do cinema, como exibido
normalmente nas salas comerciais.
Hélio e Neville se utilizaram da interdisciplinaridade entre cinema e artes visuais, alavancada
pela parceria fácil entre eles, que se consolidou em obras bastante ousadas para os padrões da
época.
A Cosmococa seria não um projeto híbrido, mas uma nova modalidade de arte, renovando os
conceitos de cinema e espaço.
Era um projeto que tinha uma proposta de liberdade: inicialmente a dimensão (da
Cosmococa) poderia ser variável e algumas versões poderiam ser montadas na casa de
qualquer pessoa interessada. Qualquer um poderia criar uma Cosmococa, já que o conceito
estava estabelecido.
Na Cosmococa o espectador deixava de ser passivo na recepção da arte, e passava a interagir,
fazendo com que a obra aberta produzisse diferentes efeitos e sensações em cada um, a arte e
a vida unidas.
Hélio utilizou em toda a sua obra os conceitos “inter-relação entre as artes”, “participação do
espectador na obra de arte” e “conjunção Arte-Vida”. Neville sempre buscou extrapolar os
limites da arte.
O tema de cada Cosmococa era baseado em figuras da contestação na sociedade americana,
personalidades que eram de certa maneira rejeitadas pelo establishment. O uso de cocaína
para desenhar sobre fotos era totalmente transgressor.
Com relação ao pavilhão, na parte interna, a visitação é totalmente livre e propositalmente
confusa, alinhada ao espírito das Cosmococas e seus criadores.
Mas quando observamos o pavilhão em Inhotim na parte externa, vemos volume, textura e
cor que lembram muito pirâmides do Egito e construções maias. As obras parecem estar
contidas num local onde parecem estar “intocadas pelo tempo e pelas vicissitudes”. Como
num templo, distante da vida do aqui e agora, da contemporaneidade.
O próprio fato de existir o hall com um pé direito que é a metade da altura do prédio, uma
antessala mais escura, de teto baixo que prepara para entrar na sala com pé direito alto, onde
está a Cosmococa, tem um efeito muito parecido ao procurado pelos construtores das
pirâmides.
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Será que o Pavilhão das Cosmococas de Inhotim representa o museu-templo e o
museu-monumento da sociedade do espetáculo? E então, a contestação deu lugar à
instituição?
Referências:
ALMEIDA, Neville D’: depoimento [jul.2013].
Entrevistadora: Katya C. Hochleitner
ALMEIDA, Neville D’. Além Cinema. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
CAUQUELIN, Anne. A Arte Contemporânea. Portugal: Rés Editora, 1992.
FAVARETTO, Celso. A Invenção de Hélio Oiticica. São Paulo: EDUSP, 1992.
FAZENDA, Ivani. História da Interdisciplinaridade.Campinas,SP: Papirus, 1994
GONÇALVES, Lisbeth Rebollo. Entre Cenografias: O Museu e a Exposição de Arte no
século XX. São Paulo: EDUSP, 2004.
JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago,
1976.
O’DOHERTY, Brian. No interior do Cubo Branco : a ideologia do Espaço da Arte. São
Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda. 2002.
SALOMÃO, Waly. Hélio Oiticica: qual é o parangolé? E outros escritos. Rio de Janeiro:
Editora Rocco, 2003.
http://mitpress.mit.edu/books/h%C3%A9lio-oiticica-and-neville-dalmeida
http://itaucultural.org.br
http://bravonline.abril.com.br/materia/helio-oiticica-museu-mundo
http://www.inhotim.org.br
http://edifica2009.files.wordpress.com/2009/12/aula-07-modo-de-compatibilidade.pdf
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=eBLYPlSZfdk
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