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livro de Ponta a Ponta versão digital

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De Ponta a Ponta
O atendimento a crianças e adolescentes em Novo Hamburgo
Organização: Fundação Semear
De Ponta a Ponta
O atendimento a crianças e adolescentes em Novo Hamburgo
D419
De Ponta a Ponta : o atendimento a crianças e
adolescentes em Novo Hamburgo / Fundação
Semear (org.). - [Novo Hamburgo]: Use
Propaganda, [2019].
92 p. : il. ; 30 cm.
Redação e conteúdo: Márcia Bernardes e
Ponto Pesquisa
1. Desenvolvimento social. 2. Crianças.
3. Adolescentes. 4. Ação social. 5. Políticas públicas.
I. Fundação Semear. II. Título.
CDU: 316.42
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP):
Bibliotecário Alessandro Dietrich - CRB 10/2338
CONSELHO MUNICIPAL DOS
DIREITOS DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE DE
NOVO HAMBURGO (CMDCA NH)
Diretoria 2017/2018
Marcia Elisa Glaser – Presidente
Anelise Weber de Moraes – Vice-presidente
Carlos Eduardo Müller Bock – 1º Secretário
Dirlene Correa da Cunha – 2ª Secretária
Carla Rosana da Silva e Eronilda Machado – Junta
Administra va do FUNCRIANÇA
Diretoria 2019/2020
Ricardo Seewald – Presidente
Renato Arena – Vice-presidente
Dirlene Correa da Cunha – 1ª Secretária
Carla Rosana da Silva – 2ª Secretária
Eronilda Machado e Débora Malmann – Junta
Administra va do FUNCRIANÇA
3
FUNDAÇÃO SEMEAR
Diretoria
Marcelo Lauxen Kehl – Presidente do Conselho Curador
José Flávio Bueno Fischer - Presidente da Fundação Semear
Paula Casari Cundari - Vice-presidente de Relações Ins tucionais
Luís Felipe Maldaner - Vice-presidente Administra vo-financeiro
Paulo Gilson Roos - Vice-presidente Jurídico
Edgar L. Fedrizzi Fº - Vice-presidente de Relações Governo e Comunidade
Melissa Cruz Hoss - Diretora de Comunicação
Equipe Execu va
Helena Ieggli Thomé - Gestora Social
Ana Maria Paslauski - Assessora Pedagógica
Michele Lutz - Analista Financeira
Sheila Schuh da Silva - Assessora de Arte e Criação
Equipe Técnica | Programa CVR
Rosecler Böes Ferst – Assessora Técnica/CVR
Carine Herrmann Müller – Assistente Social
Djan Costa – Educador de Hip Hop
Évelin Adams Escouto – Educadora Social
Lisete Schimidt Dias – Merendeira
Maria de Lurdes Oliveira – Educadora de Artes
Maristela Souza da Silva Amorin – Serviços Gerais
Murilo Viegas da Silva – Educador de Ballet e Jazz
Tommy Thomé – Educador de Música
Equipe do Projeto De Ponta a Ponta:
Ana Maria Paslauski – Assessora Pedagógica
Helena Ieggli Thomé – Coordenadora Geral
Márcia Bernardes – Coordenadora Técnica
Maria Isabel Rodrigues Lima – Assistente Técnica
Michele Lutz – Analista Financeira
Ponto Pesquisa – Trabalho de campo
Sheila Schuh da Silva – Assessora de Arte e Criação
4
AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS
A Fundação Semear acredita que as organizações da sociedade civil
desempenham um papel fundamental no atendimento qualificado à crianças e
adolescentes. Também entende que a união de esforços é o que possibilita que
esse público tenha acesso a ferramentas e oportunidades de desenvolvimento
saudável.
A realização do projeto De Ponta a Ponta foi a concre zação de uma ideia
que contou com a parceria e o apoio de muitas organizações.
Nosso reconhecimento e gra dão:
- Ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de
Novo Hamburgo (CMDCA), que confiou à Fundação Semear a execução do
projeto.
- Aos (às) técnicos(as) e colaboradores(as) de serviços e equipamentos
públicos da área da saúde, do desenvolvimento social e da educação, lideranças
comunitárias, moradores(as) dos territórios pesquisados, pais, responsáveis e
adolescentes, que compar lharam suas percepções e visões, contribuindo na
construção desse importante diagnós co.
- Às organizações da sociedade civil, espaços comunitários, organizações
governamentais.
- Às Secretarias municipais de educação, saúde e desenvolvimento
social, serviços, escolas e equipamentos públicos dos bairros Boa Saúde,
Canudos, Kephas, Santo Afonso e Roselândia, que permi ram a interação
e as abordagens realizadas.
- Ao Itaú Social, que apoiou o projeto apresentado pelo CMDCA NH,
possibilitando, assim, a realização do projeto.
Nosso muito obrigado a todos(as) que par ciparam do projeto em toda
a sua extensão (palestrantes, pesquisadores(as), organizações que
compõem o CMDCA NH) e, muito especialmente, aos que acreditam que
construir diagnós cos, pensar a realidade e compar lhar o conhecimento
são caminhos importantes para a melhoria da qualidade de vida de
crianças e adolescentes do município de Novo Hamburgo.
Fundação Semear
5
A par cipação da sociedade em defesa de crianças e adolescentes
Alterar a realidade social e buscar uma sociedade mais igualitária passa,
necessariamente, por um caminho de mudanças e de desafios, que exigem a convergência dos
papéis exercidos por organizações da sociedade civil, empresas e atores sociais. Justamente
com esse pensamento, a Fundação Semear foi criada em 1996, com a missão de proporcionar a
par cipação da sociedade em ações de responsabilidade social.
Para isso, propôs trabalhar especialmente com pesquisa, qualificação e capacitação de
organizações sociais, garan ndo resultados posi vos para o inves mento social privado
realizado pelas empresas e empresários que acreditaram nessa ideia.
Com o passar dos anos, o trabalho foi ampliado e hoje, quase 23 anos depois, a
organização tem uma atuação sólida em busca do desenvolvimento social, com a realização de
diversos programas, projetos e ações voltadas para crianças, adolescentes, famílias e
comunidade. É um trabalho sério e muito qualificado, que já beneficiou cerca de meio milhão
de pessoas direta e indiretamente.
Uma das formas de contribuir para o desenvolvimento das a vidades é por meio de
doações ao Fundo da Infância e Adolescência (FIA). Esses recursos são provenientes da
des nação de um percentual do Imposto de Renda para a realização de projetos voltados para a
proteção e a promoção de direitos. Ao fazer isso, o doador não efetua desembolso algum, mas
exerce um direito garan do pela legislação.
As des nações ao FIA, geridas pelos Conselhos de Direitos (nos níveis federal, estadual
e municipal) podem ser u lizadas, por exemplo, para o atendimento direto de crianças e
adolescentes, para atendimento a ví mas de violência, para a formação e qualificação de
técnicos, conselheiros e profissionais ligados ao atendimento a crianças e adolescentes e para
diagnós cos e pesquisas municipais que versem sobre a situação desse público. Com isso, o
fundo propicia a par cipação da sociedade na promoção das polí cas e na garan a de direitos.
O Projeto De Ponta a Ponta resgatou um dos pilares de atuação da Semear, que é a
realização de pesquisas e de capacitação e nasceu da necessidade de diagnos car, perceber e
revelar dados sobre a realidade social de Novo Hamburgo, justamente para apontar caminhos
para superar vulnerabilidades encontradas. Ao realizar a pesquisa e capacitar a rede de
atendimento, a Semear entende que disponibiliza informações, ferramentas e condições para o
trabalho de proteção e defesa das crianças e dos adolescentes. É um projeto de grande
importância para o município e que qualifica, de maneira fundamental, o trabalho
desenvolvido na área social. O Projeto concre zou-se por meio de recursos des nados ao
Fundo da Infância e Adolescência (FIA), disponibilizados por meio de edital do Itaú Social.
Crianças e adolescentes precisam de proteção. Precisam de condições saudáveis de
desenvolvimento, sem a presença de ameaças, exposição à violências e negação de direitos.
Superar essas questões e avançar na direção da inclusão social e da melhoria da qualidade de
vida dos mais vulneráveis parte da mobilização de vontades e recursos. E parte de inicia vas
baseadas em dados, em análise de contextos e de trabalho em rede.
A Fundação Semear acredita nesse caminho e convida a todos para par cipar dessa
construção.
José Flávio Bueno Fischer
Presidente da Fundação Semear
6
O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
A polí ca de promoção, proteção, defesa e controle dos direitos da criança e do
adolescente do município de Novo Hamburgo, está regulamentada pela Lei Municipal
2822/2015 e tem, como órgãos e instrumentos de garan a, o Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente – CMDCA, o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente – FUNCRIANÇA, o Fórum Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, a
Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e, os Conselhos Tutelares (art.
4º, Lei Municipal nº 2822/2015).
O CMDCA é o responsável pelo bom funcionamento dos demais, considerando que é o
órgão delibera vo, controlador, norma vo e consul vo da polí ca municipal de promoção,
proteção, defesa e controle dos direitos da criança e do adolescente, observada a composição
paritária de seus membros, nos termos do art. 88, inciso II, da Lei Federal nº 8.069/90 – ECA. Em
Novo Hamburgo, o CMDCA foi criado pela Lei Municipal nº 130/90.
O Conselho de Direitos de Novo Hamburgo é composto por 18 membros, sendo nove
representantes do poder execu vo, oriundos de secretarias vinculadas as polí cas da
educação, saúde, assistência social, cultura, esporte e lazer, bem como a área de planejamento.
Os demais conselheiros, obedecendo o princípio da paridade, são representantes de en dades
da sociedade civil organizada, oriundos das seguintes categorias: cinco representantes de
en dades de atendimento, regularmente registradas e com programas inscritos no CMDCA,
dois representantes de adolescentes e dois representantes da sociedade civil organizada,
envolvidos de alguma forma na proteção, promoção e defesa dos direitos da criança e do
adolescente. Dessa forma, fica assegurado o pluralismo dos segmentos sociais,
par cularmente por en dades e organizações sociais, organizações profissionais, sindicatos,
en dades representa vas do pensamento cien fico, religioso, filosófico, entre outros (art. 6º,
Lei Municipal nº 2822/2015).
Por se tratar de um colegiado na essência de sua natureza jurídica, além da paridade,
outros princípios basilares norteiam a cons tuição do CMDCA, tais como a legalidade, a
publicidade, a par cipação e a autonomia, como garan a de que seus atos sejam realizados por
decisão cole va e jamais de forma singular.
A proteção integral da criança e do adolescente norteia a atuação do CMDCA que,
entre suas competências, destaca o acompanhamento e o controle da execução da polí ca
municipal de proteção, promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente. Para isso,
entende como de essencial importância o conhecimento detalhado da realidade local e dos
contextos de atuação, a fim de verificar demandas e estabelecer mecanismos eficientes para o
desenvolvimento da polí ca em favor da criança e do adolescente. Dessa forma, a realização de
estudos, como a pesquisa realizada pelo projeto de Ponta a Ponta, é fundamental para a
realização de diagnós cos que servem como base para o desenvolvimento dessa polí ca.
O Conselho, ao promover o Projeto De Ponta a Ponta e entregar, nesse momento, um
importante diagnós co para o município de Novo Hamburgo, fortalece seu papel e disponibiliza
dados atualizados sobre a realidade do atendimento a crianças e adolescentes, possibilitando
planejar as próximas ações e fortalecer a rede de atendimento socioassistencial à criança e ao
adolescente no município de Novo Hamburgo.
Desejamos uma boa leitura a todos!
Diretoria CMDCA – Gestão 2019/2020
7
SUMÁRIO
Apresentação
09
DE PONTA A PONTA
10
O CONTEXTO DA PESQUISA
11
OS CAMINHOS PERCORRIDOS
14
RETRATO DOS PARTICIPANTES
16
Perfil da amostra quan ta va formada por pais e responsáveis
16
Perfil da amostra quan ta va formada pelos(as) adolescentes
22
CONHECENDO A REALIDADE DOS TERRITÓRIOS
8
31
O Bairro Boa Saúde
32
O Bairro Canudos
43
O Bairro Kephas
52
O Bairro Santo Afonso
60
O Bairro Roselândia
67
PERCEPÇÕES GERAIS DOS PAIS E RESPONSÁVEIS
74
PERCEPÇÕES GERAIS DOS(AS) ADOLESCENTES
78
CAMINHOS POSSÍVEIS
88
APRESENTAÇÃO
A pesquisa desenvolvida pelo projeto De Ponta a Ponta é fundamentada
pelo entendimento de que a pesquisa social tem grande relevância e que, por
meio dela, é possível contribuir para a definição e a construção de obje vos e de
ações voltadas para o desenvolvimento social, para a compreensão de
contextos e para a transformação de realidades.
A pesquisa é uma via para a construção de conhecimento e a obtenção
de informações. É orientada pela relação entre as teorias e as prá cas sociais,
aliada ao trabalho empírico, sendo responsável por transformações que
baseiam o progresso humano. Fazer uma pesquisa é lançar o olhar de forma
acurada para alguma questão.
Não poderia ser diferente com relação ao trabalho desenvolvido pelas
organizações da sociedade civil. Essas organizações estão consolidadas, de
maneira geral, em um formato que supera a caridade e desenvolvem um
trabalho poli zado na busca da ampliação e da racionalização da sua ação
social, formando redes e potencializando resultados.
Buscando o desenvolvimento dessas ações de forma cada vez mais
profissional e asser va, junto às organizações da sociedade civil, assim como de
outras áreas, entende-se que é importante basear-se em dados concretos, que
revelem a realidade onde estão inseridas. Mais do que revelar, a pesquisa aqui
apresentada pretende compreender a realidade para, de alguma forma, propor
o enfrentamento das dificuldades, a melhoria nos atendimentos e, ainda,
apontar caminhos para o desenvolvimento social integral de crianças e
adolescentes na construção de polí cas públicas.
Uma boa leitura e uma boa reflexão para todos e todas!
9
DE PONTA A PONTA
O De Ponta a Ponta é um projeto apresentado pelo Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Novo Hamburgo, com
desenvolvimento e execução da Fundação Semear e apoio do Itaú Social, por
meio da contemplação no edital para conselhos de direitos em 2017.
O projeto, com período de execução de junho de 2018 até junho de
2019, teve como obje vo buscar compreender a dinâmica de atendimento a
crianças e adolescentes em cinco territórios do município de Novo Hamburgo,
propondo capacitação para os(as) profissionais que atuam na área e
apresentando informações para contribuir na elaboração de polí cas públicas,
visando a garan a e a defesa dos direitos da criança e do adolescente. Além
disso, teve como obje vos perceber a existência de crianças sem acesso a
atendimentos/a vidades no turno inverso ao da escola; pesquisar a rede de
atendimento socioassistencial de Novo Hamburgo e fortalecer a rede de
atendimento a crianças e adolescentes do município, por meio da realização de
diversas capacitações.
Para isso, no que tange a realização de diagnós co, foram u lizadas
abordagens e métodos diferenciados, em uma metodologia de inspiração
etnográfica. O projeto definiu cinco territórios do município (Boa Saúde,
Canudos, Kephas, Santo Afonso e Roselândia) para a aplicação da pesquisa de
campo que compreendeu: imersão no cenário para reconhecimento dos
territórios; realização de dois grupos focais por território e aplicação de 1.020
ques onários, divididos em dois instrumentos diferentes: um para
pais/responsáveis e outro para adolescentes. Com isso, a pesquisa teve um
caráter qualita vo e quan ta vo. O período de realização do trabalho de
campo da pesquisa foi de outubro a dezembro de 2018.
O público-alvo da pesquisa foram profissionais da rede de atendimento
socioassistencial do município de Novo Hamburgo, pais, responsáveis,
familiares, pessoas que cuidam de crianças e adolescentes. Buscando limitar a
faixa etária de crianças e adolescentes sujeitos da pesquisa, foi definida a idade
de 6 a 16 anos.
10
O CONTEXTO DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada na cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do
Sul que tem uma população es mada de 246.452 pessoas (2018), sendo a
população no úl mo censo (2010) de 238.940 pessoas, conforme o Ins tuto
1
Brasileiro de Geografia e Esta s ca (IBGE). Ainda segundo o IBGE, o salário
médio mensal dos trabalhadores formais (em 2016) era de 2,4 salários mínimos
e a população ocupada correspondia a 38,2%. Considerando domicílios com
rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, nha 26.5% da
população nessas condições. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita era R$
34.620,19 (IBGE, 2016).
O município apresenta 92.1% de domicílios com esgotamento sanitário
adequado e 71.7% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização
adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio) (IBGE). 2
Em Novo Hamburgo, o setor coureiro-calçadista desempenhou um
papel muito importante e a cidade é denominada Capital Nacional do Calçado,
pois foi a primeira a vidade industrial importante a se desenvolver no
município. Os pioneiros e empreendedores do Vale do Sinos iniciaram a
produção artesanal familiar, buscando atender as necessidades das próprias
famílias, até passar a comercializar os produtos fabricados. Entre as décadas de
1930 e 1980, a cidade de Novo Hamburgo foi destaque na produção industrial
do Rio Grande do Sul, especialmente pela produção de calçados.
Schütz, no livro Novo Hamburgo: sua história, sua gente, retratou que a
maioria da mão-de-obra ocupada na indústria de calçados, inicialmente,
provinha do próprio município. Porém, com a abertura de mercados e a
profissionalização do setor houve a necessidade de ampliação da mão-de-obra.
A boa remuneração pela mão-de-obra e a grande disponibilidade de empregos
acarretaram o surgimento de grande migração para a região. E foram esses
migrantes que desempenharam um papel fundamental para a expansão do
setor coureiro-calçadista. A autora destaca que, no ano de 1970 foram
instaladas 189 fábricas de calçado em Novo Hamburgo, proporcionando
emprego para 9.635 pessoas, independente de idade, sexo ou grau de
instrução.3
1 Acesso em: h
ps://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/novo-hamburgo/panorama
ps://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/novo-hamburgo/panorama
3 Schütz, Liene M. Mar ns. Novo Hamburgo: Sua História, Sua Gente. Porto Alegre: Palo , 1992.
2h
11
Esse ver ginoso crescimento da indústria e, consequentemente da
população, refle ram na falta de infraestrutura do município para receber o
con ngente de migrantes, o que resultou no surgimento de loteamentos
irregulares, com construções precárias e humildes, com pouco acesso a
recursos e a equipamentos públicos. As consequências desse momento são
percebidas até hoje no município, agravada pelas consecu vas crises e
dificuldades econômicas e sociais vivenciadas no país, no estado e na cidade.
Na década de 1990, a indústria calçadista entrou em uma forte crise,
trazendo profundas alterações no quadro econômico de Novo Hamburgo.
Houve um longo período de instabilidade, acarretado pelas mudanças globais,
entrada de concorrência estrangeira e outros fatores que levaram o setor
calçadista a encolher. Com demissões em grande número, as populações
migrantes, muitas vezes sem qualificação para o exercício de outras a vidades,
passam a engrossar as camadas populares mais vulneráveis do município,
vivenciando problemas sociais e econômicos como a miséria e a violência.
Na úl ma década, o setor calçadista con nua marcado por crises
sucessivas, que acabam levando a situações de pobreza, especialmente da
população com pouca qualificação. As crises afetam pequenas empresas, mas
também a ngem grandes indústrias que, muitas vezes, terceirizam o trabalho
para pequenos ateliers a cargo de uma família. Em contrapar da, é importante
ressaltar que cerca de 40% das exportações brasileiras de calçado são geradas
4
pelo Rio Grande do Sul, a maioria delas vinda de municípios do Vale do Sinos.
Nesse contexto, estão as crianças e adolescentes da cidade de Novo
Hamburgo e dos cinco territórios que formam essa pesquisa. Muitas crianças e
adolescentes desses bairros são oriundos de famílias de migrantes e de
trabalhadores da indústria calçadista no próprio município ou nas cidades
vizinhas. O co diano dessas crianças e adolescentes é, dessa forma, permeado
por situações concretas muito familiares para a maioria da população urbana,
mas que incidem de forma mais acentuada sobre esse grupo social.
Novo Hamburgo tem uma população de 56.580 crianças e adolescentes
entre 5 a 19 anos, conforme dados da Fundação de Economia e Esta s ca (FEE).
5
Segundo a FEE, com relação à educação, em em 2017, foram realizadas 27.844
matrículas no Ensino Fundamental e 8.180 matrículas no Ensino Médio em
Novo Hamburgo. O número de estabelecimentos de Ensino Fundamental
12
4h
p://www.exclusivo.com.br/_conteudo/2017/08/negocios/
213645-rs-responde-por-40-das-exportacoes-de-calcados.html
5 É importante ressaltar que a FEE disponibiliza os dados nos seguintes intervalos etários: 5 a 9 anos,
10 a 14 anos e 15 a 19 anos. O valor mencionado é a soma dessas faixas etárias.
soma 92 escolas e são 20 os estabelecimentos de Ensino Médio (FEE).6 O
percentual de crianças em domicílios onde ninguém tem o ensino fundamental
6
completo, em 2010, era de 32,63% (FEE) e de crianças em situação
de extrema
pobreza era de 1,74%. Conforme dados da Secretaria Municipal de Educação de
Novo Hamburgo, a rede municipal de educação tem mais de 23.600 alunos. Em
2017, o índice de reprovação foi de 6,42% e 115 alunos evadiram.
7
No que se refere à saúde, a taxa de mortalidade infan l média de Novo
Hamburgo é de 9.36 para 1.000 nascidos vivos e, em 2009, o município contava
com 37 estabelecimentos de saúde vinculados ao Sistema Único de Saúde
(SUS), conforme o IBGE. Além disso, dados do Cadastro Único do município, de
novembro de 2018, apontavam que 3.782 famílias de Novo Hamburgo, com
crianças entre 6 e 18 anos, recebiam o Bolsa Família.
Com relação à pesquisa, a coleta de dados qualita va e quan ta va do
projeto De Ponta a Ponta foi desenvolvida em cinco territórios do município de
Novo Hamburgo:
6 Dados da Fundação de Economia e Esta
s ca (FEE), disponíveis em:
h ps://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/novo-hamburgo/panorama
7 h ps://www.jornalnh.com.br/_conteudo/2018/02/no cias/regiao/
2238572-2018-o-ano-de-elevar-a-media-na-educacao-em-novo-hamburgo.html.
13
OS CAMINHOS PERCORRIDOS
O campo pesquisado é complexo, tanto pelas diferenças econômicas,
sociais e culturais encontradas, como pela situação de vulnerabilidade das
áreas pesquisadas. Por isso, a metodologia combinou a pesquisa qualita va e
quan ta va de forma híbrida.
A pesquisa qualita va tem suas raízes na antropologia, com a u lização
de metodologia de inspiração etnográfica. É uma das metodologias mais
adequadas quando se tem como obje vo conhecer subje vamente e em
profundidade as percepções, os sen mentos e os códigos presentes na
comunidade sobre o tema em estudo. A etnografia é um processo que não
segue padrões rígidos, mas que se desenha a par r do trabalho de campo no
contexto social da pesquisa. Por isso, os instrumentos de coleta e análise são
formulados para atender à realidade encontrada no campo.
A abordagem etnográfica para a inves gação traz importantes
contribuições para estudos que se interessam pelas questões sociais, por
processos de exclusão, pelas situações de interações sociais e estudo de
estruturas sociais, conferindo aos atores e às atrizes e aos sujeitos envolvidos,
uma par cipação a va e dinâmica no processo. Isso ocorre porque há uma
imersão sistemá ca, uma convivência e observação detalhada do campo da
pesquisa.
Na pesquisa realizada, foram combinados métodos e técnicas para a
coleta de dados tais como: a imersão em campo, a entrevista em profundidade,
a realização de grupos focais, a observação e conversas informais que
compuseram a parte qualita va da pesquisa. Além disso, a parte quan ta va
foi composta pela aplicação de ques onários com pais/responsáveis e com
adolescentes.
A variedade de técnicas se jus fica pelo entendimento de que há uma
importante complementaridade entre elas e que, dessa forma, a coleta de
dados é mais consistente, permi ndo um maior aprofundamento na
interpretação das informações recebidas.
14
A imersão é uma técnica u lizada para ouvir as pessoas no seu ambiente
natural. A imersão na comunidade tem papel fundamental para colocar o
pesquisador inserido na realidade que irá estudar. Consiste na abordagem de
pessoas e ins tuições (Centros de Referência de Assistência Social – CRAS,
Unidades Básicas de Saúde – UBS, escolas, associações de bairro, por exemplo)
por pesquisadores(as) que estabelecem uma conversa sobre o tema em
estudo. As imersões do De Ponta a Ponta foram realizadas por uma dupla de
pesquisadores(as), com duração de aproximadamente cinco dias por
comunidade, com visitas em escolas, associação de moradores, creches,
praças, comércio local, postos de saúde, CRAS, organizações da sociedade civil,
entre outros espaços.
Já o grupo focal busca ouvir vários indivíduos ao mesmo tempo e
obje va a conquista de informações, sen mentos, posturas corporais que
revelam intenções que buscam compreender e não generalizar. Os grupos
focais possibilitam profundidade e qualidade das verbalizações e expressões
que são importantes quando se quer ouvir as pessoas, explorar temas de
interesse e realizar troca de impressões e opiniões.
Na pesquisa, foram realizados dois grupos focais ou rodas de conversa
por território, envolvendo lideranças comunitárias, professores(as), agentes de
saúde, profissionais de organizações da sociedade civil, técnicos(as) dos
serviços e equipamentos públicos, entre outros. As reuniões foram registradas
em áudio e vídeo.
A parte quan ta va permite mensurar os diferentes aspectos
levantados na pesquisa. É a metodologia mais adequada quando se tem como
obje vo conhecer numericamente as questões relacionadas a perfil,
comportamentos e opiniões. O De Ponta a Ponta u lizou um ques onário
composto de 72 questões para adolescentes e outro instrumento com 44
questões para pais/mães e responsáveis.
O trabalho de campo (qualita vo e quan ta vo) foi realizado no
período de outubro a dezembro de 2018. Foram realizadas entrevistas formais
e informais com técnicos e técnicas (assistentes sociais, coordenadores dos
Centros de Referência em Assistência Social – CRAS, por exemplo), agentes de
saúde, lideranças comunitárias, adolescentes, pais e responsáveis,
profissionais da educação e profissionais que atuam em organizações da
sociedade civil que atendem crianças e adolescentes. Os ques onários
(entrevistas) foram aplicados com 570 adolescentes e 450 pais/responsáveis,
totalizando uma amostra de 1.020 pessoas.
15
RETRATO DOS PARTICIPANTES
O grupo que compõe a coleta de informações da parte quan ta va da
pesquisa (imersão, entrevistas e grupos focais) é bastante heterogêneo,
composto por 450 pais/responsáveis e 570 adolescentes. As idades dos pais e
responsáveis são bastante variadas, assim como sexo, profissão e atuação
profissional, local de residência, etc.
Perfil da amostra quan ta va
formada por pais e responsáveis
Com relação aos pais/responsáveis, a maioria das respondentes é do
sexo feminino (82,7%) e a média de idade é de 38 anos. Chama a atenção esse
dado, que se relaciona diretamente com outra informação, que será mostrada
mais adiante, apontado pelos(as) adolescentes, que têm, na grande maioria, as
mães como responsáveis pelo domicílio (70%). Quase 70 % das pessoas
entrevistadas moram há mais de 10 anos no bairro e 55,8% possuem o ensino
fundamental incompleto.
16
Perfil da amostra quan ta va - Pais/responsáveis
Sexo
17,3%
Feminino
Masculino
82,7%
Perfil da amostra quan ta va - Idade
17,30%
18,0%
15,80%
16,0%
13,60%
14,0%
12,90%
11,60%
11,30%
12,0%
10,0%
8,0%
5,60%
6,0%
4,0%
3,80%
3,10%
3,10%
2,0%
2,0%
0,0%
Menos
de 20
De 20
a 25
De 26
a 30
De 31 a 36
De 37
a 41
De 42
a 45
De 46
a 50
De 51 a 55
De 56
a 60
De 61
a 65
66 e mais
Perfil da amostra quan ta va - Pais/responsáveis
Quanto tempo mora no bairro
69,10%
5,10%
Menos de 1
ano
8,90%
1 a 3 anos
9,80%
4 a 6 anos
6,20%
7 a 10 anos
0,90%
mais de 10
anos
não sabe
/não
respondeu
17
Perfil da amostra quan ta va - Pais/responsáveis
Escolaridade
2,2%
0,9% 1,6%
Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
14,2%
Ensino Médio Incompleto
9,8%
55,8%
15,6%
Ensino Médio Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
Não frequentou a escola
A pesquisa quan ta va buscou priorizar os territórios e áreas de maior
vulnerabilidade social. Isso se deve ao entendimento de que o público dessas
localidades, dentro dos territórios, é também o que tem mais dificuldade de
acesso a serviços e equipamentos públicos e aos atendimentos a crianças e
adolescentes no turno inverso ao da escola. Dessa forma, 72% da amostra pode
ser enquadrada, dentro dos critérios de classe social estabelecidos pelo IBGE
8
(pelo salário mínimo), como pertencentes à Classe E.
É importante destacar que o conceito de classe social é bastante
u lizado a par r dessa estra ficação feita pelo IBGE que mostra especialmente
as classes de consumo. No entanto, essa classificação dificulta o entendimento
dos fenômenos e variedades sociais. Sendo assim, é importante pensar nesses
enquadramentos de classes a par r das diferentes posições sociais, que são
ocupadas no mesmo espaço social e estão inter-relacionadas, ou seja, são
posições que existem em relação a outras e são par lhadas entre aqueles que
possuem algo em comum (qualidades, propriedades, atributos, por exemplo).
Por isso, temos um sistema de relações sociais, que forma uma estrutura social,
8 O estabelecimento de classes sociais u
18
lizada pelo IBGE no censo populacional a cada dez anos,
é baseada no número de salários mínimos (SM). Divide em cinco faixas de renda ou classes sociais
Classe A (acima de 20 SM); Classe B (10 a 20 SM); Classe C (4 a 10 SM); Classe D (2 a 4 SM) e
Classe E (até 2 SM). Trata-se de um critério de cálculo fácil e obje vo, mas que leva somente em
consideração o salário atual da pessoa. Vale ressaltar existe, também, o Novo Critério Brasil, desde
2015, u lizado por ins tutos de pesquisa de mercado e opinião. Esse instrumento u liza a presença,
uso e quan dade de alguns itens domiciliares de conforto (como uso diário de computador,
lavadora de louças, presença de água encanada, rus asfaltada no domicílio, número de
eletrodomés cos, etc) e grau escolaridade do chefe de família para diferenciar a população.
O critério atribui pontos em função de cada caracterís ca domiciliar e realiza a soma destes pontos.
É feita então uma correspondência entre faixas de pontuação do critério e estratos de classificação
econômica definidos por A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E.
que comporta uma série de hierarquias e diferenças, fazendo o espaço social
ser um local de disputa e de busca por igualdade.
A classe social é uma categoria técnica de classificação, mas ela descreve
fatos e indica distâncias sociais que separam e dividem as pessoas em grupos a
par r das circunstâncias nas quais essas pessoas e grupos vivem. Esses grupos
subordinam-se uns aos outros, por estarem estra ficados e diferenciados pelas
suas caracterís cas. Isso tudo cons tui uma dimensão simbólica de diferença,
mas também uma dimensão polí ca, que coloca essa diferença em um nível
hierárquico. Por isso, é importante pensar na classe social em sua totalidade de
relações e representação.
Os dados da pesquisa apontam para outras caracterís cas que se
referem as condições sócio econômicas dos(as) respondentes, como mostram
os gráficos:
Perfil da amostra quan ta va - Pais/responsáveis
Renda
Boa Saúde
Santo Afonso
Kephas
Canudos
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Roselândia
19
Perfil da amostra quan ta va - Pais/responsáveis
Exerce a vidade remunerada e po de vínculo (dos que trabalham)
Sempre
Quase sempre
53,6%
47,3%
44,4%
De vez em quando
45,1%
Não
Formal
Informal
Não respondeu
4,2%
4,0%
1,3%
Perfil da amostra quan ta va - Pais/responsáveis
Par cipação em Programa Social
62,9%
35,3%
1,8%
Nenhum
Bolsa Família
Outro
A composição do perfil da amostra quan ta va de pais e responsáveis
também traz dados sobre as condições do domicílio dos(as) respondentes.
9
Cerca de 77% afirmaram que possuem terreno próprio e 17,6% estão em
terrenos compar lhados. A energia elétrica é própria em 87,1% dos domicílios
e compar lhada em 12%. A rede de esgoto está presente em 83,6% das
20
9
Importante destacar que alguns entrevistados vivem em ocupações e áreas de risco e consideram
esses espaços como próprios, por não despenderem recursos com aluguel, por exemplo.
residências e é compar lhada em 7,6%. Em torno de 7,8% da população afirma
que não possuem rede de esgoto nas moradias. Sobre acesso à internet, 63,3%
possuem acesso e 31,3% não têm. A coleta de lixo alcança 96% dos domicílios,
sendo que os demais 4% não têm ou não sabem responder. Com relação à
pavimentação, 30% dos acessos aos domicílios são de terra, 34,9% afirmam que
são de pedra, 34,7% têm pavimentação asfál ca.10
10 Aqui são apresentados os principais números. Optou-se por não descrever, em alguns casos,
a porcentagem do item “não sabe” ou “não respondeu”, assim como informações que não
influenciam de forma incisiva nos números gerais.
21
Perfil da amostra quan ta va
formada pelos(as) adolescentes
O público alvo da pesquisa quan ta va, como já descrito, foi dividido
em dois grupos:
· pais e responsáveis, que responderam ao ques onário por serem pais
e/ou responsáveis por crianças de até 12 anos;
· e adolescentes, que responderam ao instrumento específico
elaborado para eles, buscando dar voz para que possam manifestar
suas opiniões.
Os(as) adolescentes que responderam ao ques onário têm idades
entre 12 e 19 anos, sendo 51,8% do sexo feminino, 47,9% do sexo masculino e
0,4% iden ficaram-se como outro sexo. O ar go 2º do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) considera criança, para efeitos da Lei, a pessoa até doze anos
de idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de
idade.
Perfil da amostra quan ta va - Adolescentes
Idade
1,8% 0,4%
7,3%
9,8%
15,1%
20,5%
16,2%
29,0%
12 anos
22
13 anos
14 anos
15 anos
16 anos
17 anos
18 anos
19 anos
Vale ressaltar que, apesar dos ques onários terem sido aplicados em
locais públicos (como praças e na rua), grande parte da aplicação com
adolescentes foi realizada em escolas, dessa forma, a amostra é composta por
96% de adolescentes que frequentam uma ins tuição escolar. Segundo a
Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD) 2015 do IBGE, a população
entre 15 e 17 anos de idade fora da escola na região sul do Brasil é de 216.592, o
que corresponde a 15,4% (a média brasileira é 15%). Algumas causas apontadas
para estar fora da escola são: ter que trabalhar para auxiliar a família e a
11
ocorrência de gravidez precoce. Além do abandono escolar, há ainda questões
12
como analfabe smo, persistência de elevada distorção idade-série e restritas
oportunidades de acesso à educação profissional que delineiam o cenário
educacional dos(as) adolescentes no Brasil.
Ainda com relação à escola, a maioria (67,2%) frequenta escolas
estaduais, 27,9% frequentam escolas municipais, 0,9% estão em escolas
par culares e 4% não respondeu a essa questão. Os(as) adolescentes que
compõem a amostra estão divididos entre o 5º ano do Ensino Fundamental (EF)
e o 3º ano do Ensino Médio (EM).
11A cada mil adolescentes brasileiras entre 15 e 19 anos, 68,4 ficaram grávidas e
veram seus bebês,
diz relatório da Organização Mundial da Saúde.O índice brasileiro está acima da média
la no-americana, es mada em 65,5. No mundo, a média é de 46 nascimentos a cada mil.
12
Por isso, na amostra, temos adolescentes com mais de 16 anos que integram a coleta de dados.
23
Perfil da amostra quan ta va - Adolescentes
Ano escolar
31,9%
24,0%
14,4%
13,9%
9,1%
2,1%
0,2%
0,4%
4,0%
A grande maioria dos(das) adolescentes vai até a escola a pé (72,8%),
1,9% vai de bicicleta, 6,7% vão de carro, 10,9% u lizam o transporte cole vo
(ônibus), 1,6% vão de moto, 0,7% u lizam o metrô (Trensurb) e 1,4%
declararam ir de outra forma.
Sobre o exercício de a vidades remuneradas, a maioria da amostra não
desenvolve a vidades pelas quais recebam remuneração.
Perfil da amostra quan ta va - adolescentes
Exerce a vidade remunerada?
79,5%
6,8%
24
5,8%
4,7%
1,9%
1,2%
Com relação aos territórios pesquisados, a amostra se apresenta da
seguinte forma:
Perfil da amostra quan ta va - Adolescentes
Bairro
135
130
115
110
80
22,8
23,7
Boa Saúde
Santo
Afonso
20,2
Canudos
19,3
Kephas
14
Roselândia
Número entrevistados (Total: 570 adolescentes)
%
Com relação ao domicílio, os números apontam que, em média, residem
4,47 pessoas no domicílio do(a) adolescente, distribuídos da seguinte forma:
Número de moradores maiores
Número
1
2
3
4
5
6
7
9
11
%
13,2
56,0
22,0
5,7
1,8
0,6
0,4
0,2
0,2
Número de moradores menores
Número
11
9
8
7
6
5
4
3
2
1
%
0,4
0,2
0,2
0,2
0,6
3,9
8,7
18,7
29,5
37,7
25
Sobre a cons tuição familiar ( po de família), a maioria dos(as)
adolescentes respondeu viver em uma família nuclear. A Escola Nacional de
Mediação e Conciliação (2017) define os pos de família como:
ü Nuclear: onde pai, mãe e filhos vivem todos juntos;
ü Monoparental: os filhos vivem apenas com um dos pais.
ü Recomposta ou recons tuída: após o divórcio, a mãe ou o pai passa a
viver com outra pessoa.
ü Alargada ou ampliada: dentro da mesma casa residem os pais, os
filhos, os avós, os os, os primos etc.
ü Homoparental: composta por duas pessoas do mesmo sexo, sejam
homens ou mulheres que residem juntos.
ü Binuclear: composta por dois lares que se formam após o divórcio.
Ambos os pais permanecem responsáveis pelos cuidados dos filhos,
atendendo as necessidades deles de forma integral.
ü Família Poliafe va: consiste na relação entre mais de duas pessoas.
Na relação poliafe va todos são casados entre si, podendo inclusive
lavrar escritura pública para documentar a relação.
ü Família Subs tuta: Em hipótese, quando a família natural não está
sendo capaz de garan r os direitos decorrentes do princípio da
proteção integral, será promovida a colocação da criança e adolescente
em uma família subs tuta, compreendendo três espécies: a guarda, a
tutela e a adoção.
ü Família Unipessoal: é a composta por apenas uma pessoa.
26
Perfil da amostra quan ta va - Adolescentes
Tipo de família
1,1%
4,6%
0,9%
0,7%
7,5%
12,3%
55,8%
17,2%
Nuclear
Monoparental
Recomposta
Alargada
Subs tuta
Não respondeu
Homoparental
Unipessoal
A mãe foi apontada como responsável pelo domicílio na maior parte da
amostra. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do
Ins tuto Brasileiro de Geografia e Esta s ca (IBGE), o número de famílias
chefiadas por mulheres (aquelas que têm as mulheres como a principal
referência) mais que dobrou em 15 anos, passando de 14,1 milhões em 2001
para 28,9 milhões em 2015. O Ins tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),
a par r dos dados da PNAD, afirma que 34% das famílias chefiadas por
mulheres têm a presença de um cônjuge, mas também é elevado o número de
mulheres que não tem companheiros. Segundo o IBGE, em 89,1% dos divórcios,
a responsabilidade pela guarda dos filhos é concedida às mulheres.
27
Perfil da amostra quan ta va - Adolescentes
Responsável pelo domicílio
70,0%
17,9%
2,8%
1,9%
1,1%
1,3%
0,7%
0,5%
0,4%
1,8%
1,8%
O perfil dos(as) adolescentes que integram a amostra qualita va
também demonstra algumas caracterís cas que são “marcadores” da
adolescência e das culturas juvenis atuais. Navegar na internet e jogar online,
por exemplo, foram duas opções muito citadas pelos(as) pesquisados(as). A
questão apresentava 14 possibilidades de marcação, da qual os(as)
adolescentes deveriam escolher as três que mais fazem.
26
28
Perfil da amostra quan ta va - adolescentes
A vidades que mais faz no tempo livre
Navegar internet
Tarefas de casa
Jogar online
5,6%
9,1% 8,2%
1,6%
9,6%
Fazer esporte
42,3%
Dormir
15,8%
Redes sociais
16,5%
41,2%
Nada
Com amigos na rua
18,6%
Estudar/ler livros
Cuidar de menor
Com amigos em casa
33,3%
21,4%
A vidades culturais
Jogar offline
21,6%
Cuidar de idoso
31,6%
Além de responderem sobre as a vidades realizadas, os(as)
adolescentes manifestaram, de forma espontânea, três coisas que gostariam
de fazer no tempo livre.
Perfil da amostra quan ta va - adolescentes
O que gostaria de fazer no tempo livre
Meditação/Relaxar
Tomar chimarrão
Fazer parkur
Curso fotografia
Curso de artes/Desenho
Curso robó ca
Voluntariado/Acao Social
Tarefas de casa/Cuidar Criança/Cuidar Idoso
Ficar com família
Brincar
Namorar
Curso Instrumento/Canto/Música
Navegar internet/Computador
A vidades culturais/música/dança/teatro
Estar com amigos/rua/em casa/praças
Curso Informá ca/Computação
Sair/se diver r
Estudar/ler livros
Jogar online/offline/Videogame
Curso Profissionalizante
Trabalhar
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
29
Os(as) adolescentes apontaram “navegar na internet” como a a vidade
que mais fazem no tempo livre. 74,6% informaram que possuem internet em
casa, 16,7% acessam no celular. Apenas 1,4% u lizam a internet em espaços
públicos e 0,5% na escola. 2,5% da amostra navega na internet na casa de
amigos e parentes e 1,2% em outros locais. 1,2% não tem acesso a internet e
1,9% não respondeu.
O acesso diário à internet é apontado por 73,2% dos(as) adolescentes.
Apenas 2,5% afirmou acessar raramente e 0,7% disseram que nunca acessam.
10,7% acessa quase todos os dias e 10% acessa de vez em quando. 3% da
amostra não respondeu essa questão. Além disso, a presença nas redes sociais
também é majoritária: 88,8% possui perfil em alguma rede social digital.
Os assuntos mais buscados na internet são relacionados à música e
dança e também séries e TV. 13
Perfil da amostra quan ta va - Adolescentes
Assuntos que busca na internet
Música/dança
Séries/Tv
Pesquisas Escolares
59,3%
Esportes/Futebol
Dicas de Moda e Beleza
Emprego/Cursos
profissionalizantes
No cias
38,8%
34,9%
Namoro
Outros esportes
Outros
Não respondeu
16,1%
14,7%
10,9%
10,0%
5,6% 5,4%
13
26
30
3,3%
5,6%
Com relação ao uso da internet, como compara vo, a pesquisa TIC Kids Online , em sua sexta edição,
apontou que cerca de oito em cada dez crianças e adolescentes (85%) com idades entre 9 e 17 anos
eram usuários de Internet em 2017, o que corresponde a 24,7 milhões de jovens nesta faixa etária em
todo o país. Oito em cada dez crianças e jovens dizem que enviam mensagens instantâneas quando
conectados à Internet, 77% afirmam assis r a vídeos online, 75% ouvem músicas e 73% navegam em
redes sociais. Disponível em: h ps://ce c.br/pesquisa/kids-online/5 a 9 anos, 10 a 14 anos
e 15 a 19 anos. O valor mencionado é a soma dessas faixas etárias.
CONHECENDO A
AGRADECIMENTOS
REALIDADE DOS TERRITÓRIOS
O BAIRRO EM UMA PALAVRA
BATALHADOR
ESPERANÇA
PRECONCEITO VIOLÊNCIA CÉU
VONTADE POSSIBILIDADESCAMINHANDO
MISTURA POTENCIALIDADE
UNIÃO
SUPERAÇÃO
DIFICULDADE
FALTA INFRAESTRUTUTURA
AUMENTO DA POPULAÇÃO
AUXÍLIO SOLIDARIEDADE DIVERSIDADEDINÂMICO
AMOR
VULNERABILIDADE AMIZADE
DESAFIO LAR
PARTICIPAÇÃO NOVO
DOIS LADOS
Ao descreveram seus bairros em apenas uma palavra, os(as)
par cipantes dos grupos focais da pesquisa qualita va destacaram
caracterís cas marcantes de cada localidade: preconceito, vulnerabilidade,
desafio, falta de estrutura, violência e dificuldade; que possuem conotações
não posi vas, des nando ao bairro uma imagem de fragilidade e dificuldades.
Por outro lado, é importante destacar que esperança, superação, amizade,
solidariedade, amor, união, par cipação, vontade, novo, também são palavras
u lizadas como marcadores desses espaços, o que demonstra que, apesar dos
aspectos nega vos observados, a população desses territórios constrói ali seus
espaços de sociabilidade, de interação social e de pertencimento.
31
Foto: acervo Fundação Semear
O Bairro Boa Saúde
Dois lados
Aumento
populacional
Preconceito
BOA
SAÚDE
Vulnerabilidade
Dificuldade
CEU
Mistura
O bairro Boa Saúde integra Novo Hamburgo desde 1995.14A área
pertencia antes a São Leopoldo e a anexação foi aprovada por meio de um
plebiscito realizado em outubro de 1995. Os bairros limítrofes são
Petrópolis, Rincão e Primavera e também faz limite com o município de
Estância Velha. Área total é de 6,9 quilômetros quadrados. Os primeiros
moradores foram populações migrantes de outros municípios que
ocuparam a área. Segundo dados do IBGE (2010), o bairro Boa Saúde tem
uma população de 11.355 habitantes, que se dividem em 2.581 residências.
Em relação aos aspectos econômicos, há 24 indústrias, 70 pontos de
comércio e 64 serviços.
14 Disponível em: h
ps://www.jornalnh.com.br/_conteudo/2018/04/no cias/regiao/
2252637-conheca-um-pouco-da-historia-dos-bairros-hamburguenses.html
33
Na úl ma década, o bairro passou por inúmeras modificações e
vivenciou um expressivo crescimento populacional a par r da construção e
ocupação do Condomínio Novo Hamburgo. Esse conjunto habitacional
abrigou, incialmente, famílias provenientes do bairro Kephas. Esta nova
composição do bairro gerou inúmeros conflitos, uma vez que não foram
construídas estratégias de acolhimento para essa população e houve falta
de readequação dos equipamentos públicos para atender o aumento das
demandas, além da existência do preconceito em relação aos moradores
oriundos do bairro Kephas, devido à associação da região com a incidência
de criminalidade.
Nos relatos dos grupos focais, é evidente a compreensão dos(as)
par cipantes sobre o bairro e as dificuldades que percebem, como a
pobreza, a falta de escolas, falta de postos de saúde e de médicos nas
proximidades, além da questão do tráfico de drogas, da ocorrência de
assaltos e mortes violentas. Diante desse cenário é necessário o
desenvolvimento de um trabalho intenso para que haja melhorias efe vas. É
importante ressaltar, também, que a pesquisa qualita va apontou a
percepção de preconceito quando as pessoas dizem que moram no bairro
Boa Saúde, refle ndo a associação da condição de pobreza com a
criminalidade.
“Muita gente perdeu o emprego quando veio morar aqui. Meu
marido foi um. Por exemplo, eu morava no Kephas e trabalhava em Canudos,
vamos dizer. A minha irmã trabalhava em Canudos. Tinha um ônibus de
manhã que saia do Kephas e levava direto pra Canudos. E outras vezes o
ônibus da firma próprio. Pessoal veio morar aqui e muita gente ficou sem
emprego porque tu não nha como. O ônibus da firma não passava aqui, aí a
firma não quis pagar passagem, porque o custo ia ser muito grande. No fim,
as pessoas perderam o emprego e tem gente desempregada até hoje que
não consegue mais emprego. A maioria aqui sobrevive com Bolsa Família. Eu
digo 'sobrevive', porque não tem como viver.” (Moradora do bairro)
Ainda, percebem uma fragmentação do bairro na visão dos
próprios(as) moradores(as), segregando quem mora no Condomínio Novo
Hamburgo, popularmente conhecido como “casinhas”. Apesar dos conflitos
já terem sido atenuados, a dissociação entre os “moradores do bairro Boa
Saúde” e os “moradores das casinhas” é percep vel, implicando
26
34
34
diretamente na forma como os moradores acessam – ou não – os serviços e
equipamentos públicos e os demais espaços de atendimento presentes no
território.
“Logo que a gente veio morar aqui não nha ônibus, que nem agora
tem, não é suficiente. Quando nós viemos, nha menos horário ainda. A
maioria das vezes, a gente era obrigado a pegar os ônibus deles que faz o
i nerário aqui de cima, do Primavera... Tu quie nha só ouvindo no ônibus, tu
ouvia que só ladrão mora aqui.” (Moradora do bairro)
Além do es gma social dos moradores, as questões geográficas são
relevantes para o acesso da população aos serviços. A maioria dos
equipamentos públicos e outros espaços de atendimento está situada no
eixo central dos bairros Boa Saúde e Primavera, dificultando o acesso e a
vinculação da população mais vulnerável. Como exemplo, é possível citar o
15
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que fica situado no bairro
Primavera, muitas vezes impossibilitando o acesso da população ao serviço.
Ao indicarem o que tem no bairro, a percepção dos pais e
responsáveis apresenta:
15
O CRAS é uma unidade de proteção social básica do Sistema Único de Assistência Social, que tem por
obje vo prevenir a ocorrência de situações de vulnerabilidade e riscos sociais nos territórios, por meio
do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, do fortalecimento de vínculos familiares e
comunitários, e da ampliação do acesso aos direitos de cidadania. O CRAS tem como público
prioritário em suas ações os beneficiários de algum bene cio da assistência social, famílias em
situação de vulnerabilidade social devido a fragilização dos vínculos familiares ou com a comunidade.
O principal serviço do CRAS é o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF),
desenvolvido principalmente em grupos busca a par cipação da família para promover orientações e
prevenir situações de vulnerabilidade ou violência; O Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos busca reunir as pessoas, nas suas respec vas faixas etárias, crianças e adolescentes ou idosos,
para o desenvolvimento de ações em grupos visando a prevenção a situações de vulnerabilidade e
violência, cons tuem-se em espaços de convivência e fortalecimento de vínculos com a comunidade;
É previsto, também, o serviço no domicilio para pessoas com deficiência ou idosos que não tenham
condições de buscar pelos serviços no CRAS ou na sua comunidade; Realiza ações na comunidade
que es mulem à convivência comunitária, divulgação do acesso aos direitos, a par cipação da
comunidade na construção da vida pública do seu território etc.
35
Indique o que tem no Bairro - Boa Saúde
(Pais e Responsáveis)
93,4%
87,9%
86,8%
80,2%
70,3%
67,0%
62,6%
61,5%
41,8% 41,8%
31,9%
29,7% 29,7%
22,0%
22,0%
22,0%
18,7%
18,7%
14,3%
12,1%
5,5%
36
26
O território conta com equipamentos públicos e privados que
disponibilizam algumas a vidades extracurriculares ou no contraturno para
crianças e adolescentes. Contudo, a percepção é de que a rede é fragmentada e
as ações não são ar culadas entre os serviços. Além disso, em algumas
situações verifica-se que as equipes são insuficientes e/ou incompletas. As
inicia vas comunitárias encontram-se fragilizadas e as ações sofrem com a
descon nuidade, com realização apenas pontual.
O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos desenvolvido
pelo CRAS, oferecido pela polí ca de assistência social, é realizado por
inscrições e mediante a liberação de vagas, após a análise da situação de
vulnerabilidade social. São priorizadas situações que envolvam trabalho
infan l, atraso escolar e acolhimento ins tucional. Entretanto, segundo os(as)
técnicos(as), os recursos para a manutenção e a criação de novas a vidades não
são suficientes. “Ano passado, a gente nha um serviço de convivência em duas
tardes, mas ficamos sem educador e vemos que fechar.” (Técnico/a)
Também existem inicia vas privadas (organizações da sociedade civil)
reconhecidas no território como a União Jovem do Rincão (UJR), que atende,
em média, 100 crianças e adolescentes nas a vidades, mas que ressalta que o
bairro tem uma demanda reprimida de ações voltadas para crianças e
adolescentes.
“A gente (...) tem alunos e uns de extrema dificuldade socioeconômica.
Tem vários alunos do residencial ali que par cipam com a gente. Até pouco
tempo nha muita resistência, até pelo próprio local, com a praça CEU, e ou é
tudo assim. A gente tenta captar algumas coisas com eles, conversar. Então tem
várias combinações que a gente tem com os alunos. (...) A gente tenta trabalhar
alguma coisa, mas (...) tem demanda de pessoas que buscam (...) até pela pouca
a vidade que tem dentro do bairro, né? Tem muitos alunos. A gente tem 6
pontos dentro da cidade que a gente a nge ao todo são 100 alunos. A gente
chega até 130, até com lista de espera.” (Técnico/a)
A presença das igrejas também é percebida no território (Pastoral da
Igreja Católica e Projeto Conexões da Igreja Luterana), que desenvolvem ações
pontuais por meio de grupos de jovens. En dades como o CTG e a Escola de
Samba Cruzeirinho disponibilizam cursos de dança e capoeira. O Ins tuto Ilda
Maciel e a Associação de Moradores oferecem algumas a vidades como
capoeira, zumba e judô. Porém, segundo o relato dos (as) (as)
37
entrevistados(as), as ins tuições estão frágeis, sem aportes financeiros e as
ações acontecem esporadicamente. Os(As) jovens do bairro costumavam
acessar um projeto da Associação Atlé ca Banco do Brasil (AABB), mas o
programa foi ex nto em 2017, devido à dificuldade de manutenção.
Os relatos evidenciam a inexistência de uma rede de atendimento a
crianças e adolescentes e a falta de ações estruturadas, seja pela ausência de
inves mentos privado – um reflexo do contexto sócio econômico, polí co e
cultural do país – ou pela dificuldade de sustentabilidade das a vidades
executadas por organizações comunitárias.
Em relação à educação, os(as) par cipantes da pesquisa apontaram que
as escolas existentes não atendem a demanda da população.
“Eu vou comunicar vocês que eu já pedi uma reunião aqui com a
Secretaria de Educação, nós vamos debater isso aí. Eu não botei a minha no
colegião, porque eu acho um desaforo, um descaso isso aí. (...) E eu não
matriculei a minha e eu disse 'já comuniquei o conselho tutelar' porque a S. tá há
dois anos sem estudar. Eu fui no conselho e comuniquei que não nha condições
de pagar a passagem e eu não vou mandar ela a pé. Da outra vez, as outras duas
minhas estavam estudando lá no Primavera e nha e ir e voltar e foram
assaltadas na estrada de noite. Tirei elas do colégio na mesma hora e fui no
conselho e comuniquei 'não vão mais'. Eu prefiro uma filha minha burra e viva,
do que inteligente e morta.” (Moradora do bairro)
Não existem escolas de Ensino Médio no território e apenas uma escola
de Ensino Fundamental é iden ficada pela população, que é a Escola Estadual
de Ensino Fundamental Jair Foscarini (do sexto ao nono anos). É importante
destacar que foi recorrente a associação da escola com questões de violência,
criminalidade, tráfico e outros conflitos, além da percepção de uma grande
resistência dos pais em relação à escola.
Contudo, a escola tem sofrido readequações e reformas, após
incidentes, não apenas no que se refere questões estruturais, mas também no
corpo técnico. Com isso, é percep vel uma maior ar culação entre a escola e os
serviços e equipamentos públicos de assistência social, em uma tenta va de
desenvolver ações mais integradas para a minimização da evasão escolar,
um dos principais desafios do bairro com relação à educação.
38
26
Outro ponto citado é a questão cultural do bairro com relação à
escolaridade:
“O que eu traria assim de mais marcante é a cultura da família de baixa
escolaridade e aí não es mula que a criança par cipe e frequente a escola e não
ter a escola no bairro. Então pensa, tu já não tem um es mulo em casa pra ir na
escola, e aí tu tem que sair 6h da manhã, abaixo de temporal, caminhando,
porque não tem recurso pra vir até o Clemente a pé, caminhando,
caminhando...é uma coisa muito marcante. Bom, os que con nuam frequentes
e que conseguem garan r ali, passar de ano e romper com aquela cultura da
família são guerreiros, assim. Porque é muita dificuldade.” (Técnico/a)
As ações de contraturno ofertadas pela educação são pouco
percep veis entre os(as) moradores(as). O município, por meio da Secretaria
Municipal de Educação (SMED) desenvolve o projeto Movimentos e Vivências
na Educação Integral (MOVE).
Com relação a espaços de sociabilidade, o Centro de Artes e Esportes
Unificados, conhecido como Praça CEU, é o único espaço de sociabilidade de
16
jovens e adolescentes consolidado no território. O complexo foi construído
para concentrar diversas a vidades de cultura, lazer, arte e esportes e está
situado nas imediações do Condomínio Novo Hamburgo. Inicialmente, o prédio
abrigaria uma unidade do CRAS mas até o momento da pesquisa de campo não
se concre zou. É possível inferir que a fragilidade das equipes técnicas
inviabiliza o desenvolvimento de algumas a vidades e serviços.
A Praça CEU oferece a vidades no contraturno escolar, como jogos,
aulas de jiu-jitsu, capoeira, dança, informá ca, oficinas de comunicação, horta
comunitária e EJA. A Secretaria de Cultura é responsável pelo espaço e algumas
a vidades oferecidas fazem parte do Programa Municipal de Desenvolvimento
Integrado, parceria da Prefeitura Municipal com o BID que será encerrada em
2019.
16 A Praça CEU possui quadras espor
vas, área de jogos, salão, playground, equipamentos de ginás ca e
quadra coberta e integra em um mesmo espaço sico, programas e ações culturais, prá cas espor vas
e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços socioassistenciais, polí cas de
prevenção à violência e inclusão digital. O Centro possui uma área de 3.000 m² e é composto por dois
edi cios mul uso, que abrigarão o Centro de Referência e Assistência Social (CRAS Boa Saúde), uma
biblioteca com 2.250 livros, sendo 250 para atender pessoas com necessidades especiais de leitura,
um telecentro com 12 computadores, um cineteatro/auditório com 60 lugares, quadra poliespor va
coberta, pista de skate, equipamentos de ginás ca, mesas de xadrez, playground e pista de
caminhada, além de salas mul uso. Ver: h p://cultura.novohamburgo.rs.gov.br/modules/conteudo/
conteudo.php?conteudo=10
39
A situação da saúde no bairro também foi citada como um desafio,
devido ao aumento da demanda, decorrente do aumento populacional e da
escassez de profissionais atuando no serviço. Inicialmente, segundo os(as)
par cipantes da pesquisa, havia a previsão da construção de uma unidade
de saúde nas imediações do Condomínio, mas o projeto não se concre zou.
“Os moradores daqui só são atendidos pela médica que atende esta
área. Se ela falta, outro não atende, mas isto não acontece com os outros
moradores, só com quem é daqui.” (Moradora do bairro)
“Tem muitas pessoas precisando de atendimento e poucos médicos,
além de pessoas que não estão cadastradas no Sistema Único de Saúde (SUS)
e precisam de atendimento. (...) O bairro aumentou em população, mas sua
estrutura permaneceu a mesma, o que prejudica os moradores.” (Agente de
Saúde)
Ao longo da pesquisa, as fragilidades do bairro com relação aos
serviços de atenção e cuidado des nados a crianças e adolescentes ficam
evidentes. O Condomínio Novo Hamburgo destaca-se pelo contexto de
vulnerabilidade vivenciado pela maioria de seus moradores, que não está
inserida formalmente no mercado de trabalho, possui baixa escolaridade,
tem sua subsistência ancorada nos programas sociais e trabalhos informais,
principalmente com reciclagem.
Há a percepção, por parte dos(as) integrantes da amostra, dessas
dificuldades, bem como das falhas do poder público no que diz respeito ao
transporte público, à educação, à geração de emprego e renda. Ainda que a
situação seja desanimadora, a população demonstra um perfil ques onador
e atuante, buscando realizar reuniões com representantes de secretarias,
diálogos com o poder público e até mesmo protestos por melhorias no
bairro.
40
Esse cenário, com caracterís cas marcantes de exclusão e negação
de direitos implica em um ambiente árido para o desenvolvimento de
crianças e adolescentes, marcado pela vulnerabilidade e pelo aliciamento
constante pelo tráfico. O contexto de pobreza leva adolescentes a
contribuírem de forma mais efe va no sustento da família, limitando o
acesso e a permanência na escola e potencializando a evasão escolar.
O ciclo de pobreza e marginalização não é quebrado, pois os
adolescentes e jovens são empurrados para o trabalho informal ou para o
crime. Nesse sen do, as percepções dos pais e responsáveis, dos
técnicos(as) e dos(as) próprios(as) adolescentes estão alinhadas: apontam
para a necessidade da construção de programas que preparem os(as)
adolescentes para o mundo do trabalho, aliando a educação formal e a
capacitação técnica, prevendo subsídio ou remuneração para os
par cipantes.
41
Foto: Leonardo Savaris jan. 2019
42
O Bairro Canudos
Diversidade
Possibilidade
Desafio
União
Vontade
CANUDOS
Desejo
Complexidade
Amplitude
Potencialidades
Vulnerabilidade
Saberes
Diversos
O bairro Canudos é maior bairro urbano do município de Novo
Hamburgo e também tem a maior população, com 62.292 habitantes (IBGE,
2010) em uma área de 14,1 km². O nome é uma referência à Revolta de
Canudos, ocorrida no fim do século 19, no interior da Bahia, que foi
imortalizada na obra Os Sertões, de Euclides da Cunha. O bairro conta com
13.155 residências, 415 indústrias, 969 pontos de comércio e 1.146 serviços
(IBGE).
Originalmente, o bairro concentrava um grande número de fábricas
de calçados e se estruturou a par r dessa demanda. Com a crise que a ngiu
o setor calçadista, a presença das indústrias atualmente é
44
modesta, mas o bairro conta com um eixo comercial bem estruturado e a
presença de diversos equipamentos e serviços públicos.
Canudos é um bairro importante para a economia do município, pois
tem um comércio forte, onde se localizam diversos bancos, fábricas, lojas e
também é um bairro fortemente residencial.
Devido à dimensão territorial, o bairro Canudos é muito
heterogênero, composto por localidades com caracterís cas
socioeconômicas bastante dis ntas. Diante disso, entendendo a importância
de retratar contextos de maior dificuldade de acesso a atendimento para
crianças e adolescentes, a pesquisa concentrou-se em localidades que
apresentam mais vulnerabilidade e exposição a riscos. Dessa forma, foram
contemplados na pesquisa a Vila Kipling, Morada dos Eucaliptos, Marisol e
Vila Flores, que são comunidades que apresentam situações similares,
ancoradas na presença consistente do tráfico de drogas, nas situações de
pobreza, miséria e na localização periférica, que dificulta o acesso aos
principais serviços.
Ao iden ficarem o que o bairro apresenta, os pais e responsáveis
afirmaram:
95,6%
91,1%
87,8%
83,3%
Indique o que tem
no Bairro - Canudos
(Pais e Responsáveis)
57,8%
51,1%
50,0%
52,2%
44,4%
41,1%
38,9%
30,0%
37,8%
33,3%
28,9%
35,6%
23,3%
13,3%
12,2%
14,4%
5,6%
45
A rede de atendimento a crianças e adolescentes encontra-se em
uma situação peculiar e desafiadora. O território conta com alguns
equipamentos públicos e privados, que disponibilizam a vidades no
contraturno para crianças e adolescentes. Contudo, a rede é fragmentada e
as ações não parecem ar culadas, com uma compreensão incipiente do
território. As inicia vas comunitárias estão fragilizadas, mantendo algumas
ações pontuais e descon nuadas.
Em relação aos serviços e equipamentos públicos, o CRAS se
apresenta como um importante e sintomá co espaço para a compreensão
dos códigos culturais do bairro e dos(as) atores(atrizes) mais relevantes
nesse cenário. No CRAS existe o Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos (SCFV), estabelecido na polí ca de assistência social. No entanto,
desenvolve a vidades pontuais como: horta comunitária, oficinas de
fotografia e vídeo, entre outras. O local de atendimento do CRAS é novo e
bem estruturado, porém a equipe apresenta certa mobilidade de
técnicos(as), dificultando a consolidação de vínculos com usuários(as) e
também uma melhor compreensão do território.
O entendimento da demanda também é apontado na pesquisa. Os
projetos propostos mais recentemente não par ram, segundo
entrevistados(as), daquilo que o bairro e a comunidade considera mais
importante e também não apontam para a con nuidade das ações.
“O próprio BID que é muito interessante lida com recursos muito
grandes, né? Comparados com recursos do estado, do município... mas, eles
vem com um pacote de encomendas pronto e daí não vai funcionar. E a
questão da con nuidade, porque pra construir um espaço onde não há
uma cultura de grupo, onde não há uma cultura cole va ligada aos serviços,
eu tô dizendo, tu precisa de tempo. Um projeto de um ano vai ter muita
dificuldade de se sustentar. (...) O que me parece ser mais per nente é ter
projetos mais a longo prazo e que consigam sustentar esse tempo.”
(Técnico/a)
Outro ponto destacado é a localização geográfica que implica em
uma aderência menor aos serviços disponibilizados pelo equipamento. A
extensão territorial do bairro Canudos é muito expressiva e gera
dificuldades de locomoção para quem deseja par cipar das a vidades
oferecidas. A região conta, ainda, com duas Unidades de Referência em
46
Assistência Social (URAS), mas que precisam fortalecer o atendimento e as
vinculações de famílias de regiões de maior vulnerabilidade social. Sendo
assim, a localização dos serviços, associada à violência e ao tráfico de drogas,
bastante evidente em algumas regiões, amedrontam pais e mães e limitam o
deslocamento dos adolescentes. Segundo os(as) entrevistados(as), estava
prevista a implantação de dois CRAS no território, justamente pelas
complexidades e pela amplitude do bairro. No entanto, esse planejamento
não foi efe vado e o equipamento encontra dificuldades para atender as
demandas do bairro.
“Eles têm desejo, eles têm a vontade de que isso se transforme, que
isso mude. Que tenha mais ofertas, que essas ofertas sejam mais próximas
do território, da casa deles. Isso a gente tem dificuldade. Tem um projeto
aqui, outro lá. O bairro tem vários projetos, a gente precisa muito mais, mas
tem. (...) Tem o UJR, tem as unidades de referência, tem CRAS, tem alguns
espaços que oferecem, porém o território é muito grande e aonde tá o
público muitas vezes não tem. Se torna di cil pra eles terem o acesso. Eu
noto, eu botei bem isso, eles tem a vontade e o desejo.” (Técnico/a)
“É muito di cil num bairro eles deixarem seu filho ir sozinho até o
local. Vai passar por pontos onde tem tráfico, vai passar por determinados
lugares que os pais não vão deixar seus filhos irem sozinhos e eles trabalham
também, eles têm outros compromissos. Então, isso dificulta, por exemplo, ir
até o CRAS, para quem mora lá na Tancredo. Não tem como passar e vir, né?
Isso é uma das maiores dificuldades.” (Técnico/a)
O território também está contemplado com ações financiadas por
meio do PMDI BID. As a vidades desenvolvidas pelo projeto no território, no
eixo de esporte e lazer, são realizadas na Casa de Cultura e Cidadania e na
Unidade da Fase (oficinas de esporte, basquete, cultura hip hop, skate,
xadrez, mini vôlei, futebol e jiu-jitsu) entre outros. Também estão previstas
17
a vidades do eixo de comunicação do PMDI BID. Outras a vidades são
realizadas em parceria com escolas – CIEP e Salgado Filho – e espaços
comunitários
17
No momento da coleta de dados no campo, as a vidades ainda não haviam iniciado.
47
A Casa de Cultura e Cidadania sediava uma série de a vidades
financiadas pela Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo e a empresa AES
Sul. Contudo, o projeto foi descon nuado e o espaço, atualmente, recebe as
a vidades do PMDI BID, algumas ações do MOVE e do Programa Primeira
Infância Melhor (PIM), mas a falta de um serviço con nuo no local,
impossibilita que ele seja reconhecido como uma referência para moradores
do bairro ou um espaço consolidado de sociabilidade para adolescentes e
jovens.
A ausência de espaços seguros de sociabilidade é um problema
apontado pelos(as) entrevistados(as). Essa situação dificulta o vínculo de
crianças e adolescentes em ações propostas pelos equipamentos, uma vez
que não há um local de referência consolidado, restringindo as
possibilidades de vivências e prá ca de esportes no bairro.
“Acho que falta muito espaço. O meu filho é um adolescente de 16
anos. Eu moro no bairro. Ele tem a turminha dele, que são nove, dez
adolescentes e eles vão para Campo Bom para andar de skate.” (Liderança)
“Só tem essa praça aqui e se chove tu não pode vir depois. Ela fica
alagada quando chove.” (Técnico/a)
O território conta com a presença de algumas ins tuições privadas
que disponibilizam a vidades para crianças e adolescentes, como a União
Jovem do Rincão (UJR), citada pelos(as) entrevistados(as) também no Bairro
Boa Saúde. Porém, a maioria das ações não estão nas localidades que
centralizam os maiores contextos de vulnerabilidade. A extensão do
território dificulta a iden ficação dos serviços que são disponibilizados de
forma mais sistemá ca e existe, inclusive, a percepção de algumas
a vidades financiadas pelo tráfico.
Nesse cenário, foram iden ficadas a vidades desenvolvidas por
programas do poder público, inicia vas comunitárias e privadas ou ligadas a
igrejas, como: a vidades aos sábados para jovens (JUAD – ligado ao
Ministério Ba sta Cristo é Vida), capoeira e dança (a vidades pontuais da
Associação de Moradores da Morada dos Eucaliptos), grupo de
adolescentes mul plicadores em saúde (parceria da Unidade de Saúde da
Família – USF com a comunidade das Morada dos Eucaliptos) e o já citado
futebol social da UJR.
48
“(...) a gente tá no coração latente de Canudos. (...) A gente trabalha
dois dias na semana e cada turma a gente trabalha 1 hora e quinze minutos,
duas vezes por semana, então não é muita coisa. O que a gente percebeu é
que ali as famílias vêm pra assis r o projeto. Tem muita coisa pra gente fazer
ali, mas a gente não conseguiu fazer ainda. A gente pensou em fazer alguns
laços aqui com o CRAS pra 2019. A gente vai ter que amarrar isso, porque a
distância do CRAS lá pra Kipling, às vezes, pode ser um dificultador.”
(Técnico/a)
“Tem o UJR que é de futebol, e uma ação da Feevale. (...) Tem BID na
Casa de Cultura e Cidadania. (...) A ASBEM também, é uma associação
comunitária, talvez eles recebam alguma verba da prefeitura (...). Eles estão
sempre captando recursos, eles trabalham com profissionalização de jovens
e ampliaram alguns projetos do BID, algumas oficinas. Veterano, a escolinha
de futebol e tem o Americano também que é gratuito ou baixo custo para as
famílias. A cada dois meses, o CRAS faz o Portas abertas em um sábado. Até
quem não u liza o CRAS e quer conhecer, quem u liza também. São
a vidades diferentes que se oferece naquele dia, já se fez artesanato,
contação de histórias para as crianças, abraço grá s.” (Técnico/a)
A pesquisa apontou para as percepções dos(as) entrevistados(as)
que convergem para a necessidade do desenvolvimento de ações
integradas, que atendam às necessidades da comunidade e da população
mais vulnerável.
“A gente precisaria, sim, de serviço de convivência na Marisol e na
Vila Flores. Esses não têm a possibilidade de par cipar desses projetos pela
distância. A gente teria que ter mais profissionais para trabalhar
diretamente com eles e trabalhar mais esses potenciais que eu sei que
existem. Isso já ia fazer bastante diferença.” (Técnico/a)
Ainda, a pesquisa indica a necessidade de uma maior ar culação
entre os espaços de educação existentes no território, devido à falta de
interlocução e sinergia entre os serviços municipais e estaduais, evitando a
sobreposição de a vidades e buscando a construção de estratégias de
intervenção alinhadas. Essa dificuldade e os desafios encontrados no
território com relação ao tráfico de drogas, a limitação do repertório dos(as)
adolescentes em relação à formação profissional e ao trabalho, convergem
nega vamente para a evasão escolar.
49
Com relação à área de educação, a Escola Municipal de Ensino
Fundamental Francisco Xavier Kunst foi apontada de forma bastante
contundente como um exemplo de espaço integrador e importante para
crianças e adolescentes no bairro Canudos.
“Ao invés de entrar numa de sobrepor ações, fortalecer aquelas que já
tem. (...) A escola, ela olha o todo. Ela faz um seminário profissionalizante no
final do ano. Tem todo um trabalho de encaminhamento para o trabalho. Da
semana passada pra cá a orientadora conseguiu matricular todos do úl mo
ano no ensino médio. Ela conseguiu trabalhando junto ali desde pequenino
(...) É uma escola que quer que o aluno seja protagonista. Todo o movimento
que eu vejo eles fazendo ali, eles querem que o aluno seja o protagonista.
Eles não querem que tu vá lá e faça só por fazer. Eles querem que tu queira ir
lá fazer e que tu faça o teu melhor. (...) Pra trabalhar em cima do sonho, não
da obrigação.” (Técnico/a)
A forte presença de uma cultura industrial que valoriza o trabalho em
detrimento da educação limita a trajetória escolar dos(as) adolescentes e
jovens, uma vez que existe um es mulo con nuo para que sejam inseridos
no mercado de trabalho. Isso faz com que alguns e algumas adolescentes
exerçam a vidades laborais de forma clandes na em pequenos ateliers,
visto que uma trajetória escolar bem sucedida nem sempre agrega valor aos
sujeitos. Aliado a isso, existe a necessidade de os(as) adolescentes e jovens
colaborarem de forma consistente nas despesas domés cas,
potencializando a situação descrita. Nesse cenário, o tráfico se apresenta
como uma possibilidade de remuneração interessante, perpetuando um
ciclo de violência e marginalização.
“Uma questão cultural que se deve considerar, é de 'eu arrumar um
emprego' e não de 'eu construir um trabalho, uma renda'. Nas fábricas de
sapatos, têm muitas pessoas que abrem atelier. Eu era o chefe na fábrica e
depois eu abro um atelier e passo a produzir. Tem todo um movimento social
que se mobilizou por aí, mas muito em volta da fábrica de sapato.”(Técnico)
Buscando superar essas questões e na tenta va de apontar ações
que podem gerar impactos posi vos no território, os(as) entrevistados(as)
sugeriram a realização de cursos profissionalizantes remunerados para
adolescentes, prevenindo a evasão escolar; a criação de espaços de
50
sociabilidade para adolescentes e jovens, como pista de skate, ciclovia,
quadra de esportes, etc e a capilarização dos serviços públicos para áreas de
maior vulnerabilidade social.
“Aqui no bairro não tem nada de curso profissionalizante que eles
possam ter acesso, muito menos acesso à cultura, músicas, apresentações
(...) Tem uma centralização. (...) Na verdade não tem espaços dentro do
bairro pra esses adolescentes.” (Moradora do bairro)
Foto: Leonardo Savaris jan. 2019
51
Foto: acervo Fundação Semear
O Bairro Kephas
Solidariedade
Mu rão
Cidade
União
Violência
KEPHAS
Agito
Batalhadores
Esquecimento
Desafio
Superação
O Kephas é originariamente parte do bairro Diehl. O nome é em
homenagem a Emílio Diehl, que morou na região por mais de 60 anos. Os
bairros limítrofes são Roselândia, São José e São Jorge. Atualmente,
segundo o IBGE, contabilizam-se 9.341 habitantes divididos e, 2.143
residências.
O nome Kephas vem do Loteamento Kephas, construído em 1978,
em forma de mu rão, envolvendo a Prefeitura e os moradores da
comunidade. O loteamento possui caracterís cas dis ntas quando
53
comparado as demais localidades do bairro Diehl, sendo apontado como o
espaço mais vulnerável do território. Esta percepção está ancorada nas
representações sociais que permeiam as narra vas dos moradores, a
associação à violência, extrema pobreza e criminalidade. Além disto, o
loteamento é bastante heterogêneo, sendo composto por áreas de
ocupação irregulares com uma presença incipiente do poder público.
Os pais e responsáveis indicaram a existência de serviços,
equipamentos e organizações na localidade, conforme o gráfico:
Indique o que tem no Bairro - Kephas
(Pais e Responsáveis)
96,7%
98,9%
96,7%
91,1%
75,6%
71,1%
62,2%
53,3%
45,6%
43,3%
40,0%
40,0%
33,3% 33,3%
26,7%
21,1%
12,2%
5,6%
54
23,3%
11,1%
7,8%
As questões estruturais e sociais do Kephas são publicamente
conhecidas, como as ocupações do território que acarretam insegurança,
estrutura precária e exposição a riscos constantes. No entanto, é possível
perceber fatores que potencializam os processos de exclusão vivenciados
pelos(as) moradores(as), especialmente pelas crianças e adolescentes: o
es gma, as questões geográficas, as dificuldades de acesso aos
equipamentos e serviços públicos, a ausência de espaços des nados ao
esporte, ao lazer e a presença ostensiva do tráfico no co diano do bairro.
“Quando eu falei que ia vir pra cá disseram coisas: Tu cuida prá sair de
lá, né? (...) Sempre quando eu vou, tem uma brincadeira ou outra: Cuida pra
sair vivo de lá! Não sei, tem histórias que contam daqui que são bem
pesadas, o pessoal pelo menos que eu converso, tenta passar um pouco de
tranqüilidade, um pouco de amor pras pessoas. Não é tudo isso que falam.
Eu vejo na rua, claro que tem seus obstáculos, né? Mas não é tudo isso que
falam, pra mim é como um bairro normal, só que um bairro com mais
vulnerabilidade em certas regiões.” (Técnico)
“Eu percebi, muitas vezes, o preconceito das próprias pessoas daqui.
(...) A questão de segurança hoje não existe em lugar algum, inclusive no
interior do Estado, onde eu morei. (...) Por que a gente fala em preconceito
racial, em homofobia e tal, mas muitas vezes tem o preconceito com o local
que a pessoa mora.” (Técnico)
“Moro no Kephas há 22 anos. (...) Não gosto que falem mal do meu
Kephas, eu gosto do meu Kephas.” (Moradora do bairro)
Apesar desse contexto, o engajamento comunitário é um ponto
importante no território. O loteamento conta com três associações de
moradores e diversas lideranças comunitárias que desenvolvem ações no
bairro. Embora isso potencialize alguns conflitos de interesse, essa
caracterís ca singular parece ser um diferencial e uma potência no
território.
“Tem três associações aqui e mais um monte de gente que se
preocupa, que vai para a rua, que tenta manter nossos jovens longe do
tráfico. A gente não tá parado. Todo mundo, do seu jeito, tá tentando
melhorar o bairro.”(Liderança comunitária)
Com relação, especificamente, à atenção e ao atendimento a
crianças e adolescentes no Kephas, a rede é bastante frágil e não ampara as
55
demandas da comunidade. Existem ações sistemá cas e outras pontuais,
porém insuficientes. O CRAS e o Centro de Vivência Redentora (CVR) foram
apontados pelos(as) entrevistados(as) como referências no atendimento.
No entanto, devido à localização, o acesso é limitado, não alcançando uma
parcela bastante vulnerável da população do loteamento. A aderência ao
CRAS também é afetada e os(as) que têm mais acesso a esses serviços são
os(as) moradores(as) do Redentora. nononononononononononononnnnn
“A gente sabe que muitas crianças e adolescentes não conseguem vir
até aqui, dependem de um responsável para trazer e, se não ver quem traga,
não vem. Tem que subir a lomba e isso dificulta muito. Deixamos de atender
muitas pessoas que precisariam, e muito, dos serviços do CVR.” (Técnico/a)
“Na parte do projeto a gente perdeu bastante aluno pelo fato que eles
não subiam. 'Eu moro muito longe e daí não vou ir mais', 'o pai não tá
deixando' ou 'a mãe não tá deixando a gente ir e tal'. (Técnico/a)
O CRAS disponibiliza Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos (SCFV) e abriga parte das a vidades desenvolvidas pelo projeto
apoiado financeiramente pelo BID. São desenvolvidas oficinas de música
(orquestra) e a vidades de comunicação comunitária, esportes e lazer.
Porém, segundo os técnicos que atuam nos equipamentos, o acesso aos
serviços é parcial devido à localização do CRAS, que impossibilita a
integração da população mais desassis da ao projeto. Outra questão
apontada é que o projeto não terá con nuidade, fazendo com que haja
resistência para a par cipação.
“Nós temos o serviço de convivência, mas o serviço de convivência se
diferencia dessas outras a vidades. Ele não tem só o foco na a vidade em si,
né? Porque é o meio, é a forma. Eles vêm aqui pra conviver. O obje vo é sim a
proteção da criança, é esse fortalecimento desse vínculo junto com a família,
não só vínculos sociais e comunitários, mas também familiares. Nosso foco é
um pouquinho diferente. Por isso que a gente não tem essas oficinas.”
(Técnico/a)
Ainda, apesar das narra vas não apontarem essa questão de forma
contundente, é possível perceber que os vínculos são incipientes, pois a
atuação dos técnicos dos serviços públicos no território é recente. Conflitos
anteriores imprimiram cautela na atuação e na proposição por parte da
equipe, dificultando a incorporação de inovações nos serviços.
56
O Centro de Vivência Redentora é referência na comunidade por
desenvolver a vidades de cultura, esportes e inclusão digital para crianças e
adolescentes do território. A organização, que é gerida e man da pela
Fundação Semear, realiza diversas oficinas e a vidades, tais como: música,
teatro, judô e balé. Segundo os(as) entrevistados(as), o CVR possui uma
estrutura diferenciada, uma equipe técnica engajada e a vidades de
interesse. Além disso, ressaltam a importância da implementação do
projeto de capacitação profissional oferecido pela ins tuição para jovens a
par r dos 16 anos, o Projeto Vencer. Essa percepção está pautada na relação
construída entre a ins tuição, a comunidade e no reconhecimento da
importância dos serviços disponibilizados. Contudo, a barreira imposta pela
localização geográfica e a capacidade limitada de atendimento por questões
de sustentabilidade, são desafios presentes no co diano dos técnicos.
“Nós temos vinte vagas para o Projeto Vencer. Nós já temos mais de
50 inscritos e o prazo de inscrições ainda não foi encerrado. Eles chegam aqui
e dizem: eu quero me inscrever naquelas oficinas que ganha dinheiro. Isso
mobiliza eles, é importante na situação que esses adolescentes vivem.”
(Técnico/a)
“Eu gostava quando ia no Redentora. Eu fazia balé lá (...) e nha tudo,
apresentação, roupa... Eu parei de ir, tenho que ficar com a minha irmã
agora.” (Adolescente)
Outras ações de inicia va privada, além do CVR, são apontadas,
como a UJR, que também estabelece a vidades sistemá cas. Apesar das
a vidades da UJR não acontecerem no Loteamento Kephas, existe uma boa
adesão ao projeto. O fenômeno mostra o pres gio do esporte junto à
comunidade e está alinhado com as expecta vas de modificação de
realidade socioeconômica, alavancadas pelo sonho de carreiras espor vas
bem sucedidas. O futebol ainda personifica a possibilidade de mudança da
trajetória de vida para jovens da periferia e está entre as a vidades mais
citadas pelos(as) adolescentes que residem no loteamento.
Apesar da presença de escolas públicas no bairro, as que estão
localizadas no loteamento possuem uma estrutura deficitária quando
comparadas às demais. Nesse cenário, é importante destacar que foi
recorrente à associação das escolas com violência, criminalidade, tráfico
57
e conflitos, principalmente a escola Kurt Walzer. A escola tem buscado
dirimir essa imagem, implantando melhorias na estrutura e nas questões
rela vas à segurança dentro da escola.
Algumas escolas oferecem a vidades no contraturno por meio do
MOVE, dentre elas, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora
Adolfina J.M Diefenthaler se destaca por oferecer diversas a vidades, ser
referência no desenvolvimento de projetos pedagógicos e na incorporação
de novas metodologias. As escolas localizadas no loteamento oferecem
poucas a vidades. A comunidade demonstra certo ressen mento com o
encerramento do Projeto Escola Aberta e a descon nuidade do Projeto Tipo
Assim. Outro aspecto relevante com relação à educação é que há apenas
uma escola de Ensino Médio no bairro que se encontra geograficamente
distante das comunidades mais vulneráveis.
As fragilidades do bairro são evidentes no processo da pesquisa, em
especial em relação aos serviços de atenção e cuidado para crianças e
adolescentes. Não existem espaços seguros para adolescentes e jovens,
impossibilitando a prá ca de esportes e encontros de lazer, por exemplo.
“Eu acho que não tem muita coisa pra eles [adolescentes] fazerem.
Não tem opção aqui. Estão aprendendo outras coisas já, que não é de
aprender... A ficar nas esquinas com o cigarrinho, da maconha já. Tu já não
tem uma alterna va.” (Moradora do bairro)
A composição desse cenário, aliado ao fato de exis r apenas uma
organização privada no bairro que realiza atendimentos e ações
sistemá cas, além do CRAS, demonstra a necessidade de um olhar mais
acurado para o Kephas. As ações pontuais e fragmentadas são importantes,
mas ao mesmo tempo dificultam a vinculação e, quando estão
estabelecidas, são encerradas, causando desânimo, desistência e falta de
interesse.
As percepções dos(as) diversos(as) atores e atrizes sociais
entrevistados(as) convergem para a necessidade de desenvolvimento de
ações integradas que atendam às diversas necessidades da comunidade,
que sejam desenvolvidas em médio e longo prazo, com a construção de
projetos mul disciplinares, de abordagem integral, bem como, cursos de
geração de renda para as famílias.
58
A compreensão da heterogeneidade do território é fundamental,
bem como o fortalecimento e a expansão dos serviços da rede pública de
saúde, educação e assistência social.
Foto: Leonardo Savaris jan. 2019
“Em termos de precariedade, onde tem diferenças assim bem visíveis,
o Kephas tem uma divisão. Tem o pessoal mais tradicional, as pessoas que
vivem nas regiões mais regularizadas, a visão de quem tá morando nas
ocupações e que vive em condições sub-humanas, que é muito di cil de
chegar aqui pra cima. Devia ter as mesmas condições aqui do que a gente
encontra lá em certos lugares, po a Vila Esperança, a famosa Rua da
Conquista, nº 500. Todo mundo tem o endereço do nº 500 e quer ir. Beco das
Bananeiras é um desafio. Não se muda isso com projeto de um
ano.”(Técnico/a)
Foto: Leonardo Savaris jan. 2019
59
Foto: acervo Fundação Semear
O Bairro Santo Afonso
Vulnerabilidade
Construção
Diferente
Caminhando
Potencialidade
SANTO
AFONSO
Desafio
Dinâmico
Esperança
Acolhedor
Amor
O Bairro Santo Afonso recebeu esse nome em homenagem ao padre
católico Afonso, irmão de Aloysio Hoffmann Schmidt, responsável pelo
primeiro loteamento do bairro. Os bairros limítrofes são Liberdade,
Industrial, Rondônia, Canudos e Lomba Grande. O bairro Santo Afonso
possui 8,6km² de extensão e tem 23.823 habitantes, 4.298 residências, 127
indústrias, 238 pontos comerciais e 326 serviços (IBGE).
61
Segundo os moradores, originalmente, o bairro recebia famílias de
operários que trabalhavam na indústria calçadista, durante um certo período,
abrigou diversas fabriquetas e ateliers de calçados. Contudo, com as crises que
a ngiram o setor, o empobrecimento do território ficou mais evidente. Esse
cenário, aliado ao posicionamento estratégico do território no município,
possibilitou a estruturação do tráfico de drogas na região, em consequência
disso, a associação com a violência e a criminalidade, potencializou o processo
de marginalização e es gma zação social dos(as) moradores(as) do bairro.
“E isso me chamava a atenção porque não é normal a gente usar
carteira de trabalho no bolso, e aí eles falaram: 'não, sor, na rua, na Santo
Afonso, tudo neguinho, se não tem carteira de trabalho já é paredão, já é isso, já
é aquilo.” (Técnico/a)
“O tráfico é muito sedutor para os jovens, é di cil. Quando eu era guri, eu
sonhava em ter uma cama, depois um quarto pra mim. Tu não tem nada e chega
alguém e te oferece uma chance de ganhar dinheiro. Primeiro, ele te dá um
tênis, faz uma preza, te dá atenção, te faz tu te achar um cara importante (...) é
di cil resis r.” (Liderança)
Ao indicarem a existência de equipamentos públicos e outros serviços
no bairro, os pais e responsáveis apontaram:
98,9%
89,9%
92,1%
98,9%
97,8% 97,8%
93,3%
87,6%
94,4%
85,4%
51,7%
Indique o que tem no
Bairro - Santo Afonso
(Pais e Responsáveis)
55,1%
52,8%
46,1%
44,9%
43,8%
49,4%
36,0%
30,3%
27,0%
14,6%
62
Em relação aos equipamentos, percebe-se a importância de espaços
como a Praça da Juventude e o CRAS para a compreensão dos códigos
culturais do bairro, dos(as) atores(atrizes) mais relevantes nesse cenário,
sendo referência no território. É percep vel que o território possui uma
rede, bastante consolidada, de serviços des nados a atender crianças e
adolescentes no período do contraturno escolar, com diversas ações e
técnicos(as) engajados(as). No entanto, também existem ações
fragmentadas. Nos úl mos anos, observou-se que alguns programas foram
descon nuados e alguns equipamentos estão com a capacidade de
a vidades limitada devido à defasagem das equipes técnicas.
O CRAS é o ar culador das a vidades no território, centralizando a
organização das a vidades, mobilizando os demais equipamentos e
ins tuição nas ações. Os(as) técnicos(as) possuem ampla compreensão das
fragilidades do bairro e um vínculo consolidado com os(as) moradores(as).
Disponibiliza ainda, os Serviços de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos, grupos de arte, jardinagem e ações de protagonismo juvenil.
Na Praça da Juventude são desenvolvidas a vidades do eixo de
esportes financiadas a par r do projeto PMDI BID: futebol, karatê, futsal,
vôlei, basquete, jiujitsu, capoeira, musculação. As a vidades de
comunicação cidadã do PMDI BID acontecem no espaço da an ga Base
Pronasci que, além disso, abriga aulas de inglês, sessões de cinema, espaço
de mediação de conflitos, núcleo de jus ça comunitária e direitos humanos,
entre outros.
A Praça da Juventude é o principal espaço de sociabilidade do
território. O complexo foi construído para concentrar diversas a vidades de
lazer, cultura e esportes. Além de sediar as a vidades oferecidas pelo PMDI
BID, existem ações sistemá cas na praça e a vidades em contraturno
escolar (jogos, aulas de judô, capoeira, dança, futebol). A praça oferece uma
ampla infraestrutura para a prá ca de esportes e a vidades de lazer,
contando com pistas de skate e quadra de vôlei de areia. Segundo os(as)
entrevistados(as) existe um movimento de ocupação da praça e
revitalização das a vidades, bem como o estabelecimento de regras junto
aos(as) usuários(as). Essas ações buscam evitar que o local seja cenário para
violência ou espaço de prá cas ilegais, como o consumo de drogas.
63
“A Praça da Juventude é um lugar de lazer no bairro, é um dos poucos
lugares seguros. As pessoas aprenderam a respeitar. Hoje, as principais
a vidades do bairro acontecem aqui e as pessoas sabem que, se precisam de
algo, sempre tem alguém aqui, ou no CRAS, ou no URAS. Elas se sentem
menos largadas.” (Técnico/a)
O território também conta com o trabalho de organizações da
sociedade civil que mantém a vidades para crianças e adolescentes de
forma sistemá ca e bem consolidadas no território, como o SCFV para
crianças e adolescentes, desenvolvido pelo Centro Social Madre Regina, que
também disponibiliza projeto de inclusão produ va para jovens e adultos; a
Ação Encontro, man da pela Associação Beneficente Evangélica da Floresta
Imperial – ABEFI, com a vidades educa vas de cidadania, cultura,
formação, esporte e lazer, realizadas no contraturno escolar; a União Jovem
do Rincão – UJR, com o futebol social. Essas a vidades são reconhecidas
pelos(as) diversos(as) atores(atrizes) sociais do território e, apesar da
capacidade limitada de atendimento, são fundamentais para as mudanças
no co diano do bairro. Além disso, são referência de bom atendimento,
confiabilidade e possuem pres gio junto à comunidade.
“E tem público. (...) tem par cipantes, tem a busca a va, a gente tá
sempre se falando, as escolas. Então a rede, as escolas que tem seus projetos
que buscam com a gente, a gente consegue com eles... é um procurando o
outro sempre pra... É pra poder fazer um trabalho de qualidade, que dê
resultado de qualidade. Então tem ação Encontro, tem o Madre Regina, tem
a UBS tem a URAS da Criança.” (Técnico/a)
“A minha filha frequentou muito tempo o Madre Regina, foi a melhor
coisa que me aconteceu. Um ia para o CRAS e o outro para o Madre Regina.
Eu consegui me organizar melhor, é muito di cil quando tu tá
sozinha.”(Liderança)
A rede de escolas presentes no território é bastante consolidada e
atua de forma ar culada com os demais serviços e equipamentos. As escolas
municipais desenvolvem a vidades em contraturno por meio do MOVE, da
SMED. Apesar disso, os problemas relacionados à evasão escolar e à
defasagem de aprendizado estão presentes no co diano. Ainda com relação
à educação, o território apresenta como desafio a ausência de escolas de
ensino médio no território. Apesar de exis r escolas nas proximidades,
64
elas não são reconhecidas pelos(as) par cipantes da pesquisa como
pertencente ao território do bairro Santo Afonso.
Outro ponto apontado é que a escola tem dificuldades de trabalhar de
forma inclusiva e realizar o acolhimento de adolescentes e jovens,
principalmente os(as) que estão em maior risco pelo uso de drogas, por
situações de violência, gravidez ou envolvimento com o tráfico.
“Os professores têm dificuldade de perceber a realidade daquele jovem
que está ali que, por mais que ele seja problema, ele estar ali na escola,
insis ndo, já é um diferencial. Tem que considerar a família que ele tem (ou
não), a violência que está dentro de casa, o pai preso, a mãe sem trabalho...”
(Técnico/a)
A rede de serviços e ins tuições que atuam no território é consolidada
e atua de forma ar culada. A maturidade apresentada pela rede possibilita a
construção de estratégias mais inovadoras, como a possibilidade de uma
incubadora social, que possa centralizar novas tecnologias no campo da
atenção a crianças e adolescentes, engajando diferentes atores(atrizes) sociais
e desenvolvendo metodologias de trabalho que possam ser mul plicadas em
outros espaços.
Apesar desse potencial e de percebermos ni damente o impacto das
ações no co diano do bairro, os(as) entrevistados percebem a necessidade de
expansão das ações, principalmente aquelas voltadas às localidades de maior
risco social; a realização de projetos de médio e longo prazo; outras
possibilidades de sustentabilidade técnica e financeira das ações, maior
engajamento dos pais e responsáveis nas a vidades. Além disso, as polí cas
públicas precisam refinar o alinhamento com as caracterís cas
socioeconômicas dos(as) moradores(as).
“O curso da ASBEM, por exemplo, muitos têm escolaridade mínima e
idade mínima, daí tu bate a idade e não tem escolaridade, se tu bate a
escolaridade, eles já passaram da idade. Então, eu acho que essa polí ca
pública, nessa parte, tem uma falha muito grande (...) é um abismo que se abriu
ali no meio. Existe a polí ca? Existe. Mas pra que público essa polí ca tá sendo
criada? Eu sei porque os nossos, por exemplo na URAS, a gente tem que atender
até os 14, né, que a maioria atende. Nós temos adolescentes de 17 ainda,
porque, ao invés de ficarem ali, eles ficam na rua sem fazer nada.” (Técnico/a)
65
“Então, assim, o cuidado que eles têm e a falha que a gente tem dentro
do projeto é, já que tu tá buscando o problema, é que o obje vo de diminuir a
criminalidade e a violência, e aí eu atendo a parte de 15 e consegui descer para
12, mas até as 21h30min atendo de 9, de 8, de 10 anos aqui na rua. Então o que
eu falei e aí é assim, o de 15 já entrou no crime.” (Técnico/a)
Foto: Leonardo Savaris jan. 2019
66
Foto: Leonardo Savaris jan. 2019
O Bairro Roselândia
Amigo
Acolhedor
Invisível
Esquecido
Lar
ROSELÂNDIA
Dividido
Abandonado
Vulnerável
O Bairro Roselândia teve seu nome inspirado em uma plantação de
rosas, propriedade de Kurt Schönwald e sua área foi inicialmente ocupada
por açorianos. São bairros limítrofes: Operário, São José e Diehl. O território
tem uma área de 5,9km², com a presença de 5.994 habitantes, 1.470
residências, 16 indústrias, 55 pontos comerciais e 60 serviços (IBGE). O
Roselândia possui estrutura de serviços e comércio inferior aos iden ficados
nos demais bairros. Possui a menor população e presença mais incipientes
de equipamentos e serviços públicos.
Ao iden ficarem a existência de serviços e equipamentos públicos,
bem como a presença de organizações e projetos, os pais e responsáveis
informaram:
68
Indique o que tem no Bairro - Roselândia
(Pais e Responsáveis)
92,2%
91,1% 92,2%
91,1%
82,2%
72,2%
54,4%
51,1%
38,9%
42,2%
41,1%
30,0%
26,7%
22,2%
17,8%
15,6%
11,1%
11,1%
5,6%
8,9%
5,6%
O bairro não conta com uma unidade do CRAS, mas com uma URAS,
que é o único espaço de referência em assistência social no território. A
observação do co diano e das dinâmicas presentes no espaço da URAS foi
fundamental para a compreensão dos códigos culturais do bairro e do atual
contexto vivenciado pela população do território.
Na úl ma década, o bairro passou por um grande crescimento
populacional, alavancado pela crescente presença de ocupações irregulares
e um incremento do tráfico de drogas, dois fenômenos reiteradamente
citados pelos(as) diversos(as) entrevistados(as). Há o receio de que,
futuramente, a situação se potencialize e haja um recrudescimento dos
contextos de violência e vulnerabilidade.
69
“Na verdade, começou a aumentar faz pouco tempo. An gamente tu
não ouvia falar que exis a tanta droga. Hoje em dia, os mais novos, a gente
não conhece, que é a gurizada. Às vezes, a gente acha que, pra mim, na
minha visão, é muito cedo que a gurizada bandida começa, com 14 anos. Pra
mim, eu não conheço essa parte da Roselândia, essa turma, mas a gente
sabe que há uns seis, sete anos isso tem aumentado bastante aqui.”
(Liderança)
“Um projeto legal que tem aqui é o Catavida, uma unidade de
reciclagem. Eles trabalham para trazer para a formalidade o pessoal que
trabalha na ocupação. Tem muitas situações de violência, isso nos preocupa
muito. O tráfico também está chegando, prevalência das facções...”
(Técnico/a)
A rede de atendimento para crianças e adolescentes no período de
contraturno escolar é bastante incipiente e a unidade URAS é matriciada
pelo CRAS Centro. O local disponibiliza o Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos, oficinas de música por meio da banda e
algumas ações da Unidade de Saúde da Família (USF). Além disso, organiza
esporadicamente a ação Ocupa URAS, que reúne diversos serviços do
território.
É possível afirmar que há uma aparente invisibilidade dos conflitos e
especificidades presentes no bairro, gerando poucos inves mentos em
polí cas públicas e projetos con nuados.
“Tem muita ocupação e junto vem os problemas. A gente faz o que
pode aqui. Agora, nós temos o prédio, mas tem que arrumar. Já temos
algumas coisas aqui, mas precisa de mais a vidades. A gente tá meio
cansada de reunião. Vem, conversam, mas não fazem nada. Vão esperar
virar um Kephas.” (Liderança)
Existem poucas ações ins tucionalizadas e a estrutura do
equipamento é bastante deficitária, assim como os recursos para o
desenvolvimento de ações técnicas e a ausência de uma proposta
programá ca para as a vidades de convivência.
70
“É o que te disse: aqui nha professor de desenho, nha as coisas.
Tinha o professor de artesanato. Elas faziam as coisinhas e elas vendiam
para juntar dinheiro, porque aqui não ganha verba nenhuma da Prefeitura.
Ganha a comida. Uma verba pra vocês mudarem essa parede... não vem. Tá
caindo. E olha quantas enchentes isso daqui já aguentou. (...) Tu vê que
vieram com os olhinhos inchados de tanto dormir, mas só vem pra almoçar
pra poder ir pra casa. Agora, nas férias, tá vindo quantos? Duas ou três
crianças que chega às nove e às duas vai embora, chega à uma e pouco e vai
embora. Os que vem às onze e meia e ficariam até às três já nem vem. E, se
vem, é só por causa do almoço mesmo.” (Liderança)
O bairro apresenta poucas ins tuições atuando de forma
consistente. A Associação Evangélica de Ação Social (AEVAS) é uma
organização da sociedade civil apontada como importante por manter, em
parceria com a Prefeitura Municipal, duas Escolas Municipais de Educação
Infan l (EMEI) e ter sido a ins tuição mantenedora da Raio de Sol. A
associação de moradores é bastante atuante, desenvolve algumas ações
para crianças e adolescentes, como karatê, balé, zumba, capoeira e o espaço
da quadra de esportes.
A UJR também está presente no território, com a vidades
desenvolvidas na sede da Associação de Moradores. A Raio de Sol oferece
oficinas de informá ca, música, brinquedoteca, a vidades de artesanato e
geração de renda para pais e mães e o CTG, que oferece danças picas
gaúchas.
“Houve um projeto de revitalização da praça, para ter espaço de lazer
para a comunidade, mas as pessoas têm medo de ir para a praça. O
traficante mora muito perto e as pessoas se sentem in midadas. (...) Falta
muita coisa no bairro, a gente vê que a situação tem se agravado. Tem outros
lugares que tem o projeto do BID, tem oficinas, tem praça para os jovens.
Aqui, só tem a URAS.” (Técnico/a)
71
A rede de escolas presente no território é bastante reduzida. Não há
uma escola de Ensino Médio e a Escola Estadual de Ensino Fundamental
Alvino Weber é a única que oferece ensino a par r do sexto ano. Assim, a
maioria dos adolescentes que se mantém na escola estuda no município de
Dois Irmãos ou em escolas de bairros adjacentes. Também é percep vel
uma resistência dos pais e responsáveis em relação à Escola Alvino Weber.
Segundo os(as) entrevistados(as), as mudanças que ocorrem no bairro já se
refletem na escola, onde são percebidos episódios relacionados à violência
e consumo de drogas.
Além disso, as a vidades disponibilizadas em contraturno escolar
nas escolas municipais, por meio do MOVE não são suficientes, não
atendem à demanda das crianças e adolescentes e de seus responsáveis.
Outro aspecto relevante se refere à fragilidade da rede de ensino infan l. O
território conta com apenas duas escolas e nenhuma oferece atendimento
em turno integral, dificultando a inserção das mães no mercado de trabalho
formal. Embora essa deficiência não seja exclusiva do território, esse fator
foi fortemente evidenciado nas entrevistas e interações.
A rede de serviços do Roselândia é frágil e as equipes técnicas
enfrentam problemas de defasagem de profissionais, sendo a UBS o
equipamento com melhor estrutura no território. O crescimento das
ocupações populares e a falta de serviços disponibilizados para esses(as)
moradores(as) é uma questão relevante no cenário local. Existe um temor
que esse fenômeno potencialize a violência e o tráfico na região. Além disso,
a falta de espaços de sociabilidade, como aqueles des nados à prá ca de
esportes e lazer, dificulta o desenvolvimento de a vidades para crianças e
adolescentes e, consequentemente, afeta o desenvolvimento integral desse
público.
70
72
“[Seria importante ter] Uma aula de dança, porque cada criança se
interessa por uma área. Tem que ter uma dança, um judô, um futebol. Tem
que ter uma coisa voltada pra cada gosto, né? Eu acho que deveria ter um
outro UJR que é um lugar que todo mundo vai e é muito pouca vaga.”
(Liderança)
Foto: Leonardo Savaris jan. 2019
73
PERCEPÇÕES GERAIS
DOS PAIS E RESPONSÁVEIS
Especificamente sobre a existência de serviços disponíveis para
crianças no contraturno escolar, na amostra geral (todos os bairros) 46,4%
dos(as) respondentes afirmam que existem, 28,9% dizem não exis r esses
serviços e 24,7% não responderam. A resposta por bairros está
demonstrada abaixo. No entanto, a par r das interações, é possível afirmar
que o grande desafio é que essas a vidades sejam realizadas de forma
sistemá ca e con nuada e não apenas de forma pontual. A descon nuidade
não possibilita que o trabalho seja feito de forma e que haja uma avaliação
da evolução das crianças e adolescentes que par cipam dessas ações.
Existência de a vidades para crianças fora do turno escolar
59,6%
38,5%
56,7%
42,2%
36,3%
35,6%
32,6%
41,1%
34,4%
30,0%
25,3%
24,4%
18,9%
16,7%
7,9%
Boa Saúde
Santo Afonso
Sim
70
74
Kephas
Não
Canudos
Não sabe/Não respondeu
Roselândia
Ainda sobre os serviços que atendem crianças, os pais e responsáveis
concederam notas que variam de zero a dez.
Nota que daria para os serviços para crianças
60,8%
8,5%
1,0%
0%
0%
1,0%
2,4%
13,4%
8,1%
2,9%
1,9%
Nota 0 Nota 1 Nota 2 Nota 3 Nota 4 Nota 5 Nota 6 Nota 7 Nota 8 Nota 9
Nota
10
Os pais/responsáveis também afirmaram que recomendariam, com
certeza, o(s) serviço(s) existentes para amigos(as) ou parentes (34,5%).
16,2% dos(as) respondentes afirmaram que recomendariam, 5,6% disseram
ter dúvidas e 1,8% não recomendaria ou certamente não recomendaria. O
percentual de 41,9% dos(as) pesquisados(as) não sabe ou não respondeu a
essa questão.
Sobre a existência de serviços para adolescentes fora do turno
escolar, os pais e responsáveis afirmaram:
Existência de a vidades para adolescentes fora do turno escolar
48,3%
44,9%
36,3%
44,4%
37,8%
34,1%
29,7%
31,1%
35,6%
31,1%
31,1%
30%
33,3%
25,6%
6,7%
Boa Saúde
Sto Afonso
Sim
Kephas
Não
Canudos
Roselândia
Não sabe/Não respondeu
75
Nota que daria para os serviços para adolescentes
58,5
15,1
0,6
0
0
1,3
2,5
3,1
4,4
10,7
Nota 0 Nota 1 Nota 2 Nota 3 Nota 4 Nota 5 Nota 6 Nota 7 Nota 8 Nota 9
3,8
%
Nota
10
Ao responderem se recomendariam o(s) serviço(s) existentes para
adolescentes, 64,7% não sabem ou não responderam, 20,9% com certeza
recomendariam, 10,7% recomendaria. Os que têm dúvidas somam 2,6%
dos(as) respondentes e 1,1% não recomendaria ou certamente não
recomendaria.
Apesar de reconhecerem a existência de alguns serviços e
atendimentos para crianças e adolescentes nos territórios, concedendo de
forma geral uma boa avaliação, ainda existem lacunas observadas pelos pais
e responsáveis, que consideram que alguns serviços e a vidades são
necessários nos bairros. Ao responderem, espontaneamente o
ques onamento “Na sua opinião, quais os três serviços e a vidades mais
necessários para crianças no bairro”, os pais e responsáveis apontaram
como principais: área de lazer com segurança, a vidades espor vas, creche,
música, dança, artes e atendimento em saúde com especialidades médicas.
Também foram citados reforço escolar, a vidades de leitura, curso de
informá ca, escola em tempo integral, balé e atendimento psicológico.
70
76
Área lazer c/ segurança
41,8%
A vidades Espor vas/Natação
31,6%
Creche
24,0%
Dança/Música/Artes
14,4%
Atendimento em Saúde/Especialidades médicas
14,4%
“Um posto de saúde que vesse médico. Den sta também é uma
coisa bem forte, a cadeira da den sta tá estragada. Mas também não temos
médicos.” (Moradora do bairro Boa Saúde)
Sobre as a vidades e serviços necessários para adolescentes, os pais
e responsáveis responderam, espontaneamente: curso
técnico/profissionalizante, quadra espor va ou ginásio, curso de
informá ca/robó ca, escola de ensino médio e cursos de idiomas. Outros
serviços ou espaços citados como necessários foram atendimento
psicológico, orientação profissional, oficinas de dança, música, teatro,
biblioteca, atendimento em saúde com especialistas e preparação para o
ves bular.
Curso
técnico/profissionalizante
42,2%
Quadra espor va/Ginásio
31,6%
Curso Informá ca/Robó ca
26,9%
Escola Ensino Médio
11,1%
Curso Idiomas
10,9%
77
PERCEPÇÕES GERAIS DOS(AS)
ADOLESCENTES
É importante considerar as percepções dos(as) adolescentes sobre
os equipamentos e serviços existentes nos bairros. De forma geral, os(as)
adolescentes iden ficam a existência de espaços e a vidades des nadas
para adolescentes.
Existem a vidades no bairro?
70,0%
63,1%
56,4%
48,9%
49,6%
45,9%
41,7%
30,0%
30,0%
30,8%
13,5%
8,7%
5,2%
6,2%
0,0%
Boa Saúde
Canudos
Sim
78
70
Kephas
Não
Roselândia
Não sabe/não respondeu
Santo Afonso
Equipamentos existentes no bairro
ONG
Skate
Locais encontros noturnos
Locais encontros diurnos
Programas/projetos para adolescentes
A vidades Gerais
A vidades Orientação
A vidades Preven vas
A vidades Espor vas
A vidades Culturais
Posto de saúde
Equipamentos ginás ca
Ciclovia
Ginásio coberto
Quadra, campo
Parque ou praça
Escola
0,0%
10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0%
Não respondeu
Não Sabe
Tem perto
Não tem
Tem
79
No entanto, os lugares que mais frequentam são a casa de familiares
e a casa de amigos.
Lugares que frequenta
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Sempre
De vez em quando
Raramente
Nunca
Não tem
Não respondeu
A existência (ou não) de a vidades extracurriculares na escola
também foi ques onada. As respostas apontam para grandes diferenças na
oferta por bairros, o que corrobora com o observado nas interações,
entrevistas e grupos focais.
A escola oferece a vidade extracurricular?
80,0%
75,0%
67,0%
56,2%
51,8%
40,9%
37,7%
26,1%
21,3%
13,3%
3,5%
2,2% 4,4%
Boa Saúde
Canudos
Sim
80
70
3,5%
1,8% 5,5%
Kephas
Não
Não sabe
0,0% 3,8%
Roselândia
Não respondeu
3,1%
3,1%
Santo Afonso
A par cipação dos(as) adolescentes em a vidades na escola
também foi indicada pelos(as) pesquisados(as). Apenas 10,7% disseram
par cipar de alguma a vidade extra na escola e 17,2% responderam que
não. E 72,1% dos adolescentes entrevistados não disseram se par cipam ou
não. Da mesma forma, o número de adolescentes que frequenta a vidades
fora da escola também é baixo, apenas 26,8%. Os demais 73,2% indicaram
não frequentar cursos ou a vidades fora do ambiente escolar.
Perfil da amostra quan ta va - adolescentes
Par cipação em a vidades na escola e fora da escola
73,2%
72,1%
26,8%
10,7%
Sim
17,2%
Não
Não
respondeu
Frequenta a vidade extra NA escola
Sim
Não
Frequenta curso/a vidade FORA da escola
Dos que par cipam de algum curso ou a vidade, 18,1% frequentam
a vidades gratuitas, 5,7% pagam para par cipar de algum curso. Apenas
1,4% recebe bolsa. Dos entrevistados, 74,8% não sabem ou não
responderam sobre a natureza do curso ou a vidade. Além disso, sobre
outras formas de auxílio, 13,2% afirmaram não receber qualquer auxílio e
73,2% não responderam. Dos auxílios recebidos: 4,6% recebe vale
alimentação, 3% recebe alimentação e 4,2% recebe vale alimentação e
alimentação (concomitantemente). Apenas 1,8% recebe ajuda de custo.
Sobre a par cipação em a vidades no bairro, a maioria dos(as) adolescentes
informou que não par cipa de a vidades.
81
Par cipa/par cipou de a vidade no bairro nos
úl mos três meses?
80,0%
68,2%
67,5%
56,9%
55,6%
32,5%
27,4%
19,1%
17,0%
10,0%
16,4%
27,7%
15,5%
15,4%
0,0%
Boa Saúde
Canudos
Sim
Kephas
Não
Roselândia
Santo Afonso
Não sabe/não respondeu
A pesquisa também desvelou o entendimento que os(as)
adolescentes possuem do bairro onde estão inseridos. Para isso, a par r de
uma série de afirmações, os(as) adolescentes marcaram o grau de
concordância com o que estava sendo afirmado.
No bairro em que moro existem muitos(as) adolescentes
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Boa Saúde
Kephas
Roselândia
Santo Afonso
Concordo
Nem concordo, nem discordo
Discordo
Discordo muito
Não sabe
Não respondeu
82
70
Canudos
Concordo muito
No bairro em que moro existem muitas crianças
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Boa Saúde
Canudos
Kephas
Roselândia
Santo Afonso
Concordo muito
Concordo
Nem concordo, nem discordo
Discordo
Discordo muito
Não sabe
Não respondeu
Os(as) adolescentes encontram a vidades para fazer no bairro
40,0%
35,0%
30,0%
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
Boa Saúde
Canudos
Kephas
Roselândia
Santo Afonso
Concordo muito
Concordo
Nem concordo, nem discordo
Discordo
Discordo muito
Não sabe
Não respondeu
81
Quase não se vê violência no bairro
45,0%
40,0%
35,0%
30,0%
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
Boa Saúde
Canudos
Kephas
Roselândia
Santo Afonso
Concordo muito
Concordo
Nem concordo, nem discordo
Discordo
Discordo muito
Não sabe
Não respondeu
Os(as) adolescentes do bairro são preocupados(as) com o futuro.
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Boa Saúde
Kephas
Roselândia
Santo Afonso
Concordo muito
Concordo
Nem concordo, nem discordo
Discordo
Discordo muito
Não sabe
Não respondeu
84
70
Canudos
Os(as) adolescentes do meu bairro
ficam muitas horas do dia sem ter o que fazer
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Boa Saúde
Canudos
Kephas
Roselândia
Santo Afonso
Concordo muito
Concordo
Nem concordo, nem discordo
Discordo
Discordo muito
Não sabe
Não respondeu
É muito bom ser adolescente no bairro onde moro
50,0%
45,0%
40,0%
35,0%
30,0%
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
Boa Saúde
Canudos
Kephas
Roselândia
Santo Afonso
Concordo muito
Concordo
Nem concordo, nem discordo
Discordo
Discordo muito
Não sabe
Não respondeu
85
Ao final do ques onário, os(as) adolescentes foram convidados a
registrar um recado aos gestores públicos:
BOA SAÚDE
ü Sejam justos e tenham mais sabedoria. Mais a vidades para
crianças e adolescentes.
ü Mais segurança no bairro, mais policiamento.
ü Mais trabalho para os jovens.
ü Uma pista de skate e ciclovia para andar de bicicleta.
ü Mais a vidades culturais para os adolescentes.
ü Melhorar o posto de saúde e as escolas.
ü Colocar mais professores.
CANUDOS
ü
ü
ü
ü
ü
ü
ü
ü
Quadra iluminada e coberta, com segurança.
Mais projetos no bairro para ajudar adolescentes.
Inves r nos jovens para saírem das drogas.
Mais diversão e segurança.
Menos poluição.
Olhar para as pessoas com mais amor.
Mais a vidades públicas.
Mais áreas de lazer, arrumar as ruas e diminuir a violência.
KEPHAS
ü
ü
ü
ü
ü
86
70
Precisa mais a vidades para adolescentes.
Mais lugares públicos seguros no bairro.
Mais segurança e menos preconceito.
Mais locais para a prá ca de esportes.
Quadra de futebol no bairro.
ROSELÂNDIA
ü
ü
ü
ü
ü
Pista para skate.
Mais segurança.
Melhorar a saúde, a educação e os projetos sociais.
Ciclovia e mais locais de encontros para adolescentes.
Menos violência, mais praças e cursos.
SANTO AFONSO
ü
ü
ü
ü
ü
ü
Escutar mais a opinião dos jovens.
Mais projetos para os adolescentes.
Precisa compromisso com a saúde, segurança e educação.
Mais segurança.
Lugares para a vidades fora do colégio.
Menos corrupção, mais segurança.
87
CAMINHOS POSSÍVEIS
A importância de a vidades de socialização, educação, cultura e
desenvolvimento social no contraturno escolar é mais acentuada quanto
maior for o grau de vulnerabilidade em que se encontram as crianças e os
adolescentes. Esse público possui dificuldades para encontrar condições
que favoreçam a mobilidade social, demonstrando que ainda é grande a
necessidade de buscar igualdade de oportunidades para todos(as).
Estudos mostram que, na maior parte do planeta, a mobilidade social
intergeracional (que ocorre entre diferentes gerações de uma mesma
família) costuma ser pequena ou nula, sendo numericamente raros os casos
onde a ascensão é radical. Segundo a Oxfam, o Brasil ocupa o penúl mo
lugar na lista de 30 países e exibe uma desigualdade social e econômica
imensa. Isso representa que, de cada 10 filhos de famílias brasileiras
miseráveis, 3,5 morrerão e somente um terá a chance de chegar a outra
situação socioeconômica. 18
Dessa forma, as crianças e os adolescentes que não verem acesso a
uma série de possibilidades, não conseguirão superar as barreiras impostas
pela exclusão social. Por isso, é fundamental pensar na condição de
vulnerabilidade social dos sujeitos da pesquisa. O conceito de
vulnerabilidade social está relacionado aos riscos sociais e às condições de
ocorrência desses riscos. Quanto maior a vulnerabilidade social, maior será
a probabilidade de exposição aos riscos, assim como de sofrer danos pela
19
exposição a esses riscos. A vulnerabilidade social pode ser entendida como o
resultado nega vo da relação entre a disponibilidade dos recursos materiais
ou simbólicos, e o acesso à estrutura de oportunidades sociais, econômicas
e culturais que provêm do Estado, do mercado ou da sociedade. 20
18 O relatório da Oxfam (organização internacional que abriga mais de 100 países) mostra esta
88
70
s camente
a relação indireta entre o Coeficiente de Gini e a mobilidade social intergeracional. O Coeficiente de Gini
é um indicador usado para medir a desigualdade social em um país, quanto mais baixo ele é, menor é a
desigualdade. O relatório da Oxfam aponta que em países com grande desigualdade social, as chances
de que um jovem tenha um rendimento diferentes de seus familiares é menor. Ou seja, as possibilidades
de ocorrer a mobilidade social são menores. O relatório mostra também que há uma certa transferência
de privilégios entre as diferentes gerações de famílias ricas, o que de certa forma contraria a ideia de
que há igualdade de oportunidades para todos. No entanto, assim como outros pesquisadores do
tema, a Oxfam indica que o inves mento nos serviços públicos e, principalmente na educação, é o
caminho mais eficaz para mudar esse quadro. No Brasil, a mobilidade social tem aumentado
progressivamente, sofrendo grandes alterações na úl ma década. Os estudos mais recentes atribuem
essas mudanças aos programas sociais e ao aumento de pessoas cursando o ensino superior.
Ver: h ps://www.oxfam.org.br/tags/mobilidade-social
19
Jaccoud, Hadjab e Rochet, 2009.
20 Abramovay, 2002.
Esse entendimento de vulnerabilidade social compreende uma gama
de elementos encontrados em determinada situação: é um conjunto de
caracterís cas, recursos e habilidades insuficientes, inadequados ou di ceis
em um grupo social, dificultando uma relação mais qualita va com o
sistema social ou aumentando as possibilidades de deterioração das
condições de vida (sociais, culturais, educa vas ou econômicas). Alguns
aspectos de vulnerabilidade vivenciadas pelas crianças e adolescentes são:
educação deficitária, falta de proteção social, baixa qualidade de vida,
ocorrência de gravidez precoce e exposição a violências. Isso se traduz em
debilidades ou desvantagens para o desempenho e mobilidade social
dos(as) atores e atrizes.
O conceito de vulnerabilidade social, assim como o de exclusão
social, pede olhares diversificados e múl plos para estruturas sociais
vulnerabilizantes ou condicionamentos de vulnerabilidades. No âmbito das
relações sociais, o acesso limitado ou dificultado às polí cas de educação,
saúde, habitação, entre outros, pode ser visto como aspecto de exclusão ou
negação dos direitos de cidadania. Além disso, também no âmbito simbólico
e cultural, a es gma zação, as discriminações, a negação do acesso à cultura
também são fatores caracterís cos de processos de exclusão.
As cinco regiões pesquisadas apresentaram, em algum grau,
exposição a riscos provocados por questões socioeconômicas e a falta de
acesso a bens e serviços. Essa exposição leva a um estado de exclusão social,
que pode ser descrito como fenômenos que envolvem discriminação,
afastamento do convívio social, es gma zações, modos de negação de
acesso à cultura e ao saber. Por outro lado, as polí cas públicas buscam atuar
nesse sen do, mas nem sempre conseguem criar condições que contribuam
efe vamente para a superação dos riscos e para o desenvolvimento
saudável de forma abrangente.
É importante destacar que as organizações da sociedade civil (OSC's)
possuem, nesse sen do, um papel fundamental. Essas organizações detêm
conhecimento e podem trabalhar em parceria na criação de ações e
estratégias que contribuam para a redução de situações de vulnerabilidade
social, podendo oferecer ao público atendido a vidades qualificadas em
áreas como dança, música, arte, esporte, cidadania e protagonismo social.
Essas organizações que oferecem a vidades educa vas e sociais,
89
além de cuidados prote vos e preven vos, conseguem alcançar territórios
e populações que os serviços e equipamentos públicos, muitas vezes, não
chegam. Parcerias bem organizadas, envolvendo o poder público e as
organizações da sociedade civil podem fortalecer as polí cas voltadas para o
desenvolvimento social e ser um caminho importante no enfrentamento e
na superação das desigualdades. Para isso, é possível iden ficar
organizações da sociedade civil que tenham estrutura e capacidade para
atuar em sintonia com o poder público e definir critérios para o
desenvolvimento de parcerias.
Além da parceria com as OSC's, é necessária uma reflexão sobre a
qualidade do que crianças e adolescentes podem acessar no turno inverso
ao da escola. Acolher as demandas, ideias e sugestões do público mostra-se
o caminho mais viável, não apenas porque contempla aquilo que crianças,
adolescentes e comunidade gostariam de acessar, mas porque possibilita a
vinculação, algo que é apontado como uma dificuldade na execução de
a vidades de atendimento a crianças e adolescentes. Vincular-se, muito
diferente de colocar-se em contato, pressupõe a par lha com o(a) outro(a),
respeitando as subje vidades e as iden dades. A vinculação torna possível
alcançar crianças e adolescentes que vivem em territórios que não são
alcançados(as) pelas polí cas e pelas a vidades já realizadas, assim como
também possibilita a compreensão desses territórios.
O fortalecimento do trabalho em rede também se mostra como um
caminho possível. Para isso, é necessário que haja disposição para um
diálogo permanente, que possibilite o entendimento das realidades, a
compreensão dos problemas e uma atuação integrada de todas as partes.
As a vidades de contraturno são extremamente posi vas para as
crianças e adolescentes, especialmente as que estão expostas a riscos e
vulnerabilidades. O fato de estarem ocupados com algo já representa uma
diminuição da susce bilidade a esses riscos. Por outro lado, não é possível
desconsiderar que as a vidades de atendimento a crianças e adolescentes
promovidas no turno inverso ao da escola contribuem para a socialização
das crianças e dos adolescentes, para o aumento da autoes ma e
possibilitam que descubram novas habilidades. As a vidades devem ser
prazerosas, fonte de bene cios sociais, sicos e psicológicos.
90
70
Por meio delas, é possível que as crianças e os adolescentes façam
descobertas, assumam responsabilidades, despertem seus talentos e
proponham novas inicia vas, fazendo com que a criança e o adolescente
sintam-se valorizados e capazes, podendo até descobrir sua vocação
profissional por meio das oportunidades que passarão a ter acesso. Os
bene cios de oferecer a vidades para as crianças e os adolescentes
também são sen dos pelos pais e mães, familiares e responsáveis pelos(as)
mesmos(as).
Esses caminhos possíveis podem contribuir para que o atendimento
a crianças e adolescentes nos territórios pesquisados seja fortalecido e para
que o público que atualmente não acessa os espaços disponíveis, possa ter
alterna vas de par cipação.
A efe vidade do sistema de garan a de direitos para crianças e
adolescentes em Novo Hamburgo envolve a todos(as) e se mostra um
desafio, mas também apresenta uma série de oportunidades que merecem
e devem ser postas em prá ca.
91
Este livro integra
o Projeto De Ponta a Ponta,
executado no período de
junho de 2018 a julho de 2019, contemplado
pelo FUNCRIANÇA, de acordo com
o Termo de Fomento 009/2018 da
Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo,
publicado em 16/05/2018.
Organização: Fundação Semear
Redação e conteúdo: Márcia Bernardes e Ponto Pesquisa
Jornalista Responsável:
Márcia Bernardes (DRT 021879/02-59)
Revisão: Use Propaganda
Fotografias: Arquivo Fundação Semear
e Leonardo Savaris
Foto da Capa:
Fotógrafa: Isabelle Clecí Blum Schmitz.
Educanda do Projeto Arte.Com
Projeto gráfico: Use Propaganda
Impressão: Impressos Portão
Tiragem: 500 exemplares
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Contato:
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